Poetas, leitores e enamorados reunidos a fórmula para se manter um amor pode estar no exercício diário e na paciência em manusear duas agulhas de tricô. Sim , caros senhores(a) estas duas hastes de plástico envolvidos em algum novelo de fios macios: podem ser o antídoto,a tônica perfeita para nunca se ausentar da paciência, que se requer em manter, e encontrar o amor. E, para que este sentimento tão exaltado por poetas, artistas, e mortais perdure por longos e felizes anos, e muito além do amor conjugal de caridade dilectio caritatis, do amor de posse libido dominandi, encontrando enfim o equilibrado amor romântico, com a dobradinha: intimidade + paixão: tricotar com a habilidade de um artesão, é um santo milagre pela simples repetição e, o exercício da paciência: na difícil tarefa de manter por longo tempo um amor, é claro além do amor, já existente.

Conservar uma relação sempre fresca, e ao mesmo tempo duradoura requer a maestria e paciência, de um tenor em uma ária de Wagner; é como recitar um mesmo mantra todos os dias para que as pequenices do cotidiano não se transformem numa constituição ‘molieresca’ trazendo desgaste, e desunião.

Almejar a cada dia a tão desejada estrela da manhã requer paciência monástica, flexibilidade de um acrobata, persistência de um atleta olímpico, e a inspiração de um ator de teatro, que sobe ao palco todos os dias recitando e interpretando o mesmo texto de formas diferentes.

Há muitas peculiaridades neste sentimento, que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, pois, na vida encontramos milhões de corpos, destes milhões podemos desejar centenas, mas dessas centenas podemos amar apenas um, como citou o escritor Roland Barthes no delicioso livro Fragmentos de um Discurso Amoroso, pois em um determinado momento podemos pensar que Eros e Psiquê são apenas entidades mitológicas.

Nesse longo percurso pode-se criar uma grande paixão como Goethe que criou Werther para se libertar da angústia: (...) O outro é meu bem o meu saber: Só eu conheço, faço com que ele exista na sua verdade, ninguém além de mim o conhece declama (.)., ou Tolstoi que romanceou no campo de batalhas Napoleão no romance Guerra e Paz acrescentando as suas páginas um pouco de doçura ao incluir a historia de amor do Príncipe André, que morre com os ferimentos recebidos da Guerra nos braços de Natacha, a mulher que o amara, e o traíra.Ou, em um lugar muito distante num mundo muito adverso, da ficção e dos folhetins com heroínas quixotescas: o mundo real: onde amores devastadores também povoam as páginas de jornais, revistas e biografias, e canções. John Lennon compôs para sua amada Yoko Ono, o surreal pintor Salvador Dali, dedicou parte de sua obra a musa e esposa Gala; a união de Sartre & Simone que viveram o "amor necessário" que os uniu por 50 anos, criaram sua própria filosofia para viver este amor.

Há também os anônimos, que optam ao “costume a werther”, e amam por toda a vida alguém, que nunca saberá de sua existência. O sujeito enamorado não pode construir até o fim a sua história de amor, ele é apenas o expectador do objeto de desejo .

O final da história pertence aos outros, que em discreto silêncio resolvem elevá-la à deusa de suas aventuranças que pode ser diluído em versetos românticos, ou ficar povoando o imaginário coletivo por toda a eternidade como Dulcinéia de Dom Quixote, Beatriz de Dante entre outros.

Mas, há também as Marias, os Dirceus, as Clarices que ao recitarem diariamente aquelas palavrinhas mágicas que podem fazer do amor que posto que seja chama - eterno enquanto dure, como proferiu em versos nosso poetinha; ou como disse Freud que o amor não pode ser cego, o amor arregala os olhos, faz ficar clarividente. Tenho de você sobre você o saber absoluto(..)

Amo-te muito mais, muito melhor que antigamente.(Angélica Rizzi)