POESIA REGIONAL: UMA ESTRATÉGIA DE ENSINO

MARA APARECIDA PEREIRA DO NASCIMENTO

 

RESUMO

Objetivou-se através deste artigo sugerir-se a Poesia nas aulas de língua portuguesa para se trabalhar aspectos gramaticais e para incentivar a leitura e a produção textual. Salienta-se, principalmente, a poesia regional, inclusive , pela  incessante busca pela autonomia da cultura brasileira, prestigiando-se a produções estadual e local. Constata-se que alunos do Ensino Fundamental e Médio e não têm o habito da leitura. Muitos não apresentam uma leitura fluente, conforme suas séries e níveis, e, demonstram dificuldade de interpretação e produção textual. Verifica-se que a leitura é chave mestra para o desenvolvimento cognitivo e intelectual, nesse sentido a Literatura, no caso a poesia, é o tipo de leitura mais eficaz para o alcance da formação escolar por seu caráter interdisciplinar, humanizador e reflexivo. Há plena convicção de êxito na utilização da Poesia como estratégia pedagógica por conta do concretivismo presente em sua linguagem e em seu conteúdo, e ainda porque, o texto poético é o que mais exercita e desenvolve a capacidade de a interpretação e a compreensão de texto escrito.  

Palavras-chave: poesia - língua portuguesa - gramática - escrita

RÉSUMÉ

L'objectif était de proposer à travers cet article à la poésie dans les classes de langue portugaise à travailler avec les traits grammaticaux et à encourager la lecture et la production textuelle. Il est à noter, en particulier la poésie régionale, car elle est continue et incessante recherche de l'autonomie de la culture brésilienne, ce qui donne du prestige à l'Etat et les productions locales. Il semble que les élèves du primaire, moyen et supérieur ont l'habitude de lire. Beaucoup n'ont pas une lecture fluide en fonction de leurs grades et niveaux, et de démontrer la difficulté de l'interprétation et la production textuelle. Il semble que la lecture est la clé maîtresse pour le développement cognitif et intellectuel dans ce sens, la littérature, la poésie, le genre de lecture est plus efficace pour atteindre l'école de formation pour son caractère interdisciplinaire, l'humanisation et de réflexion. Il ya beaucoup d'assurance de la réussite dans l'utilisation de la poésie comme une stratégie pédagogique pour le compte de l'actuelle concretivismo dans leur langue et leur contenu, et parce que le texte poétique est le plus d'exercice et développe les capacités d'interprétation et la compréhension du texte écrit.

 Mots-clés: poésie -  langue portugaise - grammaire - ecriture

1 INTRODUÇÃO

A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9394/96 toma como rumo e norte a Lingüística para o alcance dos objetivos gerais do ensino da Língua Portuguesa. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s.v.2.p.41), esperam “que os alunos adquiram progressivamente uma competência em relação à linguagem que lhes possibilite resolver problemas da vida cotidiana, a ter acesso aos bens culturais e a alcançar a participação plena no mundo letrado”.

No entanto, dados estatísticos de 2001, por exemplo, apontaram dificuldades bastante preocupantes com a disciplina de Língua Portuguesa, principalmente, com a leitura e com a produção textual:dos alunos de 4ª série 4.42% estavam adequados, críticos em 36,76% - intermediários em 36,18% , muito crítico de 22,21% e avançado 0,43%. O 3º ano do Ensino Médio, em Língua portuguesa, apresentava percentual de avaliação crítica em 37,20%, - intermediário de 52,54%, adequados de 5,34% e muito crítico de 4,92%. (FREIRE, 2003, p.12)

            A educação nacional da atualidade busca responder as exigências de um mundo globalizado e de um mercado extremamente competitivo. Para tal, os educandos precisam expandir o uso da linguagem com eficácia, produzindo textos orais e escritos coerentes e coesos, utilizando registros formais da variedade lingüística. (grifo nosso)

         É imprescindível que se valorize a leitura como fonte de informação, como via de acesso à linguagem e como instrumento de aprendizagem, o que os levará a fazer uso das informações contidas nos textos. A linguagem, veículo de valores e preconceitos de classe, gênero e etnia, é então, a ferramenta para melhorar a qualidade das relações pessoais, o que capacita a expressar sentimentos, experiências, idéias e opiniões, usando conhecimentos adquiridos por meio da pratica de reflexão sobre a língua e sobre o uso da linguagem.  

            Mediante o exposto, constata-se que há objetivos ricos e perspectivas vislumbrantes, porém, há problemas sérios e frustrações lamentáveis quanto aos resultados concretos do ensino de Língua Portuguesa, se fazendo necessário conseguir adaptar uma prática pedagógica que atenda a todos os aspectos dos objetivos a serem alcançados.

          Nesse sentido, sugere-se a utilização da Poesia como estratégia de ensino, tanto para o ensino da Gramática e para compreensão e interpretação de texto, quanto para o incentivo ao hábito da leitura, bem como seu exercício oral.

           A leitura é uma das formas mais antigas de lazer. É um prazer simples e espontâneo que se adapta às expectativas de cada leitor. No que diz respeito ao incentivo ao hábito da leitura na escola, parte-se do pressuposto que através dela os alunos exercitam a capacidade de memorização, interpretação e reflexão. Aumentam seu vocabulário, conhecem e valorizam variantes lingüísticas, bem como, expressões regionais e idiomáticas. A leitura realmente proporciona uma viagem transcendental pelo Brasil e por outros países (vencendo distâncias), e por variadas épocas históricas (vencendo a cronologia).

           Freire (2003, p.5) afirma que “leitura boa é aquela que impulsiona para o mundo”. Completar-se-ia, então, que leitura boa é aquela que, conforme a faixa etária e o nível de ensino, mesmo nas tenras idades, promove a reflexão do sujeito no mundo, seus objetivos de vida futura, suas falhas, suas expectativas e suas possibilidades. A poesia intitulada Preguiça é um bom exemplo desta intencionalidade:

Uma frase da cartilha/ Do meu tempo de infância/ Ensinava ter coragem/ Desde a fase de criança./ Dizia então: “a preguiça/ é a chave da pobreza”./ Hoje eu vejo com justiça/ A mensagem de certeza./ O menino perde a aula/ Lamenta ter muito sono/ Acorda desanimado/ Chora como cão sem dono/ É o Frederico preguiçoso/ Reclama de dar dó./ Não consegue estudar e para./ Não consegue bons amigos, é só./ Na sua farta moleza/ Tudo parece azarar./ Nem a formiga operária/ Tem tempo para brincar/ Frederico perde tempo/ Por relaxo e indolência/ Perde amigos, perde a chance/ De preparar seu futuro/ Desde sua adolescência./(ALMEIDA apud GOMES & NASCIMENTO, 2005:59)

        Os velhos e longos sermões que apontam para conscientização da importância dos estudos para uma futura vida profissional e social bem sucedida, na maioria das vezes, não surtem os resultados esperados nas crianças e adolescentes. A poesia citada, A Preguiça, funcionaria como os contos de fadas e as fabulas, os quais, no geral tem caráter didático e moralizador, ou seja, ao mesmo tempo em que divertem ou encantam, chamam a atenção para as responsabilidades e comprometimentos necessários para a  vida real.

   Conforme Nicolis (1999, p. 25), “O livro é a bússola que orienta o navegante rumo ao desconhecido na admirável e fascinante aventura de viver”. Desta forma, a leitura dá as crianças e aos jovens a oportunidade de conhecer “um mundo onde a solidariedade, o amor e a esperança não são palavras frágeis dentro de um dicionário, mas sim sentimentos vividos”, como na poesia Ao mestre com carinho.

E escolhestes o caminho/ da instrução/ Perdeste noites de sono../.Por quantas vezes Dormistes /sobre os livros./Querias qualificação./ Cansaste../ E quantas vezes choraste../.Pensante em desistir./ Mas fostes forte,/ valente.Venceste./ Venceste. Venceste?/ E o que ganhaste?/ Falam da gratificação/ Que sentes.../ Ao ver o menino ler/ E escrever/ E somar. E contar./ cantar/ E o reconhecimento/ Pelo teu trabalho?/ O menino agora é homem.../ Esqueceu quem tu foste/ Quem tu és./ O menino...Que te humilha/ Te pisa. Te sacaneia./ Não se lembra/ De quem o ensinou./ O menino hoje é médico/ E tu morres na fila do SUS/ O menino hoje é juiz/ E tu perdes as causas nos fóruns.../ E tu sofres./  Pedes socorro/ De tanto falar,/ De tanto gritar,/ Ficaste sem voz,/ Ninguém te ouviu.../ Andaste pelas ruas,/ Pelos campos, pelas praças.../ Ficaste doente,/ Ninguém te acudiu.../Ainda hoje tu gritas,/ Mas os teus lamentos/ Caem no vazio.  (PAIVA, 2004. p:36)

        A indisciplina escolar na atualidade tem sido  problema  geral, em diferentes níveis de ensino e faixa etária, se apresentando como desafio presente não somente nas grandes capitais. A violência tanto física como verbal se instala, não somente entre os alunos, mas em muitos e muitos casos, contra os professores. Ao mestre com carinho”, sensibiliza e promove uma profunda reflexão quanto ao papel de um professor na vida de cada aluno,  de ontem, de hoje e de sempre.

          Capacidades cognitivas e intelectuais são desenvolvidas com maior eficácia através do hábito da leitura, e mais especificamente, da leitura literária porque segundo  Platão  & Fiorim (1996, p.3), “ no âmbito da escola, o seu caráter interdisciplinar é o traço de maior relevo, já que interfere decisivamente no aprendizado de todas as demais disciplinas do currículo”. Essa afirmação pode ser perfeitamente comprovada, por exemplo, com a poesia Rio Amazonas , segue o trecho:

Tuas águas Barrentas, em revolta/ Viram as naus de Vicente Pisón/, Que Mar Dulce te chamou em respostas,/ Vendo que tudo em ti é muito bom / Tua paisagem e ta brisa amena,/Tuas lindas mulheres guerreiras!/ Amazonas, de Francisco Orellana,/ Desbravado por Pedro Teixeira. (JESUS, 2008, p. 82): 

        Os espanhóis foram os primeiros europeus a pisarem na Amazônia brasileira, através de expedição comandada por Vicente Pisón.  Francisco Orellana e seus companheiros fizeram famosa expedição navegando por toda a extensão do Rio Amazonas  alcançando o Oceano Atlântico (1539-1541). A partir da viagem de Pedro Teixeira os portugueses dispuseram de conhecimentos sobre a região amazônica, os quais favoreceram a penetração e exploração da mesma.( apostila - Colégio Anchieta,Itaituba - 2010,  p. 2-3-6) 

         O conteúdo acima exposto diz respeito a informações históricas e geográficas trabalhadas dentro da disciplina de Estudos Amazônicos envolvendo nomes e datas. Geralmente, assuntos como este são assimilados pelos alunos mediante questionário a ser decorado para provas. Através da poesia Rio Amazonas o assunto seria assimilado com naturalidade, não como um fardo ou como tópicos desinteressantes.

         De modo geral, as pessoas consideram como literatura a escrita que lhes parece bonita. É possível definir Literatura como a escrita imaginativa no sentido de ficção. Essa escrita não é literalmente verídica, mas a distinção entre fato e ficção é muitas vezes questionável, pois em muitas obras a linha de oposição entre verdade histórica e verdade fictícia caminham juntas, mesclando-se e entrelaçando-se. Gêneses, primeiro livro da Biblia Sagrada, por exemplo, é lido como ficção por muitos (céticos ou evolucionistas), e como verdade absoluta por milhões de cristãos.

         Eagleton ( s/d- apostila- UEL)  contradiz as teorias dos formalistas russos, os quais recusavam a observação dos elementos sociais e políticos que perpassam a obra literária, desprezando os fatores externos que motivam a produção e que com freqüência aparecem representadas no seu interior, apesar de retomarem  a concepção de ordem sociológica para análise da literatura e das outras manifestações  culturais.  Eagleton conclui que “a mais completa definição para Literatura é a escrita altamente valorizada”.                  

        Definir Literatura é tarefa que talvez vá além a teoria critica e analítica. Defini-la como “a escrita altamente valorizada segundo os cânones literários, movidos por regras gerais de onde inserem regras especiais, com tendências envoltas em padrões listados e catalogados não seria uma definição abrangente e definitiva, seria incapaz de portar em si a imensidão percorrida pela literatura enquanto registro histórico relatando os fatos, estampando gostos, costumes e alegrias, conquistas e conflitos, que por vezes se lançou de cunho eclesiástico, ou informativo, grotesca ou rebuscada, ficticiamente verossímil, aprofundando-se numa ruptura com o real, explicitando outras vezes,  a não aceitação do poder, do infortúnio e após, buscando a conciliação com o real, renegando os caminhos encontrados ou idealizados, desmontou mitos mostrando a pouca nobreza do caráter humano e a vida como ela é. Contemporaneamente fez cair  por terra mascaras e camuflagens desencadeando assim, o Modernismo.(NASCIMENTO: 2005, p. 5).

         A literatura, sintetizando e condensando a realidade por meio dos recursos da ficção permite que o leitor se reconheça e se descubra em outras realidades.  Não é apenas o fato do que se escreve, mas de como o homem sente e vê determinado fato, o que o identifica como os outros homens de diferentes épocas e lugares.  

         Apesar de estar vinculada a uma língua suporte, não está presa a ela, chagando às vezes, a subverter algumas de suas regras e o sentido comum de algumas palavras. “É um instrumento de comunicação social e, por isso cumpre também o papel de transmitir os conhecimentos e a cultura de uma sociedade”. (CEREJA, 2003:25).

         A Literatura está vinculada, como qualquer outra arte, à sociedade em que se origina. Nenhum escritor é indiferente à realidade. Participa dos problemas vividos,   e até, defende interesses de classes sociais. Nesse sentido, Salve, salve faz um resumo retrospectivo da história do Brasil, desde sua descoberta e colonização, utilizando, intencionalmente, variantes lingüísticas regionais e populares.

Chegaram de Portugal,/ Viram tanto verde, tanta mata/ Que logo    escreveram/ Para a coroa real/. /É.Eram os portugueses de caravela/ Aportaram,se apoderaram/ Não perguntaram de quem era/.Tinha dono a pátria amada,/ Onde já se viu/ A preciosa, idolatrada, hoje Brasil/. E o tempo foi passando/ lá se foram luas e sóis,/ trouxeram o africano,/ e não faltaram os espanhóis/.E a chapa foi ficando quente,/ Foi juntando povo,/  Foi chegando gente/ Que se fez um país novo./ Veio um pouco de cada vez,/ Inglês,francês, japonês,chinês./ Gente da Ucrânia, da Alemanha,/ Da Polônia, de Pindamonhogonha, / E ainda turco, italiano e holandês./ ( NASCIMENTO, 2010, p. 8) 

           Num tom divertido e jocoso, Salve, salve menciona em seus versos a maioria dos povos imigrantes que vieram para o Brasil, conforme seus interesses e necessidades, contribuindo para que esta nação se desenvolvesse. 

Uns vieram pra trabalhar/ Outros pra enricar,/ Outros para se abrigar./ E era só do desembarca,/ Do conquista, do abraca,/ Virou foi um zezeu/. Desmataram, poluíram,/ Des- man- te la- ram./ E deu no que deu/.Agora é preciso ajuda/ Pra salvar a água/ e a verde mata da nação/. E é “um  Deus nos acuda”/ E salve, salve!/ Salve o pulmão!/ ( NASCIMENTO, 2010, p.9)

             A poesia Salve, salve, chama a atenção para a problemática do Meio Ambiente nos dias atuais. A Educação Ambiental, um dos Temas Transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), prima pela proteção e pelo respeito  a toda forma de vida animal, vegetal e mineral, pelo combate ao desperdício e incentivo a reciclagem. Visa valorizar e preservar o meio ambiente e desta forma a relação do homem com a natureza.(grifo nosso)

             Há duas formas de escrita literária: a prosa que se divide em parágrafos e usa  pontuação correta e a poesia, onde cada linha é um verso e cada bloco de versos é uma estrofe.  Através da poesia se busca transmitir uma visão particular da realidade, com muita emoção, valendo-se de linguagem diferenciada para dar feição literária.  Os temas variam de acordo com a inspiração e o contexto do escritor.

         A poesia prima pela liberdade de expressão, pois o artista é livre, sem convenções e regras, principalmente, na poesia moderna.  O poeta manipula as palavras de modo a explorar a intelectualidade dos leitores. Quem lê pode dar diferentes interpretações, dependendo da formação cultural, da sensibilidade e da  forma de ver o mundo, o qual o poeta tenta transformar com seu trabalho.

Eu sou um rio/ Pequeno embora/ Que corro limpo/ Pela vida afora/ Não quero nunca / Ser um grande mar/ Que bate lerdo/ No mesmo lugar./ Sendo rio/ Corro percorro / Sirvo ao ser inerte/ E ao ser vivente/ Mas o grande mar/ Bobo orgulhoso/ Precisa da minha/ Água corrente/.Que seria do mar/ Se não fossem os rios?/ Que seria dos grandes /Sem os pequenos?/Que seria da praia/ Sem a areia?/ Que seria da aranha/ se não fizesse a teia./ (ALMEIDA, apud PAIVA, 2004: 26)

         As poesias, em geral, são recheadas de estratégias de reflexão, como nos versos acima de O Rio.  A poesia apresenta um tema nem sempre fácil de ser reconhecido, por isso se faz necessária a descoberta de valores e resgate da história para se chegar a uma interpretação.  Partindo de pressupostos que avaliam a escola como agente informador e formador, se faz necessário que nas aulas cotidianas promova-se reflexões sobre questões do dia a dia,  e sobre  relacionamento social de maneira que se concretize a expectativa de um aluno que compreenda a cidadania, que se posicione, que seja intuitivo, sensível e solidário, cooperativo e responsável, enfim, um agente transformador, entendendo que numa sociedade todos têm sues papéis igualmente importantes: o gari, o professor, o aluno , o médico ou o cozinheiro.

          A poesia utiliza-se de uma técnica própria em determinado estilo, de sensibilidade, de intimidade com as palavras, com a estrutura das frases, com implicâncias gramaticais, da capacidade de reproduzir através do mundo interior, graças ao conhecimento da língua como meio de registro de idéias. Oliveira (2005) trabalha em 10 páginas de seu livro de poemas  todas as figuras de linguagem em  versos:

Meu caro amigo estudante/ Posso afirmar a você/ Que o nosso português / É fácil de entender/ Precisa muita atenção/ E muita disposição/ Dedicação e coragem/ E para eu poder provar/ Te convido a estudar/ As figuras de linguagem./ Metáfora é a mudança/ De sentido da palavra/ Sem termos comparativos/ Com idéias associadas/ É portanto/ expressiva/ E também subjetiva/ Grave isto no juízo/ Com carinho e muito amor/  a menina é uma flor / Minha vida é um paraíso.(OLIVEIRA, 2005, p. 134)

         A Matemática ocupa o espaço de mito. Tem sido alvo de comentários, apontada por muitos como responsável pela maioria das reprovações. A experiência de anos de sala de aula mostra que grande parte das reprovações reside, por incrível que pareça na disciplina de  Língua Portuguesa. (grifo nosso). As Figuras de linguagem são apontadas por muitos alunos como conteúdo difícil, confuso e obscuro. (grifo nosso). Uma poesia como a do trecho citado acima, em muito auxiliaria para trabalhar este assunto, tornando-o mais assimilável, mais claro e próximo da realidade do aluno.

         A literatura regional , no caso específico trabalhado neste artigo, a poesia, posicionou-se num tempo psicológico e cronológico, adotando a linguagem de uma determinada época histórica e localização geográfica.

      O Regionalismo, o qual remete a busca pela tão almejada identidade nacional através da Literatura, se bem pensar, concretizou-se com a publicação de Macunaíma, de Oswald de Andrade, o herói sem causa, bom e mal, forte e fraco, por certo, ser humano, o qual nasceu índio e se transformou em negro por encantamento, característica do imaginário místico da Amazônia.(grifo nosso)

Jóia rara no mundo inteiro/ Cobiçada pelo estrangeiro/ Subterfúgio do ambicioso / Fortuna do brasileiro/ Orgulho de uma nação/ Um órgão mundial/ Que dizem ser um pulmão / Teus rios de água doce/ De beleza singular/ Correm com sede de extinção/ Parece fumar tuas partes queimadas/  Benigno seja o câncer do teu pulmão!/ Maldita seja tua ferida Amazônia !/ Bendita seja a lei 236/ (Gomes, 2006, p.16)

        O escritor Raul BOFF, autor de Cobra Norato, ficou encantado com a fauna, flora e folclore amazônico, capazes de inspirar verdadeiras obras primas, como no caso da poesia Amazônia.

 O que querem fazer de você?/ Um deserto amazônico? Um campo  de violência? Um cemitério cinzento? Ou um charuto do poder?/Teu fruto tem mais sabor / Que um vaporoso charuto/ Apreciado pelo senhor/ Desprezado pelo mundo. Teu futuro é tão incerto /Mesmo na plenitude da tua imensidão / Pois com tua ferida foi feito/ Belos móveis e toneladas de carvão/ teu verde foi ficando metamórfico/,Ofusco, da cor da morte/ Cinza e preto/  Amazônia, fumaça, fogo, cinza e torrão/ Riqueza para poucos/ E pra maioria eterna falta de pão/ Mesmo assim és forte e bela / Estás tão franzina e magrela/ Mas que o brasileiro grita e diz/ Nós não cuidamos bem dela/ Mas... a Amazônia é do Brasil! (Gomes, 2006,16)

              Os empiristas como os americanos J.B Watson e B.F Skinner representantes do comportamentismo ( ESEA, 2010)  admitiam que o conhecimento tem origem e evolui a partir da experiência, se expressando através do determinismo ambiental, ou seja, o homem é produto do meio.   O construtivismo de adeptos como Jean Piaget, Henry Walton e os russos Vigotsky, Leontiev e Luria, admite que o conhecimento resulta da interação do sujeito com o ambiente.Nesse sentido, fazendo-se uma conscientização quanto a importância de se amar e principalmente respeitar o Meio Ambiente, sentindo-se parte responsável do seu meio, sugere-se uma poesia como Amazônia, de teor denunciador, chocante e  mesclado ao belo. 

               A importância do Concretivismo reside no ensino baseado no individual para o geral, no conhecimento anterior e extra escolar, do contexto real e concreto onde o educando está inserido, seu imaginário e sua paisagem, a história do seu Estado,   como no caso,  parte  da história do Estado do Pará, expressa nos versos abaixo:

Juntou o indígena, negro, caboclo e o crioulo/ Foi Batista Campos que comandou/ A maior revolta de que se escutou/ Ora, saí do palácio, vou te contar/ Vai ter tiro pra lá, vai ter tiro pra cá/ Ora, saí do palácio que é pra valer/ O povo sofrido cansou de sofrer/ EH Cabano, he cabanagem. (NASCIMENTO, 2010, p.7)

A cabanagem , poesia que continua abaixo citada na integra, relata um  fato histórico paraense. Apresenta linguagem regional popular, podendo-se,  através dela, introduzir as variantes lingüísticas, conteúdo programático da Língua Portuguesa. O maior objetivo de estudar a Língua Portuguesa é exatamente conhecer as suas diferentes modalidades, além da culta padrão, utilizada em textos científicos, jurídicos ou em situações que exijam formalidade. Existem outras formas de expressão da linguagem oral, o que remete a idéia de que o brasileiro seria um poliglota dentro de sua própria língua. (grifo nosso)

Foi no dia 7 de janeiro de 35/ Benedito Monteiro é quem sabe/ E eu que não minto/ Mas no dia 20 a Revolta teve fim/ Quando prenderam o amigo Angelin/ Não sobrou pro português/ Nem pro brasileiro/ Nem pro imigrante estrangeiro/ Só sobrou foi pro índio, negro, mulato e pro crioulo ./Mais de quarenta mil./Foi a maior chacina que já se viu/ No norte do Brasil./ Mas o sangue derramado/ Não ficou em vão./A liberdade ainda que tardia/ Um dia chegou Ora se não/ Cabano era visto como vulgar / Saqueador e sanguinário, / Mas em 1985 comemorou-se/ Seu cinqüentenário./ Foi Oscar Niemayer, o arquiteto./ Que preparou como muito zelo a homenagem./Tem monumento, tem museu./ No Memorial da Cabanagem./ . (NASCIMENTO, 2010, p.7)

             A poesia Cabanagem suscita à interdisciplinaridade com as disciplinas de Estudos Amazônicos, História e Língua Portuguesa. O trabalho interdisciplinar orienta a unidade do saber, numa forma de reunir contribuições de todas as áreas do conhecimento, num processo voltado  para a compreensão da realidade, avivando potencialidades e visando o caráter formador e informador da Escola. (grifo nosso).

          Conforme os PCN’S (1997, p. 21: V.2), “o aluno precisa construir um conhecimento de natureza conceitual”. A poesia “Um pouco de Português” trabalha as classes de palavras (Morfologia), para se declamar rapidinho, aos pedaços e dando risada, brincando com os conceitos, como no trecho abaixo sobre adjetivo.

E o que é na verdade,/ Amigos, adjetivo?/É o que dá qualidade/ A todos os substantivos./ A Joana é carinhosa./Mariana é preguiçosa./E o João é valente./O Manoel é teimoso./ O Antonio é bondoso./E o Paulo é inteligente./ E os adjetivos pátrios/ Informam então o lugar/ De origem do substantivo./Vou agora detalhar:/ O mineiro e       maranhense,/ O paulista, o cearense,/ Espanhol e o baiano/,O carioca e o português,/ O argentino e o francês,/O gaúcho e o italiano./ (OLIVEIRA, 2005, p. 124)

          Segundo Paulo Freire, (2003, p.5), “é fundamental que a leitura e aquilo que se lê façam sentido para quem está lendo”. O trecho abaixo da poesia “Um pouco de Português. abrange o conceito e as subdivisões conceituais dos substantivos,  apresentados aos alunos com descontração,  bom humor, simplicidade e leveza.

Substantivo é a palavra,/ Que dá nome aos animais,/ Pessoas, lugares e coisa./ Estas são fáceis demais./  Vou falar de um, a um./ Concreto, próprio e comum,/  Simples e primitivo,/ Composto e derivado,/ Eu vou dar  por terminado,/ Concreto e coletivo./ O substantivo simples,/ É apenas uma palavra/ lua, pajé e mamão,/   pedra, prato escrava,/ panela, lata e flor/ boca, bola e    doutor,/ São facílimos, pode crer./ Cadeira sala e sofá,/ São fáceis de decorar,/ Portanto vamos aprender./  Substantivo composto,/S ão duas palavras ligadas/ Com hífen e também sem hífen/ Ficam juntas ou   separadas:/ Rolinha-afogo-pagô,/ Passatempo, beija-flor,Tico-tico e reco-reco,/ Vaivém e girassol, João-de-barro,/  guarda-sol, Guarda-chuva e teco-teco.Vejamos caros alunos,/ O chamamos primitivo,/ É aquele que dá origem/    outro substantivo:/ Laranja,caju, limão / Pedra banana e avião,/ Coco, bola e abacate,/ Manga, maçã e caquí,/ Goiaba, pêra e piquí,/ Jaca, cacau e tomate./ Vejamos os derivados:/ Pois vem de outra palavra./ No primitivo é caju,/ Mas aqui é cajuada;/ Bandeirante e pedreira,/ Goiabada e bananeira,/ Maquinista e mamoeiro,/ Lataria e panelada,/ Cajueiro e laranjada, / Livraria e sapateiro. (OLIVEIRA, 2005, p.127)

      Trabalhar tópicos gramaticais através de poesias, como nos exemplos acima citados “Um pouco de português”, traduz  especialmente a  importância dada por Vigotsky à cultura e à linguagem na constituição do ser humano, às relações entre desenvolvimento e aprendizado, como também, pensamento e aspectos biológicos do funcionamento psicológico. (grifo nosso)

Substantivo coletivo/ Indica uma coleção/ Vejamos, o  de pessoas/ ,É chamada multidão,/ De livro é biblioteca,/ De quadro pinacoteca,/ E de filhote é ninhada/ De deputado,é Assembléia,/ E de abelha é colméia/ Porem de boi é boiada/ Os comuns são nomes dados/ a seres da mesma espécie/ Este depois que aprendemos/ Nem querendo a gente esquece./ Começa com letras minúsculas/ Nunca com letra maiúscula,/ Menino, boneca e galo,/ Arara, curica e gato,/ Galinha, peru e pato/, Panela, pinto e cavalo/ E os chamados concretos/ é o que vimos e pegamos. (OLIVEIRA, 2005, p.129)

           Para Squarisi (2003, p.19) Português combina com bom humor. “Combina não só com bom humor como com leveza e muita, muita descontração”. A poesia é a forma gostosa de se abordar a língua portuguesa com criatividade e originalidade, perfil, inclusive de um bom profissional da educação que tem em mente a importância de procedimentos com o lúdico na aprendizagem, não só na Educação Infantil, mas em outros elevados níveis de ensino e faixas etárias.

/Mas porem o abstrato/ É o que não apalpamos/.Existem, mas não vemos,/ Mas no intimo percebemos,/ Digamos a consciência/ A beleza e o amor/ A tristeza e o rancor,/ A calma e a inteligência./ Nos substantivos próprios/ Usamos letras maiúsculas/ Nunca se esqueça, então/ Usando letras maiúsculas,/ São nomes dados aos animais,/ as cidades e capitais,/ Países e a Estados/ Rios, lojas e lagoas,/ À escola e as pessoas,/ Para ficar destacado./ É o aumentativo e o diminutivo/,Vamos então declarar./ Vejamos a explicação:/ O gatinho e o gatão,/ Decore aí de repente,/ O gatinho é o menor,/ O gatão é o maior/ Gatão é aumentativo /Gatinho é diminutivo,/ Guarde bem em sua mente./ (OLIVEIRA, 2005, p. 129

             A exemplo da Poesia “Um pouco de Português”, concordâncias, regência, virgula, crases, mesóclises, formas rizotônicas arrizotônicas e nomes estranhos transformam-se em versos que facilitam a assimilação.

           Não se trata de substituir o livro didático nem tão pouco seus conteúdos gramaticais, mas sim, através da poesia como estratégia de ensino, dar roupa nova ao seu ensino e ao seu aprendizado

CONSIDERAÇÕES FINAIS

        Constata-se que os alunos da atualidade têm a disposição uma quantidade expressiva de informações sobre quase todos os domínios do conhecimento, mas não sabem hierarquizar, correlacionar ou discernir quanto a sua aplicação. Eles não têm destrezas para utilizar apropriadamente recursos argumentativos que sustentam um ponto de vista, por exemplo.

        Alunos do Ensino Fundamental, Médio e inclusive do Superior não têm o habito da leitura. Muitos, aliás, não apresentam uma leitura oral fluente, conforme as expectativas de suas séries e níveis, alem de demonstrarem dificuldade com interpretação e produção textual.

        Através de conhecimentos obtidos na graduação, somados com os conteúdos abordados no curso de Linguistica Aplicada na Educação, acrescidos à experiência de se trabalhar com Língua Portuguesa nas escolas, ficou passível de conclusão que é no interior dos textos, segundo mesmo as idéias da Lingüística Aplicada, que articulações se realizam e que o aluno aprende a operá-las.

        A leitura é a chave mestra para o desenvolvimento cognitivo e intelectual.A leitura literária, no caso a poesia, é o tipo de leitura mais eficaz para o alcance da formação escolar por seu caráter interdisciplinar, humanizador e reflexivo.O incentivo à leitura e a produção textual, não é de  responsabilidade exclusiva do professor de Língua Portuguesa, apesar de ser seu compromisso prioritário, mas também de todos os demais professores das demais disciplinas.

Então, objetivou-se através deste artigo sugerir-se a Poesia nas aulas de Língua Portuguesa, em especial, a poesia regional, visto que é continuada e incessante a busca pela autonomia da cultura brasileira. Prestigiando-se a produção estadual e local também se concretiza expectativas de teorias concretivistas, no intuito de partir do individual para o geral, do que é próximo, da bagagem e do conhecimento de mundo do aluno.

        A poesia, cativa, dá prazer, diverte e emociona. Trabalha fortemente a interpretação textual pelo seu caráter bastante implícito. Promovendo a capacidade de reflexão crítica remete a raciocínio rápido e abrangente. Da poesia retiram-se tópicos gramaticais e conteúdos programáticos variados e interdisciplinares. Possibilita a ilustração de textos dentro da disciplina de Artes, e mesmo de Língua Portuguesa, fazendo expandir criatividades e talentos. É possível partir-se de uma poesia para a produção de textos descritivos, narrativos e argumentativos.

          Em suma, sugere-se, assim, mediante os pressupostos acima mencionados, que alicerçam e respaldam esta pesquisa, com plena convicção de êxito, a inserção da poesia no cotidiano escolar como uma  estratégia de ensino pelo seu potencial didático- metodológico real, concreto, e prazeroso.

REFERÊNCIAS

Apostilado do Centro Educacional Anchieta - 8ª série. Estudos Amazônicos. Itaituba. 2010. www.ceanchieta.com

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