0001

Depois de

haver vagueado

pelas

cidades iluminadas

aprendi a ver o vagalume,

supondo que

a escuridão

fosse carência de luz.

E,

no brilho

lume

vago,

senti a carência

de ausência

de luz

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0003

Era uma vez

uma menina dos olhos

azul era o céu

sem sol

a luz acesa

na delegacia

só como companhia

lavar a roupa

rim crescido só

era como podia

beijar os lábios

a tora canoa

entre os dentes saindo

o assoviu.

O horizonte avistava

ao longe

do raio

brilhava a chuva no sol

de visão

não me machuque

pela ausência

de teus passos na areia

meu pai dizia

o mesmo que o teu

queria sonhar

no sono alheio

bobagens e bobagens

um boi

manso

as penas

do ganço

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0004

O

peixão

come

o

peixe

que

comeu

o

peixnho

e

o

homem

come

o

xão

o

xe

o

xinho

e o homem

quem come?

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0005

Petróleo nosso

osso

esso.

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0006

Se eu pudesse

quero o encanto

esse das palavras

esses riscos,

voltas, pingos,

sona, signos

vozes, ordens

o que rege

gera dor

tudo por aí,

eu as amo

palavras.

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0007

Esse vício eterno

de beber palavras

quando a dor nos invade

ou a branda aura

vem mansamente

e nos dá qualquer coisa.

Na verda estou

de sentado de frente

para a máquina

e não tenho nenhuma

idéia prá desenvolver.

Assim vou batendo as teclas

e deixando a cabeça comandar

e vão saindo

coisas sem muito valor.

Mas qualquer coisa me impulsiona

e quero ouvir

o som das letras

mais lentas quando falta a palavra

e quando pinta mais precisa

os tipos cegam a se roçarem

no ímpeto de primeiro chegarem

ao branco do sulfite

preso no carro

indiferente a tantas veleidades

e qualquer coisa vale

pois afinal nõ há o que escrever.

Já penso em parar

afinal o papel vai se acabado

e eu estou muito cansado

consumido por um dia danado.

Tal e tal pois é porque ou nem sei

você pode ser muito bonita e eu não ter reparado

desculpe portanto.

Escrevo só para as mulheres?

É sempre assim

uma mulher no horizonte

pondo-se muito devagar.

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0008

A água

é quase tudo

na terra.

Os grãos

na areia

é tudo.

Os miolos

envoltos

em grades.

O voto

vem

do povo.

O poder

doença

do homem.

A saliva

secando

no céu.

Ir prá lá

ou parar

por cá.

Enfiar a agulha

no cú

do mundo.

Cozer com esse

a batata

algures.

Por que

não posso

morrer em paz?

O sangue

e a seiva

pingando no mesmo copo.

Viver

por um

sorriso qualquer.

Me dê

um copo

de cerveja.

Matar um homem

ou uma mulher

diferença faz?

O brilho do aço

o vermelho

so fogo.

Deus

o demônio

esta cruz na estrada.

As letras

não encontram

as palavras.

E por que

o homem

tem que pensar?

Um vírus

fatal

não devia de.

A matéria dor                                              será que um dia

prima                                                           não será mais necessário

da poesia.                                                     Escrever versos?

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0009

A crise do mundo

o mudo

sente?

Ainda terei

potaria

na certa.

O homem

morrendo

de pé.

A asa que falta

sobra

no avião.

A noite fria

o dia

fere.

Meu lema sucumbe

no fim

da linha.

Não faça

isso

por que se não.

O medo

de tudo

oh não!

O farol

Documento                                          vermelho

por favor                                              no mar

ah sim.

Você

Cique                                                     para mim

erregê                                                     morreu.

Identidade.

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0010

Ameaço-me

desmoronar

o teto

de minha cabeça

casa de coisas

tanta treta

sen tática sonora

não aborto tua idéia

nem parto

sem ela

que voa

pois vou

nas asas

da brisa

ver-te

passeando

sobre a linha esferal

em olho meu

no centro do círculo

seguindo teus passos

o olho outro

foi ao correio

simbora.

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