POEMAS PÓSTUMOS
Publicado em 13 de janeiro de 2013 por Paulo Celio Duarte
0001
Depois de
haver vagueado
pelas
cidades iluminadas
aprendi a ver o vagalume,
supondo que
a escuridão
fosse carência de luz.
E,
no brilho
lume
vago,
senti a carência
de ausência
de luz
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0003
Era uma vez
uma menina dos olhos
azul era o céu
sem sol
a luz acesa
na delegacia
só como companhia
lavar a roupa
rim crescido só
era como podia
beijar os lábios
a tora canoa
entre os dentes saindo
o assoviu.
O horizonte avistava
ao longe
do raio
brilhava a chuva no sol
de visão
não me machuque
pela ausência
de teus passos na areia
meu pai dizia
o mesmo que o teu
queria sonhar
no sono alheio
bobagens e bobagens
um boi
manso
as penas
do ganço
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0004
O
peixão
come
o
peixe
que
comeu
o
peixnho
e
o
homem
come
o
xão
o
xe
o
xinho
e o homem
quem come?
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0005
Petróleo nosso
osso
esso.
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0006
Se eu pudesse
quero o encanto
esse das palavras
esses riscos,
voltas, pingos,
sona, signos
vozes, ordens
o que rege
gera dor
tudo por aí,
eu as amo
palavras.
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0007
Esse vício eterno
de beber palavras
quando a dor nos invade
ou a branda aura
vem mansamente
e nos dá qualquer coisa.
Na verda estou
de sentado de frente
para a máquina
e não tenho nenhuma
idéia prá desenvolver.
Assim vou batendo as teclas
e deixando a cabeça comandar
e vão saindo
coisas sem muito valor.
Mas qualquer coisa me impulsiona
e quero ouvir
o som das letras
mais lentas quando falta a palavra
e quando pinta mais precisa
os tipos cegam a se roçarem
no ímpeto de primeiro chegarem
ao branco do sulfite
preso no carro
indiferente a tantas veleidades
e qualquer coisa vale
pois afinal nõ há o que escrever.
Já penso em parar
afinal o papel vai se acabado
e eu estou muito cansado
consumido por um dia danado.
Tal e tal pois é porque ou nem sei
você pode ser muito bonita e eu não ter reparado
desculpe portanto.
Escrevo só para as mulheres?
É sempre assim
uma mulher no horizonte
pondo-se muito devagar.
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0008
A água
é quase tudo
na terra.
Os grãos
na areia
é tudo.
Os miolos
envoltos
em grades.
O voto
vem
do povo.
O poder
doença
do homem.
A saliva
secando
no céu.
Ir prá lá
ou parar
por cá.
Enfiar a agulha
no cú
do mundo.
Cozer com esse
a batata
algures.
Por que
não posso
morrer em paz?
O sangue
e a seiva
pingando no mesmo copo.
Viver
por um
sorriso qualquer.
Me dê
um copo
de cerveja.
Matar um homem
ou uma mulher
diferença faz?
O brilho do aço
o vermelho
so fogo.
Deus
o demônio
esta cruz na estrada.
As letras
não encontram
as palavras.
E por que
o homem
tem que pensar?
Um vírus
fatal
não devia de.
A matéria dor será que um dia
prima não será mais necessário
da poesia. Escrever versos?
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0009
A crise do mundo
o mudo
sente?
Ainda terei
potaria
na certa.
O homem
morrendo
de pé.
A asa que falta
sobra
no avião.
A noite fria
o dia
fere.
Meu lema sucumbe
no fim
da linha.
Não faça
isso
por que se não.
O medo
de tudo
oh não!
O farol
Documento vermelho
por favor no mar
ah sim.
Você
Cique para mim
erregê morreu.
Identidade.
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0010
Ameaço-me
desmoronar
o teto
de minha cabeça
casa de coisas
tanta treta
sen tática sonora
não aborto tua idéia
nem parto
sem ela
que voa
pois vou
nas asas
da brisa
ver-te
passeando
sobre a linha esferal
em olho meu
no centro do círculo
seguindo teus passos
o olho outro
foi ao correio
simbora.
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