Plantas medicinais resgatando elementos da cultura e da tradição familiar

Este trabalho refere-se a uma pesquisa realizada durante o curso de Cultura Brasileira ministrada pela professora Kátia Kodoma.

O meu trabalho é sobre chás de ervas medicinais, escolhi esse tema por que minha mãe cultiva algumas ervas em casa e esse costume ela aprendeu com sua avó materna.

Além de estar associado à valorização da cultura popular esse trabalho também se relaciona com alguns aspectos da medicina já que alguns estudos evidenciam que na antiguidade o uso de plantas medicinais eram utilizadas como recursos naturais para a cura de algumas enfermidades e na alimentação de nossos antepassados, lhes proporcionando meios essenciais de sobrevivência e certa qualidade de vida naquela circunstância.

Antes de descrever os chás e as ervas cultivadas pela minha mãe farei uma retomada dos conteúdos estudados durante o curso e uma breve contextualização da origem do uso de ervas medicinais.

O curso tem como objetivo resgatar os elementos essenciais da nossa cultura para que possamos valoriza-la, construindo conceitos que me permitirá enquanto futura pedagoga trabalhar com essa temática em sala de aula com os meus futuros alunos, lhes mostrando que dependentemente do meio em que vivemos todos nós somos portadores de cultura e o nosso Brasil é formado por diferentes culturas. Creio que como todos nós somos portadores de cultura ela deve ser valorizada. Pois, como afirma Fernandes:

 

Precisamos, pois, propiciar, por meio do ensino em todos os níveis, o conhecimento de nossa diversidade cultural e pluralidade étnica, bem como a necessária informação sobre os bens culturais de nosso rico e multifacetado patrimônio histórico. Só assim estaremos contribuindo para a construção de uma escola plural e cidadã e formando cidadãos brasileiros cônscios de seu papel como sujeitos históricos e como agentes de transformação social. (Fernandes, 2005, p. 386).

 

Para que haja a valorização da diversidade cultural a escola precisa ter consciência que a educação desempenha um papel muito importante nesse sentido.

 

A educação é um dos ambientes da cultura, um ambiente em que a sociedade reprocessa a si mesma numa operação sem fim, recriando conhecimentos, tecnologias, saberes e práticas. Independentemente da área em que nos formamos, nós professores trabalhamos em territórios culturais. (Ministério da Educação, 2009.p.19).

 

Particularmente, não tenho mais vergonha da minha cultura e isso aprendi durante essa optativa. Antes, pensava que por não saber tocar piano, por não saber dançar balé, por não ter o hábito de ouvir ópera, por não ter o habito de ler os clássicos da literatura e por não ter status financeiros para viajar pelo Brasil ou pela Europa e por ter uma origem humilde moradora de uma área rural, por exemplo, eu não seria uma portadora de cultura, pensava assim, pois não tinha consciência de que eu era igual ao outro culturalmente.

Bosi (1992) destaca que em nosso país não há cultura brasileira, mas sim culturas brasileiras. Seguindo o pensamento desse autor também acredito nisso, pois em cada região do nosso país temos um jeito próprio de falar, por exemplo, o sotaque dos paulistas é diferente do sotaque dos cariocas e assim por diante.

Recentemente estive participando de um congresso em Ponta Grossa estado do Paraná, e aconteceu algo curioso que nunca eu tinha prestado atenção. Fui a uma lanchonete e a garçonete ficou encantada com meu sotaque, quando fui fazer o pedido do lanche ela percebeu que eu não era daquela cidade, então me perguntou de qual cidade eu era e eu disse que atualmente estava morando em Presidente Prudente uma cidade que fica no interior de São Paulo. A garçonete me disse algo que eu nunca me dei conta, ela disse que o sotaque dos paulistas é semelhante ao sotaque dos cariocas. Não a julgo mal, pois assim como ela eu também penso que o sotaque dos paranaenses é semelhante ao sotaque dos gaúchos. Porém, por mais que há semelhanças entre os sotaques, cada região do nosso país tem seu dialeto diferente.

Breve Histórico do uso das plantas medicinais

Desde o início da existência humana, os homens procuram na natureza recursos para aprimorar suas próprias condições de vida, aumentando suas chances de sobrevivência. (Giraldi & Hanazaki, 2010).

Antes mesmo de dominar as técnicas da escrita o homem já usava ervas para fins alimentares e medicinais. Na procura das ervas mais apropriada para a alimentação ou para a cura de seus males sentiu as alegrias do sucesso e as tristezas do fracasso. Em suas experiências com elas descobriu as qualidades de cada uma: alimento, medicamento, veneno e outras.

 

O interesse pelas plantas medicinais demonstra uma preocupação do agitado mundo atual para uma volta às suas raízes naturais, livres de agentes perniciosos que afetam a sua qualidade de vida. (NETO, 2006, p.73)

 

Sabe-se que desde a antiguidade as plantas têm sido um recurso natural que se encontra ao alcance do ser humano permitindo-lhe o acréscimo de conhecimentos e aprendizado empírico de informações sobre o ambiente por meio da observação constante dos elementos naturais com o intuito de aperfeiçoar as qualidades de alimentação e cura das moléstias, evidenciando, uma inter-relação fartamente estreita em meio ao uso de plantas e a sua própria evolução. (LUTOSA, 2012).

Dessa forma, fica evidente perceber que o conhecimento histórico do uso de plantas medicinais nos mostra ao longo da História da Humanidade que pela própria necessidade humana, as plantas foram os primeiros recursos terapêuticos utilizados. Além de serem usadas para a manipulação de medicamentos em geral, as plantas também são utilizadas na formulação de cosméticos, como, xampus, condicionadores, hidratantes corporais e etc. Há indício na história que o uso de plantas esteve muito tempo associado a práticas mágicas, místicas e ritualísticas.

É notório observar que o nosso país há uma grande diversidade de culturas e de plantas medicinais. Sobre a questão da biodiversidade de plantas e a sócio diversidade o Ministério da Saúde destaca que:

 

O Brasil é reconhecido por sua biodiversidade. Essa riqueza biológica torna-se ainda mais importante porque está aliada a uma sócio diversidade que envolve vários povos e comunidades, com visões, saberes e práticas culturais próprias. Na questão do uso terapêutico das plantas, esses saberes e práticas estão intrinsecamente relacionados aos territórios e seus recursos naturais, como parte integrante da reprodução sociocultural e econômica desses povos e comunidades. Neste sentido, é imprescindível promover o resgate, o reconhecimento e a valorização das práticas tradicionais e populares de uso de plantas medicinais e remédios caseiros, como elementos para a promoção da saúde, conforme preconiza a Organização Mundial da Saúde. (BRASIL. 2009, p.47)

 

No antigo Egito, a medicina sempre esteve vinculada à astrologia, e havia uma forterelação entre as plantas medicinais, planetas e signos correspondentes. Os egípciosutilizavam as plantas condimentares de muitas formas, deixando-as até mesmo nastumbas dos faraós e personalidades importantes, para que estes fizessem viagemsegura aos outros planos da existência, segundo suas crenças. São comuns citaçõesdos papiros relatando a adoração que o povo tinha pelas plantas. Alguns estudos mostram que durante as Antiguidades Egípcias, Grega e Romana acumulam-se numerosos conhecimentos empíricos que serão transmitidos, especialmente por intermédio dos árabes, aos herdeiros europeus dessas civilizações desaparecidas. Há relatos históricos que dizem que os primeiros a cultivarem plantas medicinais e usa-las foram os chineses.

Em minha herdamos essa cultura de usar ervas medicinais para o preparo de chás com nossos antepassados, minha bisavó aprendeu com a mãe dela, e ensinou para a minha mãe que ensinou para eu e meus irmãos. A cultura é algo que vai passando de uma geração a outra.

Quadro de utilidade das ervas

O quadro abaixo apresenta algumas ervas cultivadas pela minha mãe e a utilidade de cada uma.

 

Plantas medicinais

Para que serve?

Sucupira

Reumatismo, artrose.

Romã

Dor de garganta, diarreia, câimbra.

Alecrim, boldo, losna arruda, Erva doce, Erva Cidreira.

Gases intestinais

Erva Cidreira, Salsa.

Enxaqueca

Boldo, Erva Cidreira, Manjericão, Poejo, losna.

Estômago

Alecrim, Arruda, babosa. Erva de santa Maria

Feridas

Boldo, Salsa.

Fígado

Boldo, Losna, Manjericão,

Fraqueza

Boldo, Hortelã, Poejo, Erva Cidreira, Erva doce, capim santo.

Insônia

Hortelã, Losna, Poejo.

Náusea

Alecrim, Arruda, Sabugueiro, Erva Cidreira, Salsa.

Olhos

Arruda.

Ouvidos

Babosa, Balsamo

Queimadura

Poejo, Sabugueiro.

Resfriado

Boldo, Erva Cidreira,

Reumatismo

Erva Cidreira, Hortelã, Manjericão, Poejo, Cebolinha, Erva Cidreira. Alfavaca, Eucalipto cheiroso

Tosse e gripe

Bálsamo.

Úlcera

Manjericão, Salsa.

Urina

Arruda, alecrim, boldo, losna, erva doce Erva Cidreira

Cólicas

Arruda, Hortelã, Erva de Santa Maria.

Vermes

 

Como preparar os chás:

Os chás podem ser preparados por infusão ou cocção:

  • Infusão: Consiste em se despejar água fervente sobre a planta e depois abafar por uns 15 minutos. Este processo é utilizado para flores, folhas e também para ervas aromáticas, pois se as fervermos as essências poderão volatilizar (perder-se pela ação do calor), causando a perda de sabor e poder medicinal do chá.

  • Cocção: Consiste em se cozinhar a planta. Este processo deve ser restrito a raízes, cascas e sementes e a fervura pode variar de 3 a 15 minutos.

  • Dosagem: A quantidade normalmente indicada é de 20 gramas de erva por litro de água ou uma colher de chá por xícara, mas esta dosagem pode variar dependendo da planta.

  • Posologia:

Pode-se tomar várias xícaras do chá por dia, de preferência longe das refeições, a não ser que o uso do chá seja exatamente para estimular funções digestivas.

  • Adoçantes:

Os chás geralmente não precisam ser adoçados. Em alguns casos, porém, pode-se usar o mel quando se quiser aproveitar suas propriedades medicinais (gripes, tosses, etc), mas só devemos adoçar depois de coado, quando o chá já estiver morno, nunca antes, pois o calor destrói o poder medicinal do mel.

  • Prazo de validade: Nunca use um chá mais de 24 horas depois de preparado, pois ele entra em processo de fermentação (mesmo mantido em geladeira). Prepare a quantidade suficiente para um dia apenas.

  • Tempo de uso: Recomenda-se não usar o mesmo chá por tempo prolongado, pois o nosso organismo responde cada vez menos ao tratamento. Use por um período de 30 dias e troque por outro tipo de chá, retomando o seu uso após algum tempo.

  • Utensílios: Evite usar utensílios de metal para fazer os chás. Embora não o notemos, eles podem causar alterações no efeito e sabor do chá. O ideal é usar recipientes de vidro, barro, louça ou esmalte.

  • Outros usos: Os chás, além de tomados, podem ser usados na forma de compressas, banhos, gargarejos, inalações e lavagens.

  • Compressas: Compressas de chá quente aliviam dores inflamatórias e facilitam a resolução destas inflamações. Neste caso usam-se chás com propriedades anti-inflamatórias.

  • Banhos: São os banhos de imersão. A água deve estar morna e o banho deve durar uns 20 minutos. O banho pode ser repetido três vezes por semana durante um mês. Após este período mudar a erva utilizada.

  • Gargarejos: São recomendados para atuar na cavidade bucal e na garganta. Pode-se colocar sal de cozinha depois de coado, pois este é anti-inflamatório e antisséptico.

  • Inalações: Específico para as vias respiratórias. Ferver o chá e colocar um funil de papelão invertido sobre o recipiente, inalando o vapor.

  • Lavagens: Normalmente intestinais e vaginais (corrimento).

Considerações finais

Nesse item farei um breve comentário sobre a importância dessa disciplina em minha formação enquanto futura pedagoga e portadora de cultura.

Através dessa optativa e com esse trabalho proposto na disciplina pude compreender que não importa se você é uma pessoa erudita ou não, a cultura é para todos e formada por todos. Essa disciplina me fez refletir sobre elementos essenciais da nossa cultura e que não nos damos conta, detalhes importantes que estão presente na nossa vida e que influencia de forma indireta em nossas ações, um exemplo disso, é a Casa bandeirista que faz parte da arquitetura paulista resgatando um pouco da história da cidade.

Aprendi nesse curso a importância de valorizar a cultura por mais simples que seja, e gostaria de levar sempre comigo essa ideia para que futuramente eu possa transmiti-la aos meus futuros alunos.



Referências Bibliográficas:

AS PLANTAS MEDICINAIS - UM BREVE HISTÓRICO . Texto de MIRANDA (1998). Disponível em: <http://www.esalq.usp.br/siesalq/pm/p02.pdf> Acesso em: Setembro de 2012.

 

BOSI, Alfredo. Cultura brasileira e culturas brasileiras.In:Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p.308-345.

 

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/plantas_medicinais.pdf> outubro de 2012.

 

BRASIL. Rede de saberes mais educação: pressupostos para projetos pedagógicos de educação integral: caderno para professores e diretores de escolas. – 1. ed. – Brasília: Ministério da Educação, 2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/cad_mais_educacao_2.pdf>Acesso em: outubro de 2012.

 

Ervas medicinais na historia. Disponível em: <http://colegioleonardodavinci.com.br/materialdidatico/6_EF_ERVAS_MEDICINAIS.pdf> Acesso em: Setembro de 2012.

 

FERNANDES, J.R.O. ENSINO DE HISTÓRIA E DIVERSIDADE CULTURAL: DESAFIOS E POSSIBILIDADES. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 67, p. 378-388, set./dez. 2005 Disponível em: <www.scielo.br/pdf/ccedes/v25n67/a09v2567.pdf> Acesso em: Setembro de 2012.

 

Giraldi & Hanazaki: Uso e conhecimento tradicional de plantas medicinais no Sertão do Ribeirão, Florianópolis, SC, Brasil. Acta bot. bras. 24(2): 395-406. 2010. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/abb/v24n2/a10v24n2.pdf> Acesso em: Setembro de 2012.

 

LUSTOSA, Ana Karina Marques Fortes. Avaliação do potencial farmacológico da manteiga de bacuri (Platonia insignis Mart.) e de forma farmacêutica de uso tópico com ela desenvolvida Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas). Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências Saúde, Programa de Pós-Graduação Ciências Farmacêuticas: Teresina, 2012.

 

NETO, G. G. O saber tradicional pantaneiro: as plantas medicinais e a educação ambiental. Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient., v.17, julho a dezembro de 2006. Disponível em: <http://www.remea.furg.br/edicoes/vol17/art34v17a5.pdf> Acesso em: Setembro de 2012.