Ana da Silva Ledo*

Os "bebês-proveta", nome popular dado às crianças nascidas mediante o processo de fecundação in vitro, é apenas uma entre as muitas manifestações do progresso da biotecnologia.

Atualmente, o que mais é divulgado nos meios de comunicação é a engenharia genética ou a clonagem de animais e seres humanos. Clone pode ser definido como um indivíduo ou grupo de indivíduos geneticamente idênticos, originados por reprodução assexuada, a partir de uma única célula.

A clonagem de seres humanos é hoje um assunto bastante polêmico. Entretanto nas plantas é conhecida pelo homem desde longas datas. A formação de uma planta completa a partir de uma folha, raiz ou caule é uma prática bastante conhecida e presente no dia-a-dia de agricultores, jardineiros, viveiristas e donas de casa. A clonagem é uma prática agrícola muito utilizada para a produção de mudas e pode ser efetuada por meio da enxertia ou enraizamento de estacas.

As pesquisas com a multiplicação de plantas em laboratório vêm despertando a atenção de pesquisadores desde 1902, com base na teoria da totipotencialidade das células, ou seja, qualquer célula de um organismo vegetal tem a capacidade de gerar um indivíduo completo. A partir dessa teoria foi possível, ao longo dos anos, aplicar técnicas de cultura de células e tecidos in vitro (em laboratório) em diferentes espécies de plantas para a multiplicação rápida de mudas, acelerar programas de melhoramento genético e na conservação e preservação de germoplasma. Esta técnica também é denominada de micropropagação ou propagação in vitro.

A cultura de tecidos apresenta aplicação prática em plantas com dificuldade de se reproduzir por sementes e/ou por enxertia, enraizamento de estacas e perfilhos; e, na multiplicação de cultivares com características superiores de produtividade, qualidade de fruto, e resistência e/ou tolerância a pragas e doenças. Dentre estas espécies destacam-se as palmeiras, como o coqueiro, que por não apresentar caule e nem perfilhos, como a bananeira, só podem ser multiplicadas por sementes. A formação de mudas a partir de sementes promove a formação de plantios desuniformes.

Nos últimos 08 anos, a Embrapa Tabuleiros Costeiros vem estudando receitas para a clonagem de diferentes plantas em laboratório. Esta técnica permite que a partir de um fragmento de tecido da planta, sejam produzidas diversas mudas num pequeno espaço físico e em curto período de tempo. Dentre as vantagens dessa técnica destacam-se a identidade genética, ou seja, as mudas produzidas apresentam as mesmas características genéticas de produção, qualidade do fruto da planta mãe de onde foi retirado o material inicial para propagação, garantindo o rendimento e a qualidade fitossanitária do material.

No caso da bananeira, pelo método convencional de perfilhos ("filhos"), a partir de uma planta-mãe são produzidas em média 40 mudas. Por meio da micropropagação podem ser produzidas milhares de mudas, a partir de uma planta adulta, em oito meses.

Entre 1975 e 1980 foram criados os primeiros laboratórios de cultura de tecidos no Brasil, hoje o país possui dezenas de laboratórios. A Embrapa Tabuleiros Costeirospossui um laboratório bem equipado e oferece regularmente um curso anual de 32 horas com aulas teóricas e práticas sobre as técnicas de produção de mudas em laboratório.

A partir de uma parceria do Sergipe Parque Tecnológico, Embrapa Tabuleiros Costeiros, Emdagro, FAPITEC-SE e FINEP será instalada a primeira fábrica de mudas in vitro em Sergipe, com o objetivo inicial de produzir 500 mil mudas de abacaxi e banana.

A biotecnologia deve ser encarada como um conjunto de técnicas modernas que pode auxiliar a agricultura e o desenvolvimento sócio-econômico racional, bem como a preservação e conservação dos recursos genéticos da Amazônia.


*Ana da Silva Ledo é pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Sergipe, especialista em Biotecnologia/Fruticultura