PLANEJAMENTO INTERDISCIPLINAR: A PROPOSTA DAS DISCIPLINAS FÍSICA, QUÍMICA, BIOLOGIA E MATEMÁTICA DO PROEJA/IFPA2

 

Laudemir Roberto Ferreira Araujo1

Sônia de Jesus Nunes Bertolo (orientadora)2

 

 

RESUMO

 

Este artigo trata de temas referentes ao planejamento interdisciplinar de professores que atuam nas disciplinas de Física, Química, Biologia e Matemática no PROEJA/IFPA. O estudo foi desenvolvido por intermédio de um questionário aplicado a oito docentes. O foco do estudo foi à relação entre a teoria e a prática nas disciplinas estudadas pelos alunos do PROEJA/IFPA, levantando um conjunto de fatores que podem ser trabalhados de forma coletiva ou interdisciplinar nas aulas práticas fundamentadas nas aulas teóricas. O resultado do estudo aponta que o planejamento de alguns professores que atuam no PROEJA, continua de forma unidisciplinar, porém a nossa intervenção é de que possamos aderir as sugestões dos professores entrevistados para melhorar ou efetivar a relação interdisciplinar na teoria e na prática das atividades de suas disciplinas, onde foram de diferentes configurações passando pela questão do projeto curricular, ampliação da carga horária das disciplinas, melhorar a infra-estrutura dos laboratórios e possibilitar um planejamento integrado entre os docentes.

 

Palavras-Chave: Interdisciplinaridade; Relação Teoria e Prática; PROEJA

                                  

1. Introdução

 

É preciso frisar que apostar na interdisciplinaridade significa defender um novo tipo de pessoa, mais aberta, flexível, solidária, democrática e crítica. O mundo atual precisa de pessoas com uma formação cada vez mais polivalente para enfrentar uma sociedade na qual a palavra mudança é um dos vocábulos mais freqüentes e onde o futuro tem um grau de imprevisibilidade como nunca em outra época da história da humanidade. (SANTOMÉ, 1998).          

 

 


1 Licenciado Pleno em Biologia, graduado pela Universidade Federal do Pará - UFPA, Professor de Biologia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará. E-mail: [email protected] e Telefone: 91 8841-6271.

 

2 Artigo de Conclusão do curso de Especialização em “Educação Profissional integrada à Educação Básica na modalidade de Educação de Jovens e Adultos” (Turma 2009) do IFPA, sob a orientação da Prof. Drª. Sônia de Jesus Nunes Bertolo.

 

Este artigo apresenta resultado da pesquisa de campo que envolveu professores das disciplinas Biologia, Química, Física e Matemática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará sobre experiências vividas no planejamento interdisciplinar das aulas teóricas e práticas das disciplinas que ministram no PROEJA/IFPA.

O PROEJA3 é um programa federal, instituído pelo Decreto nº 5.478, de 24 de junho de 2005, revogado e redefinido pelo Decreto nº 5.840, de 13 de julho de 2006, que abrange cursos e programas de educação profissional, de formação inicial e continuada de trabalhadores e de educação profissional técnica de nível médio. Propõe-se formar para o trabalho e, ao mesmo tempo, elevar a escolaridade dos sujeitos que não puderam concluir os estudos na faixa etária adequada (MEC/SETEC, 2006).

Apesar de seu objetivo apresentar uma conotação de inclusão social e de oportunizar melhor condição ao seu público, desperta preocupação a forma como tal política vem sendo implantada, sobretudo no que concerne à formação dos profissionais de ensino que irão atuar nesta modalidade.

O Documento Base do PROEJA aponta algumas iniciativas no sentido de qualificação quando afirma que “a formação de professores e gestores objetiva a construção de um quadro de referência e a sistematização de concepções e práticas político-pedagógicas e metodológicas que orientem a continuidade do processo”. Ainda, destaca que para se alcançar esse objetivo “a ação se dará em duas frentes: um programa de formação continuada sob a responsabilidade das instituições proponentes e programas de âmbito geral fomentados ou organizados pela SETEC/MEC4.” (MEC/SETEC, 2006p. 28).

Sobre essa questão o documento é enfático quando prever que:

 

As instituições proponentes devem contemplar em seu Plano de Trabalho a formação continuada através de, no mínimo: a)  a formação continuada totalizando 120 horas, com uma etapa prévia ao início do projeto de, no mínimo 40 horas; b) participação em seminários regionais, supervisionados pela SETEC/MEC, com periodicidade semestral e em seminários nacionais com periodicidade anual, organizados sob responsabilidade da SETEC/MEC; c)  possibilitar a participação de professores e gestores em outros programas de formação continuada voltados para o PROEJA. (Op.Cit. p, 28)

 


3 Programa Nacional de Educação e Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos.

4 Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica e Ministério de Educação

Tais considerações justificam a necessidade de um estudo que aborde questões relacionadas à formação e a prática dos professores que desenvolvem suas atividades pedagógicas no âmbito do PROEJA, uma vez que a ausência de práticas interdisciplinares dos professores pode ser um dos fatores promotores de repetência e evasão no PROEJA/IFPA.

Esta pesquisa tem por objetivo verificar como os conhecimentos teóricos e práticos das disciplinas Biologia, Química, Física e Matemática se articulam na construção do projeto curricular do PROEJA/IFPA. De modo específico buscou-se também analisar como os professores podem realizar a inter-relação do conteúdo das disciplinas Biologia, Química, Física e Matemática em suas aulas teóricas e práticas no PROEJA/IFPA, assim como caracterizar as aulas de Biologia, Química, Física e Matemática como exemplo da relação interdisciplinar na realização entre a teoria e a prática e levantar questionamentos críticos e decisivos sobre o planejamento das aulas.

 As questões que motivam este estudo partem das seguintes indagações: existe um planejamento coletivo ou individual que relacione as atividades teóricas com as atividades práticas de laboratório no PROEJA/IFPA? Como os professores das disciplinas Biologia, Química, Física e Matemática do PROEJA vêem a relação teoria e prática como forma de assegurar ao aluno uma aprendizagem significativa? A carga horária das disciplinas Biologia, Química, Física e Matemática no PROEJA, permite oferecer a interação das aulas teóricas com as aulas práticas? Os alunos do PROEJA estão aptos a receber a interação da teoria/prática nessas disciplinas? Existe um apoio pedagógico no IFPA que se concretize a interação da aula teórica com a aula prática no PROEJA?

O propósito desta pesquisa é problematizar o ensino experimental interdisciplinar no PROEJA/IFPA, examinando as contribuições teóricas no ensino-aprendizagem das disciplinas Biologia, Química, Física e Matemática. O estudo se desenvolveu com um grupo de oito professores que atuam nas referidas disciplinas.  Através de um questionário aplicado junto a esses docentes buscou-se construir um diagnóstico sobre como a relação teoria e prática vem sendo desenvolvida, assim como levantar um conjunto de fatores que podem ser trabalhados de forma coletiva ou interdisciplinar nas aulas práticas fundamentadas nas aulas teóricas, as quais devem estar direcionadas para as turmas do PROEJA/IFPA.

Em vista a concretizar tal propósito, o conteúdo deste artigo organiza-se em três eixos centrais: a) breve discussão sobre a interdisciplinaridade5 no ensino, com foco nas questões conceituais e práticas pedagógicas; b) o planejamento interdisciplinar no PROEJA/IFPA, abordando os resultados da pesquisa realizada com docentes que atuam nas disciplinas Biologia, Química, Matemática e Física; e, c) construindo uma proposta interdisciplinar, que apresenta algumas pistas para efetivação de um trabalho docente que articule teoria e prática no PROEJA/IFPA.

 

2. Interdisciplinaridade na Educação Profissional: Conceitos e Práticas

A interdisciplinaridade pode ser entendida como uma condição fundamental do ensino e da pesquisa (em níveis universitários e do segundo grau) na sociedade contemporânea. Mas, antes de iniciar qualquer reflexão sobre este tema, deve ser observado que o conceito de interdisciplinaridade (assim como o de transdisciplinaridade) tem sofrido usos excessivos que podem gerar sua banalização. Por isto, parece prudente evitar os debates teóricos ideológicos sobre o que é a interdisciplinaridade, sendo preferível partir da pergunta sobre como esta atividade se apresenta no campo acadêmico atual.

Um obstáculo sério para entender o sentido da atividade interdisciplinar reside no fato de que os pesquisadores e docentes estão envolvidos em idiossincrasias das quais eles não são totalmente conscientes, entrando em debates intermináveis sobre um tema que é complexo e assume diferentes configurações, conforme se pode atestar nas considerações apresentadas por Jantsch & Bianchetti, 2002.

 

Profunda e extensamente polissêmico, que circula por todos os lugares geográficos e institucionais, mas com significados diversos. A pretensão de colocar “ordem” na “desordem” é vã e, no limite, atenta contra a prática da interdisciplinaridade. Trata-se, antes de mais nada, de entender o fenômeno muito mais como uma prática em andamento, que como um exercício orientado por epistemologias e metodologia perfeitamente definidas. Devemos discordar, portanto, da atual tendência homogeneizadora predominante da teorização sobre interdisciplinaridade (Jantsch & Bianchetti, 2002).

 

De forma preliminar, pode-se afirmar que a interdisciplinaridade é considerada uma forma de pensamento que procura explicar os fatos sob diferentes pontos de vista.

 


5 As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – Parecer CEB/CNB no. 15/98, instituídas pela Resolução nº. 4/98, entre outras disposições, determinam que os currículos se organizem em áreas – “a base nacional comum dos currículos do ensino médio será organizada em áreas de conhecimento” – estruturadas pelos princípios pedagógicos da interdisciplinaridade, da contextualização, da identidade, da diversidade e autonomia, redefinindo, de modo radical, a forma como têm sido realizadas a seleção e organização de conteúdos e a definição de metodologias nas escolas em nosso país.

 

Daí resulta que a linguagem – objeto para o qual convergem diversas disciplinas – pode ser estudada, por exemplo, sob o ponto de vista da Psicologia da Aprendizagem, da Sociolingüística, da Psicolingüística, da Lingüística, entre outras abordagens igualmente importantes.

Hoje, há diversas formas de abordar a interdisciplinaridade, o que torna mais difícil uma reflexão sobre o tema. Muitos termos correlatos, como transdisciplinar, intradisciplinar, pluridisciplinar, multidisciplinar, são tentativas de conceituar a interdisciplinaridade nas suas diferentes versões no campo educacional, que podem ser sob o ponto de vista didático, epistemológico, sociológico, entre outros.

Neste trabalho, optou-se por uma tentativa de tratar a interdisciplinaridade no aspecto didático, ou seja, na tentativa de esse novo conceito ser norteador na elaboração de aulas teóricas e práticas nas disciplinas de Biologia, Química, Física e Matemática no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará. Deve-se reconhecer, no entanto, que é tarefa difícil tratar de qualquer versão da interdisciplinaridade sem considerar sua ligação natural com os aspectos epistemológicos que envolvem as ciências educacionais.

A fragmentação do saber através da especialização está a exigir uma nova interação das disciplinas. Nesse sentido, “o conceito de interdisciplinaridade” - conforme Mello (1998) “fica mais claro quando se considera o fato trivial de que todo conhecimento mantém um diálogo permanente com outros conhecimentos, que pode ser de questionamento, de confirmação, de complementação, de negação, de ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos”. Nessa perspectiva, verifica-se ainda que muitas disciplinas se aproximam e se identificam, enquanto outras se diferenciam e se afastam, dependendo dos aspectos que se pretende conhecer.

 

A interdisciplinaridade também está envolvida quando os sujeitos que conhecem, ensinam e aprendem, sentem necessidades de procedimentos que, numa única visão disciplinar, podem parecer heterodoxos, mas fazem sentido quando chamados a dar conta de temas complexos. Se alguns procedimentos artísticos podem parecer profecias na perspectiva científica, também é verdade que a foto do cogumelo resultante da explosão nuclear também explica, de um modo diferente da física, o significado da bomba atômica. Nesta multiplicidade de interações e negociações recíprocas, a relação entre as disciplinas tradicionais pode ir da simples comunicação de idéias até a integração mútua de conceitos diretores, da epistemologia, da terminologia, da metodologia e dos procedimentos de coleta e análise de dados. Ou pode efetuar-se, mais singelamente, pela constatação de como são diversas as várias formas de conhecer. Pois até mesmo a “interdisciplinaridade singela” é importante para que os alunos aprendam a olhar o mesmo objeto sob perspectivas diferentes. (MELLO, 1998)

 

Em nosso atual sistema educacional, devido a diversos fatores, praticamente inexiste o trabalho interdisciplinar. Nossas universidades ainda não conseguiram superar o positivismo presente tanto no ensino quanto na pesquisa. O máximo que têm conseguido realizar são encontros disciplinares, fruto da imaginação criadora, da curiosidade, do espírito mais aberto e da coragem de alguns docentes que ousam desafiar o autoritarismo e o dogmatismo instituídos.

 

(...) o interdisciplinar constitui um motor de transformação capaz de restituir vida às nossas mais ou menos esclerosadas instituições de ensino. Para tanto, mil obstáculos (epistemológicos, institucionais, psicossociológicos, psicológicos, culturais, etc.) precisam ser superados. Por exemplo: a situação adquirida dos “mandarinatos” no ensino e na pesquisa, inclusive na administração (cargos para os mais medíocres); o peso da rotina: a rigidez das estruturas mentais; a inevitável inveja dos conformistas e conservadoristas em relação às idéias novas que seduzem (ódio fraterno); o positivismo anacrônico que, preso a um ensino dogmático, encontra-se à míngua da fundamentação teórica; a mentalidade esclerosada de um aprendizado apenas por entesouramento; o enfeudamento das instituições; o carreirismo buscado sem competência; a ausência de crítica dos saberes fragmentados, etc. Todavia, o interdisciplinar deve responder a certas exigências: a criação de uma nova inteligência e de uma razão aberta, capazes de formar uma nova espécie de cientistas e de educadores, utilizando uma pedagogia nova, etc. (JAPIASSU, 1995)

 

O desafio de construir um projeto político-pedagógico que integre o currículo e que este seja um rol de conhecimentos necessários para formar e qualificar jovens e adultos na educação profissional integrada ao ensino médio, exige enfrentar questões pertinentes aos conteúdos a serem ensinados/apreendidos por esses jovens e adultos e à metodologia adotada durante o processo ensino/aprendizagem.

Ao organizar uma estrutura curricular que atenda a esta exigência, faz-se necessário explicitar de que conhecimento estamos falando, que jovens e adultos tomamos como referência, em que perspectiva o currículo se fundamenta ao distribuir conteúdos traduzidos em disciplinas, ao longo de determinado tempo escolar, sobretudo considerando que esses jovens e adultos, excluídos até então do processo regular de ensino, poderão elevar a sua escolaridade para o ensino médio e ainda obter formação profissional para exercer determinada atividade laboral.

 

 

 

O currículo não é um elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social. O currículo está implicado em relações de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares. (MOREIRA E SILVA, 1994, p. 7-8).

 

Frigotto e Ciavatta (2005), são autores que participam das formulações teórico-políticas sobre a educação integrada, concebem-na como perspectiva de superação da dualidade da educação, no ensino-médio profissionalizante, tendo em vista possibilitar aos educandos vivenciarem uma formação que integre a relação teoria e prática como práxis, pela unidade da formação técnica e intelectual, visando formar trabalhadores intelectuais orgânicos, cidadãos capazes de atuar no mundo do trabalho de forma ativa, críticos e comprometidos com a transformação da sociedade.

O PROEJA exige que se implante uma política específica para a formação de professores para nele atuar, uma vez que há carência significativa no magistério superior de uma sólida formação continuada de professores para atuar nessa esfera. Entende-se que a formação docente é uma das maneiras fundamentais para se mergulhar no universo das questões que compõem a realidade desse público, de investigar seus modos de aprender de forma geral, tendo em vista compreender e favorecer lógicas e processos de sua aprendizagem no ambiente escolar.

 

3. Planejamento Interdiciplinar no PROEJA IFPA    

Segundo Martins, Meneses e Vieira (2007) a aprendizagem acontece em toda e qualquer idade, desde quando nascemos, estamos aprendendo. Contudo, é necessário entendermos como esses sujeitos aprendem, a partir de uma perspectiva ampla e apropriada, pois em cada período de vida a aprendizagem acontece diferentemente, uma vez que depende da inter-relação entre o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, cultural e orgânico.

Assim, falar como os adultos aprendem é falar de uma aprendizagem própria e distinta das crianças e adolescentes. Dentre as principais características de adultos como alunos que devem ser levadas em conta, quando se planeja educação escolar de qualidade, devemos lembrar que os jovens e adultos apresentam uma vontade própria de aprender, que os levam a adquirir conhecimentos e/ou habilidades; seu desejo de aprender pode ser motivado por influências externas, porém nunca lhes deve ser imposto.

Esse tipo de compreensão é fundamental para se pensar a forma como se tem conduzido o ensino nas diferentes modalidades da educação. No caso específico do PROEJA/IFPA é preciso focalizar a aprendizagem de alunos que para aprender necessitam de conhecimentos com aplicabilidade imediata; querem ensinamentos simples e diretos; não têm paciência em ouvir revisões históricas, muita teoria. Querem obter resultados práticos desde o primeiro dia de aula. Geralmente ele seleciona e avalia o que vai aprender, em função do proveito imediato que venha a tirar do conteúdo a ser aprendido. Portanto conhecer o perfil desse aluno com características próprias e com opiniões muitas vezes formadas por conhecimento de vida e que por si constroem seus próprios significados.

Segundo Tápia e García-Celay (1996), vários são os fatores que atribuem êxitos e fracassos escolares, assim podemos ter fatores internos ou externos que influem nas emoções e expectativas do aluno justificando o maior ou menor esforço para aprender, isso inclui a sua participação em sala de aula. Para Tápia (2003), algumas considerações são de extrema necessidade à realização da interação e conhecimento do professor quanto às ações que este deve proporcionar para motivar os alunos no contexto à manutenção do interesse durante a atividade, elaborar as tarefas de modo que permitam aprender a pensar, prestar atenção à forma de interagir com os alunos, promover o trabalho cooperativo sempre que possível e prestar atenção às dimensões da avaliação que afetam a motivação.

Na pesquisa desenvolvida com oito professores que atualmente trabalham com as turmas do PROEJA no IFPA, cinco professores eram do sexo masculino e três do sexo feminino (Gráfico1). Com relação às disciplinas foram divididos da seguinte maneira: dois professores de Biologia, quatro professores de Química, um professor de Física e um professor de Matemática (Gráfico 2), onde foram aplicados questionários sobre o planejamento de uma interdisciplinaridade5 nas aulas teóricas e práticas das referidas disciplinas.

 

 

 

 

 

5 “Do ponto de vista epistemológico, consiste no método de pesquisa e de ensino voltado para a interação em uma disciplina, de duas ou mais disciplinas, num processo que pode ir da simples comunicação de idéias até a integração recíproca de finalidades, objetivos, conceitos, conteúdos, terminologia, metodologia, procedimentos, dados e formas de organiza-los e sistematiza-los no processo de elaboração do conhecimento.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gráfico 1

 

 

 


As seguintes perguntas foram selecionadas na pesquisa de campo: Qual o seu sexo? Qual a sua disciplina no ensino do PROEJA? A relação entre a teoria e a prática é fundamental para assegurar ao aluno uma aprendizagem na disciplina que ministra no PROEJA? Existe um planejamento coletivo ou individual que relacione as atividades teóricas com as atividades práticas de laboratório no PROEJA/IFPA? O Instituto Federal do Pará oferece condições para que haja a interação entre a aula teórica e a aula prática no PROEJA? A carga horária da sua disciplina no PROEJA, permite oferecer a interação das aulas teóricas com as aulas práticas? Os alunos do PROEJA estão aptos a receber a interação da Teoria/Prática na disciplina que o professor ministra? Há quanto tempo o professor trabalha com o PROEJA? Existe um apoio pedagógico no IFPA para que se concretize a interação da aula teórica com a aula prática no PROEJA? Quais sugestões você daria para melhorar ou efetivar a relação teoria-prática nas atividades de ensino na disciplina que você ministra no PROEJA?

Todos os professores entrevistados das disciplinas do PROEJA, disseram que a relação entre a teoria e a prática é fundamental para assegurar ao aluno uma aprendizagem significativa. Seis professores responderam que apresentam planejamentos relacionados com as atividades teóricas e práticas do laboratório no PROEJA/IFPA, porém dois professores, um de Física e outro de Biologia mencionaram  não haver um planejamento coletivo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gráfico 2

 

 

 


O interessante é que somente um professor trabalha há mais de um ano no PROEJA/IFPA. Cinco professores responderam que existe parcialmente um apoio pedagógico no IFPA para que se concretize a interação da aula teórica com a aula prática no PROEJA e três professores disseram que não existe este apoio pedagógico pela Instituição (Gráfico 3).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gráfico 3

 

 


Com relação ao tempo de aula da disciplina seis professores responderam que  a carga horária de sua disciplina no PROEJA, não permite oferecer a interação das aulas teóricas com as aulas práticas e apenas dois responderam que a carga horária é suficiente para realizar esta interação (Gráfico 4). A mesma quantidade de professores respondeu que os alunos estão aptos a receber a interação da teoria/prática na disciplina em que trabalham (Gráfico 5) .

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gráfico 4

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

Gráfico 5

Gráfico 5

 

 

 


No Gráfico 6, observamos que quatro professores responderam que o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará oferece condições para que haja a interação entre a Teoria e Prática no PROEJA, enquanto os outros disseram que a instituição não oferece condições para tal interação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Gráfico 6

 

 

 


De acordo com alguns professores do PROEJA/IFPA, as sugestões para melhorar ou efetivar a relação interdisciplinar na teoria e na prática das atividades de suas disciplinas foram de diferentes configurações passando pela questão do projeto curricular, ampliação da carga horária das disciplinas, melhorar a infra-estrutura dos laboratórios e possibilitar um planejamento integrado entre os docentes. O quadro 1 detalha a manifestação do professores:

 

Quadro1: Sugestões para melhorar a relação teoria e prática no PROEJA/IFPA

 

Currículo

Interação aluno e professor

Material Didático

Planejamento

Infraestrutura

Ampliação da Carga horária

- Promover o intercambio entre os docentes e discentes

- Oferecer oficinas, abordando técnicas e/ou metodologias para práticas específicas aos alunos do PROEJA/IFPA.

 

Preparação de material teórico e experimental específico para o PROEJA/IFPA

Reunião dos professores envolvidos no ensino aprendizado no PROEJA/IFPA para elaborar e planejar metodologias adequadas a este segmento

Equipar melhor os laboratórios (reagentes, vidrarias, etc);

 

4. Construindo uma Proposta Interdisciplinar

            A partir do diagnóstico construído sobre como a relação teoria e prática se desenvolve nas disciplinas biologia, química, física e matemática no PROEJA e a partir das sugestões dos professores que atuam nessas disciplinas encaminhamos nesta parte do trabalho um esboço preliminar que reúne pistas sobre como projetar uma proposta de planejamento interdisciplinar. Alguns procedimentos são importantes na conformação dessa proposta como, por exemplo:

1-      Presença de todos os professores no decorrer do planejamento do curso em questão;

            Obter dados estatísticos sobre a quantidade de professores que participam do processo de interdisciplinaridade de suas disciplinas no PROEJA/IFPA.

2-      A quantidade de alunos que abandonam o curso durante o ano em questão;

Levantar estudos que reconheçam boas idéias e iniciativas em prol da não-evasão dos alunos.

3-      Definir princípios e diretrizes para o trabalho interdisciplinar;

Introduzir de forma clara e objetiva os seguintes princípios: a) Reduzir: consiste em tentar reduzir a quantidade de alunos que realizam a evasão, como por exemplo, planejar melhor as aulas teóricas-práticas no PROEJA/IFPA; b) Utilizar: procurar meios para que se possam utilizar os laboratórios do IFPA, na elaboração das aulas práticas e c) Reciclar: realizar mini-cursos para os professores que trabalham no PROEJA/IFPA, no sentido de reciclar seus conhecimentos dentro desta prática educativa.

4-      Estabelecer em conjunto com os professores um cronograma de encontros para planejamento;

Na tentativa de melhorar a situação, propõe-se que a coordenação pedagógica em conjunto com os professores realize reuniões mensais ou quinzenais para decisões importantes dentro de um cronograma ou planejamento interdisciplinar, propondo até quem sabe a participação dos referidos alunos que podem mostrar uma realidade melhor aos professores do seu referido cotidiano.

5-      Relacionar teoria e prática;

A aula prática relacionada com a aula teórica, não precisa ser em laboratórios ultramodernos, mas sim dentro de um contexto que possa ser trabalhado com uma pesquisa em grupo sobre temas variados e que possam ter uma inter-relação para este aluno, onde cada grupo desenvolverá seu trabalho, fundamentado em atividades experimentais, pesquisando em livros, revistas, jornais e, principalmente, nas atividades do seu dia-a-dia onde acham que estas disciplinas mais podem estar presentes em suas vidas. Além da pesquisa em grupo os alunos devem construir vários experimentos proporcionando aulas práticas com materiais de baixo custo. Com isso encontrarão mais facilidade em sanar suas dúvidas e reconhecer a Biologia, a Química, a Física e a Matemática como as ciências importantes e necessárias no desenvolvimento de ação-reflexão-ação do homem.

 

5. Considerações finais

Conforme se procurou demonstrar neste artigo, a interdisciplinaridade pode ser vista como uma nova concepção do saber e do processo de ensinar, ou seja, um novo princípio norteador da reorganização dos diversos objetos de estudo e de reformulação das estruturas pedagógicas. Na prática, para superar a fragmentação do saber decorrente da especialização, a interdisciplinaridade representa uma possibilidade de negociação de pontos de vista, de diálogo e de interação entre as disciplinas.

O IFPA tem demonstrado que é possível empregar a interdisciplinaridades nas aulas do PROEJA, sendo que isso somente será possível se houver um planejamento coletivo que busque a exigência da objetividade em seu corpo docente.

Em síntese: a interdisciplinaridade, enquanto prática de interação entre os componentes do currículo é difícil de ser alcançada, devido aos múltiplos empecilhos que se interpõem no processo educacional, mas permanece como um ponto de excelência a ser perseguido.

Pensando em uma escola que contemple a formação do homem integral, de modo a educá-lo para transpor com maior facilidade os obstáculos da vida, conjecturamos algumas considerações acerca do aluno PROEJA matriculado no IFET/PA. Vários são os fatores que interferem na aprendizagem do aluno do PROEJA, entre eles o planejamento do conteúdo e a formação dos professores, além da preocupação do educador nas aulas teóricas-práticas. Assim, este trabalho apresenta um perfil que entendemos não ser tão distante dos alunos dessa mesma modalidade no Brasil como um todo.

Fatores financeiros, pedagógicos sociais e afetivos contribuem de forma efetiva na reprovação e evasão desse aluno. Vamos procurar alunos motivados na escola e conscientes de si, de modo que percebamos o quanto é possível delinear uma política de formação básica. Para tanto entendemos a necessidade do profissional que trabalha com esses alunos, conhecer seu perfil e assim adequar à metodologia aplicada em sala de aula, criando possíveis linhas de ação em prol de uma aprendizagem significativa para o aluno jovem e adulto.

A consolidação da formação integrada de jovens e adultos assumida, deve se constituir como processo, como busca permanente de sua concretização, na medida em que não podemos considerá-la pronta e acabada, mas como construção e reconstrução permanentes, em que todos os atores envolvidos, devem ser instigados coletivamente a recriar a partir de suas historicidades concretas, mediadas pela ação-reflexão-ação, pela problematização de suas práticas pedagógicas, de forma dialética, novas contribuições para sua efetiva realização.

A reflexão crítica sobre a prática é condição para a transformação daquilo que se projeta como ideal em real, o que exige que esta esteja constantemente iluminada pelos seus princípios orientadores, no que se refere à concepção de trabalho-homem-conhecimento.

 

6. Referências

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BRASIL. (2006). Congresso Nacional. Decreto nº 5.840, de 13 de julho de 2006. Institui, no âmbito federal, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA, e dá outras providências.

 

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