Lidia Grusegoch (EMEF Rondonópolis) – [email protected]
Hoje tem se discutido muito a questão da criança com relação ao brincar. Essas discussões mostram uma preocupação com a formação cultural e educacional dos adultos que lidam/ trabalham com a criança, sejam eles homens ou mulheres, professores ou não.
O brincar é um direito da criança, este direito é reconhecido pelas seguintes legislações: Constituição Federal de 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional de 1996 e Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil de 1998. Entendendo o “brincar” enquanto um direito da criança é necessário que compreendamos o significado, a função e a importância do brinquedo/jogo e brincadeiras para o desenvolvimento integral da criança para que possamos proporcioná-las situações e vivências lúdicas.
Brincar é nossa primeira forma de cultura. A cultura é algo que pertence a todos nós. É a forma como as pessoas vivem e se expressam. A criança começa a brincar desde bebê. Mesmo antes de brincar com objetos, vem o brincar consigo mesma e com as pessoas. Antes mesmo de ser capaz de segurar algo nas mãos já brincar de abrir e fechar os olhos, fazendo o mundo aparecer e desaparecer como se fosse mágica. Mais tarde, quando já consegue movimentar-se sozinha, e depois falar, a criança passa a explorar ainda mais as coisas ao seu redor. Ela adquire mais autonomia e tenta descobrir como as coisas funcionam. Para a criança a experiência manual é o primeiro passo rumo à descoberta do mundo que a cerca.
É por meio dos brinquedos/jogos e brincadeiras, isto é, das atividades lúdicas, que a criança tem oportunidade de raciocinar, descobrir, persistir e perseverar; é capaz de aprender a perder percebendo que haverá novas oportunidades para ganhar; aprende a esforçar-se e ter paciência, não desistindo facilmente das inúmeras situações - problemas encontrados. O brincar fornece à criança a possibilidade de construir uma identidade autônoma, cooperativa e criativa.
Todo desenvolvimento e aprendizado que uma brincadeira permite é fundamental para a formação da criança em todas as etapas de sua vida. É por meio das atividades lúdicas, que a criança conhece melhor a si própria. Além disso, quando se
relaciona como outras crianças, ela experimenta situações de vida, ora de competição, ora de cooperação, ora de coragem, ora de medo, ora de alegria, ora de tristeza.
Durante as atividades lúdicas, as crianças sentem-se livres para tomar iniciativas e viver situações que ela mesma escolhe. Pular obstáculos, subir em árvores, imitar ou representar situações de sua vida, são dentre outras, atividades que exigem situações de imaginação, de criatividade, de equilíbrio, de agilidade e de raciocínio. Sendo a brincadeira uma atividade social, depende de regras de convivência e regras imaginárias que são discutidas e negociadas o tempo todo pelas crianças que brincam.
Assim como ter acesso a uma boa alimentação, a uma educação de qualidade e a um atendimento médico adequado – direitos defendidos por lei e reconhecidos como primordiais – o brincar também precisa ser visto como um direito essencial ao desenvolvimento infantil. Juridicamente, ele é garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) que estabelece em seu artigo 24 “o direito ao repouso e ao lazer”. A Declaração dos Direitos da Criança (1959), em seus artigos 4 e 7, confere aos meninos e meninas o “direito à alimentação, à recreação, à assistência médica” e a “ampla oportunidade de brincar e se divertir”. Mais recente, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 16, estabelece o direito a “brincar, praticar esportes e divertir-se”.
As leis, portanto, existem. Falta à sociedade, ao adulto, reconhecer o brincar como elemento basilar para um desenvolvimento pleno e saudável das crianças, aquilo que as ajuda a compreender e se relacionar com o meio; estimula a cooperação; desenvolve a iniciativa, a curiosidade, o interesse e o senso de responsabilidade.
O lugar do brincar na sociedade contemporânea – Amarelinha, pega-pega, escravos de jó, baleado, esconde-esconde. Brincadeiras que nos remetem a um passado que parece distante, época em que nas ruas e praças das cidades enxergávamos alegria, diversão, expressão, vida. E no presente? Quais os espaços oferecidos às nossas crianças para a brincadeira e interação? Qual o lugar da brincadeira na vida dos nossos meninos e meninas? Os pais e educadores estimulam ou limitam a prática do brincar? Essas e outras perguntas nos inquietam, antes de tudo, resgatamos nossas memórias da infância, porque “não há como refletir sobre o brincar, sem brincar”,