DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1989, p. 229 - 257.

José Paes de Santana[1]

 

A pesquisa participante ou pesquisa-ação é uma pesquisa voltada para uma ação entre teoria e prática comprometida com a “avaliação de manifestações sociais dotada de qualidade política” (DEMO, 1989, p. 229). Por conseguinte, a metodologia da pesquisa-ação, estimula a participação das pessoas envolvidas na pesquisa, que ao mesmo tempo são também investigadores.

Pelo exposto acima se pode compreender porque a pesquisa-ação relaciona uma ação à resolução de um problema coletivo, de forma que proporciona um engajamento sócio-político dos participantes a serviço de uma causa social, onde o pesquisador, também participante não impõe suas vontades de forma unilateral, mas escuta e elucida os vários aspectos de uma situação comunitária, sem contudo perder de vista o viés científico, pois a pesquisa-ação não contraria as exigências metodológicas, mas como uma estratégia de pesquisa social que usa vários métodos ou técnicas, percorre o caminho da realidade social na sua complexidade, para a construção de métodos adequados à transformação dessa realidade (DEMO, 1989).

A pesquisa participante privilegia os procedimentos argumentativos, o paradigma qualitativo, sem prescindir dos métodos e dados quantitativos, especialmente quando as transformações que se pretendem alcançar não são possíveis através do discurso, da denúncia ou da contra-argumentação, “restringindo-se muitas vezes a registros descritivos de faces parciais da realidade mensurável” (DEMO, 1989, p. 232).

Sua estratégia metodológica pode se concretizar no planejamento participativo através de três momentos essenciais, segundo Demo (1989): autodiagnóstico expresso pela confluência entre o saber popular e o conhecimento científico, que se caracteriza através do diagnóstico realizado pelo próprio interessado, o qual pode até absorver uma idéia vinda de fora, mas esta idéia deve ser formatada pela comunidade; estratégia de enfrentamento prático mediante a transformação da teoria em prática, e a necessidade de organização política, nesse caso “a pesquisa participante exige na mesma pessoa o pesquisador formalmente competente e o cidadão politicamente qualitativo” (DEMO, 1989, p. 239).

A avaliação qualitativa pode surgir para realimentar um sistema no sentido de se confirmar se a comunidade está tomando as medidas corretas no enfrentamento de seus problemas, para reconhecer a qualidade das decisões de uma associação comunitária, entre outros exemplos.

Desse modo, a partir da última citação de Demo a respeito do último momento  acima referido, se percebe a forte definição ideológica da pesquisa participante e se pode concluir que ela é voltada para a organização de setores da sociedade formados, muitas vezes, por excluídos, que podem conseguir através da pesquisa-ação uma forma alternativa de vida com qualidade, a exemplo das comunidades de catadores de lixo, que organizados politicamente,  podem enfrentar o problema social da pobreza, vislumbrada a possibilidade de mudança, e através da solidariedade, na busca da autonomia, e porque não dizer da felicidade.



[1] Mestre em Educação. Graduado em Ciências, Matemática, Bacharel em Direito e atualmente é Diretor do Centro de Ensino Fundamental 02 do Guará - Secretaria de Estado de Educação do DF - Brasil. Trabalha com  Educação, com ênfase em Educação Matemática, Mediação de Conflitos, e Direito. [email protected]