Pesquisa de opinião: TU!-TU!
Publicado em 31 de dezembro de 2010 por NERI P. CARNEIRO
Pesquisa de opinião: TU!-TU!
Neri P. Carneiro
Conta-se
que naquela cidade havia um prefeito. Pessoa boníssima! Bom que não tinha
rachado, como diz o gaúcho. Só não era perfeito porque não era Deus, pois dizem
que Deus é perfeito...mas não é prefeito!
Mas aquele
prefeito sentia-se meio deus...
O caso é
que esse prefeito, em certa ocasião mandou executar uma série de obras, na
cidade, beneficiando toda a população. E isso aumentou ainda mais sua
popularidade! Nunca vi seu extrato banco!!!
Não que
fosse vaidoso. Apenas gostava de receber elogios. Narciso no espelho d’água!
Foi nessa
época que, em mais uma de suas boas obras em favor dos munícipes, mandou que se
instalasse telefone na cidade. Naquela época telefone era coisa rara. Tão rara
que funcionava e a gente só pagava as ligações que realmente havia feito.
E assim se
fez: e se instalou telefone na cidade. E, é claro, na prefeitura também!
Como não
poderia deixar de ser, havia um aparelho sobre a mesa do prefeito. E ele
utilizava o aparelho, com freqüência: ligava para o governador, para outros
prefeitos, para sua casa, para uma infinidade de lugares, a serviço ou só para
“jogar conversa fora”, com costumava dizer, ao telefone.
Mas o
interessante, da história não é isso. O interessante foi o que descobriu um de seus
assessores.
Deu-se o seguinte, descobriu o assessor: o prefeito,
todos os dias, invariavelmente, chegava à prefeitura, entrava em seu gabinete,
deixava a matula sobre a mesa e saía.
Postava-se debaixo dum orelhão, que mandara instalar
em frente à prefeitura, e punha-se a
discar, falava e ficava um bom tempo ouvindo.
Isso ainda no tempo em que os telefones públicos
funcionavam com fichas...
No caso o caso já estava dando o que falar: uma
amante?????
Quase todos os funcionários da prefeitura falavam.
Alguns até apostavam!
“O prefeito tem uma amante!”, “Não, ele está tramando
desvio de verbas!” Ele faz ligação de lá porque se fizer da prefeitura
descobrem seu esquema de corrupção!” e por aí andavam os comentários.
Antes de mais nada, o assessor era seu amigo pessoal.
Depois de relutar, decidiu falar com o amigo!
- Estão falando mal do prefeito!
- Mas o quê andam dizendo?
- Prá falar pouco eles dizem que o prefeito tem
alguma coisa a esconder!
- Esconder? Eu? O quê eu teria prá esconder? De quem?
Por quê?
- As ligações que o prefeito anda fazendo, do
orelhão! E o pior, andam falando que além do prefeito gastar muito com os
telefones da prefeitura, ainda vai gastar fichinha no orelhão, ali da frente...
- Ah! É por isso! Mas não tem nada disso! Só estou
fazendo pesquisa de opinião!
- Pesquisa de opinião? Mas se a questão é essa, então
seria melhor contratar uma empresa especializada. Uma das suas, quem sabe...
- Prá quê gastar dinheiro à toa. Eu mesmo faço ali do
telefone da frente...
- Mas não fica bem o prefeito gastar dinheiro público
em fichas de telefone...
- Mas quem te disse que eu uso ficha?...
- Mas o prefeito não está fazendo pesquisa? Como,
então, está fazendo para falar com os entrevistados?
- Ora essa! Muito fácil! Afinal sou prefeito! É
cortesia! Simplesmente disco o número de algum dos munícipes e faço a pergunta:
“Quem é o melhor prefeito desta cidade?”
- Sem colocar ficha? E daí, o que acontece?
-
Eles não estão me vendo! Mas sabem que sou eu, me identificam pela voz e respondem:
“TU-TU-TU-TU!”