AUTORAS: Ana Elisa Feracini PERUZZO*
Cibelle Marchi de Angelo DOURADO*
Suellen dos Santos SILVA*
PROFESSORA ORIENTADORA: Flávia Amoroso Boatto SOLEIRA*

*Curso de Psicologia, Faculdade da Fundação Educacional de Araçatuba

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RESUMO
A Psicologia da Educação é considerada um ramo tanto da Psicologia como da Educação, caracteriza-se como uma área de investigação dos problemas e fenômenos educacionais, a partir de um entendimento psicológico, e é a partir desta perspectiva que desenvolvemos nosso projeto com um grupo de adolescentes considerando que a adolescência é uma fase de descobrimentos e de busca de identidade, momento em que o jovem deseja expressar suas idéias e seus sentimentos que por sua vez estão em plena ascensão principalmente em decorrência das mudanças corporais que muitas vezes gera insegurança e indefinições. Com isso, o nosso projeto de intervenção teve como objetivo possibilitar a descoberta das potencialidades existentes em cada aluno de modo que sejam evidenciadas suas habilidades, dando estrutura psicológica para a construção de novas perspectivas para o futuro. Trabalhamos com as classes do segundo ano do ensino médio de escola estadual, utilizamos como recurso dinâmicas de grupo, círculos de debates além de recursos audiovisuais. A partir do desenvolvimento do projeto foi possível perceber que sua aplicabilidade foi capaz de proporcionar grandes transformações nas relações de aprendizagem de forma geral, além de despertar nos alunos a descoberta de novos horizontes contando com um apoio psicológico de base reflexiva.






Palavras-Chave: Processos educativos; adolescência; perspectiva de futuro.


INTRODUÇÃO
A Psicologia Escolar e Educacional tem se constituído historicamente como importante campo de atuação da Psicologia. Até tempos atrás eram vistas separadamente, mas, depois de muita discussão, vê-se hoje como indissociáveis.
Psicólogos escolares e educacionais são profissionais que atuam em instituições escolares e educativas, bem como dedicam-se ao ensino e à pesquisa na interface Psicologia e Educação.
As concepções teórico-metodológicas que norteiam a prática profissional no campo da psicologia escolar são diversas, conforme as perspectivas da Psicologia enquanto área de conhecimento, visando compreender as dimensões subjetivas do ser humano. Algumas das temáticas de estudo, pesquisa e atuação profissional no campo da psicologia escolar são: processos de ensino e aprendizagem, desenvolvimento humano, escolarização em todos os seus níveis, inclusão de pessoas com deficiências, políticas públicas em educação, gestão psicoeducacional em instituições, avaliação psicológica, história da psicologia escolar, formação continuada de professores, dentre outros.

Fica colocado o desafio de tornar a escola um espaço democrático de desenvolvimento humano. Um diferente olhar neste contexto deveria torná-la capaz de favorecer o desenvolvimento e a humanização das relações sociais para o amor e a esperança na vida para a iniciativa, a construção da identidade e a participação social (Martin-Baró, 1994) (GUZZO, 2001, p.35)

DESENVOLVIMENTO
O interesse pela educação, suas condições e seus problemas, foi sempre uma constante entre filósofos, políticos, educadores e psicólogos.
A psicologia da educação configurou-se, progressivamente, como resultado de um esforço ininterrupto de aplicação e de utilização dos princípios, das explicações e dos métodos da psicologia cientifica nas renovadas tentativas de melhorar as práticas educativas em geral, concretamente a educação escolar, e também nas intenções de elaborar explicações adequadas e úteis para o planejamento e o desenvolvimento dessas práticas. Ela tem a sua origem na crença racional e na argumentação de que a educação e o ensino podem melhorar sensivelmente como conseqüência da utilização correta dos conhecimentos psicológicos. (SALVADOR; MESTRES; GOÑI; GALLART, 1999, p.17).

Com o desenvolvimento da Psicologia como Ciência e como área de atuação profissional, no final do século XIX, várias perspectivas se abriram, fato que também ocorreu à chamada Psicologia Educacional. Durante as 3 primeiras décadas do século XX a psicologia aplicada à educação teve enorme desenvolvimento. Nos EUA destacava-se a necessidade de um novo profissional, capaz de atuar como intermediário entre a psicologia e a educação. Três áreas destacaram-se: as pesquisas experimentais da aprendizagem; o estudo e a medida das diferenças individuais; psicologia da criança.Até a década de 50, a Psicologia da educação aparece como a 'rainha' das ciências da educação. (Davidoff, 1993).
Psicologia Educacional era um ramo especial da Psicologia, preocupado com a natureza, as condições, os resultados e a avaliação e retenção da aprendizagem escolar. Ela deveria ser uma disciplina autônoma, com sua própria teoria e metodologia. Durante a década de 50, o panorama muda. Começa-se a duvidar da aplicabilidade educativa das grandes teorias da aprendizagem, elaboradas durante a 1ª metade do século XX. Prenuncia-se uma crise... Surgem outras disciplinas educativas tão importantes á educação quanto a psicologia, e esta precisa ceder espaço. Na década de 70, assume o seu caráter multidisciplinar, que conserva até hoje. Não mais é considerada como a psicologia aplicada á Educação. Atualmente, a Psicologia da Educação é considerada um ramo tanto da Psicologia como da Educação, e caracteriza-se como uma área de investigação dos problemas e fenômenos educacionais, a partir de um entendimento psicológico. (Mialaret, 1999).
Pode-se dizer que a Psicologia da Educação tem por objeto de estudo todos os aspectos das situações da educação, sob a ótica psicológica, assim como as relações existentes entre as situações educacionais e os diferentes fatores que as determinam. Seu domínio é constituído pela análise psicológica de todas as facetas da realidade educativa e não apenas a aplicação da psicologia à educação. Seu maior objetivo é constatar ou compreender e explicar o que se passa no seio da situação de educação.
Atualmente, rejeita-se a idéia de que a Psicologia da Educação seja resumida a um simples campo de emprego da Psicologia; ela deve, ao contrário, atender simultaneamente aos processos psicológicos e às características das situações educativas. (Cunha, 2000).
O nosso projeto de intervenção teve como objetivo realizar um trabalho direcionado aos alunos envolvendo questões de visão e perspectiva de futuro, a importância do processo educacional, o que isso acarretará em suas vidas e a falta que fará, e assuntos os quais são inerentes em um grupo de adolescentes, assim como sexualidade, drogas, mercado de trabalho, expectativas, pressão a cerca de um futuro, etc.
Como metodologia utilizamos como base teórica a Sociometria, contida na a abordagem socionômica por se caracterizar quase que especificamente no trabalho de grupos, explorando, mapeando e mensurando relações ou vínculos estabelecidos entre forças sociais individuais, que por um olhar direto não é perceptível, atuando em redes de interação no seio de um grupo de uma determinada organização (no nosso caso, a escola). Também podemos dizer que a Sociometria nos fornece subsídios para o estudo dos vínculos existentes entre indivíduos, enquanto formadores sociais.

A visão de mundo moreniana (Moreno, 1992, 1993) pode ser entendida a partir dos seguintes pressupostos: 1) o Homem é um Ser relacional, necessitando das relações e interações para determinar o surgimento e o desenvolvimento do EU, de sua identidade. É atraves de seus papeis que vai construindo o seu EU, integrando-se ao grupo a que pertence. Através do fator TELE (atrações e rejeições aos outros) as pessoas se organizam espontaneamente, construindo as redes que darão sustentação a estrutura grupal; 2) O Homem é um Ser espontaneo e criativo, dotado do fator E (espontaneidade), que permite que os indivíduos dêem respostas novas e adequadas a situações inesperadas. Como a realidade é mutável, a espontaneidade é que permite à pessoa adequar-se a ela. Portanto, a partir do que é oferecido pelo grupo social (conserva cultural) o individuo tem capacidade de criar novas e adequadas respostas a sua realidade, buscando com flexibilidade as soluções para as questoes multidimensionais da vida. Cada realidade tem uma narrativa verbal, um espaço e um tempo (visão tridimencional); 3) O homem está sempre em ação. Assim, ele deve ser mais preparado para a vida do que para o saber. Ele é, vive e cria sem parar. Nao se trata de um momento passado, nem abstrato. A unica maneira em que o passado e o futuro existem é no aqui (neste lugar) e no agora (neste momento) ? (status e locus nascendi). A visão do momento só "tem significado num mundo aberto, num universo em que haja lugar para a mudança e o novo", com a primeira realidade em que se produz mudança e crescimento. Porem nao basta só um mundo aberto. É necessário que o homem perceba a realidade e que esta percepção implique num estado espontâneo, continente a um universo criador. (BAPTISTA, Maria Cecilia Veluk Dias, A família na educação, Linhas Criticas, v.4, n.7-8, jul/98 a jul/99, pag. 175-176)

A partir dessa perspectiva teórica decidimos utilizar o seu recurso mais difundido que é o psicodrama. Usando de exemplo o trabalho desenvolvido por Moreno na escola New York State Training School for Girls na cidade de Hudson, estado de Nova York, trabalho publicado em 1934 com o nome de Who Shall Survive?.

A escola abrigava cerca de quinhentas jovens, distribuidas em catorze pavilhoes para as de cor branca e dois para as de cor negra. Havia dificuldade de integração das pensionistas, tentativas de fugam evasões constantes, indisciplina em vários niveis e desrespeito à figura da "mae do grupo", criada para estabelecer autoridade e cooperação nas várias seções que compunham os pavilhões.
Primeiramente foi feito um amplo estudo da "organização social da comunidade", tal como se apresentava naquele instante, havendo, de inicio, dois grupos a considerar: o das alunas e do pessoal dirigente.
Em seguida, fez-se um levantamento "geográfico" da instituição: os pavilhões, a capela, a escola, o edifício industrial, a cozinha, a lavanderia e o setor administrativo.
Numa terceira fase, iniciou-se a observação do funcionamento burocrático e operacional da escola em suas várias salas de aula, oficinas, áreas de recreio etc.
Por ultimo, através das técnicas psicodramáticas (...). (ALMEIDA, Wilson Castello, Moreno: encontro existencial com as psicoterapias, 1991, p. 58)


Utilizamos então, diferentes recursos para intervenção no contexto escolar de forma criativa para que o ambiente do trabalho com o grupo ficasse descontraído, e para que todos participassem sem receios e resistências, de forma que as mesmas fossem trabalhadas
As atividades foram realizadas com uma turma do Segundo ano do ensino médio, cuja faixa etária variou entre 16 (dezesseis) e 17 (dezessete) anos. Foi possível utilizar de vários recursos, Dentre eles Jogos Dramáticos, Vídeos, Círculos de Debates dentre outros...e com essa turma trabalhamos diferentes assuntos através de dinâmicas e círculos de debates com o objetivo de proporcionar o aprendizado dos educandos e a sua socialização dentro do convívio escolar.
Realizados um encontro semanal, com duração média de cinco horas cada, durante sete encontros (aproximadamente dois meses).
No primeiro encontro trabalhamos com o tema "Desenhe seu futuro", cujo objetivo foi Proporcionar uma reflexão sobre os projetos para o futuro, além de discutir o quão é difícil e conflituosa a tomada de decisões para pôr em prática tais projetos.
No segundo encontro trabalhamos ainda o tema " E se você fosse..." seu objetivo foi fazer com que os alunos percebam o quão importante é a escolha profissional; pensar nos prós e contras das profissões, e discutir o quão complicado é trabalhar em algo que não se gosta e com pessoas que não se escolhe. Fazer também com que eles percebam que são agentes ativos nos seus futuros.
Outro tema utilizado como forma de mitos e verdades sobre DST?s e métodos contraceptivos para levá-los a refletir sobre os mitos relacionados à anatomia, fisiologia, anticoncepção e doenças sexualmente transmissíveis (DST). Ainda abordando o assunto de sexualidade trabalhamos com esclarecimentos a cerca de métodos contraceptivos e DST com o intuito de Informar e sensibilizar a respeito de DST/AIDS, fornecer informações sobre o processo de engravidar, discutindo a manifestação e repercussões físicas e psicológicas na adolescência e discutir o conceito de Planejamento Familiar e Orientar sobre métodos contraceptivos.
Chegamos ao tema "escolhas", onde foi possível rever todos os assuntos abordados até o momento, podendo possibilitar ao adolescente seu auto conhecimento, bem como a identificação de seus interesses e definição de seu projeto de vida, lembrando da importância das escolhas individuais durante o ciclo vital e suas possíveis conseqüências.
Apresentamos ainda alguns cursos de Graduação na região, programas governamentais de bolsas de estudos.para aumentar o conhecimento das possibilidades de graduação na região e esclarecimento de algumas áreas de atuação profissional, bem como apontar alternativas de bolsa de estudos de programas governamentais mostrando que é possível que pessoas com baixa renda tenham a oportunidade de estudar.
Por fim realizamos a conclusão do projeto e a despedida com as turmas abordando os objetivos e resultados obtidos e uma breve discussão sobre o que os alunos apreenderam do projeto e suas transformações no decorrer do mesmo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na realização do presente projeto de estágio de Intervenção na área de Psicologia e processos educativos obteve-se êxito quanto ao desenvolvimento e objetivos a ele propostos.
Desenvolvemos alguns trabalhos direcionados aos alunos envolvendo questões de visão e perspectiva de futuro e as pressões a cerca do mesmo, e assuntos os quais são inerentes em um grupo de adolescentes, assim como sexualidade, mercado de trabalho, expectativas, etc. Enfatizamos, no entanto, que tivemos o cuidado de direcionar todos os assuntos abordados, inclusive à sexualidade, às conseqüências das escolhas e o que elas acarretarão em suas vidas.
Contudo, concluímos que fomos capazes de proporcionar a esses adolescentes a descoberta de novos horizontes e possibilidades futuras de conquistarem seus objetivos, lembrando-os das responsabilidades que cada um tem sobre suas escolhas, proporcionamos ao grupo estrutura psicológica mínima para a construção de novas perspectivas para o futuro já que foram de maximizadas as potencialidades de cada sujeito com o trabalho grupal, identificando uns nos outros seus próprios conflitos individuais, e dessa proporcionando o estabelecimento de soluções adequadas para seus problemas, além de proporcionar a esses jovens a conscientização de seus papéis no processo educacional e social para que no futuro tenham uma visão crítica para o enfrentamento das dificuldades e da realidade em que se inserem.













REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ALMEIDA, Wilson Castello, Moreno: encontro existencial com as psicoterapias, 1991

BAPTISTA, Maria Cecilia Veluk Dias, A família na educação, Linhas Criticas, v.4, n.7-8, jul/98 a jul/99

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13 ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2002.

CUNHA, Marcus V. Psicologia da Educação. DP&A: Rio de Janeiro, 2000

DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. Mc Graw-Hill, Rio de janeiro, 1993

DEL PRETTE, Zilda (Org.). Psicologia escolar e educacional: saúde e qualidade de vida. Campinas: Alínea, 2003.

GUZZO,Raquel. Saúde psicológica, sucesso escolar e eficácia da escola: desafios do novo milênio para a psicologia. In: PRETTE, Zilda. (Org). Psicologia escolar e educacional. Saúde e qualidade de vida. Campinas: Alínea, 2001. 25-42p.

MORENO, Jacob Levy. Psicoterapia de grupo e psicodrama. Tradução: Dr. Antônio C. Mazzaroto Cesarino Filho. Campinas/SP: Editorial Psy, 1993.

MIALARET, Gaston. Psicologia da Educação. Coleção: Epigênese, Desenvolvimento e Psicologia. Ed. Instituto Piaget, Lisboa, 1999

SALVADOR, César Coll; MESTRES, Mariana Miras; GONI, Javier Onrubia; GALLART, Isabel Sole. Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artmed, 1999. 209p.

SERRÃO, Margarida; BALEEIRO, Maria. Aprendendo a ser e a conviver.São Paulo: FDT, 1999.382p.