PERSPECTIVA DOCENTE ACERCA DA DISLEXIA: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, DE MORAÚJO-CE

 

Autora: SOUSA, Maria Cristina Silva[1]

 Orientadora: MOREIRA, Cileya de Fátima Neves[2]

 

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo identificar e analisar a perspectiva dos docentes de Língua Portuguesa do 4º Ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Nossa Senhora da Conceição, de Moraújo-CE acerca da dislexia: suas principais características, tipos, causas e formas de tratamento. Para tanto, realizamos pesquisa bibliográfica e de campo. Para fundamentar teoricamente o estudo, destacamos os seguintes autores:Drouet (2001), Ferreiro (1987), Luczynky (2002), dentre outros. A partir dos resultados constatamos que os docentes possuem conhecimento sobre esse distúrbio, porém, consideramos necessários um sistema educacional e uma formação docente mais eficientes.

PALAVRAS- CHAVE: Dislexia. Docentes. Ensino Fundamental.

 

1 INTRODUÇÃO

O referido artigo tem como objetivo identificar e analisar a perspectiva dos docentes de Língua Portuguesa do 4º Ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Nossa Senhora da Conceição, de Moraújo- CE, acerca de um dos distúrbios da linguagem: a dislexia.

Nesse sentido, realizamos uma pesquisa bibliográfica e de campo, ressaltando os pontos a seguir: o conceito,as principais características, tipos, causas e formas de tratamento do distúrbio supracitado.

Para fundamentar teoricamente a discussão da temática, utilizamos os seguintes autores: Dubois (1993), Ferreiro (1987), Olivier (2004), dentre outros.A apresentação dos resultados coletados na pesquisa de campo

Esperamos que esse estudo possa contribuir para maior identificação, reconhecimento e tratamento de uma criança disléxica em sala de aula, como também, para por em discussão o fazer docente.

 

2 METODOLOGIA

O estudo apresentado tem como objetivo identificar e analisar a perspectiva dos docentes de Língua Portuguesa do 4º Ano do Ensino Fundamental acerca da dislexia.

Partindo desse propósito, foi realizada uma pesquisa bibliográfica juntamente com uma pesquisa de campo.

O levantamento dos dados foi possível a partir da aplicação de um (1) questionário que norteou a pesquisadora durante todo o trabalho realizado. O referido instrumento estava constituído por dois (2) blocos de informação, divididos entre questões abertas e fechadas. Um (1) contendo três (3) questões, referentes aos dados de identificação dos informantes (idade, sexo e grau de escolaridade); outro formado por cinco (5) questões, enfatizando a discussão sobre a definição, os tiposde dislexia, as causas e os possíveis métodos de tratamentos desse distúrbio.

Durante a exposição e discussão dos resultados, os professores envolvidos na pesquisa serão nomeados de Professor (A) e Professor(B).

O Professor (A) possui 35 anos, sexo feminino, Graduação e Especializaçãoem Letras. O Professor (B) possui 24 anos, sexo feminino e Graduação em Letras. Ambas atuam na área de Língua Portuguesa do 4° Ano do Ensino Fundamental, da Escola Municipal Nossa Senhora da Conceição, localizada na cidade de Moraújo-CE.

Antes da aplicação do questionário foi exposta a finalidade da pesquisa e garantimos a total privacidade dos entrevistados para melhor segurança de cada um.

Adiante, faremos a apresentação e discussão dos resultados coletados na pesquisa.

 

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

3.1 DISLEXIA: CONCEITO, CARACTERÍSTICAS  E TIPOS

 

A primeira questão tinha por objetivo saber dos professores a definição de dislexia.

Professor (A): “Não sei muito sobre dislexia, por tratar de um dos distúrbios da linguagem escrita, mas percebo as dificuldades que alguns alunos têm para se relacionar com determinados métodos de aprendizagem.”.

Professor(B): “Dislexia é um problema que está relacionado ao desenvolvimento da aprendizagem escrita e falada.”.

De acordo com as respostas das professoras, podemos dizer que as definições apresentadas acham-se insuficientes, pois as dificuldades de escrita e fala são apenas um dos fatores reveladores da dislexia, conforme veremos nas definições apontadas pelos autores a seguir.

Segundo Drouet (2001, p. 137),

Entende-se por dislexia “um conjunto de sintomas reveladores” de uma disfunção parietal (o lobo do cérebro onde fica o centro nervoso da escrita), geralmente hereditária, ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da leitura num contínuo que se estende do leve sintoma ao sintoma grave. A dislexia é freqüentemente acompanhada de transtornos na aprendizagem da escrita, ortografia, gramática e redação. A dislexia afeta os meninos em uma proporção maior do que as meninas.

Dessa forma, podemos dizer que a dislexia não está relacionada apenas às dificuldades da escrita e da fala. Além disso, a dislexia é um problema que se detecta em crianças que sofrem dificuldades de leitura, escrita, ortografia, gramática e redação.

Serrano (2002) diz que dislexia pode ser definida como a situação na qual a criança é incapaz de ler com a mesma facilidade com que lêem as crianças do mesmo grupo etário, apesar de possuir uma inteligência normal, saúde e órgãos sensoriais intactos, liberdade emocional, motivação e incentivos normais, bem como instrução adequada.

Dessa forma, é uma dificuldade que se identifica no período escolar, por apresentar a incapacidade de ler como as outras crianças, mas que possui órgãos normais e que pode ser tratada a partir da intervenção do professor.

Para Luczinski (2002, p. 134):

Dislexia é muito mais do que uma dificuldade em leitura, embora muitas vezes, ainda lhe seja atribuído este significado circunscrito. Refere-se à disfunção ou dano no uso de palavras. O prefixo “dys”, do grego, significando imperfeita como disfunção, isto é, uma função anormal ou prejudicada; “lexia”, do grego referente ao uso de palavras (não somente em leitura). E palavras dão sentido à comunicação através da Linguagem – em leitura, sim, porém também na escrita, na fala, na linguagem receptiva. “Palavras que, na escola, são usadas em todo ensino como na matemática, ciências, estudos sociais ou em qualquer outra atividade”.

Desse modo, a dislexia é caracterizada como um dos transtornos de dificuldades na leitura, na escrita, na fala, na linguagem receptiva e em todas as palavras que são usadas no ensino e nas demais ciências.

Segundo Dubois (1993, p.197), “Dislexia é um defeito de aprendizagem da leitura caracterizado por dificuldades na correspondência entre símbolos gráficos, às vezes mal recolhidos e fonemas, muitas vezes mal identificados.”.

Assim, a dislexia é a incapacidade parcial que uma pessoa tem de decodificar (reconhecer letras e fonemas das palavras) e entender o que lê (compreensão textual).

Por fim, apresentamos a definição adotada em 2003 pela Associação Internacional de Dislexia:

Dislexia é uma incapacidade específica de aprendizagem, de origem neurobiológica. É caracterizada por dificuldades na correcção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam de um Défice Fonológico, inesperado, em relação às outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que pode impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais. (TELES, 2004, p. 04).

Desse modo, ratificamos o déficit entre as definições expostas pelas docentes investigadas que se detêm especificamente as dificuldades de escrita e de fala e o real conceito de dislexia apresentado pelos autores citados.

A segunda questão pretendia saber se os docentes reconhecem uma criança disléxica.

Professor (A): “Reconhecer uma criança com dislexia, isso não está no meu limite, percebo apenas que algumas apresentam dificuldades, mas sei que isso não é suficiente para que eu afirme que reconheço.”.

Professor(B): “Muitas vezes nas turmas percebemos que algumas crianças têm vários problemas com a leitura, ortografia e outros processos relacionados à linguagem, mas ainda não chegamos a uma conclusão que essas seriam disléxicas, pois nossas experiências escolares não bastam, para ser diagnosticado deveríamos obter ajuda de pessoas especializadas na área para melhor resultados e melhorar a situação de cada ser envolvido.”.

Podemos dizer que as professoras identificam nas crianças algumas dificuldades de leitura, ortografia e outros processos relacionados à linguagem, como também,consideram esse reconhecimento insuficiente, sendo necessário diagnóstico de profissionais especializados.

Concordamos com as professores quando demonstram insegurança em dizer se uma criança é ou não disléxica, pois, segundo Nico (2003), para diagnosticar esse distúrbio é preciso à participação de uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo e se necessários outros profissionais para se determinar ou eliminar fatores, em todas as áreas que possam estar comprometendo o processo de aprendizagem. Outras informações também são importantes para auxiliar no diagnóstico, como: o desenvolvimento da criança, histórico familiar, desempenho escolar, métodos de ensino e repertório adquirido.

Contudo, as dificuldades observadas pelas professoras merecem mais atenção e melhor identificação. As professoras não especificam se as dificuldades observadas estão ou não relacionadas à dislexia, demonstrando limitações nesse reconhecimento. Pois, segundo Calafange (2004), crianças com expressivas dificuldades de leitura não são necessariamente disléxicas, mas todas as crianças disléxicas têm um sério distúrbio de leitura.

Ferreiro (1987, p.54) também apresenta diferentes causas para dificuldades de aprendizagem, além de dislexia.

Crianças que apresentam uma alteração em um ou mais dos processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão e utilização da linguagem falada ou escrita, alteração essa que pode manifestar-se como uma imperfeita capacidade para atender, pensar, falar, ler, escrever, soletrar ou realizar cálculos matemáticos, esses transtornos incluem condições tais como defeitos perceptuais, lesão cerebral, difusão cerebral mínima, dislexia e afasia do desenvolvimento. O termo [dislexia] por outro lado, não inclui crianças com problemas de aprendizagem resultantes principalmente de atos visuais, auditivos ou motores, de retardo mental, de alterações emocionais ou de problemas ambientais.

Sendo assim nem toda criança que apresentar dificuldade de leitura pode ser considerada disléxica, mas pode ser confundida já que a dificuldade de leitura é uma das características dos disléxicos.

De acordo com Teles (2004), é muito importante que os pais e professores estejam atentos aos sinais de alerta. Se esses sinais forem observados e persistirem ao longo de vários meses a criança deve ser encaminhada para uma avaliação especializada.

A seguir, apresentamos alguns desses sinais de alerta.

A criança que é portadora de dislexia apresenta dificuldades no plano da linguagem. Para Martins (2001, p.04), os disléxicos fazem confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia, como "a-o", "h-n" e "e-d". As crianças disléxicas escrevem com letra muito defeituosa, de desenho irregular, o que denota perda de concentração e de fluidez no raciocínio.

Elas também confundem letras com grafias similares, mas com diferente orientação no espaço, como "b-d", "d-p", "b-q", "d-b", "d-q", "n-u" e "a-e". A dificuldade pode acontecer ainda com letras que possuem um ponto de articulação comum e cujos sons são acusticamente próximos, como "d-t" e "c-q".

Entretanto, por existir esse déficit de poder identificar letras ou qualquer código, é que se encontram as dificuldades em leitura, por não saber que tipo de sinal está na palavra escrita.

De um modo geral, as crianças disléxicas apresentam dificuldade de percepção devendo ser estimulado nelas à percepção tátil, auditiva, visual que podem levar a habilidade de reconhecer e usar estímulos interpretando-os e associando-os as experiências prévias.

O disléxico tem seu desenvolvimento motor mais lento, e por esse motivo sua habilidade motora fina e grossa parece ser comprometida, tendo dificuldade em desenvolver atividades que envolvem movimentos com as mãos, como fazer bolinhas, seguir o tracejado com o lápis, colar diferentes objetos, participar de jogos, pular corda, andar sobre a linha, entre outras.

Portanto, com relação às crianças disléxicas o seu desenvolvimento é mais lento do que as demais crianças da mesma idade. Conseguem até reconhecer letras ou sílabas isoladas, mas têm dificuldades em fazer a junção das letras e formar a palavra.

A terceira questão buscava investigar dos docentes os tipos de dislexia que os mesmos conhecem.

Professor (A): “Não conheço nenhum tipo, ou seja, exatamente onde cada um está ligado, como estas são especificadas.”.

Professor (B): “Dizer exatamente os tipos de dislexia e como elas estão relacionados, é difícil lidar com esse tipo, pois nossas experiências como docente não fazem um foco exatamente nesse tipo de questão, mas que eu acredito que já se tornou um problema bastante comum, e que todos deveriam rever os métodos de trabalhar com esse tipo de crianças.”.

É possível ver que os professores envolvidos na pesquisa desconhecem os tipos de dislexia, demonstrando pouco conhecimento sobre esse assunto.

Adiante, apontamos três tipos de dislexia, considerando a perspectiva de Olivier (2004): a dislexia congênita ou inata, a dislexia adquirida e a dislexia ocasional.

A Dislexia Congênita ou Inata: É a Dislexia que nasce com o indivíduo.
Pode ter as mais variadas causas e tem características próprias como, por exemplo, uma comprovada alteração hemisférica cerebral, onde os hemisférios encontram-se com tamanhos invertidos ou em tamanhos exatamente iguais. É considerado normal que o esquerdo seja maior que o direito. Em consequência dessa alteração, o indivíduo disléxico tem pouca ou nenhuma habilidade para a aquisição de leitura e escrita, geralmente não chega a ser alfabetizado e,quando é,não consegue ler e escrever por muito tempo e, quando termina de ler e escrever já não se lembra de nada. Esse tipo de Dislexia é incurável, deve ser tratado por uma junta de profissionais, chamado de Tratamento Multidisciplinar, envolvendo sempre psicopedagogo, neurologista e/ou psiquiatra, dependendo da gravidade do caso. Em casos onde haja também distúrbios de fala e audição é necessário um fonoaudiólogo. Caso haja dificuldades motoras e/ou de lateralidade, um psicomotricista e, nesse caso, também é aconselhável que um psicólogo acompanhe o tratamento e desenvolva atendimento paralelo.

  ADislexia Adquirida: É a Dislexia que vem através de um acidente qualquer. Como exemplo, temos Anoxia[3] Perinatal, Anoxia por afogamento,Acidente Vascular Cerebral e outros acidentes que podem causar uma Dislexia Adquirida. Nesse caso, o indivíduo que antes lia e escrevia normalmente, passa a ter períodos/fases de Dislexia. Nesses períodos, ele não consegue ler e escrever ou o faz com muita dificuldade, tem falhas de memória e pode também apresentar problemas de lateralidade. 

Dependendo do grau de dificuldade que o indivíduo apresente é também necessário um Tratamento Multidisciplinar, mas nesse caso é bem provável que somente o psicopedagogo e o neurologista e/ou psiquiatra sejam solicitados. Caso o acidente tenha afetado também a lateralidade, um psicomotricista será necessário. Se a fala e audição estiverem comprometidas, também o fonoaudiólogoe, assim por diante. Nesse caso, se o indivíduo já tinha uma profissão, deverá apenas adaptar-se para enfrentar os períodos em que "estiver disléxico" e seguir seu tratamento, podendo obter cura ou boa melhora, já que sua dislexia não envolve alterações hemisféricas.

A Dislexia Ocasional: É a dislexia causada por fatores externos e que aparecem ocasionalmente. Pode ser causada por esgotamento do sistema nervoso, estresse, excesso de atividades e em alguns casos considerados raros por TPM e/ou hipertensão. Se esse tipo de dislexia for diagnosticado, não há a necessidade de grandes tratamentos. Apenas repouso, talvez umas boas férias, uma mudança de horários/rotina e tudo voltará ao normal. Dentro desses tipos existem variações que parecem tornar cada caso um caso, cada disléxico, único.

Além dos tipos de dislexia citados acima por Olivier (2004), de acordo com Ferreiro (1987), também se ouve falar em “dislexia escolar” e “dislexia experimental”, e essas deveriam ser os modelos usados para chegar a conclusão de que uma criança é portadora de dislexia. Pois esses dois tipos são submetidos por meio de testes onde suas limitações são explícitas em experiências que pode haver resultados valiosos.

Portanto, para se obter uma certeza que uma criança é portadora, os testes deverão ser feitos entre os maus leitores autênticos e os disléxicos experimental.

Para Ferreiro (1987, p, 63):

                                                  

[...] há uma falta de reconhecimento instantâneo, ainda que num e noutro essa falha se produza por razões distintas no mau leitor, porque não conseguiu adquirir o “reconhecimento instantâneo”; no experimental, porque, ainda que o domine, tal reconhecimento não lhe é útil para uma palavra que não figura no idioma e que, portanto, jamais conheceu.

De certa forma, quem não domina o sistema de reconhecimento instantâneo é quem não pôde chegar a ele, porque o disléxico sempre será um leitor lento, ainda que leia um texto, porque as palavras são obscuras para ele e se faz imperativo decifrá-las, embora possa chegar, em muitos casos, a compreender perfeitamente.

Santos (1984) afirma, inclusive, que a criança disléxica deve ser alfabetizada através de um método mais fonético ou analítico-sintético, em que se priorize a correspondência grafema-fonema.

3.2 PRINCIPAIS CAUSAS DA DISLEXIA E TRATAMENTO

A quarta questão buscava saber dos professores as causas da dislexia.

Professor (A): “Explicar quais são as causas da dislexia não é um método fácil, pois este é um problema relativo, que tem ligações com o meio neurológico.”.

Professor (B): “As causas da dislexia estão relacionadas com os transtornos genéticos e hereditários.”.

Dessa forma, podemos observar que os docentes assinalam as principais causas da dislexia, afirmando que estão relacionadas a transtornos genéticos, hereditários e neurológicos, corroborando com os teóricos a seguir.

Conforme Frank (2003), a dislexia é um problema neurológico relacionado à linguagem, à leitura e às habilidades de escrita de palavras e de textos.

Por outro lado, podemos dizer quea dislexia é genética e hereditária, se a criança possuir pais ou outros parentes disléxicos, quanto mais cedo for realizado o diagnóstico melhor para os pais, para escola e para própria criança.

A criança poderá passar pelo processo de avaliação realizada por uma equipe multidisciplinar especializada, mas se não houver passado pelo processo de alfabetização, o diagnóstico será apenas de uma "criança de risco".

De acordo com Teles (2004, p. 07),

Vários estudos têm procurado encontrar no genoma humano a localização dos genes responsáveis pela dislexia. Diversos estudos têm demonstrado a hereditariedade da dislexia. 

As mais recentes pesquisas sobre genética e dislexia referem que existem, presentemente, cinco localizações para alelos de risco, com influência na dislexia. As cinco localizações foram encontradas nos cromossomas 2p, 3p-q, 6p, 15q e 18p.

Segundo Nico (apud MAIA, 2007), outro fator associado à dislexia é o excesso de testosterona produzida pela mãe durante a gestação. Essa hipótese pode explicar o fato de haver, para cada quatro homens disléxicos, apenas uma mulher, conforme dados da Associação Brasileira de Dislexia (ABD).Por essa teoria, como a testosterona é um hormônio masculino, sua produção em excesso na gestação de uma menina pode provocar um aborto natural.

Por fim, a quinta questão requeria dos professores as formas de tratamento da dislexia.

Professor (A): “Para tratar uma criança com dislexia, acredito que não seja preciso apenas de carinho, atenção e usar a capacidade de como superar essas dificuldades, mas sim, de um acompanhamento médico.”.

Professor(B): “No tratamento de um disléxico é preciso um acompanhamento médico com um diagnóstico, pois só os professores usando seus métodos avaliativos não serão capazes de superar tamanhas dificuldades.”.

A partir das respostas apresentadas, percebemos que as docentes reconhecem que há necessidade de um diagnóstico, seguido deacompanhamento médico especializado. No entanto, consideramos apenas essa afirmação insuficiente, pois os professores não apresentam nenhuma contribuição que eles mesmos possamdar em sala de aula em relação aos discentes disléxicos.

De fato, como afirma Varella (2006), o tratamento da dislexia exige a participação de especialistas em várias áreas (pedagogia, fonoaudiologia, psicologia, etc.) para ajudar o portador desse distúrbio a superar, na medida do possível, o comprometimento no mecanismo da leitura, da expressão escrita ou da matemática.

Contudo, alguns recursos podem ser usados em sala de aula para que crianças disléxicas consigam acompanhar melhor a aprendizagem escolar, como:

•Dar a ele um resumo, do programa a ser desenvolvido;

•Iniciar cada novo conteúdo, com um esquema, mostrando o que será apresentado no período. No final, resumir os pontos-chaves;

•Usar vários recursos de apoio para apresentar a lição `a classe, além do quadro- negro: projetor de slides, retroprojetor, vídeos e outros recursos multimídia;

•Introduzir vocabulário novo ou técnico de forma contextualizada;

•Evitar dar instruções orais e escritas ao mesmo tempo;

•Avisar, com antecedência, quando houver trabalhos que envolvam leitura, para que o aluno encontre outras formas de realizá-lo, como gravar o livro, por exemplo;

•Fazer revisões com tempo disponível para responder às possíveis dúvidas;

•Autorizar o uso de tabuadas, calculadoras simples, rascunhos e dicionários, durante as atividades e avaliações;

•Aumentar o limite do tempo para atividades escritas;

•Ler enunciados em voz alta e verificar se todos entenderam o que está sendo pedido;

•Usar gravador;

•Confecção, do próprio material para alfabetização, como desenhar e montar uma cartilha;

•Uso de gravuras e fotografias (a imagem é essencial);

•Material dourado (Material Curisineire);

•Folhas quadriculadas para matemática;

•Não deve ser forçada a ler em voz alta, em classe, a menos que demonstre desejo em fazê-lo;

•Uso de informática, como corretor ortográfico. (KAPPES et at., [s.n.t]).

Ao contrário do que muitos pensam o disléxico sempre contorna suas dificuldades, encontrando seu caminho. Ele responde bem as situações que possam ser associadas às vivências concretas e aos múltiplos sentidos. O disléxico também tem sua própria lógica, sendo muito importante o bom entrosamento entre profissional e paciente.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A partir dos resultados obtidos na pesquisa, evidenciamos que as professoras investigadas apresentaram certo conhecimento sobre a definição, as principais características e as causas da dislexia. Todavia, não responderam acerca dos tipos de dislexia e não citaram nenhuma atitude que as mesmas pudessem realizar em sala de aula com relação ao tratamento de crianças portadoras desse distúrbio.

Consideramos, também, necessário um sistema educacional mais qualificado e uma formação docente mais holística, que prepare os professores para os reais desafios do ensino.

Dessa forma, esperamos que nossos estudos possam contribuir para uma maior reflexão acerca do ensino-aprendizagem de crianças disléxicas, como também para melhorias na educação especial brasileira.

PERSPECTIVA DOCENTE ACERCA DA DISLEXIA: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO, DE MORAÚJO-CE

 

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo identificar e analisar a perspectiva dos docentes de Língua Portuguesa do 4º Ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Nossa Senhora da Conceição, de Moraújo-Ce acerca da dislexia: suas principais características, tipos, causas e formas de tratamento. Para tanto, realizamos pesquisa bibliográfica e de campo. Para fundamentar teoricamente o estudo, destacamos os seguintes autores: Drouet (2001), Ferreiro (1987), Luczynky (2002), dentre outros. A partir dos resultados constatamos que os docentes possuem conhecimento sobre esse distúrbio, porém, consideramos necessários um sistema educacional e uma formação docente mais eficientes.

PALAVRAS- CHAVE: Dislexia. Docentes. Ensino Fundamental.

 

REFERÊNCIAS

CALAFANGE, Selene. Dislexia, um desafio do processo de ensino aprendizagem. Disponível em:<http://www.internewwws.com.br>. Acesso em: 25 abr.2013.

CARACIKI, A. M.. Distúrbios da palavra: Pré-dislexia e dislexia. Rio de Janeiro: Enelivros, 1994.

DROUET, R.C.R. Distúrbios de aprendizagem. 4ª Ed. São Paulo: Ática, 2001.

DUBOIS, J. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1993.

FERREIRO, Emilia. Os processos de leitura e escrita: novas perspectivas.Porto alegre: Artes Médicas, 1987.

KAPPES, Dany; FRANZEN, Gelson; TEIXEIRA, Glades; GUIMARÃES,Vanessa. Dislexia. Disponível em: <http://www.profala.com/artdislexia18.htm>. Acesso em: 25 mai. 2013.

LUCZYNSKI, Zeneida B. Panlexia: histórico do método. Disponível em:<http:// www.dislexia.com.br.>. Acesso em: 28 fev. 2013.

MAIA, Felipe. Causa da dislexia é genética, apontam especialistas. 2007. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u334708.shtml>. Acesso em: 25 mai. 2013.

MARTINS, Vicente. Dislexia e o projeto genoma humano. Disponível em:<http://www.prosaber.com.br>.Acesso em: 08 fev. 2013.

MARTINS, Vicente. Educação especial, dislexia gafes lingüísticas. Disponível em:<http://www.educacaoonline.pro.br>. Acesso em: 26 abr. 2013.

NICO, Maria Angela. Como identificar e tratar a dislexia. 2003. Disponível em: <http://www.terra.com.br/istoegente/223/saude/>. Acesso em: 25 mai. 2013.

OLIVIER, Lou. Distúrbios de aprendizagem e de comportamento.Rio de janeiro: Wak,2004.

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SERRANO, Graciete. Dislexia, uma nova abordagem terapêutica. Disponível em:<http://www.abd.org.br.>. Acesso em: 25abr. 2013.

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VARELLA,Dráuzio.Dislexia.Disponívelem:<http://www.drauziovarella.com.br/entrevistas/dislexiaII6>. Acesso em: 25 abr. 2013.



[1]Graduanda em Letras – Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).

[2]Professora–Orientadora. Especialista em Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e professora nas áreas de Linguística e Ensino do Curso de Letras da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).

[3]Significa falta de oxigenação no cérebro.