PERPLEXIDADE E BIPOLARIDADE:

A EDUCAÇÃO EM CONFLITO

 

Idanir Ecco[1]

[...] o desafio é invisível. [...] mas é preciso começar e o começo pode ser desviante e marginal [...]. Como sempre, a iniciativa só pode partir de uma minoria, a princípio incompreendida. Depois a ideia é disseminada e, quando se difunde, torna-se força atuante.

                                                                                    (Edgar Morin).

            Perplexidade. Um dos termos pertencentes à nomenclatura que caracteriza, identifica, define, particulariza a atualidade. A referida expressão é sinônima de assombro, estupefação, embaraço, atrapalhação, bem como, de admiração e prodígio.

            Estar embaraçado, sem saber que decisão tomar revela uma situação em conflito que requer, antes da ação, conhecimento, reflexão profunda, ponderações. Ademais, herdamos da concepção platônica de que o conhecimento nasce com a perplexidade, pelo espanto que a mesma provoca e pela exigência do pensamento analítico-reflexivo ante a determinados assombros.

            Situações de embaraço, de encruzilhadas são passíveis de serem identificadas em diferentes contextos sócio-político-econômicos e educacionais. E diante de uma conjuntura desta natureza, urge parar para refletir, esclarecer e redescobrir o significado das turbulências e seus impactos, como, por exemplo, na vida profissional. E neste particular, impulsionado pela condição docente, busco inquiri-la, considerando a temática central desta reflexão.

            A docência está sendo perturbada, também, pelo fenômeno da bipolaridade e, de certa forma, comprometendo seu equilíbrio, pela hesitação, pelo enleio que tal situação faz suscitar entre profissionais da educação. Porém, antes de prosseguir textualmente, há que esclarecer de que bipolaridade está se abordando.

            Obviamente, não se trata de versar sobre a doença bipolar, transtorno tradicionalmente conhecido pelo nome maníaco-depressivo. Pois bem: bipolar significa que possui dois polos opostos e aplica-se na Psiquiatria, na Eletricidade, na Genética, na Geografia, na Histologia e, neste texto, na Docência, obviamente no seu sentido figurado.

            A divisão ou a articulação entorno de dois focos de interesse, isto é, a bipolarização, identifica-se, sem muito esforço, no âmbito das concepções educacionais e suas correntes teóricas que, ao serem convertidas em ações didático-pedagógicas, manifestam-se no cotidiano professoral.

            Um dos polos que o parágrafo acima faz referência encontra-se no âmbito das ideias e das práticas inovadoras referendadas por pesquisas na área da educação, da sociologia, da antropologia, da psicologia, da neurociência cognitiva que lançam luzes fortalecendo instâncias de participação e ressignificando a ação docente pelas possibilidades de aprendizagens significativas, porque contextualizadas, pela perspectiva de criatividade, de solidariedade, de humanização dos seres humanos em processo formativo.

            No outro extremo, é possível reconhecer uma realidade escolar obsoleta, criticada por muitos, defensora da tradição, porque resistente a mudanças, fundamentada e guiada por modelos pedagógicos tradicionalistas/conteudistas que outrora foram unanimidades ovacionadas nas instituições da educação formal. Este modelo educacional referencia o autoritarismo como base da aprendizagem, juntamente com a predominância da palavra do professor, da imposição de regras e de conteúdos dissociados do cotidiano estudantil, bem como das realidades sociais.

            Destarte, com perplexidade constata-se, portanto, duas realidades distintas e conflituosas na área educacional. Distintas pelas características que lhes são próprias e que, não somente as identificam, porém as tornam facilmente distinguíveis pela dissemelhança entre ambas; e conflituosas, por defenderem ideias que se contrapõem e por almejarem objetivos opostos, gerando situações consideradas incompatíveis, devido ao predomínio do antagonismo perturbador.

            Hodiernamente, a educação formal não pode esgotar-se no ensino de conteúdos relacionados às diferentes áreas do saber. Mais que isso, faz-se necessário conhecimento e audácia para transformar propostas tradicionais em proposições inovadoras com fundamentação e orientação teórica equivalente. No entanto, para que o referido anseio concretize-se é preciso que os atores do cenário educacional desejem-no com veemência e sintam a necessidade proeminente da mudança, comprometendo-se para com a viabilização de projetos e ações afins.

Sim! O desafio é invisível. No entanto, converte-se em força atuante para quem ousar começar a mudar.

           



[1] Mestre em Educação UPF/RS e Professor da URI Erechim/RS. [email protected]