Quantos anos se foram. Sei que faz muito tempo, mas, na minha memória, parece que foi ontem. Como pode essa infinidade de anos passar e agora caber tudo em Minha Memória.
Com muito poucos anos de idade, eu gostava mesmo era do que todo moleque gostava. De útil, quase nada. Mas jogar bola, brincar com a garotada.
Na juventude, fui muito mulherengo: aprontei cada uma... mas naquele tempo, as traquinagens ou qualquer outra coisa, era quase puro. Mas como em todas as fases da vida, o momento já me apontava que eu tinha que mudar, procurar coisas novas, foi quando descobri que tudo que fazia não me agradava mais. Festas, paqueras, mulheres, me traziam um vazio... Como disse antes, eu era mulherengo mas me sentia frágil, oco, por dentro.
Na verdade, já começava a perceber a falta de alguma coisa que eu sentia que era Especial. Tudo que já tinha vivido até aquele momento, já não me interessava mais. Mas o que seria?
Um Belo dia descobri. Mas, antes preciso dizer que o meu reduto, até então, era Copacabana, a tão afamada Princesinha do Mar, frequentada por todo tipo de gente: gente fina de dinheiro, gente grossa, farofeira, gente boa suburbana, que também tinha o direito de usufruir de Copacabana. Não só de seu maravilhoso sol, seu mar, sua boêmia, que era a minha preferência. Essa gente maravilhosa, que não era do local e das rendodezas, mas eram suburbanos natos, como eu, eram descriminados. Em Mais de seis quilômetros de praia, os descriminados tinham até um ônibus que os levava do Méier ao famoso posto seis, da antiga e que já de muito não existe mais, TV. Rio. E por que todos suburbanos saltavam naquele ponto? Porque o duro não era ir , mas era voltar, cansado, carregado de alguma sobra do farnel, com as costas lascadas da ardência daquele Sol maravilhoso, que ele astutamente, não se deixava sentir, porque ele queria que aquele povo sofrido, convivesse com o seu Calor o máximo possível.
E um belo dia descobri. Descobri não. Comecei a sentir algo diferente e que começa a justificar que tudo mais já não me interessava mais. Não o local, mas as coisas que fazia. O Local, jamais perdeu sua importância, oh Copacabana amada de todos e do mundo.
Em Copacabana existia de tudo, de tudo que já falei, ainda mais, cabarés, boites sérias, outras não tanto, incrível que pareça, cinemas sérios e outros nem tanto, teatros, hotéis famosos pelo mundo afora, espeluncas deploráveis, muitas lojas, trafego intenso e enervante e tantas coisas mais, sem poder esquecer o famoso e difamado Barata Ribeiro-200, que de tão mal afamado, resolveram dar um basta naquele que sujava mundo afora o prestígio do bairro. Solução: criaram uma lei em que se implodiria aquele endereço maligno e o Prédio, com muita surpresa e tristeza de muitos, passou a ser chamar: Barata Ribeiro, 196.
E nesse Bairro maravilhoso, que podia existir de tudo, mas de tudo mesmo e de coisas que não relatei aqui por esquecimento, só não podia haver Tristeza, mesmo porque não havia tempo e espaço para ela. A Alegria imperava.
Mas, se alguém tivesse tempo, naquele corre-corre, e desse uma olhadinha para mim, veria que eu estava muito triste. Mas o que é um, ou mais um, naquela multidão ávida por Copacabana, a princesinha do mar e seus encantos. E neste dia e dias subsequentes, comecei a viver...a me lembrar do poeta que falava das ondas do mar. E comecei a sonhar, não sei por quantos dias ou meses.
...."vento diga por favor, aonde se escondeu o Meu Amor"....
Percebi prontamente o que estava me faltando. Durante um bom tempo, sem saber precisar que tempo foi esse, todo dia, depois do trabalho, ficava sentado, na mureta da praia, ouvindo as ondas do mar, que queriam me dizer alguma coisa e eu não percebia. Já não estava mais triste. Uma Alegria tomou conta de mim, a partir dali, eu sabia que algo Grandioso estava para acontecer.
Sentia uma Cumplicidade muito grande entre as Estrelas, a Lua, que aparecia Fogosa, mas de vez por outra, não totalmente. Se escondia parcialmente como que envergonhada ou talvez, escondendo seu sorriso maroto, como querendo me alertar para alguma coisa.
Mas já não me importava tanto, só me importava com minha ansiedade. Noite por Noite, analisava a marota da Lua, as estrelas, a escuridão ao fundo, as ondas do mar, Sim. A brisa do Mar. Brisa que no vai e vem das ondas do mar diziam juntas: aguarde... aguarde...
E comecei a sonhar: via uma Sereia indo e vindo com frequência e era tão esplendorosa, que meus olhos, ainda hoje, escrevendo essas linhas, se umedecem, lacrimejam de Amor.
E o som da Brisa , misturado com as idas e vidas das ondas do Mar, nunca deixaram de me dizer: aguarde... aguarde... E como em um derradeiro aviso, ví a Minha Sereia, sempre a mesma sereia, com uma Pérola Preciosa à Cabeça, tornando-a definitivamente, a Princesa que eu estava esperando. ... " diga por Favor, aonde se escondeu o Meu Amor"...
Aí não tinha mais dúvida, era apenas aguardar e enquanto isso ficava o dia todo e todos dias, cantarolando: "... diga por favor, quando chegará o Meu Amor"...
E ele chegou. Em dia casual, conhecia a Minha Princesa e sentia que ela trazia dentro dela aquela Pedra Preciosa. Não era apenas uma mulher linda, de formas esculturais, mais do que isso, uma pessoa pura, singela , terna, amorosa, amiga que em pouco tempo, passou a ser minha Esposa Amada, minha amante, minha confidente, minha ouvinte, mãe dos Meus Filhos, Avó dos Meus Netos, e sofredora do meu gênio colérico.
Eu sei que a vida tem seus percalços, seus problema, seja de ordem familiar, ou financeira. Tenho certeza de sua fidelidade a mim e a família. Conheço sua generosidade, seu sofrimento. Sua luta por tudo aquilo que talvez não fosse preciso passar se não fosse a Trama muito bem articulada pelo poeta, a lua, as estrelas, as ondas do mar e a doce suave Brisa.
Preciso parar alguns segundos porque agora não só os olhos que lacrimejam, mas está saltando de meus olhos grossas lágrimas e o meu coração está doendo, ruindo.
Por que deixei acontecer coisas em nossas vidas? Infelizmente sinto que apesar de minha fidelidade, que é fundamental em um relacionamento, a minha Princesa tinha muito mais coisas em seu interior, que eu desprezei. Tenho certeza absoluta. que a culpa de qualquer coisa que aconteceu entre nós, é culpa única e exclusivamente minha. Não quero ser covarde e mesquinho de alçar sobre a Minha Princesinha do Mar, qualquer culpa por uma razão muito simples: nela não existe o mal, porque foi preparada especialmente para mim.
Hoje me sinto triste, vazio, sem vida, porque consegui, não acabar, mas tirar de cada virtude que ela tem, uma lasca. Lapidei Esta Pérola Preciosa que não precisava ser lapidada, porque Ela já estava pronta para mim . Eu Não enxerguei.