PERIGO NAS ESCOLAS!

VIOLÊNCIA/BULLYING

CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS 

 

¹Gisele Santos Silva 

 

Resumo

 

O presente artigo busca refletir sobre as causas e conseqüências

da violência/bullying na escola, assim como os aspectos físicos, mentais e

sociais dessa pratica. A falta de limites por parte dos alunos e a

falta de punição para esses atos, gera muitas dificuldades no contexto

escolar, sendo um dos principais fatores que contribuem para o insucesso

do processo de ensino aprendizagem. A banalização da violência/bullying

escolar é o que nos dias atuais mais preocupam pais e instituições, seja

ela publica ou privada, quando falamos em escolas pensamos em crianças

e adolescentes, em um ambiente de ensino e aprendizagem, não em atos

de extrema violência. O estudo sobre o tema foi feito a partir de analise das

prováveis causas e conseqüências da violência escolar, assim como um

gráfico com o percentual de discentes do sexo masculino que estiveram

envolvidos em brigas na qual alguém foi agredido. Destaca-se nesse artigo

a necessidade de nos unir para fazer da escola um espaço de multiplicação

de conhecimento onde as pessoas se respeitem e se doem com o objetivo

de transformar-mos a escola num lugar melhor, onde os alunos se sintam

seguros.

 

Palavras-Chave: Violência. Bullying. Perigo. Escola. 

 

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¹ Graduanda em pedagogia, pela UNIFACS – Universidade Salvador, Pós Graduanda em Metodologia e Docência do Ensino Superior, pela faculdade Dom Pedro II.

 

 

Uma das coisas importantes da não-violência é que

não busca destruir a pessoa, mas transforma-la”

(Martin Luther king – 1929-1968 -, um dos lideres do

Movimento pelos Direitos Civis norte-americano)

 

 

INTRODUÇÃO

 

A palavra violência provém do latim violentia, que significa "abuso de força". Para os antigos gregos, a violência é hybris, ou seja, abuso de poder, profanação da Natureza, bem como transgressão das leis sagradas. Nos dias atuais, a violência dentro da escola é um dos principais problemas que atingem pais, discentes e instituições de ensino. Para Aristóteles, 

[...] violência é tudo o que vem do exterior e que se opõe

ao movimento interior e uma natureza. Ela é uma alteração

negativa que força algo contra a sua vontade. A violência

perante o Homem é toda a imposição física ou coação física

que obriga a cumprir uma ação não desejada. 

Durante a elaboração desse artigo pude perceber que as causas para violência/bullying escolar são em alguns casos externas ao ambiente escolar, como por exemplo: a indiferença dos pais, a relação do aluno com a família, alguns programas de televisão que influenciam a violência, carência familiar e social, influências recebidas de pessoas erradas e envolvimento com drogas. A ausência dos pais e as drogas, são fatores que vem influenciando muito comportamento dos discentes dentro do ambiente escolar, assim como a permissividade de alguns pais, que de certa forma influenciam os filhos a praticarem atos de violência, é comum relatos de alunos referindo a conselhos de que é melhor bater do que apanhar, essa pratica nos dias atuais tem dificultado muito a resolução desse grave problema a violência/bullying. 

Existem também fatores internos que contribuem para generalização da violência/bullying escolar, como a relação do aluno com os professores, repressões constantes, falta de diálogo professor/aluno, desinteresse pela escola e a não definição de regras. Alguns professores utilizam a prática da repressão constante como forma de manter a disciplina na sala de aula, fazendo assim o uso de uma comunicação inadequada que muitas vezes expõe e ridiculariza os alunos, tornando-os assim agressivos, descontando na maioria dos casos em colegas, com agressões físicas e psíquicas. É importante que o professor se comunique de forma adequada e respeitosa, pois ele só será visto como uma pessoa respeitável se souber respeitar os seus alunos. 

A escola foi pensada como um espaço, para multiplicação de conhecimento e valores éticos e morais. Contrastando com o que foi pensado para educação, vemos a violência/ bullying crescer em números alarmantes, não sendo um privilegio das escolas públicas e nem dos filhos de pais com menor nível cultural e financeiro, a violência está presente em todas as classes sociais. 

Chauí (1985) oferece um conceito de violência muito utilizado na análise de instituições: 

 

Entendemos por violência uma realização determinada das relações

de forças, tanto em termos de classes sociais, quanto em termos

interpessoais. Em lugar de tomarmos a violência como violação e

transgressão de normas, regras e leis, preferimos considerá-la sob dois

outros ângulos. Em primeiro lugar, como conversão de uma diferença e

de uma assimetria numa relação hierárquica de desigualdade, com fins de

dominação, de exploração e opressão. Isto é, a conversão dos diferentes em

desiguais e a desigualdade em relação entre superior e inferior.

Em segundo lugar, como a ação que trata um ser humano não como

sujeito, mas como coisa. Esta se caracteriza pela inércia, pela passividade

e pelo silêncio de modo que, quando a atividade e a fala de outrem são

impedidas ou anuladas, há violência. (CHAUÍ, 1985, p. 35).

 

Além da violência/bullying o que existe de comum nas escolas são as fases e faces da violência. Quanto as fases, me refiro a ação e a reação, pois existe aqueles que agredem para ferir e aqueles que agridem para se defender, os que agridem para se defender não podem se eximir da punição, pois violência gera violência, e existe outras formas de combate-la. Quanto as faces me refiro aos diversos agressores e diversas formas de agressão.

Para Charlot (1997), “o conceito de violência escolar pode ser classificado em níveis. No primeiro deles, estaria a violência propriamente dita, cuja definição mais se aproxima daquela do senso comum, representada por golpes, ferimentos, violência sexual, roubos, crimes, vandalismo, etc. O segundo nível seria o das incivilidades, cuja forma de expressão seriam as humilhações, as palavras grosseiras, a falta de respeito, etc. Finalmente, no terceiro nível, teríamos a violência simbólica ou institucional, compreendida como a falta de sentido de permanecer na escola por tantos anos; o ensino como um desprazer, que obriga o jovem a aprender matérias e conteúdos alheios aos seus interesses; as imposições de uma sociedade que não sabe acolher os seus jovens no mercado de trabalho; a violência das relações de poder entre professores e alunos. Igualmente, também é a negação da identidade e da satisfação profissional dos professores, a obrigação de suportar o absenteísmo e a indiferença dos alunos”. 

É preciso que o professor encontre-se preparado cognitivamente e emocionalmente para enfrentar uma carga de agressividade oriunda muitas vezes de conflitos familiares dos alunos que perturbam o processo ensino-aprendizagem, prejudicam o ambiente escolar, impedem uma comunicação adequada, desmotivam e fazem diminuir a qualidade de vida dos professores e agridem física e verbalmente os colegas e professores. 

Em uma pesquisa feita pelo IBGE em 2009, a Pense investigou temas relacionados à segurança no deslocamento para a escola e na escola, à agressão física, ao uso de arma de fogo e branca, bullying, e à segurança no trânsito. Veja um trecho da pesquisa e o gráfico abaixo: 

A proporção de estudantes que deixaram de ir à escola por não se

sentirem seguros no caminho de casa para a escola ou da escola para

casa, nos 30 dias anteriores à pesquisa, foi de 6,4%. Os maiores

percentuais ocorreram em Belém (7,8%) e Maceió (7,7%), e o menor em

Florianópolis (4,3%). Nos alunos de escolas públicas (9,7%), o percentual

foi 76% superior aos alunos das escolas privadas (5,5%). Já a proporção

de alunos que deixaram de ir à escola porque não se sentiam seguros

no estabelecimento escolar alcançou 5,5%, tendo variado de 3,4%

(Porto Velho) a 7,3% (Macapá)A Pense investigou o bullying através da

seguinte pergunta: “Nos últimos 30 dias, com que freqüência algum dos

seus colegas de escola te esculachou, zoou, mangou, intimidou ou caçoou

tanto que você ficou magoado/incomodado/aborrecido?” Os resultados

mostraram que quase um terço dos alunos (30,8%) disserem ter sofrido

bullying . O percentual dos que foram vítimas deste tipo de violência,

raramente ou às vezes, foi de 25,4% e a proporção dos que disseram ter sofrido

bullying na maior parte das vezes ou sempre foi de 5,4%.O fenômeno atingia

mais os estudantes do sexo masculino (32,6%) que os do sexo feminino (28,3%).

Quando comparada a dependência administrativa das escolas, a ocorrência de

bullying foi verificada em maior proporção entre os alunos de escolas privadas

(35,9%) do que entre os de escolas públicas (29,5%).

12,9% dos estudantes declararam ter se envolvido em alguma briga no

mês anterior à coleta da pesquisa.

Os dados sobre a violência também revelaram que 12,9% dos estudantes se

envolveram em alguma briga, nos 30 dias anteriores à pesquisa, na qual

alguém foi agredido fisicamente. Este tipo de violência foi de 17,5% entre os

homens, quase o dobro do percentual observado entre as mulheres (8,9%).

A capital com maior proporção de estudantes que estiveram envolvidos em briga

em que houve agressão física foi Curitiba (18,1%), e a com a menor, T

Teresina (8,4%).

No que se refere às brigas com arma branca, 6,1% dos escolares declararam

envolvimento, nos últimos 30 dias, sendo mais freqüente em alunos do sexo

masculino (9,0%), do que nos do sexo feminino (3,4%). As maiores proporções

ocorreram em Boa Vista (9,5%), e a menor em Porto Velho (4,1%). O envolvimento

em brigas com arma de fogo foi declarado por 4% dos escolares, sendo mais

freqüente em alunos do sexo masculino (6,0%), do que no sexo feminino (2,3%).

Boa Vista (9,4%) e Curitiba (9,2%) apresentaram as maiores freqüências de

estudantes do sexo masculino envolvidos em brigas com arma de fogo.

A menor freqüência foi observada em Teresina (4,0%). Também foi investigada a

ocorrência de agressão física por um adulto da família: 9,5% dos escolares

sofreram agressão por algum adulto da família. Os percentuais variaram

de 6,6% (Florianópolis) a 11,7% (Recife).

Os dados da Pense mostraram, também, que 18,7% dos alunos foram

transportados, nos últimos 30 dias anteriores à pesquisa, em veículos dirigidos

por motoristas que consumiram bebida alcoólica. Em Goiânia, o percentual

desse fato atingiu 23,4% e, em Manaus, 14,4%. Os estudantes de escolas

privadas estiveram mais expostos a esse risco (23,8%), do que os das

escolas públicas (17,3%). 

A violência escolar ou seja o ¹bullyng, segundo a doutora Ana Beatriz Barbosa Silva agrava problemas preexistentes, assim como pode abrir quadros graves de transtornos psíquicos e comportamentais que, muitas vezes, trazem prejuízos irreversíveis. Para Ana Beatriz (2010) os problemas/conseqüências mais comuns são:

[...]Sintomas Psicossomáticos, os pacientes tendem a apresentar diversos

sintomas físicos, entre os quais podemos destacar: cefaleia(dor de cabeça),

cansaço crônico, insônia, dificuldades de concentração, náuseas (enjoo),

diarreia, boca seca, palpitações, alergias, crise de asma, sudorese,

tremores, sensação de “nó” na garganta, tonturas ou desmaio, calafrios,

tensão muscular, formigamentos.

[...]Transtorno do Pânico, Caracteriza-se pelo medo intensivo e infundado,

que parece surgir do nada, sem qualquer aviso prévio. O indivíduo é

tomado por uma sensação enorme de medo e ansiedade, acompanhada

de uma série de sintomas físicos (taquicardia, calafrios, boca seca, dilatação

da pupila, suores e etc.), sem razão aparente.

[...}Fobia Escolar, caracteriza-se pelo medo intensivo de freqüentar a escola,

ocasionando repetência por faltas, problemas de aprendizagem e/ou evasão

escolar. A pessoa não consegue permanecer no ambiente onde as lembranças

são traumatizantes.

[...]Fobia Social (Transtorno de ansiedade social – TAS), quem apresenta

fobia social , também conhecida por timidez patológica, sofre de ansiedade

 

excessiva e persistente, com temor exacerbado de se sentir o centro das

atenções ou de estar sendo julgado e avaliado negativamente.

[...]Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), é uma sensação

de medo e insegurança persistente, que não “larga de pé”. A pessoa

que sofre de TAG preocupa-se com todas as situações ao seu redor,

desde as mais delicadas e importantes até as mais corriqueiras.

[…]Depressão, é uma doença que afeta o humor, os pensamentos, a

saúde e o comportamento. Os sintomas mais característicos de um

quadro de depressivo são: tristeza persistente; ansiedade ou sensação

de vazio; sentimentos de culpa; inutilidade e desamparo; insônia ou

excesso de sono; perda ou aumento de apetite; fadiga e sensação de

desânimo; irritabilidade e inquietação; dificuldades de concentração e

de tomar decisões; sentimentos de desesperança e pessimismo;

perda de interesse por atividades que anteriormente despertavam

prazer; idéias ou tentativas de suicídio.

[...]Anorexia e Bulimia, esses transtornos já são considerados

epidemia nas sociedades ocidentais, acometendo especialmente

mulheres (em 90% dos casos), sobretudo as adolescentes e as

adultas jovens.

[...]Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Popularmente

conhecido como “manias”, o transtorno obsessivo-compulsivo

se caracteriza por pensamentos sempre de natureza ruim, intrusivos

e recorrentes (obsessões), causando muita ansiedade e sofrimento.

[...]Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), esse transtorno

se caracteriza por idéias intrusivas e recorrentes do evento traumático,

com flashbacks (como se fosse um filme) e lembranças de todo o

horror que os abateu.

[...]Quadros Menos Freqüentes. Esquizofrenia: caracteriza-se pela

presença de delírios (imaginar que está sendo perseguido, por exemplo)

e/ou por alucinações (ouvir vozes, ver pessoas ou vultos que não existem).

Suicídio e homicídio: ocorrem quando os jovens-alvo não conseguem

suportar a coação dos seus algozas. Em total desespero, essas vitimas

lançam mão de atitudes extremas como forma de aliviar seu sofrimento.

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¹ Palavra inglesa que é utilizada para descrever todo e qualquer ato de violência física ou psicológica praticada de forma intencional por um indivíduo ou grupo de indivíduos

Como vimos a violência/bullying é hoje um dos fatores que mais preocupam a sociedade, pois gera conseqüências graves para as crianças e jovens. Percebemos que existem fatores endógenos e exógenos que contribuem para violência/bullying nas escolas, é preciso então que pais e instituições se unam para tentar sanar esse problema da violência/bullying na escola. Proponho nesse artigo uma breve reflexão sobre como podemos (pais e instituições) atenuar esse gravíssimo problema. Aos pais proponho: introduzir as primeiras lições de cidadania, valores éticos e de respeito ao próximo, além de demonstrar exemplos de condutas adequadas, comparecer às reuniões e manter contato com os professores, determinar os limites e as normas, exigindo o cumprimento das elementais, acompanhar o desenvolvimento dos filhos na lição de casa, sem jamais fazê-la no lugar deles, mas ser mediadora e promover a autonomia, amar, respeitar seu filho, ser companheiro, compartilhar emoções, elogiar, estimular e motivar os filhos em todos os aspectos, levantando sua auto estima, estar atento aos possíveis sintomas como nervosismo, falta de apetite, insônia, baixo rendimento escolar, fobia escola, controlar e supervisionar as condutas de seus filhos, observando o que faz, onde anda, com quem brinca, quais são seus interesses, projetos, etc.

As instituições proponho: identificar os motivos da violência/bullying, observar os alunos e estabelecer um diálogo, o professor pode modificar suas aulas, adotando atividades estimulantes e interativas, buscar conversar e ouvir os alunos, desfazer o clima de conflito e solucionar a situação, criar algumas regras comuns para o funcionamento das aulas, respeitar a individualidade dos alunos, melhorar os espaços escolares de forma a satisfazer todas as necessidades da organização escolar, incentivar a participação dos pais e encarregados de educação, contribuindo na resolução de conflitos, sugerir reunião de pais da turma e de encarregados de educação para tratar sobre a questão da violência/bullying, elogiar boas condutas, ser afetuoso(a) , e encorajar sempre seus alunos. 

 

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, Maria Izete de. Indisciplina escolar: determinantes, conseqüências e ações. Brasília: Liber Livro Editora, 2005.

Silva, Ana Beatriz Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. p. 25 a 32.

Chauí, M. Participando do debate sobre mulher e violência. In: Perspectivas antropológicas da mulher. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. p 25-62

 

Violência em debate. São Paulo: Moderna, 1997. (Coleção polêmica. Série debate na

escola).

 

<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1525> Acesso em 02 de janeiro de 2013

 

<http://www.infopedia.pt/$violencia> Acesso em 02 de janeiro 2013