Perfis de liderança e mediação de conflitos: Relações de poder, relações humanas na escola e aspectos éticos.

Por Audeni Coelho Nobre

Especialização em Gestão e Avaliação da Educação Pública-UPE

A princípio, considerando a dimensão  desse tema, trata-se de um assunto bastante complexo, desde a sua abordagem a prevenção deste no cotidiano escolar.

Atualmente, os conflitos existentes na escola têm ganhado muito espaço e dificultado o trabalho do professor, digo do professor, por ser este o funcionário que passa mais tempo com o aluno, no entanto, o problema atinge a todos e ainda não se sabe aonde pode chegar nem como erradicar.

Discussões surgem nos encontros pedagógicos, que tanto se parece um laboratório de práticas, sendo estas, as “queixas”, os “desabafos” dos professores, que entre si discutem  o que fazer e como fazer para conseguir resolver os mais diversos conflitos que surgem no ambiente escolar principalmente entre alunos, porém já atingem professores, os alunos atualmente tiram o professor do “sério”, levando esses a perder o controle, onde muitas vezes ao invés de mediador se torna agressor, termina por entrar no jogo.

No meu ponto de vista, o problema está muito além da escola, que ainda não está preparada para a clientela que tem hoje. Esse ponto de vista se confirma na discussão apresentada por CHRISPINO, Alvaro e DUSI , Miriam Lucia Herrera Masotti  no trecho:

“Diz-se que escola é o espaço que a sociedade acredita ser o ideal para reproduzir seus valores tidos como importantes para sua manutenção. Ocorre que a própria família, em crise e em transformação como outras instituições sociais contemporâneas, passou a delegar à escola funções educativas que historicamente eram de sua própria responsabilidade, o que acarretou uma mudança no perfil de comportamento do aluno. Por outro lado, a massificação da educação trouxe para dentro do universo escolar um conjunto diferente de alunos, sendo certo que a escola atual – da maneira como está organizada e da maneira como foram formados os professores –, só está preparada para lidar com alunos de formato padrão e perfil ideal”. (CHRISPINO, Alvaro e DUSI , Miriam Lucia Herrera Masotti).  

Os problemas da escola sugiram no momento em que esta não estava preparada para receber a demanda, e estamos até hoje tentando paliar aquilo que ainda não aprendemos a resolver.

“A massificação ampliou o número de alunos e trouxe um aluno de perfil diferente daquele com o qual a escola está preparada para lidar. Isso acarretou uma desestabilização da ordem interna histórica. Está criado o campo do conflito! Essa é a tese principal que temos defendido”. (CHRISPINO, Alvaro e DUSI , Miriam Lucia Herrera Masotti ).

Nesse contexto, percebe-se que a nossa dificuldade está em conciliar a escola com o perfil do  aluno recebido e a sua diversidade. A escola precisa se preparar para lidar com essa diversidade de forma que os conflitos sejam mediados sem que antes, se tornem agravantes no ambiente escolar, de tal maneira que se estenda à sociedade.

Compreende-se a importância das propostas e das políticas públicas no combate à violência, contudo, seria muito interessante que se discutisse um novo perfil de educador, de escola, que aprendesse a lidar com a massa, com o público, que hoje está na escola e que desta precisa para ser um cidadão de bem, o que muitas vezes este aluno acaba por ser expulso da escola sem se tornar esse cidadão. Daí eu pergunto; a culpa é do aluno? Será que ele veio para escola só para perturbar? Ou será que os conflitos surgem mesmos pela inquietação do aluno por não ter suas expectativas superadas?

Quantos alunos a escola exclui por não conhecer seu potencial, por não estar preparada para explorar as capacidades cognitivas do aluno. Quantos estudantes já se deram bem na escola quando tinha tudo para se dá mal. É nesse âmbito que está o desafio de educar, de favorecer a construção de relações saudáveis, de afetividade, de diálogo, e através deste diálogo construir um ambiente mais saudáveis e favorável a cultura de paz.

 O Manifesto afirma que é da responsabilidade de cada ser humano traduzir os valores, atitudes e padrões de comportamento que inspiram a Cultura de Paz em realidades da vida diária. Todos podem agir no espírito da Cultura de Paz dentro do contexto da própria família, do local de trabalho, do bairro, da cidade ou da região, tornando-se um mensageiro da tolerância, da solidariedade e do diálogo.

Vejo o diálogo como uma grande possibilidade de combate à violência, por isso o valor da mediação. O gestor escolar tem um papel de grande valia nessa mediação, pois através do diálogo, ele pode construir relações saudáveis no ambiente escolar. Contudo, esse papel de mediador exige ética, pois ele tem a responsabilidade de conquistar  a confiança do aluno, de saber ouvir, de pontuar aquilo que é de fundamental para a melhoria da convivência entre outros aspectos. O gestor quando possui uma postura ética, se torna uma referência para o educando, assim, conquista a amizade,  a confiança e  vai conseguindo construir através do diálogo  um ambiente saudável favorável à cultura de paz.

A escola tem assumido muitas responsabilidades nos últimos tempos, embora, seja esta formadora de opinião, ela tem um desafio grande quando compete com a mídia em todos os sentidos e no tocante à violência, vejo a mídia como um agravante quando mostra os fatos, às vezes com tanto ênfase, que aquilo que era para ser ridículo se torna normal, onde os agressores, muitas vezes são visto pelo telespectador como um herói, dependendo da maturidade e capacidade de interpretação daquele que  recebe à informação.

Posso até está sendo exagerada, e aqui é apenas o meu ponto de vista, nada que eu possa comprovar, contudo, vejo a televisão não como mediadora de conflito, mas  como bastante influente na  propagação destes. Cada vez que ocorre um fato grave em determinada escola, a televisão mostra com muito detalhe aquele fato, o telespectador “aluno” muitas vezes acha interessante e daí leva aquele episódio  para o chão da sua escola.

A gestão da escola já está desenvolvendo projetos de cultura de paz, são projetos construídos com a participação da comunidade escolar e estamos na busca e permanência desta paz no contexto escolar. Embora, convivemos com alunos de realidades diferentes na escola da qual tenho propriedade para falar, vejo que os conflitos surgem, porém ainda estão sob nosso controle, conhecemos todos os alunos que compõem a unidade de ensino e aqueles que são novatos quando chegam à escola, professores, alunos e funcionários de modo geral procuram conhecê-los, acolhendo e juntos vão traçando o perfil deste aluno, para que possa aprender a conviver de modo que este se sinta bem e incluído dentro do ambiente escolar.

Quando se trata de políticas públicas de combate à violência percebe-se na fala dos autores CHRISPINO, Alvaro e DUSI , Miriam Lucia Herrera Masotti, que elas surgem com base em estudos, quando diz:

“O primeiro esclarecimento necessário é que a violência escolar é sistêmica e complexa. Por tal razão, não é razoável esperar que seja superada por ações pontuais e espasmódicas, movidas pela comoção de um fato mais contundente que fere a sensibilidade social. Ele pede realista, análise prospectiva, planejamento com capacidade de aplicação, convergência de ações entre os diversos atores para o fim determinado, avaliação de processo e de resultado e, quiçá, responsabilização pelo feito e pelo não-feito no assunto.o desenvolvimento de uma capacidade de antecipação por meio de diagnóstico”. (CHRISPINO, Alvaro e DUSI , Miriam Lucia Herrera Masotti).

 Que elas devem ser fundamentadas a partir de um conjunto de dados analisados, partindo daí deve se estabelecer conjunto de ações a serem desenvolvidas e a quem devem ser atribuídas para que em longo prazo possa conseguir uma pequena mudança na sociedade. Vale salientar, que a escola sozinha não poderá resolver a situação, contudo, ela é uma das instituições responsáveis por criar e desenvolver estratégias de mediação de conflitos, de combate à violência conforme á realidade em que está inserida. Estas estratégias devem ser criadas partindo do estudo da área geográfica em que a escola está localizada, dos incidentes ocorridos, da situação de risco em que os alunos se encontram entre outros fatores a considerar.

Sabe-se que o gestor é o agente público norteador do processo de ensino aprendizagem, e que este deve zelar pela qualidade deste processo, possibilitando à comunidade escolar a participação de todo processo na busca dessa qualidade. Para tanto, devem junto à comunidade traçar um plano de ação com metas a alcançar, recorrendo sempre que necessário a outras entidades que possa apoiar as ações da escola na vivência da Cultura de Paz.

Considero de grande importância a proposta apresentada por CHRISPINO, Alvaro e DUSI , Miriam Lucia Herrera Masotti, pela dimensão da abordagem, pela apresentação das ações/estratégias que devem ser vivenciada pelas entidades públicas na redução e na promoção da cultura de paz. Sabe-se da necessidade que enquanto gestão, o gestor precisa abraçar a causa, liderar pelo exemplo, e assumir a  responsabilidade de gerir os problemas diversos que surgem no contexto escolar.  

 REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS

 Uma Proposta de Modelagem de Política Pública para a Redução da   Violência Escolar e Promoção da Cultura da Paz - CHRISPINO, Alvaro e DUSI, Miriam Lucia Herrera Masotti;

Manifesto 2000 Por Uma Cultura de Paz e Não-Violência- Biblioteca Virtual de Direitos Humanos, http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/UNESCO; acesso em 02/07/2014;

 Gestão com Foco na Educação de Paz e Sustentabilidade - Módulo 2 – PROGEPE.

Projeto Político Pedagógico da Escola Manoel Ribeiro Damasceno 2013/2014.