1. INTRODUÇÃO

As parasitoses, apesar de todo o avanço científico e tecnológico, são ainda um dos principais problemas de saúde, ocupando um lugar de destaque entre as doenças infecciosas por sua alta prevalência e incidência na população mundial (NAFTALE, K. SÉRGIO, V. P; 2000).

A esquistossomose humana pode ser causada por diferentes espécies do parasito pertencente ao gênero Schistosoma. No Brasil, até o momento a responsável pela doença é a do Schistosoma mansoni, e está completamente adaptada ao nosso meio. É ele o agente da esquistossomose intestinal, também conhecida como "xistose", "barriga d?água" ou ainda "doença do caramujo", que é caracterizada por parasitas que se instalam e vivem nos vasos das veias mesentéricas e/ou vesicais durante vários anos, sendo que uma vez alojado, rapidamente inicia-se a postura dos ovos, onde parte se espalha pelo corpo e parte será expelido do organismo juntamente com as fezes ou urina, causando assim a perpetuação do ciclo vital do parasita, sempre que as condições ambientais estiverem favoráveis. (CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE: DIRETRIZES TÉCNICAS; 1998). A transmissão da esquistossomose depende da presença do portador humano, eliminando ovos do verme nas fezes; da existência de hospedeiro intermediário que é o caramujo, e finalmente, do contato humano com a água contendo cercarias da S. mansoni. (SUCEN, 2008).

Desde que surgiu no Brasil, a esquistossomose se espalhou amplamente em função dos movimentos migratórios, e o problema foi aumentando com o passar dos anos, principalmente em lugares com precárias condições de saneamento básico. Além disso, o alastramento da doença foi auxiliado pela longevidade dos vermes adultos, que tem vida média de cinco anos, podendo chegar a várias décadas; a grande capacidade de reprodução das fêmeas, com uma média de quatrocentos ovos por dia; a existência de indivíduos infectados, que mesmo quando longe dos pontos de focos da transmissão são capazes de permanecer excretando ovos por mais de vinte anos; o caráter crônico e insidioso da doença, permitindo que durante muito tempo o paciente não busque tratamento, e a ampla distribuição dos hospedeiros intermediários (CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE: DIRETRIZES TÉCNICAS; 1998).

O S. mansoni apresenta um ciclo de vida complexo, envolvendo hospedeiros definitivos (homem) e intermediários (caramujo), além do ambiente externo. O principal hospedeiro intermediário do Schistosoma mansoni é o caramujo da espécie Biomphalaria glabrata. É bom lembrar que o clima de país tropical permite, na maioria dos estados brasileiros, as condições necessárias para a transmissão da doença. Assim existe uma incrível variedade de habitats aquáticos, que funcionam como criadouros de moluscos (NEVES, 2005).

O controle da esquistossomose é uma das tarefas mais difíceis dos serviços de saúde pública em razão da ampla difusão destes hospedeiros e dos mecanismos de transmissão, da freqüência do contato humano com a água em atividades agrícolas, doméstica e/ou por lazer, da falta de água potável, das limitações do tratamento individual e em massa e da falta de abordagem profilática para a sociedade (COURA P; 1998). Por isso a implantação de um programa de controle da esquistossomose passa por diferentes etapas que guardam estreita relação tanto com a evolução da endemia, quanto com a operacionalização das ações de controle (CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE: DIRETRIZES TÉCNICAS; 1998).

Identificar as áreas e grupos populacionais que apresenta elevado risco de infecção constitui uma tarefa indispensável para a elaboração de programas profiláticos, além de servir como estimativa diferenciada e meio de avaliação de exposições ao parasito (BARCELLOS, C; et al, 1998).

Reconhecer esses grupos auxiliará na elaboração de intervenções sociais e sanitárias para minimizar ou eliminar os fatores específicos de risco, sugerindo um processo de diagnóstico, avaliação e adequação das estratégias de ação dos serviços de saúde (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE; 2000).
No que se diz respeito ao reconhecimento geográfico, é necessário à elaboração de croquis, dando ênfase a localização de coleções hídricas em geral, em particular daquelas que servem de criadouros de caramujos ou apresentem potencial de contaminação, as quais deverão ser destacadas e classificadas de forma a orientar as equipes de trabalho (CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE: DIRETRIZES TÉCNICAS; 1998).

A relevância da esquistossomose como problema de Saúde Pública não se restringe à sua antiguidade e ampla distribuição geográfica mundial, como exemplo pode-se citar a África, Austrália, Ásia e Sul da Europa. Um dos fatores diz respeito à relevância econômica, expressa pelo impacto na atividade produtiva da população infectada, já que em muitos casos, o paciente apresenta diarréia, dor abdominal, vômito de sangue, sérias perturbações respiratórias, perda de peso, atrofia muscular, fadiga, fraqueza, perda de apetite e conseqüentemente desnutrição e prostração. A ocorrência de manifestações clínicas graves em indivíduos infectados pelo Schistosoma mansoni tem sido considerada um dos aspectos mais importantes desta parasitose, tornando-a objeto de atuação por parte de programas de controle em países endêmicos (CARMO E.H; 1999).

A esquistossomose é um dos problemas sanitários que exige atenção do Estado, e que afeta fortemente a sociedade rural, sendo que o seu combate e redução são fundamentais, por isso, é essencial e necessário que se obtenha dados precisos a fim de avaliar as condições do processo de saúde/doença desse ambiente (ALESSI, NAVARRO; 1997).

O projeto sugere intervenções aos atuais panoramas endêmicos locais. Antes de tudo é um trabalho de pesquisa executado em uma área limitada, que pode ser utilizado futuramente como base em outras áreas do Estado do Espírito Santo nas mesmas condições, além disso, conscientizar e educar a população sobre a importância do saneamento básico na prevenção da doença, com sugestões de ações de saneamento necessárias. O mapeamento dos focos endêmicos na área, também é um dos pontos do projeto identificando elementos relevantes para a construção de ações programáticas estratégicas de controle em nível local.

A localidade em estudo é Alto Santa Maria, pequeno povoado micro agrário de Santa Maria de Jetibá, cidade da região serrana do Espírito Santo, situada a 85 km da capital, Vitória. O povoado é composto basicamente por habitantes de origem pomerana, sendo residentes da localidade há décadas, e que ainda hoje muitos se comunicam apenas pela sua língua de origem (pomerano), precisando em certas ocasiões de um intérprete, e isso reflete diretamente no entendimento de informações vitais.

Outra vertente do problema da comunidade seria a ausência de representação política, ou associação de moradores, ainda, o preconceito que sofrem no município por virem do meio rural, faz com que tenham a percepção de que possuem pouco apoio e interesse para desenvolver projetos que visam sua melhoria. Em suma, a população possui pouca ajuda na resolução de seus problemas sócio-ambientais (FIOCRUZ, 2005).

A análise do Sistema de Informação do Programa de Controle da Esquistossomose (SIS-PCE) na área em questão demonstra que os resultados estão sendo pouco efetivos, tendo em vista a prevalência em todas as faixas etárias e o alto índice de infecção pelo Schistosoma mansoni, além dos fatores ambientais quase imutáveis dos anos verificados, 2005 e 2007. Nas crianças até 15 anos, a porcentagem é de 35% aproximadamente dos casos positivos em 2005 e 30% em 2007, resultado alarmante que necessita atenção especial.

Compreende-se o interesse na pesquisa onde se torna necessário o estudo dos determinantes biológicos e sociais ligados à epidemiologia da esquistossomose, estruturando as causas e ainda a ação intervencionista adequada (BARBOSA, C. S; 1996).

Dadas as exposições acima, justificam-se a importância desse estudo epidemiológico, para traçar o mapa dos focos da doença a fim de demonstrar as áreas prioritárias de intervenção, o perfil socioeconômico das famílias referente aos padrões sanitários e comportamentais de risco, associar a prevalência por faixa etária e sexo e correlacionar os determinantes biológicos da doença com o contexto ambiental, inclusive o aspecto cultural. Obter dados sobre a malacologia nas coleções hídricas peri-residenciais positivas a fim de identificar a espécie transmissora da esquistossomose e Identificar focos de transmissão ativos da doença, avaliar quais seriam as possíveis causas da infecção, identificar elementos relevantes para a construção de ações eficazes de controle em nível local objetivando a erradicação da doença.


2. MATERIAIS E MÉTODOS

Foi feito o levantamento de dados coproscópicos do SIS-PCE na Vigilância Epidemiológica do município de Santa Maria de Jetibá situado no estado do Espírito Santo, na região Sudeste, mais especificamente na região serrana do respectivo estado, cuja contagem populacional é de 31.845, área territorial 736 km (DATASUS 2008), referente aos anos de 2005 e 2007, onde se pondera um alto índice de infestação por Schistosoma mansoni na localidade de Alto Santa Maria. No ano de 2006 não houve um levantamento, pois a periodicidade dos inquéritos deve ser feito a cada dois anos a partir da primeira coleta, assim avalia-se o impacto do trabalho realizado na área delimitada (CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE, DIRETRIZES TÉCNICAS; 1998).

A confecção da cópia do mapa local (croqui) foi uma das primeiras medidas para a demarcação dos pontos onde há maior preponderância de infestação. Por meio de símbolos com cores distintas que simultaneamente especificam os anos avaliados, representando o quantitativo de indivíduos infectados por imóvel, identificando as áreas mais acometidas e que conseqüentemente necessitam maior intervenção.

Nas famílias positivas dos anos de 2005 e 2007, foi analisada a FICHA A do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), para traçar o perfil sócio-econômico e comprovar a relação entre o mesmo e o grau de infestação, discutindo intervenções pertinentes.

[...] O Sistema de Informação da Atenção Básica - SIAB foi implantado para o acompanhamento das ações e dos resultados das atividades realizadas pelas equipes do Programa Saúde da Família - PSF.
O SIAB foi desenvolvido como instrumento gerencial dos Sistemas Locais de Saúde e incorporou em sua formulação conceitos como território, problema e responsabilidade sanitária, completamente inserida no contexto de reorganização do SUS no país [...] (DATASUS, 2008).

Nas áreas de maior prevalência do mapa, foram coletadas amostras de moluscos (caramujos) pela Vigilância Ambiental do município de Santa Maria de Jetibá em parceria com os técnicos da Vigilância Ambiental em Saúde da Superintendência Regional de Saúde de Vitória (SESA/SRSV-ES) e encaminhado para o Núcleo Entomológico do Estado do Espírito Santo (NEMES) no dia 25 de setembro de 2008, com o objetivo de determinar a espécie e a infectividade do hospedeiro intermediário para comprovar seu papel de propagador da doença.

Foi realizada a pesquisa bibliográfica através de material disponível em artigos científicos e livros oficiais, a fim de obter dados históricos e informações relevantes sobre o assunto de forma dinâmica (GIL 1996).


3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através do levantamento de dados feito pela Vigilância Epidemiológica de Santa Maria de Jetibá, foi constada na localidade de Alto Santa Maria uma incidência elevada de infestação por Schistosoma Mansoni em relação a outras comunidades do município. Os resultados obtidos indicaram que de 843 exames parasitológicos realizados no ano de 2005 foi positivado 103 amostras, correspondentes a 12,17% da população, já em 2007 de 841 exames foi positivado 82 casos de esquistossomose, correspondentes a 9,75% da população, uma queda de apenas 2,42%. Destaca-se ainda que o nível de reincidência alcançou 23%, sendo importante salientar que não houve caso de recusa da medicação nesses pacientes reincidentes, indicando que apenas o tratamento medicamentoso não obtém resultados satisfatórios, mas sim, um conjunto de ações adequadas de prevenção e intervenções a nível local para que os fatores ambientais e culturais deixem de influenciar na perpetuação do ciclo deste parasita.

Foram selecionados os pacientes positivados dos anos mencionados acima para que assim permitisse uma avaliação mais adequada da relação que existe entre a doença e seus fatores condicionantes. Para recolher esses dados usamos a FICHA A, que é um instrumento de monitoramento mensal da família, feito pelos Agentes Comunitários de Saúde, para alimentar o SIAB, onde se encontram informações como: tipo de casa, destino de lixo, tratamento e abastecimento de água no domicilio, destino de fezes e urina, datas de nascimento dos moradores da residência, ocupação, alfabetização, e se existe integrantes da família portadores de alguma doença. Através desses dados foram confeccionados gráficos representativos para melhor visualização dos paralelos existentes entre a realidade das famílias e os índices esquistossomóticos da população de Alto Santa Maria.

Foram separados por residência os indivíduos positivos relacionados a esses dois anos mencionados e assim somaram-se 101 moradias. Dessas, nove não apresentaram dados da FICHA A por motivos diversos. Por isso não foram levados em conta na elaboração dos gráficos abaixo.

3.1 PESQUISA MALACOLÓGICA

A Pesquisa Malacológica na localidade foi realizada pela Vigilância Ambiental do município de Santa Maria de Jetibá, sob orientação e coordenação técnica da Superintendência Regional de Saúde de Vitória (Vigilância Ambiental).

Após a demarcação no mapa da localidade, dos pontos onde, notadamente havia o maior registro de casos, a malacologia foi direcionada a estes locais, onde, conforme resultados das amostras encaminhadas, foi constatada a presença em grande escala dos caramujos do gênero Biomphalária, espécie Glabrata, a melhor na transmissão da doença.


TABELA 1: COLEÇÕES HÍDRICAS PESQUISADAS EM ALTO SANTA MARIA

Positivos S.mansoni 02

Glabrata * Tenag. **Stram. Outras 54 53 00 01


Embora a técnica utilizada tenha sido por modo amostral, é correto afirmar que a localidade possui uma diversidade de coleções hídricas infestadas, com predominância de pequenas valas e pontos de coletas para irrigação. A presença de caramujos infectados com S. mansoni mostra que a transmissão local acontece, cabendo demandar ações que possam propiciar a interrupção ou redução da transmissão da doença.

É importante que a comunidade esteja atenta às normas básicas de higiene e saneamento ambiental, evitando contato com a água represada ou de enxurrada que pode estar infestada pelo parasito. Além disso, os caramujos devem ser combatidos através de métodos que objetivam o controle biológico, químico e ambiental.

Como seu habitat natural preferido são lugares com pouca água e correnteza, algumas medidas podem ser tomadas como drenar, aterrar ou aumentar a velocidade da água na área em que vivem.

O controle biológico pode ser exercido por animais que se alimentam dos caramujos (peixes, patos, etc.) e o químico pelo uso de moluscocidas. Os lavradores devem se conscientizar de que o uso de roupas adequadas, botas e luvas de borracha têm que ser obrigatório no caso de contato com águas supostamente infectadas. Cabem às autoridades sanitárias a destruição do habitat das larvas e o trabalho de informar a população.


3.2 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Constatou-se que a faixa etária mais comprometida pelo Schistosoma Mansoni está entre os 20 e 39 anos, lembrando que as faixas etárias foram separadas de acordo com o que manda o SIS-PCE, sendo o sexo masculino o mais acometido, por serem de maneira geral a mão de obra mais qualificada para o tipo de atividade realizada. Isso demonstra a natural relação que existe entre atividade de trabalho, que é a agricultura familiar voltada para hortifruticultura e a disseminação da doença. Sendo essa, uma atividade que requer irrigação periódica e que proporciona o contato direto com coleções hídricas de grande potencial de infecção, visto que são excelentes criadouros de moluscos. Destaca-se que os indivíduos com idade entre 7 e 19 anos, do sexo masculino, do ano de 2007 totalizam 32 casos positivos, enquanto que a faixa dos 20 aos 39 anos representam a metade dessas ocorrências. O que chama atenção é que a primeira faixa etária tem um intervalo cronológico menor em relação a segunda faixa etária citada. Há dúvidas sobre o motivo da exposição dessas crianças e adolescentes, podendo ser por recreação ou auxiliando a família de alguma forma no trabalho agrícola.


É notório destacar que apesar da porcentagem de estudantes serem 32% da população positiva, grande parte dessa parcela participa da atividade agrícola fora do horário escolar, sendo portanto, suscetíveis à infecção. Além disso, a maioria possui estudo limitado até 8º série do ensino fundamental, por influência familiar e cultural. Apesar dessa limitação, 92% dos indivíduos são alfabetizados, o que pode facilitar o acesso as informações referentes a enfermidade, através de folders ou panfletos explicativos.

Os meios de comunicação em massa são armas efetivas na profilaxia de qualquer doença, inclusive na esquistossomose. De acordo com a pesquisa grande parcela da população local que abrange 49% tem como fonte de informação externa o rádio e TV, 28% utiliza apenas o rádio e 23% apenas TV, demonstrando que intervenções como, propagandas e programas de saúde pública são viáveis, principalmente no rádio, que pode interagir fortemente e com maior eficácia a nível local e a baixo custo.

A população que reside em casas de alvenaria representa 92% e apenas 8 % são residências de madeira. As casas de alvenaria apresentam banheiros com sistema de encanamento de água com destino à fossa, ou diretamente a céu aberto, já nas casas de madeira a estrutura do banheiro é menos evoluída tendo como opção os aterros e sumidouros irregulares, que também contaminam o solo.

A porcentagem de residências que tem como destino de fezes e urina o céu aberto é de 17%, isso prova que parte das casas positivadas não tem nenhuma preocupação com o seu destino de esgoto, sendo que junto com as fezes os ovos do parasito irá se disseminar, perpetuando o ciclo da doença. Mesmo as casas que tem fossas sépticas catalogadas pela FICHA A são em absoluto, irregulares e é interessante destacar que todas as residências mencionadas se encontram a uma distância inferior a 50 metros de alguma coleção hídrica. Além disso, de acordo com as palavras ditas pela Agente Comunitária de Saúde, a orientação que lhe passaram em relação ao destino das fezes e urina seria que se na moradia houvesse um buraco no chão de modo semelhante ao de uma fossa, nos dados cadastrais seria preenchido como fossa e por isso não se pode designar o gráfico posto acima fidedigno à realidade das casas relacionadas na ficha A de cada família.

Observa-se que, devido à falta de medidas práticas de saneamento e de educação sanitária, uma parcela da população tende a lançar dejetos diretamente sobre o solo 73%, criando, desse modo, situações favoráveis à transmissão de doenças. Sob o aspecto sanitário, o destino adequado dos dejetos humanos visa, fundamentalmente, o controle e à prevenção de doenças a eles relacionadas, sendo que as intervenções a serem adotadas seriam evitar a poluição do solo e dos mananciais de abastecimento de água, além de evitar o contato dos vetores com as fezes e proporcionar a promoção de novos hábitos higiênicos na população.

Os dejetos humanos podem ser veículos de germes patogênicos de várias doenças, dentre as quais a esquistossomose. Por isso, torna-se indispensável afastar as possibilidades de seu contato com o homem, águas de abastecimento, vetores e alimentos.

A adequada construção de um sistema de esgoto sanitário nessa comunidade proporcionará um tratamento de forma apropriada e trará como beneficio a conservação dos recursos naturais, melhores condições sanitárias locais, a eliminação de focos de contaminação, poluição e conseqüentemente a redução das doenças ocasionadas pela água contaminada e também dos recursos aplicados no tratamento destas.

Apenas uma parte das casas pesquisadas é contemplada pela coleta de lixo (27%), as outras residências queimam, enterram ou mesmo deixam o lixo em céu aberto, gerando um impacto ecológico e propiciando o contato com doenças infecciosas relevantes, sendo o ideal, a coleta de todo o lixo da localidade.


De acordo com a Companhia Espírito Santense De Saneamento ? CESAN, a água de consumo humano domiciliar tem que passar por diversas etapas de tratamento a fim de retirar todas as impurezas presentes e assegurar a descontaminação da água por microorganismos patogênicos, para profilaxia de doenças como a Esquistossomose, Cólera, Febre Tifóide, Hepatite Tipo A, Leptospirose, Giardíase, Amebíase e gastroenterites. (CESAN, 2008).

A construção de um sistema completo de abastecimento de água requer muitos estudos e pessoal altamente especializado, além de um custo elevado.

A água captada através de poços profundos, não precisa ser tratada, bastando apenas à desinfecção com cloro. Esse simples método é possível porque, nesse caso, a água não apresenta qualquer turbidez, eliminando as outras fases de tratamento as quais são necessárias nas águas superficiais. (VIGILÂNCIA E CONTROLE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO; 2006). A maioria das residências possuem poços (98%), mas o que deve ser averiguado é se a profundidade e as técnicas utilizadas em sua construção atendem para os critérios de potabilidade.

Considerando os métodos para tratamento de água, sabe-se que as águas de superfície são as que mais têm necessidade, por apresentarem qualidades físicas e bacteriológicas impróprias ao consumo, já as águas de nascentes, com uma simples proteção de cabeceiras e cloração podem ser consumidas sem perigo dependendo do local de origem (CASSIA ASSIS, R. da S; 2000). Observa-se que não existe nenhuma família que pratica esse tipo de orientação, além disso, 68% das residências não utilizam qualquer tipo de tratamento de água, consumindo certamente água contaminada, já que é retirada diretamente de poços irregulares contaminados ou diretamente do rio. É importante a implantação e manutenção de uma estação de tratamento de água em Alto Santa Maria, por parte da prefeitura em parceria com os moradores, a fim de trazer a população água potável de qualidade e eliminar a contaminação de diversas doenças já citadas, inclusive a esquistossomose.

O correto é a construção de privadas com veiculação hídrica, ligadas a um sistema público de esgotos, com adequado destino final para tratamento. No entanto essa solução é impraticável no meio rural e difícil por razões econômicas em muitas comunidades, nesses casos são indicadas soluções individuais domiciliares.

O Governo Federal através da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) abre solicitação de pleito para municípios que precisam de ajuda financeira para implantação de melhorias sanitárias individuais, através de apresentação de projeto pelo Poder Público com levantamento de informações da localidade pleiteada, inquérito sanitário domiciliar, lista nominal dos beneficiários, elaboração de planta ou croqui da localidade com demarcação dos domicílios a serem beneficiados, perfil epidemiológico identificando as patologias existentes, apresentando projetos técnicos, e planos de ação sobre educação em saúde e mobilização social. Diante da situação do Distrito de Alto Santa Maria, o poder Público Municipal tem argumentos para apresentar projetos solicitando adequação de condições básicas para as melhorias sanitárias dessa localidade (FUNASA, 2008)

Além disso, as ações de educação em saúde e mobilização comunitária são importantes no controle da esquistossomose, e com certeza são medidas básicas para a efetivação de atitudes e práticas que modifiquem positivamente as condições favorecedoras e mantenedoras da transmissão desta doença. As atuações envolvendo o saneamento ambiental são sem dúvida as de maior eficácia para modificação deste panorama, dentre as quais podemos citar a coleta e tratamento de dejetos, abastecimento de água potável e eliminação de coleções hídricas que sejam criadouros de moluscos, sendo que essas ações de saneamento deverão ser o mais simples possível, de baixo custo, a fim de poder realizá-las em todas as áreas necessárias.


Como já foi citado anteriormente, 23% dos indivíduos infectados são reincidentes da doença. É notório que dessa parcela 42% se encontram na faixa etária de 8 a 14 anos de idade, indicando que as crianças estão mais suscetíveis a reincidência pela dificuldade de modificação de hábitos por muitas vezes não perceberem o risco da doença cujo seu inicio é assintomático. A segunda faixa etária mais reincidente se encontra entre 15 a 19 anos de idade. Neste caso, sugere-se que a causa seria a transição da atividade escolar para jornada de trabalho, com foi citado anteriormente.

Foi feito o cálculo da intensidade da infecção, referente ao número de ovos de Schistosoma Mansoni por lâmina, que corresponde a um grama de fezes, sendo percebido que15% dos positivos estavam no grupo do alto índice de infecção > 17 ovos por lâmina. Para isso utiliza-se o método Kato-Katz, sendo de escolha para inquéritos coproscópicos de rotina e em investigações epidemiológicas. A própria Organização Mundial de Saúde (OMS), recomenda sua utilização nessas situações, em função das facilidades operacionais que oferece e de ser um método com boa sensibilidade e especificidade (CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE, DIRETRIZES TÉCNICAS; 1998).

Foi realizado cálculos do grau de infestação,importantes ao avaliar o risco de infecção por faixa etária da população. Através desses resultados percebe-se que população em risco de baixa infestação (1-4 ovos) elevou-se no decorrer dos anos pesquisados de 8,34% para 8,82%, e o risco da alta infestação (5-16 ovos ou ≥ 17 ovos) diminuiu de 3,49% para 1,44% e de 2,01% para 0,52%, respectivamente.

O risco de adquirir a esquistossomose tende a aumentar com o passar dos anos na localidade, e que o tratamento medicamentoso diminui apenas o risco de atingir um alto índice de infestação, porém a situação tende a piorar em Alto Santa Maria, caso as medidas profiláticas citadas não forem acatadas.

4. CONCLUSÃO

A localidade de modo generalizado conhece a doença e sabe de suas complicações, tanto que as ações ligadas ao diagnóstico, tratamento e monitoração da endemia são valorizadas pela população, porém o fato das condições ambientais e culturais estarem favoráveis a perpetuação da doença faz com que a sua erradicação se torne algo difícil de concretizar.

No entanto, como foi visto pode-se interferir em todas as etapas do ciclo evolutivo da doença a fim de minimizar ou até mesmo abolir essa problemática existente, através de métodos profiláticos de educação em saúde, modificação de hábitos culturais que promovem a perpetuação deste ciclo como andar descalço pelos locais que favorecem a existência do hospedeiro intermediário, uma água de boa qualidade para o consumo humano, acondicionamento e destino final adequado dos resíduos sólidos, drenagem e esgotamento sanitário além de melhorias sanitárias domiciliares.

Obs. texto modificado pelo autor, devido a retirada dos gráficos, tabelas, anexos e apêndices representativos que ilustram a pesquisa.