O PERFIL DO PROFISSIONAL CONTABIL: DO GUARDA LIVROS AO SPED

RESUMO

A evolução da informática, com o advento da Internet introduziram no campo empresarial, bem mais que meras melhorias operacionais, permitiram que não só evoluíssem os modelos gerenciais, mas influenciaram o trabalho do profissional contábil. A Tecnologia da Informação aliada a Contabilidade permitiu que fossem dadas características peculiares às transações e a análise econômica e financeira, com a introdução de modelos gerencias mais sofisticados. Acompanhando o novo ritmo dos negócios, é cobrado do profissional contábil, cada vez mais que este procure capacitar-se. Por outro lado, o fluxo de operações mais abrangentes e a disponibilização de certos serviços através dos meios eletrônicos, trouxe bem mais que simples reflexos na utilização das informações contábeis, transformou a forma de atuação do profissional contábil e a postura assumida perante o processo decisório, atuando agora como o gerenciador de informações. Considerando o fim da escrituração tradicional em função dos meios eletrônicos, a evolução tecnológica vem gerando um impacto para o profissional Contábil. O Sistema Público de Escrituração Digital ? SPED é cada vez mais presente na rotina de diversos segmentos empresariais. A precisão das informações em tempo real trouxe maior responsabilidade ao contador, o qual necessita adequar-se aos novos hábitos, na mesma velocidade em que a tecnologia da informação revoluciona os meios de comunicação entre as Empresas e Fisco.

Palavras - chave: Tecnologia da Informação. Perfil do Contador. SPED.

1 INTRODUÇÃO

A profissão contábil vem passando por processos de melhoria e aprimoramento durante séculos. Houveram mudanças significativas tanto nas normas e padrões que norteiam a Contabilidade, quanto nos procedimentos contábeis. Com a informatização e o advento da Internet, as velhas rotinas operacionais cedem espaço para a modernização sistemática dentro das organizações, livros, registros, fichários e formulários contínuos cedem espaço a disquetes, amplos arquivos engavetados são armazenados em arquivos nos microcomputadores e viram planilhas de informações com acesso livre a diversos usuários. Por outro lado, a velha figura do guarda-livros, antes direcionada ao profissional contábil, cede espaço para os sistemas contábeis, sendo a principal fonte de informações dentro das empresas.
O mercado de trabalho globalizado cria novas oportunidades de fundamental importância para o contador do novo milênio, como fornecedor das veracidades das informações contábeis e financeiras de uma empresa, esse profissional se torna importante comunicador das informações indispensáveis para a tomada de decisões.
O profissional contábil deverá mostrar que sua função não deixou de ser importante nos aspectos econômicos e sociais, apesar da informática substituir o homem em alguns aspectos, a capacidade para interpretar os números e tomar decisões continua sendo requerida pela sociedade humana pelo cientista do patrimônio, com conhecimentos científicos, de ordem superior, oferecendo modelos de comportamento de riqueza, o que será requerido por um profissional competente e gabaritado.

2 EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE

Antigamente, no Brasil, o profissional da área contábil era chamado de "guarda-livros". Segundo Watanabe (1996, p. 22).
[...] esse profissional era considerado um agente auxiliar do comércio e estava sujeito às leis comerciais, ditadas pelo Código Comercial Brasileiro, que, por sua vez, foi instituído pela Lei n° 556, de 25 de junho de 1850, sancionada pelo Imperador Dom Pedro II.
Naquela época, não havia "guarda-livros" diplomado, visto que a maioria era constituída por indivíduos que tinham conhecimento do ofício. Todavia, no início da Velha República, já existiam cursos de Contabilidade nas escolas de comércio. Nesse contexto, as primeiras escolas de Contabilidade surgiram em 1902, dentre elas, a Academia de Comércio do Rio de Janeiro e a Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) SP.
Em 22 de setembro de 1945, o Decreto-lei n° 7.988 elevou os cursos de Contabilidade ao nível universitário. No entanto, somente em 27 de maio de 1946, com a assinatura do Decreto-lei 9.295 pelo então Presidente da República Federativa do Brasil Eurico Gaspar Dutra, ocorreu a regulamentação da profissão contábil no pais, além da criação do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e dos Conselhos Regionais de Contabilidade (CRCs),
Assim, Sá (1997, p. 15) resume a Contabilidade quando afirma que:
" [...] essa ciência nasceu com a civilização e jamais deixará de existir em decorrência dela; talvez, por isso, seus progressos quase sempre tenham coincidido com aqueles que caracterizaram os da própria evolução do ser humano. Dessa forma, a evolução da Contabilidade acompanha os acontecimentos históricos e a conseqüente evolução dos povos e das demais ciências".
No tocante à Contabilidade nos dias atuais, Iudícibus (2000, p. 36) comenta que:
"Uma característica atual do estágio de desenvolvimento da Contabilidade no Brasil é paradoxal: a qualidade das normas contábeis à disposição ou editadas por órgãos governamentais (devido à inoperância), até um passado recente, de nossas associações de contadores, o Governo teve de tomar a iniciativa é claramente superior principalmente agora com a Lei das Sociedades por Ações e a Correção Integral à qualidade média atual dos profissionais que têm de inserir estas normas".

2.1 A CONTABILIDADE NA ERA DA INFORMAÇÃO

Com a progressiva evolução da tecnologia, os computadores tem-se tornado cada vez mais imprescindíveis no mundo dos negócios, e consequentemente o campo contábil tem sido impactado por estes aspectos. Sobre isto, assim descreve Cornachione Jr. (2000,p.105):
"hoje não é mais possível aceitar o eficaz desempenho profissional em um amplo leque de atividades econômicas, científicas e educacionais e mesmos esportivas, sem o apoio da informática a contabilidade não foge a regra".
Diante desse contexto, a globalização pode ser considera como um aspecto resultante da evolução tecnológica, pois atualmente, podemos receber e enviar informações on line, manter uma conversação em tempo real, e até fechar um negócio em poucos minutos, sem que se necessite o deslocamento ou viagem para outros locais. Com o advento da informática, mudaram-se os processos organizacionais, o volume de dados antes desperdiçado no processo mecanizado que era insuficiente, passa a ter um tratamento específico, o fluxo de informação transforma-se na mola propulsora da tomada de decisões das empresas e é empregado em seus sistemas nos seus diversos níveis, para os mais variados usuários.
Breda (1999, p.38), afirma que:

[...] a Contabilidade desenvolveu-se em resposta a mudanças no ambiente, novas descobertas e progressos tecnológicos. Não há motivo para crer que a Contabilidade não continue a evoluir em resposta a mudanças que estamos observando em nossos tempos (Breda, 1999,p.38).

Com as constantes mudanças no contexto econômico, social e político, e na estrutura organizacional das empresas, como é o caso das empresas virtuais, a Contabilidade passa a assumir novos desafios, traduzidos pelo volume e pela complexidade das transações que envolvem as operações das empresas em geral.
Padoveze (2000), um dos reflexos do desenvolvimento tecnológico na Contabilidade, pode ser verificado no aumento do grau de automação. Tarefas anteriormente realizadas por processos manuais são desenvolvidas dentro de softwares específicos, diminuindo o fluxo de papéis e documentos na empresa, um exemplo disso, são as rotinas mais frequentes que passaram a ser realizadas dentro dos sistemas, como é o caso de: lançamentos de débito e créditos, escrituração de livros fiscais, balancetes mensais, Balanço Patrimonial , Demonstração do Resultado do Exercício, entre outros.
Porém, esses sistemas somente serão eficazes, se puderem através dos dados condensados fornecer as informações que se esperam da realidade patrimonial. Nesse contexto, é o Contador, responsável em dar relevância aos dados que servirão de base para as informações.

3 A MUDANÇA NO PERFIL DO PROFISSIONAL

As mudanças no cenário mundial, com a globalização, os avanços da tecnologia, influenciaram sobremaneira o mundo dos negócios, essas mudanças não só afetaram o perfil das relações empresariais, como vieram acarretar mudanças no perfil do profissional contábil, cujo trabalho não só se diferenciou no uso das informações, como também na relevância de suas atividades.
As diversas funções realizada pela Contabilidade, como escrituração, elaboração divulgação, análise e controle dos dados contábeis, foram afetadas profundamente em suas metodologias. Os procedimentos atuais utilizados na Contabilidade para alcançar os seus objetivos evoluíram sobremaneira. A introdução das redes, tornou possível a comunicação virtual dos Contadores com os órgãos públicos, ao passo em que se verifica mudanças na composição e estrutura das organizações.
A tecnologia de informação foi acrescida ao universo contábil como forma de resposta às novas exigências do mercado, traduzindo mudanças no perfil do profissional.
Os avanços tecnológicos, a informática e os sistemas avançados de comunicação contábil, acabaram por destituir aquela velha figura do guarda-livros dada ao profissional contábil por muitos anos. Os programas já realizam as quatro operações, assimilam as informações e elaboram os demonstrativos contábeis, adequando-os conforme a realidade escolhida. E também elaboram análise estatísticas. Cabendo portanto, ao Contador, a explicação e interpretação dos fenômenos patrimoniais, sendo necessário para isso cada vez mais a intelectualidade no conhecimento contábil.
Nota-se, portanto, que o trabalho do contador não está perdendo espaço e nem tampouco tende a desaparecer. Este pensamento pode surgir de profissionais não capacitados, que se limitam a técnica de "debitar e creditar", esquecendo do aspecto científico que a contabilidade possui.
Verifica-se que o perfil do Contador moderno é o de um homem de valor que precisa acumular muitos conhecimentos, mas que tem um mercado de trabalho garantido. É um elemento importantíssimo na agregação de valor a empresa, fazendo parte imprescindível do processo de tomada de decisões, pois aos seus conhecimentos está a responsabilidade pela "triagem" das informações colhidas das empresas e pela alocação destas ao desempenho operacional. Essas novas características fizeram surgir e ascender a Contabilidade denominada Contabilidade Gerencial, como ferramenta na gestão de negócios e a evolução do segmento de Consultoria na área contábil.

4 SPED ? MUDANÇA DE PARADIGMAS

Mediante a intensa evolução tecnológica, percebe-se que a tecnologia da informação é algo presente em todas as áreas do conhecimento científico. Na Contabilidade, por sua vez, podemos compreender o avanço dessa tecnologia através da implantação do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED).
Instituído pelo Decreto nº. 6.022, de 22 de janeiro de 2007, o SPED compreende parte do Projeto de Modernização da Administração Tributária e Aduaneira (PMATA) que consiste na implantação de novos processos apoiados por sistemas de informação integrados, tecnologia da informação e infra-estrutura logística adequados.
Consiste na modernização da sistemática atual do cumprimento das obrigações acessórias, transmitidas pelos contribuintes às administrações tributárias e aos órgãos fiscalizadores, utilizando-se da certificação digital para fins de assinatura dos documentos eletrônicos, garantindo assim a validade jurídica dos mesmos apenas na sua forma digital.
De iniciativa do Governo Federal, o SPED visa agilizar, simplificar e padronizar as relações entre as Administrações Fazendárias e o Contribuinte.
Segundo o artigo 2º do Decreto nº. 6.022, o SPED "é instrumento que unifica as atividades de recepção, validação, armazenamento e autenticação de livros e documentos que integram a escrituração comercial e fiscal dos empresários e das sociedades empresárias, mediante fluxo único, computadorizado, de informações".
Esse sistema abrange três subprojetos.
Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), que é emitida e armazenada eletronicamente com o intuito de documentar, para fins fiscais, uma operação de circulação de mercadorias ou prestação de serviços; a Escrituração Fiscal Digital (EFD) instituída pela Instrução Normativa nº 787, de 19 de novembro de 2007, compreende um arquivo digital composto por um conjunto de escrituração de documentos fiscais e de outras informações de interesse dos fiscos das unidades federadas e da Secretaria da Receita Federal do Brasil, bem como de registros e apurações de impostos referentes às operações e prestações praticadas pelo contribuinte, a Escrituração Contábil Digital (ECD), substitui a emissão de livros de escrituração contábeis em papel pelos seus equivalentes digitais.
Por se tratar de uma temática recente e de grande importância para diversas partes da sociedade, ela precisa ser indagada em relação aos seus impactos legais, operacionais e profissionais.
Objetivando analisar os principais aspectos relacionados à ECD, relataremos o seu processo de desenvolvimento, descrevendo a sua forma de escrituração, as tecnologias necessárias para sua implantação, os seus possíveis benefícios para os seus usuários, e quais serão as novas capacitações requeridas do profissional contábil.
Em termos gerais, apesar de todos os benefícios demagogicamente propagados aos sete ventos pelo Fisco, sabe-se que o principal objetivo da implantação do SPED é puramente diminuir as chances de sonegação e, conseqüentemente, aumentar a arrecadação. É benéfica e extremamente válida a iniciativa do governo em tentar diminuir a sonegação, mas isso nos levanta a certeza de que se os nossos governantes utilizassem na prestação de serviços públicos metade do empenho e boa vontade que empregam em formas de aumentar a arrecadação, o Brasil teria condições de vida de fazer inveja a muitos países desenvolvidos!
De qualquer forma, o SPED de fato trás vantagens para empresários e contabilistas, especialmente no tangente à praticidade e redução do montante de papel para ser armazenado. É, no final de tudo, mais um passo da contabilidade ao lado da evolução tecnológica, da contabilidade digital.

5 CONCLUSÃO

Se por um lado, a informática possibilitou o fluxo de dados através de diversos sistemas, por outro, as empresas passaram a necessitar mais das habilidades do profissional. Tornando-o um consultor dentro das organizações, cujo papel é imprescindível para o desenvolvimento da empresa, uma vez que ao assumir responsabilidade, principalmente ligadas a gestão de informação, ele terá como meta a obtenção, o tratamento e difusão de informações relevantes para a organização dentro de um espaço de tempo hábil. Vale ressaltar que não é a quantidade de informações que importa e sim a qualidade destas informações.
Com o fisco de olho em cada operação realizada, empresas não podem se dar ao luxo de enviar arquivos do SPED contendo operações fraudulentas. O remédio para se prevenir contra fraudes chama-se auditoria.
Nenhum empresário ou gestor que se preze irá esperar a autoridade fiscal enviar a sua conta "no escuro". Por isto, surge uma enorme necessidade de simulações e construções de cenários para que a empresa tenha um planejamento tributário adequado ao seu negócio.
Com a contabilização de todas as operações empresariais para saciar a fome das entidades fiscais, não há motivos para não aproveitar a riqueza de informações gerenciais que podem ser extraídas dos registros contábeis. Em um mundo competitivo nada pode ser desperdiçado, principalmente informações. Assim, abre-se um enorme campo para o trabalho da contabilidade gerencial.
Surge assim um novo perfil de profissional de contabilidade onde as habilidades de análise, síntese, comunicação interpessoal e habilidades relacionadas com a tecnologia da informação são imprescindíveis para o seu sucesso. Contadores: bem vindos ao Admirável Mundo Novo, bem vindos à Era do Conhecimento.

6 REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 6022, de 22 de janeiro de 2007.


BRASIL. Instrução normativa nº 787, de 19 de novembro de 2007.


BREDA, M.Teoria da Contabilidade. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999.


CORNACHIONE Jr., Edgar B. Informática aplicada às áreas de contabilidade, administração e economia. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001.


IUDICIMOS, S. Toria da Contabilidade. 6. ed. São Paulo. Atlas, 2000.


OLIVEIRA, A. Métodos e técnicas de pesquisa em Contabilidade, São Paulo. Saraiva, 2003.


PADOVEZE, C. Sistemas de informações contábeis. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000


SÁ, A. História geral e das doutrinas da Contabilidade. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997.


WATANABE, I. Cinqüentenário da criação do CFC e CRCs. Revista Brasileira de Contabilidade. Brasilia. n 99. p.20-29, maio/junho. 1996.