Perdas


 “A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos”                                                                                 Pablo Picasso.

 “Não se lamente pelas perdas. Elas são necessárias para voltara se encontrar”.                                                               Richard Bach.

        Na história da humanidade pode-se observar que a vitória e o poder, são ensinamentos que passam de geração a geração. Não importa. É isso em todas as áreas. Na área profissional, por exemplo, tem-se que “ganhar” e, por vezes, para que isso aconteça, mesmo que o outro saia prejudicado torna-se uma obsessão. Esse fato torna-se prejudicial, pois, diretamente interferirá na área emocional tanto do obsessivo quanto do prejudicado, pois, esse se sentirá como “bobo” por ter sido enganado, roubado por uma pessoa que até por vezes confiava. Isto criará uma mágoa. Um trauma. O que gerará uma insatisfação e, por conseguinte, o rendimento dentro do trabalho irá declinar.

         Em microempresas, por vezes, acontece em que o funcionário “rouba” as idéias do proprietário e saindo, o mesmo da empresa, vai montar seu próprio negócio exatamente do modelo, ou seja, dentro dos mesmos moldes que era o do seu empregador e inclusive tenta até mesmo conquistar a clientela do outro.

        Quanto ao obsessivo, esse, de forma frenética, busca um sucesso a custa do outro. Seja como for. Vou ganhar. Isso é o que importa”.

       Na área emocional, há necessidade de ser amado, assim o ser humano carente por natureza sempre irá esperar do outro, algo, mesmo que seja o mínimo: o afeto. E isto para o que recebe é o máximo por causar a sensação de prazer. Por vezes espera-se do outro ou outra aquilo que ele ou ela não pode dar. Torna-se dependência. Nada preserva mais a emoção do que diminuir a expectativa que temos em relação às pessoas que nos circundam. Assim quando esperamos demais delas, temos grandes possibilidades de cair nas raias da decepção.

        Quando se refere a essa relação não é somente a de ter um parceiro, mas, a relação familiar, a relação com amizades, à relação com o trabalho e também a relação não pessoal que são com objetos e animais e, em especial, a relação com o próprio ser. Relações desta natureza, quando rompidas, faz surgir a frustração, a mágoa e o acreditar na incapacidade de ser feliz. Sou um ser impotente.

        Então surge o medo. O medo de perder.

        Casais, que por um motivo ou outro vem a se separar, por fim ao relacionamento, que por vezes já terminou há tempos, ou seja, o casal vive dentro da mesma casa, mas já não dormem juntos e por vezes nem conversam e quando, por acaso, isso acontece é um diálogo completamente pobre. Truncado. Porém, quando um ou outro resolve deixar a casa, o parceiro ou parceira inconformado (a) não da conta dá perda e fica completamente insano e não deixa o outro seguir o caminho, pois acredita que mesmo com o término, sente que como se fosse “dono” e por vezes diz – se você não é minha ou meu não será de ninguém – e daí começam com as ameaças que vão desde ligações, mensagens no celular, seguir o outro por onde quer que vá, invadir a casa dentre outras coisas e, por vezes, chega-se até a um homicídio que erroneamente se caracteriza por amor.

        Muitas pessoas são infelizes, apesar de terem excelentes motivos para serem alegres. Outras, em vez de superarem as perdas que tiveram na vida, tornam-se reféns do passado, reféns do medo, da insegurança, da hipersensibilidade, colocam-se como vítimas desprivilegiadas. Transformam-se em seus próprios algozes. Nunca conseguem construir um oásis nos desertos que por vezes atravessam. Essa perda caracteriza o luto. O luto é algo que transcende a mente humana. Perder, de qualquer forma, é algo insuportável. É angustiante.

        Muitas vezes nossos comportamentos são descabidos, desnecessários e ilógicos diante de determinadas frustrações. Perdi. E agora? Entra-se em pânico. Desenvolve-se a síndrome que é caracterizada por hipersensibilidade emocional, preocupações excessivas com o próprio corpo, supervalorização de doenças, excesso de introspecção, dificuldade em lidar com dores e frustrações, hiperprodução de pensamentos antecipatórios. É o teatro da morte.

        - Até que a morte os separe. No ato de solenidade de casamento esta frase é considerada como o selo no matrimônio, que, por vezes, traz velado por um ou ambos, fatos que têm corroído a mente. Fatos esses que vão desde desentendimentos e discussões em época de namoro, a tapas e bofetões, à medida que existe um estreitamento desses laços matrimoniais quando esses acontecem de forma doentia. Em geral, um índice de violência elevado é mais notório nos homens.

        As mulheres, de forma geral, muitas vezes acreditam que depois de casadas ou de ficarem grávidas tudo muda inclusive os desentendimentos e as agressões, pois, algumas irão até dizer que – você é o homem que eu nasci para amar” ou “você é a razão do meu viver”, dentre outras, com homens também irá acontecer tais fatos, porém, em menores proporções, pois, o homem deixa de fazer “coisas” por acreditar que deixará de ser “macho”.

         Acredita-se que a referida frase seja somente a morte física, porém, até chegar a morte física, de forma velada, muitos casais já morreram ou estão morrendo a morte psíquica, ou seja, determinadas frases que são ditas, por exemplo: você está gorda; você é uma ou um idiota; você é um fracasso; você não da conta de nada; você ... dentre outras e, as vezes acompanhadas de agressões físicas que vão desde um aperto nos braços até bofetadas e pontapés.

         Essas agressões por vezes não partem somente do marido ou da mulher, mas, muitas vezes da sogra que com ciúme do filho ou da filha amado (a) critica de forma violenta. Essas frases assassinas e as agressões irão gerar uma perda na autoestima e, por conseguinte, gerará a morte psíquica no cônjuge. Então, até que a morte os separe.

        O ser humano por natureza tem medo de perder, mesmo aquilo que o faz sofrer. Abrir mão do sofrimento para determinadas pessoas pode ser algo dificílimo. Existem pessoas que carregam traumas, assim com o mendigo carrega toda aquela tralha no saco, em suas mentes. Dorme e acorda, almoça e janta com o inimigo, pois, quando se fica alugando um espaço na mente com traumas que por vezes podem ser superados é conviver com o inimigo. É tomar veneno na esperança de que o outro morra. É auto flagelar-se. É professar frases assassinas do tipo – eu não consigo; eu não posso; isso não é para mim; eu não ... é viver no cárcere emocional vendo a vida definhar.

        Existem perdas necessárias, tão necessárias para que se veja como a vida é boa e bela de ser vivida. Muitos e muitas frente a determinadas situações de perdas, acreditam que entram em um beco sem saída, porém, o desespero, a angustia, o medo cria um estado de inércia paralisante que não permite virar e vislumbrar a saída. Não existe beco sem saída. É só virar e vislumbrar o caminho e contemplar o belo. Mas, por vezes escolhe-se o caminho mais fácil, que é assentar, colocar, a cabeça entre os joelhos e chorar. Choro que por vezes não é pela perda, mas por parte do “eu” que se foi com a perda. E por vezes até se culpa. O retorno sempre é possível, ainda que se tenha a vida esfacelada com perdas e frustrações.

        Muitas pessoas, quando consultam terapeutas e médicos, trazem em suas falas que estão ali para cuidar de sua ansiedade ou de sua depressão e muito poucas dessas dizem querer cuidar de si mesmas, para se livrarem da erva daninha, a depressão, que as está deixando sufocadas, pois, assim como a erva daninha abraça a árvore, sugando dela toda a seiva, até que ela morra, o mesmo acontece quando se entra no processo depressivo e, não muito raro, alguns até confundem um estado de tristeza com depressão. É comum trazerem o discurso de que – A minha depressão; essa minha ansiedade.

       O que se pode perceber é que a pessoa trata o mal como sendo algo precioso e que caso perca, ficará mais doente ainda. Esse processo não irá acontecer de uma vez, mas, o excesso de pré-ocupações, gerará a ansiedade, a angustia e, consequentemente a depressão. Por vezes vive-se preso ao passado com o pensamento no futuro e deixa-se de viver o agora. Muitos são os que sofrem por antecipação, faz-se um velório antes do tempo por problemas que ainda não aconteceram e que muito provavelmente jamais irão acontecer, mas deixam o território da emoção completamente destruído por dar vida a esses, antecipadamente. Então haja antidepressivos.

        Acredita-se que a ansiedade e a depressão são coisas novas, porém, já há mais de dois mil anos, o mestre dos mestres, o mestre da vida, Jesus Cristo, alertava toda a humanidade sobre esse mal, e diz – “Portanto, não andeis ansiosos pelo dia de amanhã, pois amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o próprio mal”. (Mateus 6:34). Jesus compreendia as dificuldades das pessoas em lidar com as perdas, críticas, ansiedades, frustrações, solidão, sentimento de culpa e fracassos.

        Somos frutos de nossas escolhas. A vida é feita de escolhas e é por elas que se determinam os caminhos a serem seguidos e, quando não se tem um caminho determinado, qualquer um serve.

        Por mais sinuosa que a vida pareça ser, por mais perdas que possam existir no cenário da vida, quanto mais a pessoa aprende a vislumbrar nos pequenos atos e em seus movimentos a beleza da vida, menos angustiada ficará e terá mais saúde emocional.

        “Não somos perfeitos. Decepções, frustrações e perdas sempre acontecerão. Mas Deus é o artesão do espírito e da alma humana. Não tenha medo. Depois da mais longa noite surgirá o mais belo amanhã. Espere-o”. (Cury).

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