PERCURSO DE FORMAÇÃO : o Pnaic pela metáfora da literatura infantil RODRIGUES, Jaconias Dias Professor, Pedagogo RESUMO Artigo sobre o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa no que se refere às práticas curriculares dos professores. Busca analisar sob a perspectiva da pesquisa com o cotidiano como orientador de estudo do Pacto Nacional da Alfabetização na Idade certa (Pnaic) e orientandos tecem seu cotidiano na escola a partir das concepções trazidas pelo programa de alfabetização. Investiga as marcas que o Pnaic deixa nos currículos vividos. Palavras-chave – Currículo, pnaic e professores Entender como o pacto interfere nos planejamentos dos professores é relevante para que se avalie o processo de formação e como ele possibilita ações exitosas no ensino e aprendizagem. Nesse sentido, a partir de duas histórias da literatura infantil: Alice no País das Maravilhas e Chapeuzinho vermelho irei tecer metáforas para uma discussão acerca do meu percurso de orientador de estudos do Pnaic. - Por favor, que caminho devo tomar para sair daqui? - Isso depende muito bastante de onde você quer chegar, disse o Gato. - O lugar não me importa muito..., disse Alice. - Então, não importa que caminho que você vai tomar, disse o Gato. (CARROL, 1865) Há dois caminhos para se fazer uma metáfora acerca do meu percurso de orientador de estudo do Pacto Nacional da Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), um em Alice no País da maravilhas e o outro em Chapeuzinho Vermelho. Alice não sabia que rumo seguir, ao contrário de chapeuzinho Vermelho que sabia exatamente onde precisava chegar. Era uma vez uma garotinha que tinha que levar pão e leite para sua avó. Enquanto caminhava alegremente pela floresta, um lobo apareceu e perguntou-lhe onde ia. (PERRAULT, 2005) Chapeuzinho Vermelho começou sua caminhada pra atender uma demanda da mãe. Enquanto que Alice saiu da inércia por sua própria vontade. O intuito de Alice era satisfazer sua necessidade.Qual dos dois caminhos se assemelha ao da escola atual no que toca o PNAIC ? O caminho de Alice ou o caminho de Chapeuzinho Vermelho? As duas personagens conheceram as vicissitudes do caminho, no entanto só Alice conseguiu sobreviver. Chapeuzinho tinha metas - levar doces e visitar a vovó; e Alice tinha curiosidade - descobrir por que um coelho apressado corria com um relógio. Em tais questionamentos reside meu percurso como orientador do Pnaic . Nesse sentido construo e desconstruo minha prática com as professoras cursistas. No cotidiano da escola ouve-se dizer que o professor não apenas ensina, mas que no processo educativo ele também aprende. Cabe indagar acerca do que o professor aprende. Nesse sentido, no percurso de orientação de estudo no Pnaic - Serra/ES, me indaguei acerca do que aprendia, como a formação me constituía, que significados imprimia em mim, de que forma as proposições trazidas pela Ufes se inscreviam no meu processo de fazer, desfazer, viver, reviver Educação.Nesse sentido, muitas vezes me perguntei: esses saberes existem e estão invisibilizados ou fazem parte de um discurso vazio do processo de formação docente? A desatenção às descontinuidades do cotidiano escolar impede que soluções apareçam a partir das narrativas que os professores e professoras podem elaborar na vivência diária dos currículos. A pesquisa com o cotidiano escolar nos desafia a busca de outras formas de pesquisar/escrever a escola, em sua realidade vivida, que longe de ser linear e de poder ser captada - em sua complexidade e volatilidade – por categorias, produz descontinuidades, sinuosidades e espaços de fuga, exige a agudez dos sentidos, da sensibilidade, da intuição; a fruição dos insights,das sacações,das sínteses (AZEVEDO, 2008, p.159). Nos encontros quinzenais, as professoras narravam as experiências vivenciadas com os estudantes, assim fui percebendo que sinais do que eu pontuava com as cursistas iam aparecendo na execução dos planejamentos. Quando as professoras apresentavam as sequências didáticas, me preocupava o tempo todo o fato daqueles relatos se constituírem num “produto pedagógico” O currículo escolar pode assumir a forma do concebido e do vivido. Ao tomar contato com relatórios de ações cotidianas das professoras cursistas, me perguntei sobre o que não foi dito, imaginei o “making of” daquele “produto”. À medida que me indagava a esse respeito, pensava sobre o cotidiano nas aulas das turmas de terceiro ano e, com efeito, possibilitar outras formas de se pensar o processo de escolarização das crianças. A razão metonímica tratada por Santos (2007) serve como recorte para lustrar as experiências desperdiçadas nos currículos vividos. Boaventura afirma que a razão metonímica contrai o presente, porque deixa de fora muita realidade, muita experiência. A consequência é a invisibilidade das riquezas que emergem no presente contraído. Pensar o Pnaic nesse sentido, é desprezar acontecimentos que sob análise podem contribuir para o vivido na escola. Uma alternativa encontrada para me aproximar das práticas das cursistas foi visitá-las e identificar se estavam apropriando-se da perspectiva discursiva da linguagem e, com efeito, traduziam isso no trabalho com os estudantes. O fato de ser técnico da Secretaria Municipal de Educação me possibilitou, nos assessoramentos, visitar as professoras, conhecer suas turmas, ouvir seus desabafos, e discutir os planos de ensino com vistas a verificar se tais consideravam a perspectiva dialógica e discursiva da linguagem. Em busca das narrativas cotidianas das professoras que se referem aos saberes adquiridos no Pnaic, o meu percurso se configura numa ótica fenomenológica. O Fenomenológico tem “(...) um olhar mais intuitivo, mais bisbilhoteiro, mais matreiro, que se imiscuiu na multidão, escutando-a, sentindo-a” (PAIS, 2003, apud, CARVALHO, 2009, p.20). Para Carvalho (2009, p.22): “A vida cotidiana é um tecido de maneiras de ser e estar e, as maneiras de fazer cotidianos são tão significantes quanto os resultados das práticas cotidianas, tantas vezes analisadas a margem das significações próprias da vida cotidiana” Assim, percebi que as professoras tinham suas práticas cotidianas nas classes do terceiro ano inscritas num entre lugar, que se configura na abordagem conteudística, que tenta com engajamento, alçar práticas discursivas. As significações próprias da vida cotidiana nas aulas ministradas com as crianças no terceiro ano revelam as tentativas de se garantir os direitos de aprendizagem. Nesse sentido, me sinto também engajado no processo, e percebo que a prática cotidiana na escola também é tecida pelos meus enunciados, que se mesclam com os enunciados das professoras, dos estudantes, dos colegas de curso, dos autores trabalhados, da minha formadora Regina Godinho na Universidade; eis aí a polifonia de Bakhtin. REFERÊNCIAS CARROL, L. Alice no país das maravilhas (Rosaura Eichenberg, Trad.). Porto Alegre: L & PM. (Original publicado em 1865). CARVALHO, Janete Magalhães de. O cotidiano escolar como comunidade de afetos. Petrópolis, RJ: DP et Alii; Brasília, DF: CNPq, 2009. FERRAÇO, Carlos Eduardo (org.). Cotidiano escolar, formação de professores(as) e currículo. São Paulo: Cortez, 2008 FLORÊNCIO, Ana Maria Gama. O enunciado e a polifonia em Bakhtin. In Leitura: revista do programa de pós-graduação em letras e lingüística: número temático: discurso, história, sujeito e ideologia – n. 30 (jul./dez. 2002) – Maceió: Imprensa Universitária, UFAL, 2002. SANTOS, Boaventura de Sousa. Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação social. São Paulo, Editora Boitempo, 2007 PERRAULT, Charles. Chapeuzinho Vermelho. Tradução Rosa Freire d´Aguiar Editora Companhia das Letras