ANDRÉ FONSECA SOARES (2015).                                

PERCEPÇÃO DO PROFISSIONAL DE ACADEMIA EM RELAÇÃO AOS CLIENTES COM DEFICIÊNCIA.

Trabalho integrador, apresentado como requisito de nota parcial para obtenção de Graduação no Curso de Bacharelado Educação Física da Faculdade Integrado de Campo Mourão na Disciplina do Projeto Integrador III, sob orientação da professora Ms. Morgana Claudia Da Silva.

1-    INTRODUÇÃO 

As academias esportivas estão em destaque hoje em dia, elas abrangem muitas atividades como natação, musculação e ginástica, com exercícios aeróbicos ou anaeróbios, e tem em seu público uma diversidade muito grande, pois atende desde jovens a idosos. Além da diversidade de faixas etárias, recebem também pessoas com diferentes objetivos traçados, uns a procura de saúde e qualidade de vida, outros em busca de um corpo esteticamente perfeito, idealizado pela mídia. Seja por estética ou por saúde, o fato é que as academias esportivas têm sido muito procuradas pelas pessoas em geral (HANSEN E VAZ, 2006).

Em meio a essa procura podemos destacar como adeptos, alunos/ clientes que possuem deficiência. Esse é um público que exige maior atenção e conhecimento por partes dos profissionais de academia. Cabe a eles preparar um ambiente, onde, os deficientes possam ser, não só integrados, mais sim inclusos ao grupo que ali frequenta. Um fato que contribuiu para adesão ao esporte, das pessoas com algum tipo de deficiência foi em 1958, com retorno de dois atletas brasileiros que fizeram tratamento de reabilitação nos Estados Unidos. Trouxeram na bagagem a expectativa de continuar com a prática esportiva (BUSTO, 2003).

Cada dia que passa se torna mais comum a prática de atividades desportivas por pessoas com deficiência, essa busca pela melhoria da qualidade de vida nos últimos anos fez com que uma grande quantidade de pessoas com deficiência buscasse esta prática, visando estimular suas potencialidades e possibilidades, em busca de seu bem-estar físico e psicológico (CARDOSO, 2011, p.531).

  Por esse motivo é importante que o profissional saiba como trabalhar com deficientes, pois ações mal planejadas podem expô-los e deixa-los traumatizados e sem motivação para se exercitar. A atividade física deve sobressair a tudo isso, de acordo com Siqueira (2002, apud ARAUJO et al.2007), mesmo que involuntariamente ou rotineira, a atividade física  é sempre importante, pois proporciona uma melhor qualidade de vida .

Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo geral, avaliar a percepção do profissional de academia em relação aos clientes com deficiência. E como objetivo específico, a) verificar se o profissional de academia se acha apto para trabalhar com clientes com deficiência, b) identificar o conhecimento dos profissionais em relação ao que é deficiência, c) identificar se as academias estão adequadas para receber clientes com deficiência, d) identificar as dificuldades que o profissional possui para trabalhar com deficiente.

Através das perspectivas levantadas, torna-se justificável a identificação da capacidade e do conhecimento dos profissionais da academia, em relação ao atendimento a clientes com algum tipo de deficiência, com isso, é possível identificar erros e até mesmo elencar algumas mudanças que contribuam para que a pessoa com deficiência tenha um bom desenvolvimento físico, psicológico e social.

 

2. REFERENCIAL TEÓRICO 

2.1 DEFICIÊNCIA

A cada dia que se passa, surgem mais estudos envolvendo a deficiência (motora, física, auditiva, visual e múltipla).  Hoje pode-se considerar o estudo da deficiência como uma temática em constante evolução, principalmente se voltar o olhar para o passado, e verificar a trajetória dos deficientes. Segundo Silva, Seabra e Araujo (2008) na história da deficiência é possível identificar quatro fases fundamentais: extermínio, exclusão, integração e inclusão. Nessas fases (com exceção da fase de inclusão), houve um grande massacre ao ser humano, pessoas que, pelo simples fato de nascer com indicativos de deficiência eram mortos ou abandonados à própria sorte.

No decorrer dos séculos a visão de deficiência foi se modificando, porém, ainda era vista como algo desprezível. Mesmo com o preconceito ainda vigente, a aceitação era bem maior do que nas fases de extermínio e exclusão. Um fator fundamental, para o rumo da deficiência, foi à intervenção da Igreja Católica, que passou a cuidar dos deficientes, a partir então, começou a surgir instituições voltadas ao atendimento de pessoas com deficiência (SILVA, SEABRA E ARAUJO, 2008).

Com isso, começou a surgir definições e explicações mais aceitáveis, que procuravam explicar o “fenômeno” chamado deficiência. O Tema passa, a ser “objeto de estudos” de instituições conceituadas, como a UNICEF, que em 1980, cita a deficiência como uma restrição ou perda na execução de uma atividade, resultante de um impedimento, na forma ou dentro dos limites considerados como normais para o ser humano.

Embasado em conceitos como da UNICEF, Amaral (1992, apud MEIRELLES) define deficiente como, o individuo que apresentam algum tipo de deficiência mental, física, auditiva, visual; superdotados ou com disfunção de aprendizagem; com distúrbios severos de comportamento; e os portadores de Síndrome de Down ou autismo. Em mais detalhes, há um enquadramento das deficiências humanas em dois grupos: deficiências primárias (engloba o impedimento, dano ou anormalidade de estrutura ou função) e deficiências secundárias (esta está ligada ao conceito de desvantagem).

Amiralian et al. (2000, p.98), identifica a  deficiência como sendo a perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais. Representa a exteriorização de um estado patológico, refletindo um distúrbio orgânico, uma perturbação no órgão.

Além de definir a deficiência, Amiralian et al.(2000), faz uma associação da deficiência com a incapacidade e a desvantagem. Segundo a autora, o individuo com deficiência carrega com sigo em muitas ocasiões, a incapacidade, que é considerada uma restrição causada pela deficiência, onde há influencia direta na habilidade de desempenhar atividades consideradas normais para o ser humano. A autora também traz a desvantagem, como sendo uma consequência da deficiência. Intimamente ligado com a incapacidade, à desvantagem, limita e impede o desempenho de papeis de acordo com a idade, sexo fatores sociais e culturais.

Para existir a possibilidade de desenvolver um bom trabalho com pessoas com algum tipo de deficiência, seja com acompanhamento individual ou em grupo, a autora propõe que se considerem as potencialidades das pessoas com deficiência e não suas desvantagens.

Vargas (2013) vai mais além e considera extremamente importante a inserção do deficiente na sociedade, buscando sempre a busca não apenas da integração e sim da inclusão.

No Brasil, segundo o censo realizado no ano de 2000, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira conta com mais de 24,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Em meio a esse número expressivo, felizmente, os estudos não se limitaram apenas a definições, diversos autores passaram a procurar respostas que abrangessem conhecimentos específicos da cada deficiência, que respondessem, por exemplo, as causas da deficiência e suas consequências no âmbito social.

                                                                                                          

2.2 A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA PARA DEFICIENTES 

O ser humano está em constante evolução e sempre em busca de uma perfeição, e com as pessoas com deficiência não pode ser diferente, independente da idade, cor, raça ou etnia. Todo cidadão tem o direito participar de atividades físicas para buscar um melhor desempenho físico, intelectual, sexual, etc. Para que isso se torne possível é necessário à intervenção do governo, com a melhoria e criação de instituições de ensino, clubes e áreas de lazer com equipamentos adaptados para possibilitar o acesso das pessoas com deficiência física e suprir a carência dessa população. Todo indivíduo com deficiência, seja ela motora, intelectual, auditiva, visual ou múltipla, tem direito a uma vida social digna e com direitos reconhecidos (MONTEIRO e SILVA, 2010).

 Rodrigues (2006, apud MONTEIRO e SILVA, 2010) aponta que ao se aprofundar em estudos acerca da atividade física para deficientes, percebe-se uma grande preocupação com a saúde dos mesmos, em seu aspecto mais amplo, como o fisiológico, emocional e social. O autor considera a questão social como uma busca à qualidade de vida, uma vez que a qualidade de vida deixou de representar apenas uma vida sem doenças passando assim a ser uma busca da felicidade e satisfação pessoal.

Essa busca vem realmente se intensificando, Reis et al. (2012), explica que, para as pessoas com deficiência (bem mais do que para as pessoas que não possui), a prática de atividades físicas representa não só saúde, mas vários outros benefícios, como a melhora da condição cardiovascular, aumento da força, da agilidade, da coordenação motora e também do equilíbrio. Já no aspecto social, a atividade física proporciona a interação entre as pessoas com e sem deficiências. Além da independência que se adquiri com a atividade física influência, existe uma alteração no fator psicológico, pois melhora a autoconfiança e principalmente a autoestima do deficiente, auxiliando-os na busca de adaptações que minimize as limitações impostas pela deficiência.

Defendendo a ideia de que a atividade física pode contribuir para uma vida mais saudável e com menos complicações, Amiralian et al. (2000) salienta que a mesma, quando realisada de forma adequada, pode trazer muitos benefícios ao individuo que possui algum tipo de deficiência. Um dos benefícios é o fortalecimento dos músculos, que auxilia, por exemplo, o deficiente cadeirante, manusear com maior destreza o sua cadeira, que muitas vezes é o seu único meio de locomoção.

 

3 METODOLOGIA

A presente pesquisa é qualitativa, de caráter descritivo. Segundo Reis et al. (2012, p.641), pesquisa qualitativa tem caráter exploratório, ou seja, estimula os entrevistados a pensarem livremente sobre alguma temática, conceito ou  objeto. Uma pesquisa descritiva realiza o estudo, a análise, o registro e a interpretação dos fatos do mundo físico sem a interferência do pesquisador. São exemplos de pesquisa descritiva as pesquisas mercadológicas e de opinião (id).

   A população alvo do estudo será formada por profissionais das academias da cidade de Campo Mourão, tendo como amostra 20 profissionais. Para a coleta de dados será aplicado um questionário, contendo questões abertas, validadas pela professora da IES. 

O questionário é manuscrito e terá como local de aplicação, as academias colaboradoras da pesquisa. Cada pesquisador ficará responsável por coletar os dados de 05 profissionais, de um total de 20. Os profissionais não terão tempo mínimo para responderem o questionário, porém será atribuído um tempo máximo, que corresponde a 30 minutos.  

A partir dos dados coletados, será realizada uma análise criteriosa, comparando o nível de conhecimento e da capacidade de atuação dos profissionais em relação à deficiência.

 

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Abaixo estão representados, através de tabela e gráficos, os resultado obtidos por meio da aplicação do questionário sobre deficiência, direcionados a profissionais de academias:

DEMONSTRATIVO REFERENTE SOBRE CONCEITO DE DEFICIÊNCIA PARA OS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FISICA DAS ACADEMIAS DE CAMPO MOURÃO:

Na pesquisa foi possível identificar que 78,5% dos profissionais, compreendem e define bem o conceito de deficiência, em contrapartida, 21,5% dos profissionais não apresenta uma ideia clara, que explique de forma sucinta o conceito e a abrangência da deficiência. De acordo com Amiralian et al. (2000, p.76), deficiência pode ser definida como “uma perda ou anormalidade na estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, sendo ela  temporária ou permanente”.

DEMONSTRATIVO REFERENTE À CAPACIDADE DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FISICA DAS ACADEMIA, EM TRABALHAR COM CLIENTES QUE POSSUI ALGUM TIPO DE DEFICIÊNCIA:

Neste quesito, é possível identificar que 85,7% dos profissionais se sentem capazes de atender clientes que possui algum tipo de deficiência, alegando possuir conhecimento/capacitação e experiência. Destes 7 profissionais apontam possui conhecimento e se acham capacitados e 5 deles dizem que sim, pois possui experiência. Já, 14,3% dos profissionais alegam não ter experiência. No entanto, Fernandes e Júlio (2010) expõe que, grande parte dos profissionais sente-se despreparados para integrar deficientes em suas aulas nas academias. Isso pode se dar pela carga horária reduzida na disciplina especifica nos cursos de Educação Física, ou pela falta de cursos de capacitação e especialização.

DEMONSTRATIVO REFERENTE AS PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS PROFISSIONAIS DE EDUCAÇÃO FISICA DAS ACADEMIA EM TRABALHAR COM DEFICIENTES:

Com base na pesquisa, é possível identificar as dificuldades que os profissionais possuem em trabalhar com deficientes. As principais dificuldades apontadas são: local inadequado para 35,7% dos profissionais, aparelhos impróprios para 28,6% deles, conhecimento insuficiente com 14,3% e falta de auxilio no atendimento com 7%. Outros 14,3%, afirmam não ter dificuldade. De acordo com Quintão (2005, apud MARTINS, 2012), apesar de ser natural ter dificuldades para atender esse público, está ocorrendo avanços que buscam a prática inclusiva de pessoas com deficiência e caberá ao profissional se capacitar para melhor atender as necessidades que a deficiência exige.

DEMONSTRATIVO REFERENTE À VISÃO DOS PROFISSIONAIS DE ACADEMIA EM RELAÇÃO À ADEQUAÇÃO DAS ACADEMIAS PARA ATENDER CLIENTES COM DEFICIÊNCIA:

Este tópico é um demonstrativo referente à visão dos profissionais de academia em relação à adequação do seu local de trabalho, para um bom atendimento a pessoas com deficiência. Sendo assim, 28,6% afirmam que as academias em que trabalham são adequadas para atender clientes com deficiência, pelo fato de ter boa estrutura e por ser o público alvo. Por outro lado, 71,4% dos profissionais afirmam que as academias onde trabalham, não são adequadas, pois falta espaço, estrutura, ajustes pontuais, além de não ser o publico alvo.  De acordo com Palma et al (2011), poucas academias possibilitam o acesso de pessoas com deficiência à praticar atividades físicas.

 

 REFERÊNCIA

AMIRALIAN, M., et al. Conceituando deficiência. Revista de saúde pública. São Paulo: Universidade de São Paulo, v.34, n.1, p. 97- 103, fev. 2000. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v34n1/1388.pdf. Acesso em: 18 de abr de 2015.

ARAÚJO, A. Fatores motivacionais que levam as pessoas a procurarem por academias para a prática de exercício físico. 2007. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd115/fatores-motivacionais-que-levam-as-pessoas-a-procurarem-por-academias.htm. Acesso em: 03 de abri de 2015. 

BUSTO, R. M. et al. Esporte, reabilitação e educação física inclusiva na qualidade de vida de pessoas com deficiência. Londrina: Eduel, 2013. Disponível:http://www.uel.br/editora/portal/pages/arquivos/esporte%20e%20reabilitacao_digital.pdf. Acesso em: 03 de abr de 2015.

CARDOSO, V. D. A reabilitação de pessoas com deficiência através do desporto adaptado. Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 529-539, abr./jun. 2011. Disponível em: www.scielo.br/pdf/rbce/v33n2/17.pdf.

HANSEN, R; VAZ, A. F. “Sarados” e “gostosas” entre alguns outros: aspectos da educação de corpos masculinos e femininos em academias de ginástica e musculação. MOVIMENTO. Revista da escola de Educação Física da UFRGS. Porto Alegre, v.12, n. 01, p. 133-152, janeiro/abril de 2006. 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Anual de Ensino. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em 19 de abr 2015.

MEIRELLES, E.C. Inclusão de deficientes físicos nas aulas de Educação Física do ensino fundamental. Monografia, São Paulo, 2008. Disponível em: http://superclickmonografias.com/blog/?p=231.  Acesso em: 19 de abr de 2015.

MONTEIRO, J. A.; SILVA, M. S. A importância da atividade física para os deficientes físicos. 2010. disponível em: http://www.efdeportes.com/efd148/atividade-fisica-para-os-deficientes-fisicos.htm. Acessado em 15 de abr 2015.

REIS, A. et al. Educação física: seu manual de saúde. São Paulo: DCL 2012.

SILVA, R.; SEABRA JR, L.; ARAUJO, P. F. Educação física adaptada no Brasil: da história a inclusão nacional. São Paulo: Phorte, 2008.

VARGAS, R. Os desafios de incluir sem excluir. Revista o Professor. Ed. 17, ago e set, 2013. Disponível em: http://www.revistaoprofessor.com.br/wordpress/?p=232. Acesso em: 19 de abr de 2015

ANEXOS:

                      FACULDADE INTEGRADO DE CAMPO MOURÃO

                    CURSO DE BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA

Acadêmico: Andre Fonseca soares

Orientador (a): Professora MS. Morgana Claudia Da Silva

Nome:

Função:Local de trabalho:

 

Questionário sobre deficiência

1 – Defina o que é deficiência.

 
 
 
 
 
 
2 – Você se sente capaz de trabalhar com clientes que possui algum tipo de deficiência?

Sim (   ) Não (   ) Por quê?

 
 
 
 
 
 

3 – Aponte as principais dificuldades que você possui para trabalhar com clientes que possuem algum tipo de deficiência.

 
 
 
 
 
 
4 – O seu local de trabalho é adequado para trabalhar com clientes deficientes?

 Sim (   ) Não (   )  Por quê?