Percepção ambiental de crianças e pré – adolescentes em vulnerabilidade social para projetos de educação ambiental¹

 

Daniela Frizon Fronza²

 

 

Resumo :

 

 

O presente estudo tem  por objetivo analisar se a percepção ambiental está associada ao grau de educação ambiental que a pessoa possui. Desta forma o estudo contribui á medida que avalia o comportamento de um grupo de educandos de diferentes classes sociais, a partir de sua percepção em relação a variável ambiental e do meio em que vive por meio das suas experiências do meio.

Palavras chave: percepção ambiental, educação ambiental, natureza, sociedade, desenho, representação social.

¹ Artigo produzido para a disciplina projeto para escolas rurais.

² Aluna do Curso de Pós Graduação Especialização em Geografia e Meio Ambiente.

Abstract:

This study aims to analyze the environmental perception is associated with the degree of environmental education a person has. Thus, the study contributes to the measure that evaluates the behavior of a group of students from different social classes, from their perception of the environmental variable and the environment they live through their experiences of the medium.

Keywords: environmental awareness, environmental education, nature, society, design, social representation.

 

Hoje em nossa sociedade constatamos a presença de muitas desigualdades sociais e econômicas que se aprofundam cada vez mais, tais desigualdades me instigaram a um maior aprofundamento sobre a vulnerabilidade social que o caos socioambiental imprime a certos grupos sociais, tornando-os frágeis e despercebidos, não permitindo assim aos mesmos o aproveitamento de oportunidades ofertadas pela sociedade, por isso a educação ambiental para sociedades sustentáveis será abordada neste trabalho, pois ela é o principal paradigma para a resolução destes graves problemas que atingem e deterioram, deixando alguns grupos sociais do Brasil em situação de grave vulnerabilidade social.

Vulnerabilidade social é conceituada como a situação em que as habilidades e recursos a que um grupo social está submetido são inadequados e insuficientes para lidar com as oportunidades ofertadas pela sociedade.

 

Sendo assim ao se realizar a educação ambiental devem-se identificar as representações sociais dos sujeitos podendo ser obtidas por estudos de percepção ambiental.

No entanto a percepção ambiental é a etapa fundamental para se realizar qualquer atividade posterior em educação ambiental.

A partir das percepções internalizadas em cada individuo pode-se buscar a mudança de atitude que é um dos objetivos principais da educação ambiental para as sociedades sustentáveis.

A percepção ambiental conforme citam Marin, Oliveira e Comar, (2003) mostram que a percepção na busca da compreensão da realidade não pode ser apenas pelas vias racionalistas embasadas somente em características conceituais. Há que se ter a noção de que existe o risco permanente de se realizar uma apreensão simplista do fenômeno perceptivo que poderá levar o pesquisador a um entendimento reducionista dos fenômenos.

Tuan (1980) invoca o conceito de topofilia, para o tema ambiental compreendendo a atração do ser humano por aspectos físicos essencialmente paisagísticos ao observar um ambiente, mas o sujeito só se supera sensorialmente pela fantasia, imaginação e temporalidade ao perceber realmente o mundo que o cerca.

Hoeffel e Fadini (2007) conceituam percepção ambiental como um processo ou atividade envolvendo organismo e ambiente, sendo influenciada pelos órgãos dos sentidos, ou seja, como sensação ou cognição.

Pacheco e Silva (2006) formularam críticas epistemológicas ao conceito de percepção ambiental, questionando se, de fato, as pesquisas com este enfoque são instrumentos válidos para a compreensão de sujeitos estudados. O cerne da preocupação dos autores se relaciona com as possibilidades da escolha de opções metodológicas que podem assumir compromissos ideológicos subjacentes. Entendem que percepção ambiental é uma representação científica e, como tal, pode embutir ideologias de seus pesquisadores. A partir das percepções internalizadas em cada indivíduo pode-se buscar a mudança de atitudes, que é um dos objetivos principais da educação ambiental para sociedades sustentáveis.

Conforme a reflexão sobre percepção ambiental feita pelos autores (SCHWARZ, SEVEGNANI e ANDRÉ, 2007; MARIN, OLIVEIRA e COMAR, 2003), ficamos cientes de que dentro da relação do ser humano com o mundo há pelo menos duas formas da mesma acontecer, uma sendo aquela que se reveste com o capuz da sacralização, e a outra seria alicerçada no arcabouço da cientificidade, mas há também um terceiro conceito que seria o imaginário, sendo assim, o conjunto de percepções do real e do imaginário desses sujeitos é que permitirá verificar quais deficiências devem ser sanadas, facilitando a seleção de estratégias adequadas para a implementação da educação ambiental no contexto escolhido.

Os resultados obtidos na percepção ambiental são representações sociais dos sujeitos estudados (AZEVEDO, 2008; REIGOTA, 2007). Reigota (2007) analisou as representações sociais sobre meio ambiente de professores secundários de diferentes regiões brasileiras, criando uma tipologia baseada nos pressupostos teóricos das representações sociais de Moscovici (2007) e ainda Reigota conclui que qualquer ação de educação ambiental deve ser conduzida dentro de um entendimento social das pessoas sobre o meio ambiente.

Azevedo (2008) propõe uma definição de representações sociais que seria uma possibilidade teórica e contemporânea que busca entender como as pessoas e seus coletivos interpretam os fenômenos sociais e afirma que as representações sociais são fragmentadas, parciais e influenciadas por questões ideológicas.

Esforços para a reconceituação pela educação ambiental para sociedades sustentáveis são os trabalhos de Meira e Sato (2005) e Pedrini (2007). A percepção ambiental vem sendo estudada por meio de várias abordagens metodológicas que, na realidade, buscam identificar a percepção cognitiva da temática ambiental, que se espera seja essencialmente reflexo do cotidiano da pessoa pesquisada.

 

Conceitos de meio ambiente e sua percepção pelo desenho.

 

Vários autores vêm se debruçando no estudo da percepção do conceito de meio ambiente no contexto da educação ambiental, sendo emblemático o trabalho de Sauvé (2005). As categorias da percepção do conceito de meio ambiente e sua descrição são, respectivamente: a) natureza a ser admirada e preservada: santuário natural e intocável; b) recurso a ser gerenciado: herança coletiva para ser explorada pela sociedade; c) problema para ser resolvido: local degradado pela poluição; d) lugar para ser vivido: instância social, tecnológica e histórica; e) local a ser dividido socialmente: lugar onde há interdependência entre seres vivos e não - vivos; planeta como matriz de vida; f) proposta comunitária: ação crítica com participação política da comunidade.

 

Reigota foi emblemático ao afirmar que o meio ambiente é classificado em três tipos: a) Naturalista: meio como sinônimo de natureza intocada, caracterizando-se tipicamente pelos aspectos naturais; b) Antropocêntrico: meio como fonte dos recursos naturais para a sobrevivência do ser humano; c) Globalizante: meio integrado pela natureza e sociedade.

O conceito de meio ambiente pode ser percebido por meio de desenhos. Reigota (2002) aponta que as pesquisas envolvendo representações sociais do meio ambiente tendem a adotar métodos qualitativos visando análises interpretativas (como a percepção ambiental) e de intervenção (como a educação ambiental). Qualquer que seja a forma de expressão empregada na vida cotidiana pelos sujeitos, esta pode e deve ser usada como uma fonte possível para a identificação de representações sociais, como é o caso dos desenhos.

Antonio e Guimarães (2005) argumentaram que o desenho infantil é: a) mais que uma simples imagem para a criança, pois nele materializa seu inconsciente, registrando, na folha de papel, elementos de sua vida cotidiana; b) uma representação simbólica, abrangendo uma relação de identidade com o que simboliza, apresentando uma teia de significações do seu pensamento tanto objetivo como subjetivo, e é contexto-dependente. Por isso o desenho infantil é levado em conta como a materialização do inconsciente infantil, por isso, há sérios embates sobre a terminologia de desenho como forma de se coletarem representações sociais, como mapa mental ou cognitivo.

Segundo Luquet (1935) apud Almeida (2004), a criança desenha para se divertir, além de ser uma forma de comunicação, e são cinco as fases principais no desenvolvimento do desenho: a) realismo fortuito que vai de um ano e seis meses aos dois anos de idade, em que a criança basicamente faz rabiscos; b) realismo fracassado, que ocorre aos dois anos, sendo a criança mera reprodutor do seu meio, sem conseguir dirigir e limitar seus movimentos gráficos; c) realismo simbólico, em que a criança tem de três a quatro anos e inicia o relacionamento de um desenho com outro e o detalha; d) realismo intelectual, em que possui de quatro há quase 12 anos e expressa também o que sente, e não mais apenas o que ela vê; e) realismo visual, por volta dos 12 anos, quando ela começa a dar perspectiva aos seus desenhos.

Outra fonte importante é aTeoria Cognitiva de Piaget (FURTADO, BOCK e TEIXEIRA, 1999), que adota quatro períodos no processo de desenvolvimento da espécie humana, que são caracterizados “por aquilo que o indivíduo consegue fazer melhor” no decorrer das diversas faixas etárias. Os quatro estágios de desenvolvimento são: a) sensóriomotor (zero a dois anos); b) pré-operatório (dois a sete anos); c) operações concretas (sete a 11 ou 12 anos), e d) operações formais (11 ou 12 anos em diante).

As obras emblemáticas atuais sobre uso de desenhos para identificar representações sociais relacionadas à conservação do meio ambiente no Brasil são: a) Reigada e Tozoni-Reis (2004); b) Martinho e Talamoni (2007); c) Schwarz, Sevegnani e André, (2007).  No primeiro caso, foram estudadas trinta crianças (de seis a dez anos) de um bairro popular. Por meio da adoção da pesquisa-ação, foi possível a construção de informações sobre o local onde vivia o público infantil e como atuar para aperfeiçoar a qualidade de vida tanto em suas moradias como com sua família. No segundo caso, foram estudados cerca de quarenta alunos de escolas públicas, e viu-se que fatores externos às crianças - como a mídia, família e religião - interferiram nos resultados encontrados. No terceiro caso, foram analisados cerca de quatrocentos desenhos de jovens de seis a 14 anos de uma escola privada, e verificou-se que havia diferença entre os resultados em termos de gênero, idade e estado de degradação dos ecossistemas representados e quantificação de elementos representados nos desenhos.

Ao atingir o patamar final sobre este assunto estamos repletos de informações sobre como interagir com alunos de diferentes realidades sociais, sabendo quais os meios que devemos usar e como direcionar as ações pedagógicas visando preparar de forma adequada cada indivíduo que irá ser uma extensão e um aplicador na prática desta educação ambiental, podendo transformar o meio que interage com ele, evitando assim que a vulnerabilidade social presente no cotidiano do educando, direcione-o para um caminho diferente, e evitando que faça o mesmo ter ações não condizentes com o qual foi orientado ou mesmo tornando o cidadão indiferente quanto à questão ambiental.

O conhecimento prévio das representações sociais sobre o meio ambiente é condição fundamental para que se realize atividades de educação ambiental para as sociedades sustentáveis, como prega o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), paradigma da educação ambiental contemporânea brasileira( Brasil, 2005).

Para os professores essas informações são uteis para nortear as ações do educador, o podendo levar o educando a ter uma percepção ecológica, reciclável, preservadora, a valorizar o seu meio e ate mesmo alterar seu ponto de vista sobre o meio, como forma de fortalecer a sua ação politica do cidadão, como um compromisso ético, consciência e responsabilidade quanto aos impactos ambientais que as escolhas e condutas de cidadão podem causar no meio ambiente.

Sabe-se que a questão ecológica é atravessada, no seu todo, por questões ideológicas traduzidas como perspectivas biocêntricas ou antropocêntricas, preservacionistas ou conservacionistas (DIEGUES, 2001; CARVALHO, 2003). Elucidar como a utilização do conceito de percepção ambiental tem se que dispomos e o quanto estes são adequados para garantir a escuta ás comunidades na administração de áreas protegidas, visando garantir maior qualidade ambiental para todos.

Por fim uso das palabras de Milton Santos  em afirmar que o espaço é a casa do homem e também a sua prisão, e devemos no entanto lutar por um espaço verdadeiramente humano, mais amplo, que una os homens por e para seu trabalho.

 

BIBLIOGRAFIA:

ABRAMOVAY, M;CASTRO, M.G;L.C. Juventude, violência e vulnerabilidade social na America Latina: desafios para politicas publicas. Brasilia: Unesco, 2002.

ALMEIDA, R.D. Do desenho ao mapa: iniciação na escola. São Paulo: Contexto, 2004.

ANTONIO, D.G;GUIMARÃES, S.T.L. Representações do meio ambiente através do desenho infantil: Refletindo sobre os procedimentos interpretativos. Educação ambiental em ação, Novo Hamburgo, n.14, 2005.

AZEVEDO, G.C.Uso de jornais e revistas na perspectiva da representação social de meio ambiente em sala de aula. In: REIGOTA, M.(Org.). Verde cotidiano: O meio ambiente em discussão. 3.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2008. P.59-71.

AZEVEDO, M.A. Conseqüências psicológicas da vitimizaçãode crianças e adolescentes. In: GUERRA, V.N.A.(Orgs). Crianças vitimizadas: A síndrome do pequeno poder. 2ed. São Paulo, 2007.                                          

CARVALHO, Isabel Cristina Moura. Os sentidos de “ambiental”: a contribuição da hermenêutica á pedagogia da complexidade. In: LEFF, Enrique(coord.) A complexidade ambiental. São Paulo : Cortez, 2003, p.99- 120

DIEGUES, Antônio Carlos Souza. O Mito  Moderno da Natureza Intocada. 3 ed, São Paulo: Hucitec, 2001