ANDRADE, Dmistocles

GOMES, Elias

MOTA, Imerson da

TORRES, Filipe

RESUMO: Este artigo traz à tona uma problemática que tem sido muito discutida, mas que se mantém atual e necessária: o uso de laboratórios em aulas de Química no Ensino Médio. Traremos a visão da escola em geral: o que acham os atores escolares sobre isso? Quais soluções, a curto e a longo prazos, podem ser aplicadas para que se verifique efetivamente esse uso? Com o auxílio de questionários para a coleta de dados e de visitações técnicas, os resultados mostram o quanto à experimentação afeta o conhecimento teórico do assunto apresentado em sala de aula pelo/a professor/a de Química e as opiniões daqueles que mais são atingidos: o alunado dessa disciplina no Ensino Médio.

PALAVRAS CHAVE: Laboratórios; experimentação; Química; Ensino Médio; aprendizagem.

INTRODUÇÃO

Talvez, o maior desafio dos professores que assumem para si a responsabilidade de lecionar Química seja o de conseguir conciliar, de maneira equilibrada, a prática com a teoria. Por motivos diversos – porque a escola não dispõe de um ambiente apropriado, por não ter tempo em suas aulas, porque não saiba ou por todos esses motivos juntos –, o seu alunado fica no meio dessa problemática, sendo diretamente prejudicado por ela.

Saber organizar a aula e observar se houve aprendizagem efetiva por parte dos alunos também são ações de suma importância no ensino. O professor de Física Tarcísio Borges (2003: p. 5-7) afirma, em seu artigo Novos rumos para o laboratório escolar de Ciências, que existem dois tipos de laboratórios: o tradicional, onde os alunos trabalham em pequenos grupos e seguem fielmente o que diz um roteiro, o que não estimula a sua capacidade de problematizar, e o laboratório ideal, aquele que tem por objetivos verificar/comprovar leis e teorias científicas, ensinar o método científico, facilitar a aprendizagem e a compreensão de conceitos e ensinar atividades práticas.

É com o intuito de investigar como vêm sendo utilizados os laboratórios de ciências nas aulas de Química do Ensino Médio que o nosso artigo se apresenta. Investigamos duas turmas de Ensino Médio de uma escola da cidade de Recife – PE, que não dispõem de laboratórios. Levamos os alunos dessas turmas para o Laboratório da Licenciatura Plena em Química do Departamento de Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco e, com a aplicação de questionários pré e pós-experimento, buscamos investigar o que o corpo discente pensa a respeito desse assunto, se o recurso experimentação é usado pelo seu professor e, ainda, se ele tem a consciência de que a teoria quando aplicada em conjunto com a prática torna a aprendizagem mais efetiva.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo o Dicionário Aurélio On-line, experimentação é: "Ação ou efeito de experimentar; conhecimento adquirido pela prática da observação ou exercício"[2]. A experimentação química tem seu objetivo principal inserido nesse conceito – o de ter o conhecimento adquirido pela prática da observação e/ou do exercício. Trata-se de um equívoco afirmar que teoria e prática, em Química, são coisas distintas. São, na verdade, dois fazeres que se complementam para alcançar uma só finalidade: enriquecer o ensino-aprendizagem de um público alvo.

A aprendizagem só será de fato concretizada, se houver uma boa interação entre o professor e o aluno. E uma forma que vem sendo utilizada recentemente pelos professores de Química, como forma de atingir esse feito, é o da experimentação. Experimentação essa que pode ser feita com o uso de laboratório de Química ou não.

O laboratório é um local específico para a realização de práticas experimentais - nele há vidrarias para o manuseio dos reagentes, que são produtos químicos que podem ser corrosivos, nocivos e inflamáveis – pois possui um sistema de segurança para qualquer situação, por isso não é recomendável a realização de práticas experimentais em sala de aula. Todavia, nem toda escola dispõe de um laboratório de Química bem equipado e em funcionamento, o que é de suma importância, uma vez que existem escolas que dispõem de laboratórios, mas eles acabam assumindo a função de depósito muitas vezes, pela também falta de professores que tenham disponibilidade de tempo para usá-los.

Muitas vezes, com o intuito de dar um apoio a escolas nessas situações, as Universidades usam de seu princípio de extensão e disponibilizam alunos bolsistas para darem esse suporte às escolas. Um exemplo recente está acontecendo com a Escola Lions de Parnamirim, localizada aos arredores do campus da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), que foi contemplada com um projeto do governo federal, o PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência).

Os boslsistas-PIBID da UFRPE vão à escola para realizar junto com o professor um experimento simples em sala, organizar o laboratório e fazer essa ligação Academia – Escola, levando os alunos aos laboratórios da Universidade usando de seu princípio extensivo, fazendo um papel social à comunidade periférica.

METODOLOGIA

O presente artigo busca investigar como a experimentação química influencia no conhecimento teórico do aluno.

Não teria como atingir o nosso objetivo senão investigássemos os próprios alunos. Fizemos isso com uma turma de primeiro ano e uma do segundo ano do Ensino Médio da Escola Lions de Parnamirim, localizada na periferia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, no bairro de Dois Irmãos na cidade de Recife. A escolha da escola ocorreu por dois motivos: o primeiro é que um dos autores deste artigo, Filipe Torres da Silva, é bolsista do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) (opere citato), e isso estreitou a relação com a direção da escola; o segundo motivo foi porque essa instituição de ensino não dispõe de laboratório de Química.

Escolhemos o método de Aplicação de Questionários para essa avaliação. Foram feitos três questionários. No primeiro aplicado, houve a intenção de saber quais são as opiniões que os alunos tinham em relação à disciplina Química; em segundo plano, se seu professor de Química utilizava de experimentos químicos em sala de aula. Ele foi aplicado antes de realizar a aula experimental. O segundo questionário foi aplicado durante a aula e continham perguntas diretamente ligadas ao experimento realizado. O terceiro e último foi respondido pelos alunos, ao fim da aula, e buscava investigar se aquela aula tinha mudado seus pontos de vistas em relação à disciplina.

A aula experimental citada acima foi guiada por nós e também teve a ajuda de Josinete Ângela e Renato César (alunos de graduação de Química da UFRPE e bolsistas do PIBID), porém foram os próprios alunos que desenvolveram a atividade que foi realizada no Laboratório 6A do Departamento de Química nos dias 29 e 30 de outubro do presente ano.

Antes dos alunos irem ao Laboratório foi exposta em sala , uma aula sobre o assunto que estaria ligado ao experimento, e mostrando também os possíveis resultados que eles obteriam no laboratório , e como e o manuseio das vidrarias que eles iriam encontrariam durante a realização do experimento. Sem uma base teórica, para poderem responder ao questionário dois, aquela visita não passaria de um passeio, e não era esse o nosso objetivo.

De forma qualitativa, a investigação obteve bons resultados. Os alunos aproveitaram o máximo do espaço, que, para a grande maioria, foi inédito. Acompanharam atentamente o passo a passo da aula, não deixando passar nenhum detalhe.  

RESULTADOS

Foi setenta o quantitativo de alunos. Todos participaram ativamente da aula, experimentado o novo ambiente, e, depois de alguns minutos, já se sentiam bastante adaptados, transitando com cuidado, segurando a vidraria de modo correto, sempre anotando as quantidades e respondendo às perguntas relacionadas.

Para grata surpresa do grupo, foi identificado que a maior parte dos discentes entrevistados gostava de Química, mas a outra parte desses alunos, embora revelasse gostar da disciplina, afirmava dificuldades em relação a ela. Nessa mesma lista de, perguntamos em que as aulas de Química poderiam ser melhoradas, e foi observado que 85% dos alunos disseram algo ligado à experimentação, como: "Com experimentos em sala.", "Com a construção de um laboratório na escola.". E, ao perguntar o que é Química, eles disseram também respostas ligadas ao laboratório, como: "É quando se mistura vários reagentes para dá um produto.", "É a mistura de vários líquidos.", "Química é a ciência que estuda os experimentos químicos.". Percebemos que eles relacionam a ciência Química ao laboratório, à experimentação. Perguntamo-nos, então, será que o grande número de alunos que tem dificuldades na disciplina, observando o primeiro gráfico, é porque a escola não dispõe de meios para o aluno ter aulas experimentais?

Na tentativa de responder a essa pergunta, foi analisado o terceiro questionário, com destaque para a seguinte pergunta: "Mudou seu conceito sobre a Química depois do experimento?"  Essa pergunta veio como primeira análise do impacto da experimentação nos alunos , e surtiu efeito, pois 81% responderam que sim, o experimento fez mudar sua visão sobre a Química; 13% responderam que não, e vale ressaltar que, dentro dessa porcentagem, estão os que antes já tinham dito que gostavam de Química. Estávamos caminhando para a resposta daquela pergunta que tinha ficado no ar. A segunda pergunta a ter destaque é se o recurso da experimentação tem sido usado pelo professor, e 46% dos alunos responderam que não!

Caminhando para a resposta efetiva daquela pergunta anterior (se os alunos têm dificuldades na disciplina por não terem à sua disposição o laboratório de Química), a segunda pergunta do questionário nos diz que o professor não usa de experimentos Químicos em sala de aula. E, para finalizar, observamos a terceira e última pergunta: Considera que um experimento pode ajudar na compreensão de uma aula? Observamos uma unanimidade. 100% dos alunos consideram que o experimento pode, sim, ajudar na compreensão de uma teoria, e sabendo que todos eles acertaram o segundo questionário que tinham perguntas sobre o experimento em si, fica evidente que essa unanimidade está correta.

CONCLUSÃO

Após muito pesquisar as literaturas disponíveis ligadas ao nosso tema, escolhemos a escola a ser investigada, preparamos os questionários, a aula experimental, com a ajuda dos bolsistas do PIBID Química-UFRPE, desenvolvemos a aula no laboratório, em dois dias, e obtivemos resultados, alguns esperados e outros surpreendentes.

Estamos longe de resolver problemas que vêm se arrastando há anos pelas escolas, em sua grande maioria da rede pública, a falta de laboratórios de Química. Mas há, sim, soluções de curto e de longo prazos . Em curto prazo, temos como exemplo ativo o PIBID, que leva às escolas os experimentos químicos não disponíveis, ou que em outros casos reativam laboratórios inutilizáveis, // incentivar também a universidade a utilizar mais seu princípio de extensão e abrir as portas de seus laboratórios para o ensino básico. Em longo prazo, é solicitar do governo mais incentivo à Educação, para a construção de laboratórios de Química. Investir em educação é preparar aqueles que darão continuidade ao desenvolvimento do país, de forma inteligente e saudável.

Sendo assim, retomamos aquela pergunta: Será que esses alunos têm dificuldade na disciplina Química por não disporem de um laboratório nas aulas? Evidentemente, sim. Com a análise desses dados, provamos que a prática não é simplesmente o complemento da teoria, mas um ramo de contextualização para as aulas de Química.

BIBLIOGRAFIA

GIOPPO, C.; SCHEFFER, E. W. O. e NEVES M. C. D. O Ensino Experimental na Escola. Paraná: Editora da UFPR, 1998.

² AURÉLIO, Dicionário. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com/dicionario.php?P=Experiencia> (acesso em 20/11/2009)