Pensando e abordando Caminhos para uma Avaliação Emancipadora da Aprendizagem

A temática avaliação emancipatória vem sendo discutida nas universidades e cursos de pós-graduação e ainda não se discutiu a mesma a nível de ensino fundamental, daí é que me proponho a discutir esta prática da avaliação emancipatória da aprendizagem. Esta preocupação com a temática vem se generalizando pelo país, estudos mostram que este processo de avaliação do resultado está profundamente marcado pela necessidade de criação de uma nova cultura sobre avaliação, que ultrapasse os limites não somente da técnica, mas que  incorpore em sua dinâmica a dimensão ética, dialógica, democrática,mediadora  e acima de tudo seja  emancipatória.

Esta nova cultura da avaliação pode se dizer que já vem sendo experiênciada em vários sistemas de ensino do Brasil. Falar nesta criação é vivenciar  no cotidiano das escolas que se vem  processando em uma cidade conhecida como das Mangueiras, localizada ao norte do Brasil: “Belém” que no seu sistema de ensino vive-se o Projeto Escola Cabana que adota como principio a avaliação emancipatória “cujo interesse primordial é emancipador, ou seja libertador, visando provocar a crítica, de modo a libertar o sujeito de condicionamentos determinantes“ (SAUL,1998 p.61). Neste contexto seria a quebra do paradigma tradicional de avaliação nas escolas da rede municipal para a construção de um novo paradigma da avaliação da aprendizagem como vem ocorrendo. “O compromisso principal desta avaliação é o de fazer com que as pessoas direta ou indiretamente envolvida em uma ação educacional escrevam a sua “própria história” e gerem as suas próprias alternativas de ação” (Saul, 1998 p.61)

 Este processo de gerar suas próprias alternativas vem do desejo de educadores construírem e reconstruírem, analisarem, refletirem e auto avaliarem-se o seu fazer pedagógico no cotidiano das escolas onde o processo acontece.

 O aluno neste enfoque não é mais avaliado dentro de um enfoque  de cunho positivista, pois está ultrapassado para o tipo de clientela que a escola atende seja pública ou privada e não serve mais como referência de que o aluno aprendeu ou não determinando conteúdo.

Este processo avaliativo também perpassa pela relação de poder presente no processo avaliativo e na própria instituição de ensino. LIMA (1994) ao realizar um estudo sobre avaliação escolar julgamento em construção refere que a avaliação é um instrumento de poder, em que não pode ser percebido unilateralmente. A autora enfatiza FOUCAULT, afirmando que: 

“Não se pode compreender um poder estático, o que não significa não esteja, por meio de mecanismos e instrumentos, sob um determinado domínio de um determinado sujeito ou grupo de sujeitos.  Mas não sendo estático, a ‘posse’ do poder encontrará sempre o conflito, a resistência, a luta (circularidade, rede, teias, etc.). (LIMA, 1994, p. 46).

O autor VASCONCELOS (1998)  fazendo uma abordagem sobre o assunto coloca que a lógica classificatória está enraizada nos sujeitos, exigindo uma transformação uma mediação teórica. REZENDE (1995) enfoca o exercício de poder presente na escola junto à avaliação que deve ser rediscutido para que a escola não venha a reproduzir uma sociedade estratificada. refere que os encaminhamentos pedagógicos conscientemente ou não, traz consigo os pressupostos que irão nortear os padrões de relação de poder do diretor, do vice, do orientador, do professor , como também do próprio aluno á revelia. reforça que um fator que sustenta o autoritarismo do professor é a reprodução de conteúdos sistematizados.

 Neste direcionamento de autores que buscam fazer uma avaliação de cunho processual contínua, participativa, diagnóstica  e investigativa temos que considerar como uma das precursoras ANA SAUL (2001, p.129))que escreve:

 “A é dimensão do ato de conhecer é portanto fundamental compromissada com o diagnóstico do avanço do conhecimento quer na perspectiva de sistematização, quer na produção do novo conhecimento de modo a se construir em estímulo para o avanço da produção do conhecimento” . (1996, p.129).

Estudos como de SAUL, ESTEBAN, LUCKESI, FERREIRA ,ROMÃO, HOFFMAN, PERRENOUD, buscam à construção de uma avaliação qualitativa que venha de encontro às tendências tradicionais de avaliação que levam a exclusão de seres humanos do próprio conhecimento que a humanidade construiu. E preciso criar uma nova cultura que seja emancipadora no seu verdadeiro sentido.

É neste sentido que precisamos desvelar a problemática do  ato de avaliar na escola  cabana a qual está possibilitando aos sujeitos envolvidos  o processo de  reflexão crítica voltado para sua realidade educativa

Nossa missão de estudo, de confirmar ou refutar as hipóteses ( não rígidas, mas subentendidas) a respeito dos procedimentos empregados no processo avaliativo paulatinamente  vem permitindo aos sujeitos envolvidos na avaliação da aprendizagem uma orientação, segundo um processo de emancipação ou a cultura enraizada da nota como símbolo de aprendizagem reforça o uso da avaliação apenas como meio para informar se o aluno está apto a progredir ou não do ciclo básico de formação.

No caso de confirmar uma ou outra hipótese, os profissionais, o mundo acadêmico e a próprio sistema de ensino terão dados precisos e científicos para a adoção de uma nova postura frente ao processo avaliativo que poderá servir de modelo para outros sistemas de ensino como forma  reflexão de uma nova cultura de avaliação emancipatória da aprendizagem que esteja a favor do aluno e de uma sociedade oprimida. 

Para Habermas (1993) é pela auto-reflexão que a emancipação se organiza, orientada pela discussão, chegando a formulação de uma teoria do conhecimento, cuja finalidade é o desenvolvimento e o exercício da autonomia da espécie humana. 

Paulo Freire (1987, p.86) já dizia:

"O que temos de fazer na verdade é propor ao povo através de certas contradições básicas, sua situação existencial, concreta, presente, como problema que , por sua vez, o desafia e assim, lhe exige respostas, não só no nível intelectual, mas no nível de ação. Nosso papel não é falar ao povo sobre a nossa visão do mundo, ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa".

Partindo destes princípios temos como objetivo geral analisar e interpretar a prática pedagógica da avaliação emancipatória no Projeto Escola Cabana como viés de permitir uma reflexão de sua prática. Indo além busca-se identificar as relações de poder presente, analisar os procedimentos das avaliações, identificar as concepções de avaliação , compreender a visão dos alunos a respeito da avaliação analisando a pratica da avaliação como processo de auto - reflexão e sinalizar indicadores de intervenção para o processo avaliativo

Nesta caminhada buscamos realizar primeiramente um levantamento teórico sobre histórico da avaliação, conceitos de avaliação em transformação e relação de poder partindo para uma necessidade de criação de uma nova cultura avaliativa e caminhos para avaliação emancipatória sustentados em Saul e outros autores que enriquecem o trabalho..

Autor: Miguel arnaud Marques

"Esta noite fiquei  pensando nas atrocidades que  ainda muitos educadores fazem da avaliação escolar"