Adilson Boell

30/11/2007

RESUMO

O presente trabalho é uma singela tentativa de analisar, o sistema de ensino da ESCOLA MUNICIPAL PROFESORA ANA LÚCIA HIENDLMAYER. Nesta análise, levou-se em conta principalmente o projeto político pedagógico (PPP) da escola, o tipo de multiculturalismo ali identificado e ainda, se a escola estabelece algum tido de política educacional que se relaciona com as idéias de Marx, Bourdieu e/ou outros pensadores. As ferramentas de investigação utilizadas foram à análise bibliográfica e documental e as entrevistas, semi-estruturadas. Ao final deste estudo foi possível identificar além dos limites desta pesquisa, o esforço e o compromisso da maior parte dos educadores da escola estudada, com as melhorias no processo educacional.

Palavras-chave: Educação; Sistema de Ensino e Plano Político Pedagógico.

INTRODUÇÃO

Este estudo é mais uma tentativa de elencar elementos que possam auxiliar na construção de um maior entendimento sobre as concepções e tipos de práticas pedagógicas que permeiam os espaços escolares na atualidade. Pretende-se neste trabalho identificar a influencia do pensamento filosófico na condução das políticas educacionais da escola ANA LÚCIA HIENDLMAYER. Utilizou-se de uma metodologia de pesquisa qualitativa, com caráter explicativo para se buscar atingir os objetivos deste estudo

No presente trabalho fez-se um rápido histórico do perfil da escola e dos moradores da comunidade, em seguida, inicia-se a apresentação dos principais pontos do PPP, relacionando-os com os pensadores em questão e o multiculturalismo. Na parte final deste estudo são feitas as análises das entrevistas, seguidas das considerações finais.

PERFIL DA ESCOLA MUNICIPAL PROFESORA ANA LÚCIA HIENDLMAYER[1]

QUADRO DE PROFISSIONAIS

PROFESSORES:

NOME

TURMAS

Carmelita Mª Moser de Oliveira

5 e 6 anos

Márcia Feliciano Bachmann

7 anos

Andréia de Souza

8 anos

Michelle Gorgisk

8 anos

Cacilda Ângela Rudolf Dalponte

9 anos

Andréia de Souza

10 anos

Jucelma Germani

Português

Ademir Moretto

Matemática

Ademir Moretto

Ensino Religioso

Marli França

Artes

Catia Krug

História

Catia krug

Geografia

Josselene Walter

Ciências

Lúcia Helena de Oliveira Batista

Educação Física

Janice L. Giovanella Scipecz

Educação Física

Fabiana Zarling

Educação Física

Sullen Kretz

Inglês

NÚMERO DE EDUCANDOS

Número de Educandos: 197, dispostos em 11 turmas.

DIREÇÃO

Sherley Simone Jennerich Kubiack

SECRETÁRIA

Neuza Maria da Silva Schuck

COORDENADORA DE CICLOS

Roseli Schure

SERVENTES e MERENDEIRAS:

Isanete Maria Zabel e Eliete Silveira Bento

PERFIL DA COMUNIDADE[2]

Sentindo a necessidade de conhecer melhor a comunidade, a escola montou uma entrevista (todos os funcionários participaram da elaboração da mesma) que foi enviada a todas as famílias dos alunos.

Coletados os dados, passaram para o processamento e a interpretação dos mesmos, construindo o Perfil da comunidade que a escola está inserida (Bairro-Estrada das Areias/ loteamento Panini).

Das 110 famílias atendidas nesta Unidade Escolar:

l67,11% possuem casa própria.

l32,89% não possuem casa própria.

A sua Renda Familiar é de (Salário):

l1 a 3 – 55,26 %

l3 a 5 – 26,32 %

l5 a 7 – 13,16 %

l7 ou mais- 5,26 %

A Composição Familiar (Número de pessoas na família):

l3 pessoas- 19,74 %

l4 pessoas- 31,58 %

l5 pessoas- 21,05 %

l6 pessoas- 14,47 %

l7 pessoas ou mais- 13,16 %

Com quem moram os alunos:

lPais biológicos (pai e mãe)- 75 %

lOutros (avós, tios, pais adotivos,...)- 25 %.

Religião:

lCatólica- 76,32 %

lOutras- 23,68 %

CONCEPÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

Quando perguntados sobre qual o maior desafio e qual o papel do projeto político pedagógico, a direção da escola respondeu da seguinte forma: Há um grande desafio: O de contribuir com o transformar do nosso trabalho diário com nossa comunidade escolar, oportunizando em suas interações, tecendo seus conceitos.

Não podemos ignorar que diferentes processos históricos de constituição e desenvolvimento das sociedades humanas marcam a heterogeneidade dos modos de vida, a pluralidade nas expressões das relações sociais, a multiplicidade de culturas. É a idéia de culturas que permite assinalar a singularidade histórica social de um grupo.

Quanto ao papel do Projeto Político-Pedagógico é o plano global da nossa Unidade escolar, elaborado em um processo de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoará e se concretizará na caminhada, que define claramente a ação educativa que se pretende realizar.

Será um instrumento para a intervenção e mudança da realidade, elemento de organização e integração da instituição. Buscando contribuir para a formação de seres humanos mais solidários, interativos, cooperativos e felizes.

O OBJETIVO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA ESCOLA ANA LÚCIA HIENDLMAYER

- Favorecer o desenvolvimento nos aspectos físico, motor, intelectual, criativo e social, complementando a ação da família e da comunidade.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Contribuir para que a interação e convivência na sociedade sejam produtivas e marcadas pelos valores de solidariedade, liberdade, cooperação, autonomia e respeito.

- Propiciar o desenvolvimento, resgatando seus valores culturais, situando-o como sujeito histórico e agente da construção do seu próprio conhecimento.

- Desenvolver a auto estima atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações.

- Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, desenvolvendo, valorizando hábitos de cuidado com a saúde e bem estar.

- Estabelecer vínculos afetivos, ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social.

- Ampliar e conhecer as relações sociais e culturais, aprendendo a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração.

- Observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformador do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação.

- Brincar expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades.

- Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral, cênica e escrita) de forma a expressar suas idéias, sentimentos, necessidades e desejos.

ESCOLA MUNICIPAL PROFESORA ANA LÚCIA HIENDLMAYER E A COMUNIDADE

A escola está localizada junto ao loteamento PANINI, um loteamento onde existem diversas casas populares e a maioria da população é de origem humilde. Quase em sua totalidade a população do bairro está empregada; o que contribui para a melhor qualidade de vida das famílias. O lado negativo é que geralmente não é somente o marido ou a mulher que trabalha fora, geralmente são os dois. Este fato ocasiona que a família raramente tenha tempo para se reunir, ficando a educação dos filhos comprometida. Aponto este fato, pois como afirma Lahire. "As famílias e os indivíduos não se reduzem á sua posição de classe". O pertencimento a uma classe social, traduzido na forma de Habitus de classe, pode indicar certas posições mais gerais que tenderiam a ser compartilhadas pelos membros da classe. Cada família, no entanto, e, mais ainda, os indivíduos tomados separadamente, seriam os produtos de múltiplas escolhas e em parte, contraditórias influências sociais (Lahire, Charlot, 2000). Com certeza ele não deve ser desconsiderado na avaliação do aprendizado na escola em questão e nas relações sociais da comunidade.

Observando o quadro de professores que apresentamos neste trabalho podemos verificar que em vez de dividir os alunos em séries a Escola Ana Lúcia utiliza um sistema de agrupamento por idades, esta proposta nasceu nas administrações populares do Rio grande do sul e foi batizada de CICLOS.

Na proposta original, além do agrupamento por idades, a avaliação não é mais feita por meio de provas e notas mais sim de forma descritiva, descrevendo-se quais foram os avanços e retrocessos dos alunos avaliados.

Na experiência da Escola Ana Lúcia, a avaliação e feita das duas formas: da tradicional, através de provas e notas e de forma descritiva. A nota final do aluno é o mesclo destas duas propostas.

Entre professores e alunos não existe um consenso se a proposta é boa ou não, as opiniões estão divididas.

O preconceito étnico e racial embora esteja presente não é um fator determinante nesta escola, que tem no seu corpo administrativo e docente, direção e professores bem preparados, com uma visão aprofundada de escola democrática e popular, com suas raras exceções.

Quando perguntei à professora de artes Marli França, como era o tratamento da escola referente às questões étnicas e raciais, ela me respondeu: "devemos fornecer o apoio e os recursos necessários para que não haja assimetria e desigualdade nas oportunidades e no acesso aos recursos escolares". A forma de tratamento proposto pela professora Marli, identifica-se o proposto por pensadores como, Taylor (1994:64) "Para aqueles que têm desvantagens ou mais necessidade é necessário que sejam destinados maiores recursos ou direitos do que para os demais", e Bourdieu (1998, p. 53), que afirma que "Para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais."

Perguntei ainda a professora Marli, o que ela entendia por multiculturalismo e que tipo de multiculturalismo ela defendia para a sua escola. Ela me respondeu:

"Entendo e defendo para a minha escola o tipo de multiculturalismo que questiona crítica e busca modificar as relações de discriminação existentes". Segundo Stuart Hall (2003) existe pelo menos seis tipos de multiculturalismo: conservador; liberal; pluralista; comercial; cooperativo e crítico. Entre estes tipos de multiculturalismo o que mais se identificou com a descrição da professora Marli, é o multiculturalismo crítico. Segundo Hall (2003:35) "O multiculturalismo crítico questiona a origem das diferenças, criticando a exclusão social, a exclusão política". As formas de privilégios e de hierarquia existentes nas sociedades contemporâneas. "Apóia os movimentos de resistência e rebelião dos dominados".

Finalizei a entrevista perguntando à professora Marli se ela era adepta de alguma corrente de pensamento, e ela me respondeu de pronto, "sou Marxista convicta, para mim a prática é o único critério da verdade e o que importa não é somente entender o mundo, mas ter a capacidade de transformá-lo". De fato, em suas ultimas palavras verificamos a influência de Marx na forma de pensar desta professora "os filósofos se limitam a interpretar o mundo de diferentes maneiras; mas o que importa é transformá-lo (MARX E ENGELS, 1997, P. 128)".

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No geral a escola Ana Lúcia me pareceu bem organizada, com um quadro técnico competente e com vários investimentos por parte da prefeitura. Na escola está sendo construída uma nova área com quase 700m2, o que vai dobrar a capacidade da escola, além da ampliação do campo de futebol. A qualidade da merenda é muito boa e o controle é feito por uma nutricionista. Os alunos são tranqüilos, a comunidade apóia a direção e os professores da escola e têm orgulho que seus filhos estudem nesta escola municipal.

Tanto no Planejamento Político Pedagógico, quanto nas conversas com os professores e direção, não foi difícil verificar, que existe uma grande parte do quadro da escolar, que se interessa de fato com a qualidade do ensino da escola ANA LÚCIA HIENDLMAYER.

Sobre a pesquisa penso, são tantas intempéries que perpassam nossa atividade; são tantas variáveis; são tão curtos os prazos; tão grande o tempo gasto com explicações dos conceitos de um determinado autor; são tantos os feudos; a política inevitável; as exigências de nossa escolha; o compromisso institucional; a afinidade a corrente teórica que nos forma que acaba sobrando pouco espaço para tentarmos encontrar a resposta para as questões que permeia o nosso trabalho. Talvez esta seja uma de minhas suposições: o reconhecimento do limite de nossa pesquisa não tem sido suficiente para superá-lo, mas sim para acatá-lo.Bourdieu afirma a este respeito "Penso que, em sociologia, muita gente trabalha em caixas vazias Porque o essencial dos fatores explicativos está do lado de fora, muito longe. Por exemplo: você estuda os problemas escolares num subúrbio, mas o problema está na escola nacional de administração (ENA). Se você estuda violência numa favela ou num subúrbio de Amsterdã, o problema pode estar no FMI. Sei que estou exagerando, mas acredito que é preciso chamar a atenção para esses fatos (BOURDIEU, 2002, p.33)".

Apesar dos esforços individuais como o da escola Ana Lúcia, os problemas da educação não poderão ser resolvidos se pensados individualmente, e sem levar em consideração vários fatores de ordem social e econômica, de qualquer forma a pesquisa demonstra, seus próprios limites e que muito ainda precisa ser feito para se transformar a realidade da educação no nosso país.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. A reprodução. Rio de janeiro: Francisco Alves, 1992.

BOURDIEU, Pierre. "Campo intelectual e projeto criador". In: POUPOLLON, Jean (org.) Problemas do estruturalismo. Rio de Janeiro, Zahar, 1968.

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber. Elemento para uma teoria. Porto alegre: Artmed, 2000.

LAHIRE, Bernard. Sucesso escolar nos meios populares,as razões do improvável. São Paulo: Ática, 1997.

NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI. A. M.. Uma sociologia da produção do mundo cultural e escolar. In: BOURDIEU, Pierre. Escritos de educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998 (6º ed.: 2004), p. 7-15.



[1] Todas as informações contidas neste item foram gentilmente cedidas pela direção da escola ANA LÚCIA HIENDLMAYER

[2] Todas as informações contidas neste item foram gentilmente cedidas pela direção da escola ANA LÚCIA HIENDLMAYER