Pela indignação justa e funcional

Edson Silva

Se indignar com algo que consideramos errada é fácil. Difícil é mostrar indignação de forma a não agredir outras pessoas e principalmente de modo funcional, que permita fazer mudar a realidade que julgamos errada. Em um desses debates intermediados por jornalistas na televisão, um dos participantes falou que parte da população se mobiliza para marchar pela descriminalização da maconha, mas não contra a corrupção endêmica no país desde que as caravelas de Cabral aportaram pelos lados do Recôncavo Baiano, em 1.500.

Bom, mesmo eu sendo jornalista, não lembro do nome ou função do participante, já que, raramente, a mídia usa o chamado gerador de caracteres (GC) de forma sistemática para identificar entrevistados, como se todo telespectador fosse obrigado a conhecer todas as pessoas ou como se estivesse em local onde possa ouvir a apresentação do mesmo (tente fazer isso quando estiver na hora de almoço no restaurante).

Na frase pinçada do discurso do famoso "anônimo", me ocorreu que ela faz algum sentido. Lembro que nos tempos de faculdade, quando direitos de liberdade de expressão, principalmente política, eram restritos, vez ou outra estávamos em protestos de rua, ou como disse o Ivan Lins na música "Novo Tempo", eu e os demais companheiros estávamos "... em cena, quebrando as algemas, prá sobreviver, para que nossa esperança fosse mais que lembrança..."

Hoje, se faz e fala-se o que se quer. Os rumores e denúncias de corrupção em Campinas, por exemplo. Exceto pelas manifestações pontuais articuladas por políticos, nada ou quase nada se vê em relação aos setores organizados da sociedade, como uniões estudantis ou outras entidades de classes se posicionarem, com argumentos racionais e não emocionais, contra ou a favor da rápida e justa solução para o problema.
Infelizmente, por parte de alguns (Aqui se inclui muito da grande mídia, que, com raras exceções, toma posição panfletária em favor do neoliberalismo) há pouca ou nenhuma preocupação se determinado fato é verdade ou não. A publicação só dependendo se o acusado é alguém marcado para ser poupado ou execrado pela mídia.

O caso do suposto filho ilegítimo do ex-presidente FHC, que ele assumiu paternidade para evitar escândalo em campanha política, pois era casado e tinha caso extraconjugal. A mídia, na época, tratou como gesto nobre, era alguém assumindo "responsabilidade". Agora (por pressão familiar) foram feitos exames de DNA e deram negativos. O filho assumido deixou de ser filho? Nada mais se fala sobre o assunto? Já imaginou essa situação com personalidade que viva "inferno astral" com a grande mídia?

Edson Silva, 49 anos, jornalista, Campinas

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