PEDAGOGIA SOCIAL E A IMPORTÂNCIA DA ARTE PARA CRIANÇAS
EM SITUAÇÃO DE ABRIGO


Taiane Colares Queiroz


RESUMO: Neste artigo será abordado o trabalho da pedagogia social e a importância de atividades que envolvam arte para crianças em situação de abrigo. Crianças em situação de abrigo são vitimas de complexos problemas familiares e a familia é à base da vida de uma pessoa. Foi realizado projeto com o objetivo de restaurar através da arte os sentimentos de esperança, alegria, imaginação de crianças em situação de abrigo, a metodologia utilizada foi através de atividades envolvendo artes e a realização de uma oficina de artes. A Pedagogia Social realizada e pensada apresenta função de auxilio educativo a pessoas que constitui uma realidade social menos favorecida. O projeto pode proporcionar as crianças atividades com artes que ainda não tinham vivenciado, foi visível a melhora no comportamento de todas as crianças e a satisfação e entusiasmo delas ao falar sobre as atividades que participaram durante a realização do projeto.


PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia Social. Crianças. Abrigo. Arte.


1 INTRODUÇÃO

O Brasil está vivendo uma era de grande desenvolvimento tecnológico, por outro lado, não estão sendo resolvidas questões básicas, tais como: a fome, a desnutrição, o analfabetismo, o desemprego, a pobreza e a violência. Na área da infância e da adolescência vêm sendo desenvolvidas várias pesquisas e trabalhos que buscam possíveis saídas para solucionar ou minimizar a situação de exclusão social em que vive a maioria das crianças e dos adolescentes do nosso país.
Politicas governamentais vem sendo criada para tentar suprir problemas relacionados a crianças e adolescentes vítimas de problemas sociais, a colocação de crianças em abrigo é uma das medidas de proteção estabelecida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA, Lei nº 8.069 (art.101inciso VII).
As medidas de proteção são relacionadas em sua maioria a problemas familiares, sendo que muitas das medidas são definitivas; ou seja, a criança ficará na instituição até que seja adotada por outra familia.
Segundo (Petrus, 1998) a pedagogia social realizada e pensada apresenta função de ajuda educativa a pessoas que configuram a realidade social menos favorecida função valida constitucionalmente.
O presente projeto enfoca a importância da arte e a pedagogia social como fator de grande importancia para proporcionar assistência sócio-educacional a crianças abrigadas.
Crianças em situação de abrigo necessitam de um acompanhamento pedagógico específico e que é garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069, essas crianças necessitam de atividades pedagógicas que as propriciem um ambiente que oportunize ressignificação de suas experiências traumáticas anteriores e lhes dêem esperança de um futuro melhor.
A partir daí, inicia-se o desafio do abrigo de configurar-se como casa, a casa de seus abrigados, respeitando-os e oferecendo-lhes novas possibilidades, que incluem os limites para a convivencia em sociedade, através de atividades pedagógicas um abrigo poderá oferecer novas vivências e espectativas de uma vida melhor.
A arte pode ser utilizada como um importante trabalho educativo com crianças em situação de abrigo, pois procura, através das tendências individuais, encaminhar a formação do gosto, estimula a inteligência e contribui para a formação da personalidade do indivíduo, sem ter como preocupação única e mais importante à formação de artistas.
Estimular crianças abrigadas através de atividades que envolvam artes como, artesanato, artes plásticas e a musica poderá proporcionar diversos resultados na vida das crianças.

2 DESENVOLVIMENTO

A pedagogia social tem dois objetivos principais o primeiro é a socialização do individuo e o segundo é relacionado ao trabalho social, com enfoque pedagógico, direcionado ao atendimento a necessidade humano sociais, desenvolvido por equipe multidisciplinar da qual participa o Educador Social, como profissional da Pedagogia Social.
Esta prática pode também ser refletida como um método assistencialista voltada para a contenção do desvio, caracterizada como discriminatória e estigmatizantente.
A promulgação da Lei do Ventre Livre, em 1871, iniciou um movimento de institucionalização de crianças vítimas de abandono no Brasil (BENITES, 1998). A institucionalização de crianças e adolescentes foi, e ainda parece ser históricamente constituída como uma das principais práticas no atendimento a infância pobre no país.
O Estatuto da Criança e do Adolescente ? ECA, Lei nº 8.069 deicha claro quanto aos principios que devem seguir as entidades que desenvolvam programas de abrigo entre eles atividades que proporcionem educação para crianças conforme (art. 92, inciso IV):

As entidades que desenvolvam programas de abrigo deverão adotar os seguintes principios: IV ? desenvolvimento de atividades em regime de co-educação.

Conforme o artigo citado, as instituições de abrigo devem oferecer atividades que promovam a educação para as crianças, não é só importante que seja realizado mais tambem é obrigatório.
Este projeto foi realizado com crianças de 7 a 12 anos que estão em entidade de abrigo, são crianças vítimas de uma realidade social desfavorecida, a maioria estão lá em decorrencia de problemas familiares.
Muitas ou quase todas as crianças que estão na entidade de abrigo onde foi realizado o projeto sonham com uma vida melhor, sendo adotadas ou voltando para sua familia mesmo que não se sintam queridas e isso por outro lado pode gerar frustrações para elas com o passar do tempo, devido a não realização de seus sonhos e desejos.
A arte foi utilizada como um importante recurso para ajudar no resgate de muitas coisas que foram esquecidas ou não foi trabalhado com essas crianças devido à situação complexa que enfrentam.
O educador social pode utilizar a arte como um importante recurso pedagógico para trabalhar com as crianças, pois a arte conecta o individuo com seus sentimentos, proporciona alegria, estimula a imaginação e estimula o contato com sua própria cultura.
A arte e sua importância para vida das crianças, foi abordada através dos seguintes procedimentos: debate para elevar a auto-estima das crianças; conversas para incentivar as crianças a praticarem arte como fator importante para vida delas; utilização de recursos visuais como revistas, jornais e DVD com tema arte música; atividade com pintura e organização de uma oficina de artes, com exposição dos trabalhos realizados pelas crianças durante o periodo de realização do projeto.
Durante as primeiras atividades realizadas no abrigo era visivil a falta de concentração, a inquietação, interação e varios outros disturbios de comportamento em relação a quase todas as crianças.
Após a realização de outras atividades era visivil o interesse de todos em participar, ótima concentração no momento das atividades, boa interação entre eles, ótimo comportamento, despertar da alegria e muito entusiasmo com os resultados de seus trabalhos.
Todos os trabalhos que foram elaborados pelas crianças durante a realização do pojeto, foram expostos durante a oficina de artes que foi a atividade de encerramento.
A oficina de artes foi o principal trabalho ralizado durante o periodo de realização do projeto, sendo o que mais apresentou resultados visiveis, pois houve maior envolvimento, empenho, entusiasmo e participação demonstrados por todas as crianças. Tal procedimento é reforçado pelo que apresenta Candau et. al. (1995, p.117), quando conceitua oficina enquanto um:

Tempo-espaço para a vivência, a reflexão, a conceitualização; como síntese do pensar, sentir e agir. Como "o" lugar para a participação, a aprendizagem e a sistematização dos conhecimentos... Em síntese, a oficina pode converter-se no lugar do vínculo, da participação, da comunicação e, finalmente, da produção social de objetos, acontecimentos e conhecimentos.

Dessa forma, as oficinas representam um lugar privilegiado para a produção.
Conforme a citação anterior do autor Petrus sobre a importancia da ação educativa de um educador social, este projeto incluindo a arte para as crianças do abrigo, pode revelar o quanto as crianças precisavam de atividades pedagogicas como as que foram realizadas.
Embora seja obrigatório essas atividades conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente ? ECA ficou constatada a carencia das crianças quanto a atividades como as que foram trabalhadas durante a realização do projeto.

3 CONCLUSÃO

Através deste projeto foi possível refletir sobre a necessidade de mudanças e criação de políticas públicas para melhorar a dura realidade de muitas crianças que vivem a margem da sociedade.
Ao mesmo tempo em que crianças são tiradas de suas famílias ou mesmo das ruas por medidas de proteção, por outro lado são colocadas em abrigos que pouco tem para lhes oferecer.
O que torna mais difícil ainda a vida dessas crianças, que tão cedo tem que enfrentar problemas tão complexos em vez de apenas brincar como outras crianças de sua idade.
Pela falta de estrutura familiar lhes resta apenas o precário apoio governamental para continuarem lutando pela sua sobrevivência.
O Estatuto da Criança e do Adolescente determina a criação de Conselhos para que haja a elaboração de projetos para destinação dos fundos que darão atendimento as crianças em entidade de abrigo, inclusive a obrigatoriedade de existência de atividades pedagógicas constantemente, porém isso na pratica não acontece.
Através deste projeto ficou constatada a carência quanto à falta de projetos que proporcione oportunidade de aprendizado para crianças e a falta de atividades pedagógicas continua na entidade de abrigo onde foi realizado o projeto.
É preciso que haja mudanças nas políticas de atendimento a crianças em situação de abrigo, para que assim as crianças usufruam de acompanhamento pedagógico especifico e que lhes é garantido por lei.
Os conselhos precisam trabalhar mais, para oferecer mais alternativas a crianças e adolescentes que vivem a margem da sociedade e o poder público precisa ampliar sua preocupação quanto a essa questão social, pois isso gera diversas conseqüências que irão ser refletidas em toda a sociedade.
Através deste projeto foi possível despertar sentimentos de alegria, esperança, melhorar a auto-estima das crianças, proporcionar as crianças contato com sua própria cultura, estimular a imaginação e conseguir causar boas interferências quanto ao comportamento de todos.
Foi gratificante ver a felicidade e entusiasmo das crianças em participar das atividades realizadas através deste projeto e depois ouvir os comentários delas a respeito dos resultados de seus trabalhos.
Talvez se houvesse empenho do poder público em manter projetos contínuos como esse não existiria tantas mazelas na sociedade atual.

REFERÊNCIAS

BENITES, L. Pisicanálise e Sintoma Social II. São Leopoldo : Unisinos, 1998.

CANDAU, Vera Maria et al. Oficinas pedagógicas de direitos humanos . 2. ed. Petrópolis, RJ : Vozes, 1995.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei nº 8.069 , Brasilia: Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1990.

PETRUS, A. Pedagogía social. Barcelona: Ariel, 1998.