1 PEDAGOGIA HOSPITALAR

A pedagogia hospitalar é um ramo que une ensino e saúde. É ainda pouco conhecida, existindo poucos estudos sobre o tema. Consiste em oferecer atendimento escolar às crianças e adolescentes em hospitais, quando pelo motivo de uma internação, são impedidas de frequentar classes regulares. Seu intuito é de que não haja interrupção nos processos de aprendizagem, portanto é um auxílio prestado aos enfermos que estão em processo de alfabetização.
Educar estas crianças e adolescentes hospitalizados é um desafio que faz os profissionais formados em pedagogia descobrir estratégias flexíveis a cada realidade e necessidade de cada um, como por exemplo, despertar seus interesses em aprender, diante da enfermidade. A pedagogia hospitalar procura proporcionar assessoria, atendimento emocional e humano tanto para o doente como para o familiar que, em muitas ocasiões, apresentam dificuldades de ordem psicológica e afetivas que podem prejudicar na adequação ao espaço.
O pedagogo organiza o conteúdo de modo diferenciado e, dentro do próprio hospital, nos leitos ou em classes, executa as atividades propostas de forma adequada a cada paciente, para que o fato da hospitalização não seja ainda mais doloroso e acabe prejudicando tanto sua saúde quanto seus estudos.
Segundo a constituição Brasileira em seu Art.227:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo e toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL,1988).

Portanto a educação é um direito que abrange a todos, independente da situação, sendo assim, crianças e adolescentes que ficam internados por um grande período em hospitais também possuem o direito de atendimento escolar para que não precise interromper seus estudos.

1.1.Breve histórico e base legal

O primeiro registro sobre práticas educativas voltadas para enfermos foi em 1935, na França, com as práticas de Henri Sellier, que serviram de modelo para Alemanha, para toda a Europa e Estados Unidos. Tinha o objetivo de suprir as dificuldades escolares de crianças tuberculosas. Também auxiliou demasiadamente na segunda guerra mundial, onde muitas crianças sofriam maus tratos, atingidos por armamentos ou mesmo mutilações, o que as impediam de frequentar a escola. Em 1939 é Criado o C.N.E.F.E.I. - Centro Nacional de Estudos e de Formação para a Infância Inadaptadas de Suresnes - tendo como objetivo a formação de professores para o trabalho em institutos especiais e em hospitais. Em 1939 é criado o Cargo de Professor Hospitalar junto ao Ministério da Educação na França. O C.N.E.F.E.I. tem como missão até hoje mostrar que a escola não é um espaço fechado. O centro promove estágios em regime de internato dirigido a professores e diretores de escolas; aos médicos de saúde escolar e a assistentes sociais.
Movidos pelos ideais de inclusão escolar, o Brasil possuí muitas leis ligadas à educação que visam garantir o ensino a todos, porém optamos por apresentar leis que se posicionam entre as duas áreas envolvidas nesse trabalho: a educação e a saúde.
A sociedade Brasileira de pediatria compôs vinte itens aprovados, com a finalidade de proteger a criança e o adolescente hospitalizado. É importante destacar os seguintes direitos:

1º Direito a proteção, à vida e à saúde, com absoluta prioridade e sem qualquer forma de discriminação;
2° Direito a ser hospitalizado quando for necessário ao seu tratamento, sem distinção de classe social, condição econômica, raça ou crença religiosa;
3º Direito a não ser ou permanecer hospitalizado desnecessariamente por qualquer razão alheia ao melhor tratamento de sua enfermidade;
4º Direito de ser acompanhado por sua mãe, pai ou responsável, durante todo o período de sua hospitalização, bem como receber visitas;
7º Direito de não sentir dor, quando existem meios para evitá-la;
8º Direito de ter conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidados terapêuticos e diagnósticos a serem utilizados, do prognóstico, respeitando sua fase cognitiva, receber amparo psicológico, quando se fizer necessário;
9º Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar, durante sua permanência hospitalar;
10º Direito dos pais ou responsáveis participem ativamente do seu diagnóstico, tratamento e prognóstico, recebendo informações sobre os procedimentos a que será submetido;
11º Direito a receber apoio espiritual e religioso conforme prática de sua família;
13º Direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para a sua cura, reabilitação e/ou prevenção secundária e terciária;
14º Direito à proteção contra qualquer forma de discriminação, negligência ou maus tratos;
19º Direito a ter seus direitos constitucionais e os contidos no Estatuto da Criança e Adolescente respeitados pelos hospitais integralmente;


Deste modo, essas leis vêm auxiliar á pedagogia hospitalar em todo seu contexto, fazendo com que haja mais opções e meios de atender ás expectativas do aluno paciente. Portanto a pedagogia hospitalar é dotada de humanismo, devendo ser mediada através de uma aproximação entre o pedagogo e o aluno. A comunicação e o diálogo são as bases dessa relação, o enriquecimento pessoal é o que garante a inclusão plena do aluno, possibilitando sua progressão nos estudos, evitando assim a repetência e até mesmo a evasão escolar.

1.2. Objetivos da Pedagogia Hospitalar

A Pedagogia Hospitalar oferece assessoria ao desenvolvimento emocional e cognitivo a criança e adolescente hospitalizado.
A prática da Pedagogia Hospitalar busca modificar situações e atitudes junto aos jovens internados, envolvendo-os em um ambiente de modalidades de intervenção e ação com programas adaptados às capacidades e disponibilidades de cada um.
Entre os principais objetivos da pedagogia hospitalar está o de tornar o hospital um lugar mais agradável para o paciente. A descontração deve ser o ponto principal para tornar tanto a prática educativa quanto o tratamento menos doloroso para o paciente. A doença pode levar ao isolamento, causando diversos efeitos à pessoa hospitalizada. Como conseqüência dessa hospitalização pode-se apresentar ansiedade, depressão, solidão, busca de proteção e atrasos emocionais e cognitivos, principalmente em crianças. A atuação do pedagogo em conjunto com a família e a equipe médica é primordial nesses casos.
"O efeito do ambiente estranho, provocado pelo hospital, pode ser atenuado adotando-se medidas simples como, por exemplo, pintar as paredes de cores variadas (...)" (MATOS; MUGIATTI, 2007, p. 70), ou seja, mudanças simples no padrão do hospital podem colaborar para o trabalho pedagógico. A pratica do pedagogo hospitalar deve ser voltada para ajudar a desfazer os efeitos de estranhamento causados nas crianças e adolescentes e pode ser feito com simplicidade como no exemplo acima, como mudar o padrão de vestimentas, usar uma linguagem mais jovem e utilizar métodos de ensino-aprendizagem menos convencionais, algo fora do padrão tradicional.
A presença da família é outro ponto importante. A falta de afeto pode causar sérias dificuldades no tratamento de doenças em jovens e adolescentes. O afeto do pedagogo e dos médicos e enfermeiros não é o bastante para suprir a carência de um jovem enfermo, por isso a presença dos pais é essencial para que tanto o tratamento quanto o processo de aprendizagem no hospital sejam um sucesso.
A continuidade dos estudos dentro do hospital é um fator revigorante para o paciente que se encontra internado por um longo período. Sendo assim, sua progressão nos estudos está garantida e os danos da internação são minimizados, pelo menos no campo escolar. O efeito revigorante influencia na cura do paciente, sendo o período de tratamento minimizado, há uma abreviação na sua volta para a sociedade e para a escola regular. Portanto a pedagogia hospitalar apresenta outro objetivo: A motivação.
O fator motivação muda a realidade do caso e pode trazer benefícios. Exercitar a mente, realizar tarefas desafiadoras e estimulantes pode ajudar as crianças a mudar o foco de seus pensamentos. A doença é deixada de lado e o que importa durante os momentos com o pedagogo é aprender.
A mudança de paradigma começa a se realiza quando não pensamos que só há escola dentro da escola e que o hospital não serve apenas para tratar doenças. Pode muito bem haver uma fusão desses elementos. O maior beneficiado é o jovem que se vê impossibilitado de continuar estudando e ainda tem que se tratar.
No entanto o atendimento pedagógico hospitalar vai além quando propõe apoio total ao aluno. Isso quer dizer que se deve dar a esse educando todas as possibilidades de um aluno que frequenta a rede regular de ensino.

1.3. Pedagogo Hospitalar e sua Formação

A formação desse profissional também deve ser diferenciada. Ao trabalhar com pessoas que sofrem de enfermidades, a recorrência às teorias sobre psicopedagogia, educação inclusiva e saúde é a base para o trabalho pedagógico que engloba o bem estar físico, psíquico, emocional e psicossocial.
O profissional pedagogo hospitalar deve saber que o seu público alvo é o ser humano e que sua prática influencia diretamente no tratamento de seus educandos. Baseando-se nesses dois princípios é possível traçar um perfil.
Estimular o educando é uma de suas tarefas básicas. O desafio deve ser permanente para espantar o clima estranho causado pelo hospital. Atividades lúdicas podem melhorar o ânimo, revigorando-o tanto para o tratamento quanto para a aprendizagem.
Conhecimentos sobre saúde e aspectos psicológicos são de primordial importância para profissionais desse ramo, sendo os ideais de humanização e ética seus principais norteadores. O pedagogo deverá trabalhar com uma equipe de outra área o que exigirá um olhar multidisciplinar. Ter conhecimento mínimo sobre linguagem técnica e sobre a gravidade e modo de tratamento das enfermidades ajudam ao pedagogo a ser um fator positivo, que some realmente à equipe.
A ideia de trabalhar em equipe deve ser considerada em sua plenitude. Somente juntando forças é que a pedagogia hospitalar pode alcançar seus objetivos. Neste contexto, a intervenção do pedagogo talvez seja uma alternativa conjunta que não substitui o trabalho clínico, mas sua atuação pode prevenir o aparecimento de alguns conflitos. Além disso, pode promover o bem estar geral, uma vez que um grande número de enfermos fica excluído das atividades pedagógicas e das interações comuns de suas idades, comprometendo suas relações sociais e intelectuais importantes para a vida em sociedade.
Portanto apenas uma graduação não é o bastante para a formação de um pedagogo hospitalar, sendo que especializações ajudam a melhorar o desempenho desse profissional.
















2 HUMANIZAÇÃO NA SAÚDE E NA EDUCAÇÃO

2.1 O que é Humanização


É complicado definir o termo "humanização" como um só conceito, uma vez que ele pode ser amplamente enfocado nas grandes áreas de Ciências Humanas, Ciências Biológicas, Ciências Exatas e da Terra, Engenharias, Ciências da Saúde, Ciências Agrárias, Ciências Sociais Aplicadas e Linguísticas.
Durante o processo de humanização o homem busca melhorar todas as suas capacidades, interagindo com o meio no qual se encontra. Para isso, dispõe de instrumentos que podem facilitar a obtenção dos resultados.
Um dos principais instrumentos utilizados para o alcance da humanização é a comunicação, que intermedia a troca de informações pertinentes, possibilitando a geração de conhecimentos que são essenciais para sociabilização do homem, pois segundo Aristóteles "o homem é um animal social" sendo assim, o homem é um animal naturalmente carente que necessita de coisas e pessoas para alcançar sua plenitude.
Em saúde a humanização ficou em segundo plano, graças à modernização e da tecnologia das práticas medicinais. O trabalho do médico se "desumanizou", tornando-se técnico e racional.
As especializações e mudanças na formação dos médicos, junto com as transformações nas condições de trabalho restringiram a ação dos médicos junto aos pacientes. O atendimento na área da saúde ficou cada vez mais mecânico e menos humanizado, assim, o hospital se torna um lugar frio e distante da realidade do paciente, tornando sua estadia tediosa e estressante.
Existem órgãos e grupos de pessoas dispostas a tornar a internação um pouco mais suportável, como os Doutores da Alegria, que atuam junto aos pacientes (principalmente crianças), seus pais e profissionais da saúde, através da arte do palhaço, nutrindo essa forma de expressão como meio de enriquecimento da experiência humana.

2.2 Humanização na Educação

Segundo Wallon (apud Taam, 2000, p.09) "Aprender é algo que alivia a dor infantil", assim, o professor tem lugar garantido dentro do hospital.
A hospitalização de crianças pode ter como consequências sintomas como a solidão, ansiedade, depressão, carência e atrasos emocionais e cognitivos, levando o educando a uma situação de isolamento.
Para evitar que ocorram esses sintomas, a intervenção do pedagogo pode ser uma alternativa válida. Outra função do pedagogo em hospitais é a de promover e incentivar práticas que gerem o bem estar das crianças, pois estando excluídas do contexto escolar, estas não desenvolvem práticas sociais e interações comuns de sua idade, lesando relações intelectuais importantes na vida infantil.
É importante que a hospitalização não prejudique o elo que a escola disponibiliza com a compreensão da realidade e a formação do caráter da criança. Sendo assim, é importante a criação de classes hospitalares, que podem suprir as necessidades educativas e de cidadania dos educandos.












3 Classe Hospitalar

A hospitalização na infância pode restringir a convivência social da criança, afastando-a do ambiente familiar, dos brinquedos e dos amigos e principalmente das oportunidades sociais e pedagógicas oferecidos pela a escola e isso pode alterar seu desenvolvimento social e pessoal. Assim para evitar que a criança hospitalizada tenha a sua escolaridade interrompida ou que seja prejudicado na conclusão do seu estudo, o Ministério da Educação por intermédio da Secretaria Nacional da Educação Especial, propiciou o atendimento educacional dessas crianças nos hospitais.
Para Fonseca (1999b):

"As classes hospitalares dão continuidade ao ensino das atividades pedagógicas da escola de origem da criança e/ou operam com temas próprios de cada faixa etária, levando as crianças ou adolescentes a sanarem dificuldades de aprendizagem e/ou à oportunidade de aquisição de novos conteúdos, além de organizarem intervenções pedagógico-educacionais não propriamente relacionadas à experiência escolar de origem das crianças e adolescentes, mas que dizem respeito às suas necessidades coletivas do grupo atendido" (p.36).

Um espaço pedagógico dentro de um ambiente hospitalar, com propostas educativo-escolares para crianças e adolescentes com objetivo de proporcionar experiências e vivências de aprendizagem; fortalecer e manter o vínculo escolar; promover um espaço de interação social; prevenir a evasão escolar e oferecer campo de ensino e pesquisa. É uma modalidade de educação especial que permite a continuidade do processo educacional. Segundo o Ministério da Educação (MEC), Classe Hospitalar é um ambiente que possibilita o atendimento educacional de crianças e jovens internados que necessitam de educação especial e que estejam em tratamento hospitalar (Brasil, 1994, p.20).
Afastadas da escola por motivo de qualquer enfermidade, a classe garante ao aluno-paciente o acesso à educação, seguindo o padrão das escolas regulares com algumas particularidades adaptadas ao hospital. A classe contribui também na melhora da qualidade de vida, integração social, emocional, resgata a auto-estima, reduz o sofrimento e a dor através da proposta pedagógica de humanização.
A classe hospitalar é um ramo da educação que proporciona à criança e ao adolescente hospitalizado uma recuperação mais aliviada, através de atividades lúdicas, pedagógicas e recreativas. O atendimento em alguns casos é por um tempo curto devido à internação não ser muito longa, e pode parecer não significar muito para a criança que está inserida na escola regular, mas para o aluno-paciente por mais curto que seja é muito importante (FONSECA, 2003), por isso a classe hospitalar é intrínseca na recuperação de muitas crianças. É na classe hospitalar que muita das vezes a criança consegue se sentir incluso e no pleno exercício do seu direito à educação. CECCIM (2000) destaca o hospital como um ambiente impessoal. Sendo assim a classe hospitalar com sua ação pedagógica, vem transformar o espaço de tratamento de saúde mais humanizado. Essa atribuição da classe é notável quando adentramos em uma enfermaria infantil e o trabalho está em curso.
Em muitos casos a classe hospitalar é o primeiro contato que a criança tem com a escola, por isso muitas vezes após a alta muita crianças permanecem na classe, devido dificuldades de serem inseridas na rede regular. O objetivo principal dos pedagogos e das Secretarias de Educação deve ser a de construir um currículo integrado com o sistema educacional da rede nacional de educação. Crianças que passam por um período muito longo de internação se beneficiam da ação pedagógica proposta oficialmente pela classe hospitalar se assemelhando aos moldes das escolas oficiais.
A classe hospitalar possui algumas especificidades que a diferencia das classes regulares, como: a rotatividade de alunos, rotina diária, fragilidade emocional em função do estado clínico; neste sentido, é necessário adequar-se às exigências e necessidades da criança.
Através das práticas pedagógicas e a ludicidade, a classe hospitalar busca socializar o paciente humanizando o seu tratamento, para que estabelecido possa se reintegrar ao mundo exterior se adaptando com maior facilidade após o processo de internação. Segundo Amaral e Silva (2007):

"Educar significa utilizar práticas pedagógicas que desenvolvam simultaneamente a razão, a sensação, o sentimento e a intuição e que estimulem a integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome da paz e da unidade do mundo. Assim, a educação além de transmitir e construir o saber sistematizado assume um sentido terapêutico ao despertar no educando uma nova consciência que transcenda do eu individual para o eu transpessoal."

A classe hospitalar busca recuperar a socialização da criança por um processo de inclusão, dando continuidade a sua aprendizagem. A inclusão social será o resultado do processo educativo e reeducativo. A escola é um fator externo à patologia, logo, é um vínculo que a criança mantém com seu mundo exterior. Se a escola deve ser promotora da saúde, o hospital pode ser mantenedor da escolarização. E escolarização indica criação de hábitos, respeito à rotina; fatores que estimulam a auto-estima e o desenvolvimento da criança e do adolescente.
As classes hospitalares, voltadas às crianças em tratamento, nascem de convênios feitos com o município ou o Estado, que fornecem professores da rede pública para ensinarem dentro dos hospitais, sendo que a maioria se concentra no primeiro ciclo do ensino fundamental.
A criança por ser um cidadão em desenvolvimento manifesta necessidades próprias de seu desenvolvimento psíquico e cognitivo, organizados através de suas próprias experiências, que interferem em sensações físicas, no momento em que se depara com relações de convivência, pelas oportunidades de socialização e de exploração intelectual dos ambientes de vida (CECCIM, 1999).
Sendo assim, é importante se ter a ideia do hospital como espaço de educação para as crianças hospitalizadas, uma vez que neste ambiente também podem ocorrer práticas que propiciam o desenvolvimento da mesma.


3.1 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NAS CLASSES HOSPITALARES

O trabalho do pedagogo no hospital é muito importante, pois atende as necessidades psicológicas, sociais e pedagógicas das crianças e jovens. Ele precisa ter sensibilidade, compreensão, força de vontade, criatividade, persistência e muita paciência se quiser atingir seus objetivos.
O pedagogo deve ter seus olhos voltados para o todo, tendo como objetivo o aperfeiçoamento humano, construindo em sua prática uma nova consciência onde a sensação, o sentimento, a interação e a razão valorizem o individuo. Sendo assim o tutor global da criança para que ela faça seus tratamentos de saúde sem esquecer as suas necessidades pessoais.
Para o exercício de suas atividades o pedagogo deve conhecer os regimentos da instituição hospitalar na qual irá trabalhar. Por questão de ética, toda comunicação entre pacientes e profissionais das diversas áreas deve ser resguardado, respeitando assim o direito de privacidade das informações prestadas pelo corpo clínico e pelo próprio paciente e sempre levar em consideração a confiança que o paciente deposita nas pessoas com quem se relaciona.
Outro aspecto fundamental é compreender a importância do respeito, por parte de todos os profissionais diretamente ligados ao aluno-paciente, ao sigilo aos dados e o desenvolvimento de estratégias de como lidar com estas informações de forma adequada.
Em suma, toda organização em torno do trabalho docente no ambiente escolar deve ser observado, desde o planejamento diversificado e flexível até o entrar e o sair do aluno-paciente do espaço onde está sendo desenvolvidas as atividades. Nota-se que todo trabalho deve estar impregnado pela ética, para que realmente possa dizer que foi realizado um trabalho didático-pedagógico no ambiente escolar.
Deve-se se destacar a existência de duas formas de acompanhamento pedagógico: crianças com internações eventuais, onde o pedagogo irá trabalhar com o material escolar ou tarefas que envolvem assuntos nos quais as crianças apresentam dificuldades e crianças com internações recorrentes e/ou extensas, onde será possível ao profissional planejar um trabalho que implique continuidade.
Tendo em vista essas formas de acompanhamentos o pedagogo hospitalar deverá elaborar projetos que integrem a aprendizagem, de maneira especificas para crianças hospitalizadas de forma que essa aprendizagem fuja da educação formal, porem resgatando e integrando-as ao contexto educacional.
Sendo assim, o planejamento, no ambiente clinico precisa ser flexível, porém deve levar em conta as peculiaridades do aluno-paciente. Portanto, o trabalho desenvolvido precisa ser integrado, dinâmico e moldado às diferentes rotinas de internação. O pedagogo deve considerar diversos fatores e, ainda trabalhar com as incertezas, isto faz com que a organização das atividades se torne bastante minuciosa.
O professor que atua em uma classe hospitalar é um educador que por meio de diversas atividades pedagógicas consegue fazer um elo entre o mundo hospitalar com a vida cotidiana da criança internada, no sentido de avaliar, acompanhar e intervir no processo de aprendizagem da criança/adolescente.
Fatores relevantes a pratica de intervenção pedagógica no hospital devem ser evidenciados, como: levar em conta o momento afetivo clinico e social que a criança se encontra antes de insistir na realização de alguma atividade ou tarefa; promover tarefas da escola com as adequações necessárias e investigar o repertório da criança para que possa haver novas aprendizagens.
Como o hospital para alguns pedagogos não é o lugar mais comum de trabalho, tanto ele como a instituição precisam de um período de adaptação para que o funcionamento da classe hospitalar seja diferenciado em relação à classe escolar. Para isso é importante que o pedagogo/professor conheça as dependências e os funcionários da instituição com o objetivo de saber o que fazer e a quem recorrer diante ao mal estar de uma criança durante as aulas e conheça as diversas patologias para que possa respeitar os limites de cada aluno-paciente.
Nesse sentido, atuação do professor pode resgatar o espaço para a promoção da educação e do respeito ao direito da criança e do adolescente hospitalizados em ter suas necessidades educativas especiais reconhecidas e atendidas.


3.2 ATIVIDADES DE LEITURA E O USO DA MÚSICA

No ensino em classes hospitalares se visa apresentar os conteúdos de modo mais despojado, a fim de cativar o aluno. Trabalhar de modo diferenciado deve ser a principal marca do pedagogo que atua nessa área. Além das disciplinas convencionais, podem-se trabalhar disciplinas diferenciadas para incentivar o aluno a participar das atividades.
Ao planejar atividades o pedagogo deve apresentar atividades lúdicas relacionadas para despertar a criatividade, o gosto pela leitura, a alegria e a afetividade tendo em mente que todo o processo de aplicação das atividades quando realizadas de uma forma humanizada pode desencadear no aluno-paciente uma qualidade muito superior no tratamento de sua doença.
Pensando nisso o trabalho com a leitura pode dar abertura para que diversos conceitos sejam abordados, e não apenas aqueles ligados à linguagem oral ou escrita. Como já se sabe, diversas linguagens podem estar presentes em um texto: a linguagem gráfica expressa pelas cores e pelos desenhos, a linguagem gestual pela expressão que o professor ou o aluno fazem ao ler e a daquelas que ouvem, vê e imagina o desenrolar do texto. Além disso, toda a vivência que podem intermediar este momento.
Ao planejar atividades envolvendo a literatura infanto-juvenil, o pedagogo deve transformar o ambiente em um local de magia e sonhos.
As atividades recreativas devem ser também interessantes e despertar um bem estar no aluno-paciente, como por exemplo, a música.
Na Grécia, a música estava presente em todas as manifestações da vida pública, como festas religiosas ou profanas, jogos esportivos, teatros, funerais e até em combates
De acordo com o dicionário de Língua Portuguesa (Aurélio, 2004) a música é a arte e ciência de combinar os sons de modo agradável ao ouvido, ou seja, existem regras na elaboração de uma música para que a combinação de sons agrade ao ouvido, mas dar uma definição definitiva para a música é de difícil aceitação, é uma linguagem universal, mas que modifica e evolui, traduzindo em formas sonoras expressões, comunicações, sensações, sentimentos e pensamentos relacionados entre os sons e o silêncio.
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI, 1998) "A integração entre aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical", ou seja, de um modo geral a cultura é vista como veículo importante de reconstrução da cidadania bem como a identidade sociocultural, e a música está entre as atividades mais significativas dentre os agentes transformadores da realidade social, por si só justifica sua presença no contexto de educação.
Com isso afirmamos que uma atividade pode ser estimulante para o aprendizado, gerando uma situação propícia ao aprendizado de vários saberes.























CONSIDERAÇÕES FINAIS

A classe hospitalar é resultado do reconhecimento de que crianças hospitalizadas têm necessidades educativas e direitos à cidadania, independentemente do período de permanência na instituição hospitalar.
Depois da reformulação da Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994; 1995), a legislação brasileira reconhece o direito da criança e adolescente hospitalizado ao atendimento pedagógico-educacional. A proposta é que a educação nos ambientes hospitalares seja realizada através da organização de classes hospitalares, devendo assegurar a oferta educacional, não só aos pequenos pacientes com transtornos de desenvolvimento, mas também às crianças e adolescentes internados.
A prática docente nesses espaços exige que o profissional seja flexível e compreensivo, uma peculiaridade de maior destaque do que em outras instituições de ensino. É necessário também que haja um planejamento para enfrentar desafios e a individualidade de cada aluno-paciente.
O pedagogo precisa ser educador, humano para transformar o espaço de aprendizagem em um lugar de superação, onde se possa construir um ambiente que a enfermidade seja compreendida e superada. Deve sempre se preocupar com o bem estar do aluno-paciente e manter um vínculo afetivo com todos do ambiente hospitalar.
Infelizmente o trabalho do pedagogo hospitalar ainda é pouco conhecido e sua atuação ainda não é explorada por todas as instituições de ensino que mantém o curso de Pedagogia, mas a curiosidade do tema faz com que cada vez mais pesquisas sejam feitas e discutidas. Um ofício traduzido na beleza de se ensinar/educar crianças que se encontram enfermas e que por essas condições são obrigadas a abandonarem sua vida social em busca de tratamento.


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