A concepção de projeto no meio educacional ainda é pouco compreendida, apesar de ser um tema bastante difundido entre os profissionais da educação. O ponto central, que é a resolução de problemas, bem como as etapas de sua construção é desconhecido por muitos docentes.  Assim, a Pedagogia dos Projetos fica restrita ao trabalho interdisciplinar relacionado a um assunto atual ou polêmico, mas que não necessita de uma intervenção real.

Projeto, segundo o dicionário Aurélio, consiste em “planejar uma ação”, ou seja, “um plano”. Logo, o projeto tem relação com o estabelecimento de metas e objetivos para se alcançar um fim, afinal, todo planejamento possui uma finalidade, algo a ser alcançado, um ato a ser consumado.

A ideia pedagógica de projeto não foge a esse raciocínio, a comunidade escolar projeta soluções com vistas resolução de problemas que lhes seja pertinente e no caminho promove aprendizagens. Fernando Hernández (1998) define projeto como uma concepção de ensino, uma maneira diferente de suscitar a compreensão dos alunos sobre os conhecimentos que circulam fora da escola e de ajudá-los a construir sua própria identidade.  

Tal proposta, para ser estabelecida, necessita o repensar da prática pedagógica e a quebra de paradigmas cristalizados. O ensino perde seu caráter sequencial e prefixado, enquanto o conhecimento deixa de ser fragmentado em áreas estanques ou disciplinas. O educando, por sua vez, torna se sujeito ativo na medida em que participa da construção de seu próprio saber.

A Pedagogia dos Projetos e a Prática Pedagógica

A Pedagogia dos Projetos refuta a Pedagogia da Transmissão que consiste em repassar informações prontas e fazer reproduzir, repetir, decorar o que foi ditado pelo mestre, em vez de criar e construir saberes a partir da realidade vivida pelas crianças.

A educação tradicional possui uma visão limitada de educação, nela cabe ao docente transmitir o conteúdo e ao discente receber tudo passivamente. E, embora enfatize a pesquisa, esta não provém da curiosidade do alunado e os textos produzidos não passam de meras cópias de outros autores.

Lança se, nessa perspectiva, o desafio de se transformar a educação para formar e não conformar o cidadão para o futuro e de tornar a escola um ambiente mais atrativo para as crianças e jovens a fim de que eles vejam sentido em frequentá-la.

John Dewey acreditava que, mais do que uma preparação para a vida, a educação deveria ser a própria vida. Aprende se ativamente, tomando decisões sobre os acontecimentos, vivenciando situações diversas, resolvendo problemas.

Paulo Freire parte da premissa de que o ensino deveria partir do presente, de um problema real que desafiasse os sujeitos a conceber respostas não apenas no nível intelectual, mas também no da prática. Segundo esse autor, não se deve oferecer ao aluno aquilo que não tem proximidade com seus anseios, dúvidas ou esperanças.

A pedagogia dos projetos emergiu nesse sentido de se repensar a escola, bem como a forma de se lidar com o conhecimento historicamente acumulado pela humanidade. Busca se não só compreender o mundo como também intervir nele. Rompe se com a visão fragmentada do conteúdo. O educando aprende ativamente e coletivamente.

Contudo, muitos ainda possuem a visão ingênua de projeto, confundindo o com um trabalho interdisciplinar para um determinado tema. Abandona se a ideia de situação problema e de proximidade com o contexto social o que representa um erro.

Outro fator inconveniente: não saber como proceder para colocar o projeto em prática. O desconhecimento do planejamento desse trabalho faz com a prática docente caia na improvisação, sem a definição de objetivos e metas. Fernandez Hernández traz algumas sugestões:

- determinar com o grupo a temática a ser estudada e seus princípios norteadores;

- planejar e organizar as ações (divisão de grupos, definição do que será pesquisado, métodos e estabelecimento do tempo estimado);

- divulgar regularmente os resultados obtidos nas investigações;

- estabelecer coletivamente os critérios de avaliação;

- avaliar as etapas do trabalho a fim de realizar ajustes necessários;

- encerrar o projeto propondo uma produção final, que pode ser uma peça ou uma exposição que seja capaz de tornar público todo processo vivenciado pelos educandos.

Outro ponto, o trabalho em grupo a que os projetos estão sujeitos é de suma importância visto que ensina os indivíduos a se organizarem e se mobilizarem coletivamente em prol de um objetivo comum. Além disso, contribui para que as pessoas se tornem mais flexíveis e mais aptas a conviver em sociedade, respeitando a diversidade de opiniões.  Treina o ouvir e o atender, assim como desenvolve o espirito cooperativo.

Na perspectiva de Vygotsky, os integrantes do grupo e o professor agem como mediadores, que ao intervirem na zona de desenvolvimento proximal do indivíduo, acelerando seu desenvolvimento potencial. Assim, o professor deixa de ser aquele que deve iluminar o caminho dos estudantes e retirá-los da ignorância. Por conseguinte, oblitera se o Ser mais e o Ser menos para finalmente abrir espaço aos parceiros na construção do conhecimento. A intervenção na realidade acontece em conjunto e a educação se torna mais dialogal, mas humana.

“A educação autêntica, repitamos, não se faz de A para B ou de A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo”.(Paulo freire, 2014, p. 116).

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014. 253 p.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução de Eloá Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.128 p.

Resumo do livro Transgressão e Mudança na Educação: Os Projetos de Trabalho. Disponível em:<http://lidialindislay.blogspot.com.br/2010/03/resumo-de-livros-hernandez.html>. Acesso em 15 fev. 2015

YouTube. Pedagogia dos Projetos – Nibo Nogueira. Vídeo (19min45s). Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=eguk20OL76c>. Acesso em: 15 fev. 2015.