PEDAGOGIA DAS PROVAÇÕES E TRIBULAÇÕES

Provações e tribulações são o pão de cada dia dos que optaram caminhar pela fé, praticar os valores do Reino de Deus, levar vida ética. A razão é que a vida do justo (quem vive pela fé, eticamente) contraria a maneira desrespeitosa, violenta, antiética do mundo viver. A vida do justo é uma denúncia contra o cinismo do mundo. Quem vive nas trevas da maldade não suporta quem vive na luz do bem. Por isso, a vida de fé não tem moleza. Jesus adverte: "Quem quiser ser meu discípulo (viver pela fé), renuncie ao comodismo, tome a cruz do compromisso e siga-me". É pegar ou largar. Pretender viver pela fé sem sofrer perseguição e tribulação, anunciar um Jesus triunfalista, sem cruz, é viver uma fantasia incompatível com o projeto de justiça de Jesus. "Sinto vergonha dos inimigos da cruz de Cristo", diz o Aposto-lo Paulo aos Gálatas. Ora, a cruz não significa o sadomasoquismo, mas com o compromisso de viver os valores éticos, humano-divinos do Reino de Deus e nosso. Por outro lado, os que escolheram trilhar os caminhos de Jesus, as contrariedades, provações e tribulações são a sabedoria de Deus. Se estamos ligados a Jesus pela fé, ele estará presente a tudo que nos acontecer a qualquer hora do dia ou da noite: "O Senhor cuida dos seus amados até enquanto dormem. Tudo contribui para o bem dos que amam Deus". Ninguém gosta de sofrer nem de ser contrariado nem. Todavia, não se trata de gostar ou não de sofrer. Não temos escolha: o sofrimento existe como elemento integrante da vida humana malgrado a nossa vontade. Por isso, nada adianta dizer que não gosta dele. Por isto, na vida da fé, o enfoque não deve ser na dor, mas em Jesus e sua absoluta solidariedade ao fiel parceiro. Jesus é o Parceiro principal da aliança, o fiel, parceiro colaborador. O que nos acontecer, o aceitaremos em paz, agrade-nos ou não, na certeza que Jesus está conosco como Senhor dos acontecimentos. Por isto, é preciso curvar-se humildemente ante a sabedoria da cruz, mesmo sem entender nada do que se passa. Como Maria guardava no coração todas as coisas que diziam do Menino e ela não entendia. Com certeza, na sua sabedoria, Jesus nos fará aborrecer o mundo e entregar nossa vida à causa do Reino. O Mestre pode usar a nosso favor pessoas e acontecimentos que nos desgostam e maltratam. Assim nós aderimos mais firmemente aos seus planos, que, pouco a pouco, se realizarão em nossa vida. Se nos apegarmos ao mundo, se só achamos prazer nele e fazemos dele nossa razão principal de viver, facilmente esquecemos que Jesus Cristo é "a minha alegria e a razão do meu canto". Por isso, provações e sofrimentos constituem a sábia pedagogia de Jesus para corrigir os que o buscam de coração sincero. "Eu admoesto e castigo aquele que amo. Assim como um pai corrige seu filho, assim te corrige o Senhor teu Deus. Se ele não te corrigisse, não serias filho, mas bastardo. Apesar de tudo, agradeçamos ao Senhor nosso Deus que nos põe à prova como pôs nossos pais. Lembrai-vos de como ele provou Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, para sondar seus corações e ver se observavam ou não seus mandamentos. Assim também, Javé não está se vingando de nós, mas, para advertência, açoita os que se aproximam dele". Com as provações, o Senhor nos tira do mundo e nos chama para junto de si, para nos instruir e curar nossas feridas. Aprendemos, assim, a amá-lo acima de todas as coisas e a usar o mundo sem apego. Deus nos tira do mundo pela provação e depois nos faz voltar a ele munidos dos seus projetos e como servidores dos irmãos. Tudo que eu buscava no mundo e o mundo me negou, Jesus me dá em abundância. E, a partir do que aprendi com ele, voltarei ao mundo e tentarei incrementar nele os valores que o mundo rejeitou. Sempre com tribulações. Se eu ficar no mundo me batendo pela felicidade que ele não me pode dar, nunca saciarei minha sede de felicidade. Pois, procuraria satisfazer-me com a falsa felicidade do mundo e nele afundaria. A proposta do mundo é diabólica: quanto mais prazer dá, mais deixa insatisfeito e seduzido os que acreditam nela. É assim que ele engole os incautos. Mas entrando na órbita de Deus pela fé, sua presença amorosa envolve-nos sem anular-nos. Pois, embora "na SS Trindade vivamos, nos movamos e existamos", a comunhão de vida com o Pai e Deus Mãe em, com e por Cristo não destrói nossa identidade, mas santifica-nos pela comunicação da santidade do Filho, no qual estamos enxertados como o ramo no tronco da árvore. A comunhão de vida com Deus pela fé nos engravida de Deus, capacita-nos a gerar filhos do Pai, irmãos de Jesus, como Maria gerou. Só quem está grávido de Deus pode ser fecundo missionário. Plenificando-nos dele na meditação da palavra, na oração, boas obras e jejum tornamo-nos geradores da vida nova dos reinóis divinos.

Portanto, Deus prova os fiéis para podá-los e santificá-los, não para esmagá-los, anulá-los. As tribulações e provações são o lado doloroso do Juízo salvífico de Deus, que condena o pecado para salvar o pecador. Por isto elas são componentes essenciais da vida pela fé. Sem provação a fé não se sustente. Em qualquer campo de atividade a prova é a marca registrada da genuinidade de algo. Antes de pôr a comida à mesa, o cozinheiro prova o tempero. Para assumir ser admitido num corpo de balé, os candidatos passam por severos testes. Provamos roupas antes de usá-las. Não é diferente com a fé: ela só se torna autêntica após passar por muitas tribulações. "Para entrar no Reino de Deus (viver pela fé) é preciso passar por muitas tribulações. Não desprezes a educação do Senhor, não desanimes quando te corrige; pois ele educa quem ama e corrige todo que acolhe como filho. É para vossa educação que sofreis. Deus vos trata como filhos". Portanto, as provações fazem parte da pedagogia do Pai com os filhos e filhas. Elas supõem e manifestam a paternidade divina. Por isso, são vistas como correção, não como castigo. "Apesar disto, agradeçamos ao nosso Deus que nos põe à prova como pôs nossos pais. Lembrai-vos do que fez a Abraão, de como provou duramente Isaac, o que aconteceu a Jacó na Mesopotâmia da Síria quando pastoreava as ovelhas de Labão, irmão de sua mãe. Como os provou para sondar seus corações e saber se cumpririam ou não seus mandamentos, assim também Deus não está se vingando de nós, mas, para advertência, açoita os que dele se aproximam. Estas coisas lhes aconteceram para servirem de exemplo e foram escritas pra nossa instrução. Portanto reconhece no teu coração que eu, Javé, teu Deus te educo como os pais educam os filhos. As tentações que vos humilharam tiveram medida humana. Deus é fiel; não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças. Mas com a tentação, vos dará os meios de sair dela e força para suportá-la". Pedagogicamente, 'tentar é, antes de tudo, experimentar, pôr à prova, reconhecer a realidade por detrás das aparências. Deus tenta o homem, embora o conheça a fundo, para dar-lhe ocasião de manifestar a atitude profunda do seu coração: "saber se irias ou não observar suas leis". É blasfêmia o homem tentar Deus. Quando provocada pelas circunstâncias exteriores, como a concupiscência ou o Diabo, a tentação torna-se sedução, atrativo para o mal, do qual o fiel pode triunfar pela poder da fé e amor a Deus. Até Jesus quis ser tentado para reforçar sua submissão à vontade do Pai. Como pedagogia divina, as provações não visam nos fazer tremer diante do Pai, mas aumentar nossa fé e confiança nele: o irmão Jesus está sempre comigo é nas tribulações. Deus nos prova, não porque não nos conheça, mas para revelar nossa fraqueza e necessidade de salvação. O mal e as contrariedades são impotente diante do poder de Deus e da fé. Jesus dominou o mar revolto que ameaçava afundar o barco dos apóstolos. Admirados, disseram: "Quem é este que até o mar obedece? Ora, o mar é dele, pois foi ele quem o fez, a terra firme suas mãos a modelaram". Quando a tempestade passou, Jesus lhes disse: "Por que tendes medo, homens de fraca fé"? A fé e amor dos discípulos eram ainda cheios de temor. Como a nossa. Ora, "onde há temor, não existe amor"; e onde há amor, não existe temor. Precisamos, pois, acostumar-nos com os acontecimentos do jeito que são e não querer amoldá-los a nossa conveniência. Jesus exige que renunciemos tudo para segui-lo, mas não nos promete sem perseguição e tribulação. Pois, se "até o chefe da família é chamado de Belzebu, como não vos chamarão? Mas coragem, eu venci o mundo" e vós também o vencereis: "a vossa vitória sobre o mundo é a vossa fé. E quem renunciar a si mesmo, a pai e mãe, irmão e irmã, filho e filha, propriedades por causa do meu Nome, receberá cem vezes mais pai, mãe, irmãos, com tribulações e por prêmio, a vida eterna". Deus é nosso pai, mãe, irmão, irmã, herança, Terra Prometida. Por isso, nada precisamos temer. Se tivermos saudade das cebolas do Egito e dissermos: "Invejei os arrogantes, vendo a prosperidade dos maus", entre na casa do Pai pela fé e diga: "Quando meu coração se azedava e eu espicaçava meus rins, é porque era imbecil e não sabia, era animal junto de ti. Mas, acordei do pesadelo e disse: quem teria eu no céu? Contigo, nada me agrada mais na terra. Minha carne e coração podem consumir-se: a rocha do meu coração, a minha porção é Deus, para sempre. Sim, os que se afastam de ti perdem-se, tu repeles teus adúlteros todos (os sem fé): a terra se prostitui constantemente afastando-se de Javé. Quanto a mim, estar junto de Deus é o meu bem. Em Ti coloquei o meu abrigo, para contar todas as tuas obras. Para onde iremos, se só tu tens palavras de vida eterna"? Tal declaração de amor é necessária para quem deseja seguir Jesus para valer. Ela afasta o medo do desamparo no mundo. Medo que nasce da fraca fé, do amor possessivo e apego aos bens materiais, às vaidades do mundo, elogios, prestígio, que dividem nosso coração e prostitui-nos. "Onde está o teu tesouro, aí está teu coração". Se meu tesouro são as coisas do mundo, a elas prenderei meu coração; e quando vem o apelo à renúncia para seguir Jesus, aí bate o medo do desamparo. Porém, se meu tesouro é o Senhor, não há porque nem o que temer. Ele mesmo é minha segurança, rocha de apoio, meu motivo de alegria e felicidade: "Minha alegria e meu canto é Javé, salvação ele se fez para mim". Ele é todo o bem que desejo. Bem que não se acaba, a traça não corrói nem o ladrão rouba, pois está guardado e "escondido com Cristo em Deus: não temas, estás guardada na palma da minha mão". A mão simboliza o poder. Estar guardado na mão de Deus é estar firme na fé, ao abrigo do seu poder amoroso. "Porque sois justo, governais com justiça e julgais indigno do vosso poder condenar quem não merece. Porque vossa força é o fundamento da vossa justiça, e o fato de serdes o Senhor de todos, vos torna indulgente para todos". Não há, portanto, nada a temer. Nada, ninguém é mais poderoso que Jesus, o Vencedor da morte, que prometeu não nos deixar órfãos, mas estar conosco até o fim, em toda situação, até nas tribulações mais ferozes. "Sobre serpente e víbora andarás, calcarás o leão e o dragão aos pés. Pois que se uniu a mim, eu o protegerei, porque conhece meu Nome. Quando me invocar, o atenderei; na tribulação estarei com ele, o livrarei e cobrirei de glória: mostrar-lhe-ei a minha salvação". Para quem vive pela fé, não há garantia maior de segurança que esta declaração de amor de Deus pelo justo. Ela permite-lhe renunciar sem temor à ilusória segurança do mundo e apoiar-se na Rocha firme da fé em Deus. O medo é o inimigo maior da fé. Quem crê confia e tem paz; quem não crê não confia e tem medo. Confiar é sentir-se apoiado; não confiar é sentir-se inseguro. O medo vem da ameaça, real ou imaginária, de perder o apoio de alguém ou de algo; vem do sentimento de impotência ante um perigo maior que nossas forças. Só venceremos o medo com o apoio de alguém maior que o perigo. O justo pela fé sabe que Deus é o ser supremo, maior que ele não existe outro. Daí, reiteradamente a Escritura dizer a Agar, Moisés, Josué, Samuel, Isaías, Maria, José: "Não temas, Javé é contigo. Sou eu; não tenham medo, homens de pouca fé", disse Jesus aos discípulos apavorados com a fúria da tempestade no Mar da Galiléia. Jesus falou e a tempestade acalmou. A fé nos dá paz em meio às tempestades, porque nada é mais que Deus. "Se ele é por nós, quem será contra nós"? Por isso, unindo-se a ele pela fé acaba o medo. O coração dividido entre Deus e o mundo é idólatra. Dúvida significa caminho duplo (duae viae), que gera indecisão e medo. Mas, o coração decidido, justo, fiel (fidelis = que tem fé), que ama Deus mais que todas as pessoas e coisas, trilha um só caminho, o caminho da fé. A maior certeza vem, pois, da firme fé. "Meu justo vive da fé. Crede e vivereis".

Mas, como continuar acreditando no Senhor se somos contestados exatamente nas coisas que fazemos em prol dos seus preferidos? É que sem tribulações a fé não se fortalece. Em compensação, elas são sinal de que estamos no caminho certo. "Não se joga pedra em árvore que não dá fruta. Não queiramos ser criticados como assassinos nem ladrões. Mas se somos criticados por fazer o bem no Nome de Jesus, alegremo-nos: é sinal que o Espírito de Deus habita em nós. Os que sofrem segundo a vontade de Deus entreguem suas vidas ao Criador que é fiel, e dediquem-se à prática do bem". Eis aí importante incentivo ao crescimento na fé e para continuar a fazer o bem, fiel ao amigo fidedigno. Fazer o bem é prêmio de Jesus, não mérito nosso. Façamos, pois, o bem e fiquemos em paz, certos que ele está sempre conosco. Estamos no mundo para servir os valores do Reino, mas seremos contestados e perseguidos. É o preço do compromisso. Jesus sabe o que fala: "No mundo tereis tribulações. Se fôsseis do mundo, ele amaria o que é seu. Como não sois do mundo, pois minha Palavra vos tirou do mundo, por isso o mundo vos persegue. Lembrai-vos que perseguiram-me primeiro e vós permanecestes fielmente comigo nas minhas tribulações desde o início. A minha paz eu vos dou, deixo-vos a paz. Não que o mundo dá, mas dou-vos a minha paz. Não se perturbe nem se intimide vosso coração. Eu não vos deixarei órfãos, mas rogarei ao Pai e ele vos enviará no meu nome Deus Mãe, que ficará convosco para sempre. E eu estou convosco todos os dias até o fim". Existe algo que dê mais paz aos atribulados? As tribulações fazem parte da missão e não podem ser motivo de desespero: Jesus garante solidariedade e amizade a seus enviados. Não estamos sós e em nosso nome na missão: somos enviado em Nome de Jesusna Força de Deus Mãe, com poder para enfrentar as procelas do mar da vida: "Recebei Deus Mãe; como o Pai me enviou, eu vos envio também, como cordeiros ao meio de lobos. Não os temais: eles podem matar o corpo (mortal), mas não matam a alma (corpo espiritual). Até os vossos cabelos estão contados e nenhum cairá sem a permissão do vosso Pai que está no céu". Quem assume compromisso de fé com Jesus não pode ignorar tribulações e tentações. Nem perder a paz por causa delas, pois "eu sei em quem pôs a confiança". Não esqueçamos: ser contestado e perseguido é sinal que estamos no caminho certo. É suspeita a unanimidade com nossa missão. Os valores éticos interpelam e geram conflito. Jesus é claro: "não penseis que eu vim trazer paz á terra, mas a espada, o fogo, e desejo que ele queime. Vim contrapor o filho ao seu pai, a filha à sua mãe e a nora à sua sogra. Em suma, os inimigos do homem são seus familiares. O irmão entregará o irmão à morte, o pai entregará o filho. Os filhos se levantarão contra os pais e os matarão. Sereis odiados por todos por causa do meu Nome. Felizes sois, quando vos injuriarem e maltratarem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa do mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós". Jesus provou deste cálice de contradição e amargura. "Considerai atentamente Aquele que sofreu tantas contrariedades dos pecadores e não vos deixeis abater pelo desânimo. Em vez do gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz e está sentado à direita do trono de Deus". Portanto, as contrariedades são a regra na vida de quem prática o bem. Há motivações pouco honestas e inconfessas da parte de quem critica e persegue as pessoas éticas. A inveja do perseguidor é a maior destruidora de sonhos, o veneno letal para as pessoas éticas. Sentimento mesquinho de quem não aceita o sucesso do outro, mas é dominado pelo sentimento do fracasso. Quem crê é vitorioso em Cristo e propugna para fazer valer a vitória da vida. Mas o cinismo e a má-fé que visam levar o outro ao fracasso é a motivação devastadora dos sem fé, dos ímpios. Cinismo, má-fé e inveja ao extremo podem levar para a maldade deliberada que destrói suas vítimas. Os filhos de Satanás são sagazes. Buscam atingir os justos nos defeitos e pontos fracos, para desmoralizar e destruir suas qualidades a razão da inveja dos maus. Elas é que causam inveja. Atingindo os pontos fracos das pessoas de boa-fé, os invejosos visam anular seus pontos fortes, as qualidades das pessoas, que as fazem bem sucedidas. Não suportando o sucesso delas, o invejoso busca eliminar a causa do mesmo. Covardia, que se abateu sobre Jesus e continua vitimando os enviados. Jesus não os ilude: "Envio-vos como cabritos entre onças ferozes. Sede simples como as pombas e sagazes como as serpentes. Cuidado com os cães!", adverte Paulo Apóstolo. É preciso estar atento, focar a atenção no amigo Jesus, e não deixar-se abalar pelos perseguidores. Dizer firmemente como Paulo: "Sei em quem ponho minha esperança. É fiel aquele que nos chamou e enviou". Persegui fazem parte da vida dos seguidores de Jesus. "Não se entra no Reino sem passar por muitas tribulações. Todos que quiserem viver piedosamente em Jesus Cristo terão de sofrer perseguição. Gloriamo-nos de vós na igreja de Deus pela vossa constância e fidelidade entre às perseguições e tribulações que sofreis. Elas são um indício do justo Juízo de Deus e que sereis considerados dignos do Reino de Deus, pelo qual padeceis. De fato justo é que Deus dê em paga aflição àqueles que vos afligem, e a vós que sois afligidos, alívio, juntamente conosco, no Dia da manifestação do Senhor Jesus (Juízo Final). Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. Estes que estão trajados com vestes brancas, quem são e donde vieram? São os que vêm da grande tribulação: lavaram e alvejaram as vestes no sangue do Cordeiro. É por isso que estão diante do trono de Deus, servindo-o dia e noite no seu Templo". Os justos nos ensinam que em meio às turbulências que o mundo nos inflige, é preciso ter sabedoria para não desorientar-se, como se Jesus tivesse abandonado seu enviado. Não, ele nunca o abandonará, mas estará sempre com ele, particularmente nas tribulações. Há uma pedagogia, uma lição a aprender na provação. Não podemos perder a oportunidade de deixar Jesus realizar sua obra mediante as provações de que nos faz participar como acontece com os santos. Por isso, centrando a vida nele, estaremos firmes e assimilamos as tribulações sem traumas. Se a nossa alegria é Jesus Cristo, nada no mundo nos perturba nem nos alegra em profundidade por muito tempo. É preciso crer sem hesitação. As provações são testes da nossa fé, revelam os segredos do nosso coração, averiguam se estamos ligados no Senhor pra valer, ou nos enganando.

Não podemos odiar nossos perseguidores, mas amá-los como Jesus os ama e perdoa. Quem vive no mundo e não partilha nossa fé, queiramos ou não, é também nosso irmão, ainda que nos trate desprezo. Jesus é judeu como os escribas, fariseus e sacerdotes, mas foi duramente perseguido por eles. "Ele veio para os seus, mas os seus não o receberam. É preciso sofrer violência, passar pela porta estreita da tribulação para entrar no Reino". Seguir Jesus, deixar-se guiar por Deus Mãe, o Espírito de santidade do Pai e do Filho, é predispor-se a chocar-se com o espírito do mundo. Nem Jesus escapou: antes de começar sua missão pública, "foi conduzido por Ruah ao deserto para ser provado". O Tentador armou-lhe três ciladas e Jesus escapou de todas. Fortalecido, iniciou a missão, mas logo foi perseguido pelos irmãos, que aparentemente o venceram e o derrotaram na cruz. Para o Enviado do Pai na força de Deus Mãe e para os que ele envia seu Nome para continuarem sua missão, as perseguições e tribulações fazem parte do risco da fé. Sem provações não há fé autêntica. Toda a história do povo da antiga aliança é palmilhada de perseguições. "Nossos pais foram tentados a fim de que se verificasse se serviam verdadeiramente Deus. Nosso pai Abraão foi tentado e passou por múltiplas tribulações para se tornar amigo de Deus (crer). Assim Isaac, Jacó, Moisés e todos que agradaram a Deus permaneceram fiéis apesar das muitas tribulações. Por isso, não nos irritemos pelo que sofremos. Consideremos que esses tormentos são menos graves que nossos pecados, e que os flagelos com que o Senhor nos castiga como escravos foram-nos mandados para a nossa emenda, e não para a nossa perdição. Lembra-te de todo o caminho por onde Javé te conduziu durante quarenta anos no deserto, para humilhar-te e provar-te, conhecer os sentimentos do teu coração e saber se observarias ou não seus mandamentos. Humilhou-te com a fome; deu-te por sustento o maná, que não conhecias nem teus pais, para ensinar-te que o homem não vive só do pão, mas de tudo que sai da boca do Senhor. Tuas vestes não se gastaram sobre ti, nem teu pé se magoou durante o quarenta anos. Reconhece, pois, em teu coração, que assim como um homem corrige seu filho, assim te corrige Javé teu Deus. Filho, não desprezes a correção de Javé. Não desanimes quando repreendido por ele, pois ele corrige quem ama e todo aquele que reconhece por seu filho. Estais sendo provados para vossa correção: é Deus que vos trata como filhos. Ora qual o filho cujo pai não corrige? Mas se permanecêsseis sem a correção que é comum a todos, não seríeis filhos legítimos, mas bastardos. Aliás temos na terra nossos pais que nos corrigem e, no entanto, os olhamos com respeito. Com quanto mais razão nos havemos de submeter ao Pai celeste, que nos dará a vida? Os primeiros nos educaram para pouco tempo, segundo a sua própria conveniência, ao passo que Deus o faz para nosso bem, para nos comunicar sua santidade. É verdade que toda correção parece, de momento, antes motivo de pesar que de alegria. Porém, mais tarde produz nos que por ela se exercitaram o melhor fruto de justiça e paz. Guardarás, pois, os mandamentos de Javé teu Deus, andando nos seus caminhos e temendo-o". Javé provou Abraão ao ponto de exigir dele o sacrifício do próprio filho. Mas Abraão não fraquejou na fé, não duvidou dos bons propósitos de Javé, que estaria com seu servo naquela provação. "Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-las e sairdes dela". Cabe-nos ter paciência e tirar proveito das provações, permanecendo vigilantes na fé. "Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor e prepara tua alma para a provação; humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus; dedica-te a ele, espera com paciência, para tua vida se enriqueça que no último momento. Aceita tudo que te acontecer. Permanece firme na dor; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam ouro e prata e os justos pelo cadinho da humilhação. Põe tua confiança em Javé e ele te salvará, orienta bem o teu caminho e espera nele. Conserva o temor dele até na velhice. Vós que temeis Javé, esperai na sua misericórdia, não vos afasteis dele, para que não caiais. Sabei que nenhum daqueles que confiouem Javé foi confundido. Vós que temeis o Senhor, amai-o, e vossos corações se encherão de luz. Se dele recebemos os bens, não deveríamos receber também os males"? Os males que acontecem aos justos redundam em bem para ele. Sobretudo, o mal procedente do coração mau causa males aos semelhantes. "Nada mais ardiloso e irremediavelmente mau que o coração. Quem o poderá compreender? Não é o que entra pela boca do homem que o torna impuro, mas o que sai da sua boca. Pois é do coração humano que saem más intenções: prostituições, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, devassidão, malícia, arrogância, inveja, difamação, insensatez. Todas essas coisas más saem de dentro do coração do homem e o tornam impuro". É a maldade do coração que persegue os justos. O mal está dentro de nós. Se o controlarmos, ele não fará mal a nós nem a outrem em torno de nós. Mas se dermos vazão ao mal, ele sujará primeiro nosso coração; depois, as vítimas da nossa maldade. Os pecados do mundo são frutos da maldade humana ao longo da história. Pedagogicamente, os males atingem os justos para purificar e santificar seus corações pela fé. Paradoxalmente os justos, os inocentes, os santos são os alvos preferidos das tribulações, não os pecadores, como era de se esperar. Deus as usa para o bem do seu justo. "Eu corrijo aquele que amo". Os dores do Filho de Deus são o mais paradoxal exemplo do inocente que sofre para pagar os pecados dos bandidos. O Cordeiro de Deus foi duramente castigado e ferido de morte no lugar daqueles que sujam o mundo com suas maldades, a fim de tirar o pecado do mundo. "Nós o tínhamos como vítima do castigo, ferido por Deus e humilhado. Mas foi trespassado por causa das nossas transgressões, esmagado em virtude das nossas iniqüidades. O castigo que havia de trazer-nos a paz caiu sobre ele; por suas feridas fomos curados. Andávamos errantes como ovelhas, seguindo cada um o próprio caminho. E Javé fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós. E se ele oferece a vida como sacrifício pelo pecado, certamente verá uma descendência e por meio dele o desígnio de Deus triunfará: ele justificará muitos levando sobre Si suas transgressões". Eis a sabedoria, o paradoxo da cruz, do amor salvífico, a loucura da misericórdia. Os males que atingem os justos são males reais que fazem sofrer. Mas, no contextos da salvação são remédio que cura males irremediáveis. A sabedoria divina faz o mal virar bem. Os justos entendem este paradoxo. Mas Deus não prova os perversos, porque eles não entenderiam e perderiam. Mas o justo ele prova, porque tem familiaridade com a pedagogia divina da provação. "Adverte o sábio e ele te agradecerá; admoesta o insensato e ele se tornará teu inimigo". Deus não fere o fiel para maltratá-lo, mas curar. Homeopatia divina, que cura males com males semelhantes Ferir de morte o mal é dar espaço ao bem. Cura pela ferida, vida pela morte. Jesus Cristo ama-me como sou, com meus defeitos e traumas. Mas põe-me na escola da cura das provações. É sua compaixão por mim. Por isto, preciso aceitar de coração contrito a correção do Irmão e amigo, "que me trata como filho. Daí, em tudo isto sou mais que vencedor pela virtude de quem amou-me e por mim se entregou. Se ele é por mim, quem será contra mim"? Estando unidos a Jesus pela fé, tudo pode ser contra mim, mas nada perderei. É o paradoxo do amor salvífico.

Jesus é o Filho de Deus na condição humana, na fragilidade, na kenosis. Ele identificou-se tanto conosco que se fez pecado, vítima expiatória por amor aos pecadores. "Ele não veio se ocupar com anjos, mas com a descendência de Abraão. Convinha, por isso, que se tornasse em tudo semelhante aos irmãos, para ser em relação a Deus o sumo sacerdote misericordioso e fiel, para expiar assim os pecados do povo. Tendo ele mesmo sofrido tentação, é capaz de socorrer os que são tentados". Este é o caminho de quem vive pela fé. Na kenosis, no auto-aniquilamento por amor, guardar a fé, que é maior que toda adversidade. "Nada nos apartará do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo", mediante a fé. Diante dos males do mundo infligidos aos justos, os pobres de Javé, há duas atitudes possíveis: rebeldia ou tomada de posição de fé, remetendo-se à parceria com Jesus e começar a agir para mudar a situação. Em vez de se deixar esmagar pelo mundo ou fazer de conta que os males não existem por medo de enfrentá-los e covardia, na fé enfrentamos o mundo, resistindo a seus ataques com a paciência brava de Deus Mãe. Diante do peso do mundo, resta ao fiel resistir com a arma da fé. "Revesti-vos da armadura de Deus, para poderdes resistir no dia mau e sair firmes de todo combate, empunhando o escudo da fé, com o qual podeis apagar os dardos inflamados do Maligno". Eis o poder da fé para enfrentar o mundo sem medo. Quando os discípulos se assustavam com as adversidades da vida, Jesus os encorajava dizendo: "Por que tendes medo, homens fracos na fé"? A vida da fé, que tira o medo e nos dispõe ao serviço de Deus, é um aprendizado de cada dia, de toda a vida, ainda que pregados na cruz dos defeitos e limites. Nunca querer resolver os problemas do mundo só com nossas forças, mas fazendo valer o poder da fé. Na oração pedir luz e força a Jesus para sermos bem sucedidos na nossa missão no mundo, do qual a cruz faz parte essencial. É na fraqueza da cruz que se revelará a força de Deus. A sabedoria da cruz, ensina a não desafiar o mundo com armas humanas, como se dependesse unicamente de nós o sucesso da obra. Somos operários, não do-nos do Reino. O Rei é Jesus. Ele é o Parceiro principal e avalista do nosso trabalho pelo Rei-no, e nos chamou para uma parceria com ele. Somos seus colaboradores, embaixadores de Jesus no mundo, apoiados na energia benfazeja de Deus Mãe, que "vem em socorra da nossa fraqueza". Mediante a fé, incorporamos o poder de Jesus, para agirmos em seu Nome e com a mesma eficácia dele: "Tudo que ligardes ou desligardes na terra, será ligado ou desligado no céu". Somos enviados com o poder real de Deus, dado pela fé. Evangelizar sabendo que Jesus é o Parceiro principal e Deus Mãe é a Força motora da nossa ação missionária. Ignorar isto é ir ao fracasso: "Quem não recolhe comigo, dispersa; sem mim nada podeis". Daí precisamos acreditar na força de Deus e do seu amor, e com eles enfrentar o mundo, ainda que crucificados. Assim aconteceu com Jesus e os Apóstolos. E nós, basta-nos apenas ser como eles: nem mais, nem menos. Esta é a lei do cristão, a regra, não a exceção: sofrer em Nome de Jesus e do Reino. "Ninguém entrará no Reino de Deus sem passar por muitas tribulações. O discípulo não é mais que o mestre. Se me perseguiram e me odiaram, vos odiarão e perseguirão também". Portanto não podemos ser cristãos e achar que o mundo será bonzinho conosco. Desconfie dos frutos de uma árvore em que não se jogam pedras: "estão bichados ou têm maribondo no pé". O cristão está no mundo para ser luz nas trevas, correndo o risco de ser apagada. Até Jesus, "a luz do mundo, veio para os seus, e os seus o rejeitaram". Mas ele não se deu por vencido: foi à luta e venceu, deu a vida por nós e ressuscitando dos mortos. Seguindo seu exemplo, "somos atribulados por todos os lados, mas não esmagados". És-te é o segredo dos justos: firmeza na fé apesar das tribulações. Sabem que Jesus escuta os clamores dos seus enviados e não os abandona nas mãos dos inimigos, apesar deles parecerem vencer. As tribulações do mundo fazem parte da pedagogia divina. Mas não terão a palavra final. Se assim fosse, ninguém resistiria. As provações são testes da fé, para saber se amamos Jesus Cristo mais do que pai, mãe e propriedades. Deus quer que lhe sejamos fiéis em toda situação, embora saiba que é difícil. Quando tudo está correndo bem, lhe juramos eterno amor, achando que nossa fé e amor a Deus são inabaláveis. Ilusão! Pois, quando vem a menor provação, nossas jutas de amor a Deus são desmentidas pelos fatos. Sabendo disto, o Senhor nos educa, pondo nossa fé à prova diante de situações difíceis. Deus não precisa dessas situações para nos santificar, mas nós precisamos. É para nós que ele nos prova, "nos faz caminhar pelos áridos desertos para que se revelem os segredos do nosso coração: saber se amamos o Senhor e cremos nele e cumprimos seus mandamentos como dizemos. Provando-nos o Senhor nos trata como filhos inconstantes". Embora não entendamos logo as duras provas, logo veremos que foram boas pelos resultados produzidos. Pouco a pouco nossa fé e amor a Deus vão-se fortalecendo. E, por mais terríveis que sejam os sofrimentos, não conseguirão nos abalar. "Quem nos separará do amor de Cristo? As tribulações? As angústias? Perseguição? A fome? A nudez? O perigo? Realmente está escrito: 'Por amor de ti somos entregues à morte o dia inteiro, tratados como gado destinado ao matadouro'. Mas em todas essas coisas somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou. Pois estou persuadido que nem a morte nem a vida, nem os anjos e principados, nem o presente e o futuro ou qualquer outra criatura nos apartará do amor que Deus nos testemunha no Cristo Jesus". Quando entendermos isto, as provações não nos maltratarão tanto, mas serão motivo de alegria e louvor. "Considerai que é grande a alegria, meus irmãos, quando passais por provações, sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência. Mas é preciso que a paciência efetue sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma. O mundo não nos rejeita porque somos maus, mas pela qualidade da mensagem e da vida que anunciamos. Os bons podem ser rejeitados exatamente porque são bons. Jesus foi rejeitado porque é a luz do mundo, e "os homens preferiram as trevas à luz, porque suas obras eram más". Quando as provações são grandes, podemos nos exasperar, perder controle e sair do sério, dando vez ao inimigo. Mas, Jesus nos quer vitoriosos das provações. Por isso, testa nossa resistência submetendo-nos a provações. "Os inimigos como enxame de abelhas me atacavam, como fogo de espinhos me queimavam, mas em nome do Senhor os derrotei". Nossos inimigos os mesmos de Deus e estão primeiramente dentro de nós: medo, ódio, vingança, inveja. Pedir a Jesus que derrote nossos inimigos é pedir-lhe derrote primeiro nossos inimigos interiores. Um coração mentiroso, idólatra, falso não agrada Jesus, mas atrai sua ira como sobre inimigos exteriores. O Senhor derrotará nossos inimigos quando seu Espírito invadir nossos corações e os purificar, mediante a fé. Se confiamos na honestidade de Jesus, sempre seremos vitorioso. Por isso não precisamos temer os inimigos: Jesus é mais forte que eles e a vitória é certa. "Aquele que ficar fiel até o fim, será salvo". Eis a essência da vocação cristã: o humilhado é exaltado; o amargo é doce; quem perde, ganha; quem morre, vive. "O Espírito transportou-me e levou-me. Coisa terrível é cair na mão do Deus poderoso. Ia eu com o coração repleto de amargura e furor, desde que a mão de Javé sobre mim havia pesado. Foi-me dado um espinho na carne – um anjo de Satanás para me espancar – a fim de que eu não me encha de soberba. A esse respeito três vezes pedi a Jesus que o afastasse de mim. Mas ele respondeu-me: Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que a força manifesta todo seu poder. Eis porque sinto alegria nas fraquezas, afrontas, necessidades, angústias, perseguições por causa de Cristo. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte". É o estonteante paradoxo da fé, o jeito de viver segundo a lógica de Deus, que se choca com a lógica do mundo. A lógica de Deus é a do amor que salva e recria tudo que o mundo considera morto; que eleva quem está caído. O mundo não quer saber disto. Por isso, a pedagogia das provações são providência divina para desafiar e desmoralizar os insensatos que duvidam da fé do justo. Satanás desafiou Javé a pôr em cheque a fé de Jó. Ele topou e Satanás foi perdedor. "Reconheço que podes tudo e nenhum dos teus desígnios fica frustrado. Conhecia-te só de ouvido, mas agora viram-te meus olhos". Os justos são perseguidos porque desafiam os ímpios e provam que Deus tem todo poder no céu e na terra. A paciência do justo é um testemunho da soberania do Senhor sobre todos os poderes do céu e da terra. O poder de Deus sobre o inimigo maior, a morte, foi manifestado na ressurreição de Jesus. Deus-Pai o fez "assentar-se à sua Direita nos céus, muito acima de qualquer principado, autoridade, poder e soberania e de todo nome que se pode nomear não só neste século, mas no vindouro. Pôs tudo sob seus pés, e o pôs, acima de tudo, como Cabeça da Igreja, que é seu Corpo: a plenitude daquele tudo plenifica". Ninguém sofreu mais que Jesus. Ninguém teve maior vitória em Deus que ele. Prova que os que confiam no Senhor jamais serão confundidos; que o poder de Deus é maior que aqueles que machucam o justo. Para desespero deles. Os que vivem pela fé pouco a pouco vão ficando destemidos e em paz, o oposto do medo. Medo que tira a paz. A paciência em Deus gera coragem, mansidão corajosa, resiliência. Quem vive na paz de Deus não perturba-se com os que o querem desviar do Deus da sua fé. "Ri-se deles O-que-mora-lá-nos-céus". A paciência é dom de Deus. Paciência não quer dizer passividade, que deixa tudo correr livre, não tomar posição. Paciência em Deus é virtude ativa, resiliência, tolerância com a fraqueza humana com luta para mudar as coisas sem forçar nada. Passividade e omissão não é virtude, é grave erro. É preferível errar comprometendo-se que nunca errar porque jamais arriscou nada, como fazem os fariseus, que são 'perfeitos' porque não criam caso com ninguém, não se comprometem, nunca deslizam. Sua perfeição é imagem e semelhança de seu narcisismo prepotente. Ora o paciente é, antes de tudo, humilde e confia em Deus, que dirige a história e seus acontecimentos para um destino feliz. Se os acontecimentos isolam o justo e a solidão bate à sua porta, ele se lembra que não está só, Deus está provando sua fé, com vistas a purificá-la e aumentar sua confiança nele e evitar o desespero. O orgulhoso pauta sua vida, busca afirmar-se segundo o mundo. Mas, o humilde pauta a vida por Deus e procura firmar-se e afirmar-se nele, na Rocha que resistirá os abalos do mundo. Quem se pauta pelo mundo, busca satisfação no mundo. Quem pauta sua vida por Deus e se deixa guiar por seu Espírito. Nada no mundo importa mais que Deus. "Se vos tenho comigo, que desejo mais na vida"? Tudo quanto buscamos no mundo e ele nos nega, não nos pode dar, o encontramos em Deus de maneira superior. Dá-nos sua própria vida, seu amor, sua liberdade. Isto, o mundo não nos pode dar. Não quer dizer que quem se refugia no Senhor esteja livre de tribulações. Até Jesus foi vítima delas. Às vésperas de sua morte, ele disse aos discípulos que os ataques do mundo. "Disse-vos estas palavras para que, quando elas acontecerem, vos lembreis que vo-las disse". Apesar de fazerem parte da vida da fé, as tribulações não são sinal de fracasso, pois seremos vitoriosos em Jesus Cristo. O mundo procura desmoralizar os que vivem da fé. Mas eles se firmam em Deus, fortalecem a fé para não serem abatidos pelos golpes covardes dos ímpios, como ensina Jesus: "Não resistas ao mal. Se alguém te citar em juízo para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém obrigar-te a andar mil passos, anda dois mil com ele. E a paz de Deus, que excede todo entendimento, guardará vossos pensamentos e corações em Cristo. Não se perturbe o vosso coração. Não vos deixarei órfãos; voltarei e estarei convosco todos os dias até o fim". Quer dizer: as pessoas de fé não podem esperar unanimidade no mundo. As perseguições são regra na vida de fé. Para não fugirmos da raia, precisamos confiar em Jesus Cristo, que passou por tribulações piores que nós. "Sereis perseguidos por causa do meu nome; quem for fiel até o fim será salvo". Importa guardar a fé e estar à disposição de Jesus, para segui-lo onde o Espírito nos levar. Na caminhada da fé, todos os acontecimentos são lições de vida. Precisamos aprender o alfabeto da fé, para sabermos decifrar a linguagem divina codificada em sinais interiores e exteriores, existenciais, sociais, políticos, históricos, científicos, sinais mais que cronológicos, sinais dos tempos novos, sinais humano-divinos, teândricos, 'kairológicos', símbolos do Novo Céu e da Nova Terra.