PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA; A OPORTUNIDADE DE QUALIFICAÇÃO DO TRABALHADOR DO CAMPO
Ricardo Palaro

Resumo:
Pretende-se com esse artigo evidenciar a importância da permanência do agricultor no campo. Para que isso aconteça é necessário que haja estímulos, parcerias, incentivos e oportunidades para que o trabalhador do campo se especialize, aprimore suas técnicas de trabalho, para que assim possa acompanhar o mercado e atender as necessidades e a demanda dos produtos que serão cultivados em suas terras.
Palavras-chave: pedagogia da alternância, oportunidade, qualificação, trabalhador do campo.

Introdução
A pedagogia de alternância é uma alternativa que surgiu para a educação no campo, mais especificamente nas Casas Familiares Rurais, com o objetivo de promover uma educação, formação e profissionalização eficaz e concreta mais apropriada à realidade do campo.
Tendo em vista que a tendência atual é de que os jovens se desloquem para as grandes cidades em busca de novas alternativas de sobrevivência diferente das quais se encontram seus pais, a Pedagogia de Alternância busca incentivar a permanência do jovem na sua própria região, criando alternativas de trabalho e renda, numa perspectiva da Economia Solidária.
Alguns princípios que norteiam a pedagogia de alternância são: promoção do desenvolvimento local sustentável e solidário; pedagogia de cooperação; valorização da cultura e dos calores do campo; promoção da cidadania; economia solidária; formação integral do jovem social, profissional e pessoal.
A proposta é desenvolver um processo de ensino-aprendizagem contínuo em que o aluno percorre o trajeto propriedade - escola - propriedade, uma semana em cada lugar, da seguinte forma: primeiramente na sua propriedade ele observa pesquisa e descreve a realidade sócio-profissional em que se encontra, depois vai à Casa Familiar Rural onde socializa a idéia, reflete, sistematiza e conceitua estes conteúdos e por fim volta a propriedade com os conteúdos trabalhados de forma que possa explicar, experimentar e transformar a sua realidade para melhor, utilizando os conhecimentos adquiridos e as novas técnicas desenvolvidas.

A educação no campo
De uma forma geral, olhando para a sociedade politicamente constituída, percebemos um enfoque da educação para a qualificação de trabalhadores para os mais variados segmentos da sociedade, principalmente para o trabalhador urbano. O que não é comum vermos é uma especificação para a qualificação para o trabalhador do campo. Entender como isso vem sendo fundamentado é algo difícil de ser entendido, pois, olhando para o Brasil vemos uma grande parcela da população habitando a área rural e pouco tem se investido nessa área.
Isso fica mais claro quando observamos os conceitos de rural e urbano. Segundo Veiga (2002 apud FONSECA, 2008, p. 68) esse entendimento no Brasil é atrapalhado por uma regra muito peculiar, que é única no mundo. Pois, considera-se urbana toda sede de município (cidade) e distrito, sejam quais forem as características. A importância de se rever esse parâmetro esta em entender qual o percentual da população brasileira está no meio urbano, e não mais na lógica da metodologia oficial. Muitos desses estudiosos procuraram contornar esse obstáculo pelo uso de uma outra regra. Para efeitos analíticos, não se deveriam considerar urbanos os habitantes de municípios pequenos demais, com menos de 20 mil habitantes. Por tal convenção, que vem sendo usada desde os anos 50, "seria rural a população dos 4.024 municípios que tinham menos de 20 mil habitantes em 2000, o que por si só já derrubaria o grau de urbanização do Brasil para 70 %" (VEIGA, 2002 apud FONSECA, 2008, p. 68).
A educação do campo vem sendo discutida pela Pedagogia da Alternância tendo por característica o desenvolvimento integral do jovem do meio rural. A proposta não é apenas evitar o êxodo rural, mas sim, melhorar a qualidade de vida das famílias que vivem no campo e de atividades agrícolas. O interessante é que essa proposta não é excludente, isto é, engloba também aspectos urbanos, pensando justamente na integralidade da formação do individuo que não está excluído no mundo, mas sim, inserido nele.
A necessidade de se estabelecer políticas públicas educacionais voltadas para as pessoas que residem no campo aparece como grande relevância em uma discussão acerca da agricultura familiar. Pois como falar em desenvolvimento sustentável e melhoria de qualidade de vida se não há um arcabouço teórico formado?
Segundo Bernartt (2006), é com essa preocupação que o programa da Casa Familiar Rural está desenvolvendo uma proposta pedagógica que se identifica com os anseios dos agricultores familiares, pois, a partir da Pedagogia da Alternância abre-se a possibilidade de o jovem rural seguir seus estudos, profissionalizar-se, e, ao mesmo tempo, contribuir com sua mão-de-obra, indispensável na propriedade familiar, para o pleno desenvolvimento das atividades econômicas na propriedade e da família.
Mas será que é possível elaborar uma prática pedagógica que abarque tanto os aspectos da educação, do trabalho e ainda mais do mundo da vida que o individuo se encontra? É com esse questionamento que Bernartt (2006) reflete a Pedagogia da Alternância como sendo uma proposta que contempla todos esses anseios.
Uma possível definição do conceito Pedagogia da Alternância pode ser dada por Batistela (In: BERNARTT, 2006, pg. 11), como sendo "alternância de tempos de estudo e de períodos de trabalho". Ainda segundo Bernartt (2006), essa mesma linha de pensamento pode ser encontrada em outros autores como D. Chartier, A. Duffaure, B. Crepeau, P. Mignen e G. Bourgeon.
A proposta da Pedagogia da Alternância pode contemplar todos os anseios citados acima, pois o tempo de estudo não se vê interrompido pelo tempo de trabalho, pois o período de trabalho na propriedade agrega-se ao estudo, de forma a constituir períodos sucessivos de estudo que se alternam entre a escola e o trabalho (cf. BERNARTT, 2006, pg. 11).
Na forma tradicional,
"o tempo de trabalho é visto como um momento de aplicação da teoria. Essa prática é vazia e fortemente reforçada no modelo atual de educação para o meio rural. A Pedagogia da Alternância tem uma diferente visão, com orientação nova, que encontra na relação educação e trabalho a realização de períodos sucessivos de ensino devidamente coordenados um ao outro" (cf. BERNARTT, 2006, pg. 11).
E completa Nascimento: "é necessário conceber e idealizar uma pedagogia que seja verdadeiramente a ciência de formação do trabalhador na sua dupla função de trabalhador e de homem" (NASCIMENTO, 1995, p. 28. In: BERNARTT, 2006, pg. 11)
Bernartt (2006) segue a reflexão mostrando que a Pedagogia da Alternância trabalha em sincronia com escola e o trabalho, fazendo com que o jovem continue estudando e ao mesmo tempo não se desvincule da família, auxiliando com sua mão-de-obra; além disso, a proposta proporciona outras funções no desenvolvimento do meio; "... promover o desenvolvimento tecnológico, econômico e sociocultural da família do aluno, e conseqüentemente da comunidade, proporcionando-lhe condições da fixar-se ao seu meio" (AZEVEDO, 1998, p. 117. In: BERNARTT, 2006, p. 11).
Assim podemos juntar a teoria da Pedagogia da Alternância com a sua prática, ou melhor, nas Casas Familiares Rurais (CFRs). Mas o que é afinal isso? Segundo Zamberlan,
"A Casa Família, no sentido amplo, não é só o espaço físico onde se situa a EFA, mas também o espaço familiar/comunitário, porque os dois ambientes estão interligados. Portanto, o prédio, a casa da Escola Família é uma construção que em geral respeita os padrões arquitetônicos e socioculturais da maioria dos habitantes da região onde se situa. A casa da Escola Família, além de respeitar o meio sociocultural, busca ser coerente com aquelas necessidades básicas pedagógicas que qualquer escola deve ter. Nesse sentido, quem constrói a casa da Escola Família é a comunidade local. Na maioria das vezes, com mão-de-obra própria e através de bingos, rifas, mutirões, leilões de animais e outros produtos locais, doação de materiais e também recursos financeiros repassados pela Prefeitura ou pelo Estado, paróquias e até do exterior. Faz parte do complexo da EFA, uma pequena propriedade (de 2 a 20 hectares), o tamanho depende da região que se situa. Em parte esta propriedade é a extensão de terra que a família do aluno trabalha. O pequeno pedaço de terras da EFA observa as seguintes finalidades: a) produzir alimentos para a EFA, o excesso vai para o mercado: frutas, verduras, cereais, carnes (principalmente de pequenos animais), leite, etc, para ajudar o custeio da EFA; b) enriquecer o programa curricular da pedagogia da alternância, proporcionando aos alunos alguns momentos de observação direta de aspectos bio-físicos e técnicos" (cf. Zamberlan, 1996 : 8 . in: http://www.pedagogiadaalternancia.com/2008/05/historia-da-pedagogia-da-alternancia.html ).

A proposta da Pedagogia da Alternância é sem dúvida alguma proporcionar uma formação geral que leve o jovem a expandir seu campo de conhecimento a fim de possibilitar-lhe a ultrapassagem das suas preocupações técnicas e a situarem-se no espaço e no tempo. Isto é, levar em conta a sua historia de vida. Na língua alemã encontramos o termo "Lebenswelt" (o mundo da vida). O mundo da vida experimentado pelo homem significa uma realidade rica, polivalente e complexa, que o próprio homem engendra. Análogo a isso vale ressaltar que o Lebenswelt é constituído também pela história, linguagem, cultura e valores. Falando em experiência é lacônico querermos reduzi-la apenas ao sensível e tangível do mundo físico. A isso ligamos proposta pedagógica da alternância que discute aspectos referentes à história das profissões agrícolas, através do tempo; ciências direcionadas à profissão agrícola; noções de administração e gerenciamento necessárias ao exercício de funções administrativas não só na sua propriedade como em órgãos e instituições agrícolas; Uma formação humana sólida visando à formação de um profissional da agricultura responsável e o surgimento de líderes competentes. Em outros termos, entender o seu mundo é entender-se.

Conclusão

O produtor familiar, quando recebe apoio suficiente, é capaz de produzir uma renda total, incluindo a de autoconsumo, superior ao custo de oportunidade do trabalho.
Faz-se necessário formular políticas de desenvolvimento rural integrado que contemplem os diversos aspectos de uma mesma realidade, isto é, políticas agrárias e agrícolas para o fortalecimento da agricultura familiar juntamente com políticas de geração de novas oportunidades de empregos rurais não-agrícolas.
A agricultura familiar enfrenta contradição. De um lado a viabilidade e rentabilidade através da diversificação, potencializar a produtividade, por meio da tecnificação e do outro lado o tamanho e a mão-de-obra das famílias rurais tende a diminuir.
Com isso percebemos algumas propostas de indicações para a formulação de uma estratégia para o desenvolvimento e fortalecimento da agricultura familiar, bem como a disponibilidade de recursos; incentivos; acesso aos mercados e instituições que influenciam as decisões para produzir.
Este conjunto de informações confirma que o universo dos agricultores familiares é extremamente diferenciado e que, enquanto uma parte dos estabelecimentos gera um nível de renda sustentável, outra parte enfrenta crescentes dificuldades associadas principalmente à falta de recursos, principalmente terra e capital.
Mas há alguns empecilhos que fazem com que haja uma inviabilidade da agricultura familiar. Por exemplo: severas restrições de recursos, problemas associados ao de capital de giro e de recursos para disponibilidade de investimentos. Patamar mínimo de capitalização necessário para viabilizar suas unidades de produção. A renda do agricultor familiar é insuficiente dado o baixo nível de capitalização. Existe uma incapacidade de acumulação e a agricultura familiar enfrenta ainda restrições de acesso aos mercados de serviços em geral, e não apenas ao crédito.


REFERENCIAS

BERNARTT, Maria de Lourdes; GNOATTO, Almir. PEDAGOGIA DA ALTERNANCIA; UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO NO CAMPO. In: XLIV CONGRESSO DA SOBER - Questões Agrárias, Educação no Campo e Desenvolvimento, 2006, Fortaleza. Anais XLIV Congresso da SOBER, 2006. v. Único.. Fortaleza: SOBER/BNB, 2006. v. 1. p. 091-091.

FONSECA, Aparecida Maria. Contribuições da pedagogia da alternância para o desenvolvimento sustentável: trajetórias de egressos de uma escola família agrícola. 2008. 179 f. Dissertação (Mestrado em Educação) ? Pró-reitoria de Pós graduação stricto senso em educação, Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2008.

http://www.pedagogiadaalternancia.com/2008/05/historia-da-pedagogia-da-alternancia.html acesso em: dia 09/06/2010

sobre o autor: Ricardo Palaro é graduado em filosofia pela FAE ? Curitiba. Atualmente é aluno do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) ? na UTFPR ? Campus Pato Branco ? PR. E atua como professor na rede de COLÉGIOS E CURSINHOS ÀGUIA em Pato Branco e Francisco Beltrão no Paraná.