OPERÁRIOS DA EDUCAÇÃO


Personagens

Operários: Epaminondas

                    Garrinxa

                    Washington

                   Bartolomeu

                   Alziro

Supervisora

Secretária

Rosa

Repentistas

Mulher

Vilã

Professor

Seguranças

Professor

Alunos

 

A história se passa em uma construção.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ATO I

 

REPENTE

Minhas senhoras e meus senhores

preste muita atenção

para contar essa história

todos tem que bater a mão

 

Nascido em pernambuco, nordeste brasileileiro

de agrária produção

de povo analfabeto,

de coroné de tradição

 

Paulo Freire desde muleque

já tinha os pé no chão

sabia que era só com afinidade

que se constroi a educação.

 

(Saem os cantores e entra a mulher).

 

A beleza do brasileiro vem do rosto sem máscara que chora e ri simultaneamente, que reza a deus, faz oferenda a deuses africanos, medita com os orientais, lota as assembléias de crente e pragueja contra deus; é uma máscara inconstante de indecisões, sinalizando que tudo é possível entre o sagrado e o dionisíaco.

 

 

(Sai, abre-se as cortinas e o fundo musical marca o ritmo. O rádio está ligado, narração de jogo, quando todos gritam).

 

TODOS: É campeão. (Toca-se o hino do Flamengo, Epaminondas e Washington se abraçam comemorando, pegam camisa e bandeira, enquanto Garrinxa comemora sentado por causa do pé quebrado. Abaixa-se o som e entra a supervisora).

SUPERVISORA: O que vocês pensam que estão fazendo?

EPAMINONDAS (com os dedos levantados, torce-os): To indo pegar o cimento.

GARRINXA (sentado): O martelo, cadê o martelo. (Olha pra todos os lados e pega o martelo do seu lado). Ah, aqui Achei.

WASHINGTON: A tinta, acabou a tinta.

(A supervisora bate o pé na lata de tinta).

SUPERVISORA: Olha uma lata de tinta cheia bem aqui!

WASHINGTON: Ah é... sim... ta...

SUPERVISORA: Andem ligeiro, o tempo passa e vocês estão me enrolando já faz dois meses. Não vou tolerar mais. (Sai)

(Washington imita a supervisora).

EPAMINONDAS: Quem ela pensa que é, pra falar assim. Enquanto nós labuta nesse sol quente, queimando o coco. Ela fica lá tomando refresco com ventilador ligado.

WASHINGTON: Mas rapaz, deixa ela pra lá. Você ta sabendo daquele negócio lá Nonda. Ah diacho, como é mesmo?

GARRINXA: É alfabetização moço!

WASHINGTON: Pois é, é esse negócio mesmo aí.

EPAMINONDAS: To sabendo não. Mas conta aí.

WASHINGTON: É aquele lance lá, que alfabetiza veio.

WASHINGTON: Ah, é tudo a mesma coisa, é tudo nome de criança mesmo.

GARRINXA: Ouvi dizer que foi um tal de Frei que começou essa história, aí.

EPAMINONDAS: É padre é? Xi, não gostei.

GARRINXA: Não é padre não moço. É o nome dele mesmo. Paulo Frei. Até parece que nunca ouviu falar desse home, aquele barbudo, metido a sabichão.

EPAMINONDAS: E de que buraco será que essa criatura siu, que vem com uma idéia dessas?

 

(Toca a sineta, hora do lanche. Entra Rosa).

     

ROSA: Olha o pasté quentinho.

TODOS: Tem de que?

ROSA: Carne, queijo.

WASHINGTON: Eu quero de carne.

EPAMINONDAS: Eu de queijo.

GARRINXA: Será que a dona é tão gostosa quanto os pastes?

ROSA: E eu vou dá trela pra trabalhador que nem você? Eu gosto é de homem, e que faz poesias. Poesias de amor (suspira).

EPAMINONDAS: Ce fala isso agora, porque nois não sabe direito, mas espera, daqui algum tempo. Tu vai ver um caderno, cheinho de poesia.

ROSA: Hum! Hum! To pagando pra ver. Bem, mas deixa eu ir que o dia ainda não acabou e eu ainda tenho pastel pra vender. (Sai)

(Os outros voltam ao trabalho e depois toca o sinal encerrando o dia. Todos se despedem e saem. Wshington pedindo a Epaminondas dinheiro emprestado par tomar uma purinha).

 

ATO II

 

CENA I

 

(Toca o sinal e todos retornam, conversando sobre alfabetização).

GARRINXA: Ô Nonda, cê lembra daquele negócio que a gente tava falando ontem? Não é que perto lá de casa ta tendo essa tal de alfabetização! Falei até com a professora, que me convenceu a participar.

EPAMINONDAS: E aí Rinxa é bom mesmo? Fala logo, quem sabe eu também não participo pra aprender a escrever poesia pra Rosa.

GARRINXA: Nem te conto quem topei lá.

WASHINGTON: Quem Rinxa?

GARRINXA: A Rosa. Tava lá, escrevendo que tava danada. Depois do serviço eu dei uma passadinha lá. Que coisa de louco. O povo fica tudo rindo e eles não sentavam em fila não. Era tudo espaiado e a professora mais parecia aluno, porque brincava com todo mundo, chamava todo mundo pra participar.

EPAMINONDAS: E será que aprende alguma coisa desse jeito?

GARRINXA: O povo se diverte e parece que aprende. Eu gostei, que hoje vou ter minha primeira aula.

EPAMINONDAS: Eu vou também dá uma olhada. Quem sabe né?

WASHINGTON: Opa, to dentro. Também vou com vocês.

EPAMINONDAS: E aquele cara, que inventou isso daí deve de ser um santo.

WASHINGTON: É mesmo, um cara que pensou nos velhos e pobres só pode ser um santo.

GARRINXA: Eh, home danado!

 

CENA II

 

(Entra supervisora com 2 operários)

 

SUPERVISORA: Como a construção está meio enrolada, eu trouxe mais dois ajudantes para ver se terminam logo com isso, pois vocês já gastaram meu tempo e meu dinheiro. (Sai)

ALZIRO: E aí, Washington, você por aqui? Como foi o baba na semana passada?

WASHINGTON: Foi bom não Alziro, compraram o juiz e a gente ficou no prejuízo. E você, o que faz aqui?

ALZIRO: É, tava meio parado. Um bico ali, outro li. Me chamaram pro serviço.

EPAMINONDAS: E aquele outro li, quem é? Todo sisudo, estranho não é?

ALZIRO: É o Bartolomeu, liga não. O jeito dele é esse mesmo, fechado, carrancudo. Fiquei sabendo de um tal de aulas que esta tendo perto do seu bairro. Como é que funciona isso?

GARRINXA: A gente tava falando disso agorinha mesmo. Eu só fui lá uma vez só, mas já deu pra ver que o negócio parece ser sério. É bem diferente.

WASHINGTON: É um método de um tal de Frei.

EPAMINONDAS: É padre é?

WASHINGTON: Não moço. Será que você não escutou o Garrinxa falando que não Nonda. Ele é filho de seu Joaquim e D. Edeltrudes Frei.

BARTOLOMEU: Não é Frei, é Paulo Freire.

EPAMINONDAS: Frei ou Freire, não interessa. O que importa é que o negócio parece ser bom.

ALZIRO: Vem cá, você conhece ele?

BARTOLOMEU: É já ouvi falar.

EPAMINONDAS: E o que foi que você ouviu?

BRTOLOMEU: Que ele fala umas palhaçadas sobre a realidade do povo, que o homem muda a realidade. Essa prosa toda que a gente não entende e trabalhador não precisa.

 

(Toca o sinal. Hora do almoço. Eles comem suas comidas, depois vão descansar um pouco conversando, contando piadas. Entra a supervisora)

 

SUPERVISORA: O que significa isso? Eu pago vocês pra ficarem dormindo?

WASHINGTON: Mas dona a gente precisa descansar o almoço.

BARTOLOMEU: É melhor obedecer a patroa. A gente precisa terminar logo o serviço.

SUPERVISORA: Levantem logo, agilizem. A minha chefe quer essa obra pronta até o final do mês. (Sai)

EPAMINONDAS: Pô cara, a gente dá duro o dia todo e ainda tem que agüentar dondoca que não entende nada e vem aqui dá um de rainha?

WASHINGTON: É, ela pensa o quê. Que é fácil fazer massa com o cimento? Ela não tem as mão calejada que nem a nossa não! Enquanto a gente se enche de calo, ela enche a garagem de carro.

EPAMINONDAS: Eu juro pra vocês, eu vou aprender a ler e escrever, e nunca mais, nunca mais vou ser humilhado, enxotado por essa gente.

 

(Toca a música Construção – Chico Buarque. Todos estão trabalhando. Abaixa-se a música, toca o sinal, todos saem).

 

 

 

 

CENA III

 

(Entra vilã, secretária e Bartolomeu).

 

VILÃ: O que está acontecendo no serviço? Eu no agüento mais a supervisora reclamando. Eu pago vocês para trabalharem.

BARTOLOMEU: A senhora sabe como é. É trabalho pesado. Cimento, carregar bloco, levantar parede.

VILÃ: Não interessa, eu tenho negócios e prazos a cumprir. Eu escutei uns boatos de que eles estão tomando aulas nas associações dos bairros em que moram.

BARTOLOMEU: É verdade. Eles falam muito disso no serviço. É alfabetização. Eles dizem que é pra melhorar na leitura e na escrita.

VILÃ: Só isso?

BRTOLOMEU: Depois, pelo que percebi, eles começaram a reclamar da supervisora, que ela é muito mandona. A senhora sabe bronca de empregado que não gosta que pegue no pé. Eles falam muito de Paulo Freire.

VILÃ: Paulo Freire, o criador da Pedagogia do Oprimido.

BARTOLOMEU: O que devo fazer?

VILÃ: Você continuará o serviço e ganhará um extra por isso. Mas nada de levantar suspeitas.

BARTOLOMEU: Depois do que falaram hoje...

VILÃ: E o que eles falaram?

BARTOLOMEU: Bem que, não agüentavam mais a situação, de serem reprimidos. Baboseira de trabalhador.

VILÃ: Agora vá e continue seu serviço.

(Bartolomeu sai).

VILÃ: Fique de olho na supervisora, e dê-lhe uma advertência. Droga, operários meus falando de Paulo Freire. Maldito! (Joga a pasta d secretária no chão e a secretária fica assustada).

SECRETÀRIA: o que vai fazer agora?

VILÃ: Preciso descansar. Esse assunto me deu dor de cabeça. (Saem)

REPENTE

 

O Freire conheceu a Elza

foi ensinando os pobres

e ficou muito impressionado

com aquele jeito nobre

 

Freire casou com a Elza

e uma família iniciou

criou a pedagogia do oprimido

que pro povo ficou

 

Ele estudou foi Marx,

Hegel, fenômeno e existência

fez o homem se voltar pra ele

e encontrar a consciência.

 

Desde o engenho de açúcar

arté a era atual

o homem é oprimido

no método tradicional

 

Paulo diz que o Brasil

vive exatamente na estrada

de uma sociedade fechada

pra outra transformada

 

Acredita numa pedagogia que ver

o homem como ser inacabado

na construção de sua história

reformando o seu passado.

 

 

ATO III

 

CENA I

 

(Entram os operários)

 

WASHINGTON: gente que aula diferente foi aquela, hein? Tão gostosa. E a professora puxando a gente pra conversar.

GARRINXA: Você não tinha outro papo além de purinha, jurubeba. Só falava de cachaça. Mas, e as brincadeiras então. Eu me senti criança fazendo aquilo tudo.

EPAMINONDAS: Eu tava pensando no que a professora falou ontem. Sobre a nossa realidade, o nosso trabalho, nossa vida. Olha só  gente constrói casas, faz alicerce e não se dá conta do proveito que se pode tirar.

BARTOLOMEU: Ei, será que dá pra vocês falarem menos e trabalharem mais? É por isso que a obra não termina nunca.

EPMINONDAS (partindo pra briga): Olha aqui... (Alziro encosta)

ALZIRO: Deixa ele pra lá. E continuando nosso assunto, até que você tem razão. A gente mexe com tanta coisa e não se deu conta. Quer ver, um bloco tem forma de retângulo. A palavra ti – jo – lo, que podemos formar outras palavras. O ti...

WASHINGTON: T lembra temperada.

EPAMINONDAS: Telha.

ALZIRO: O to...

WASHINGTON: J, jurubeba.

ALZIRO: João, junho. O Lo...

WASHIGNTON: L, lua. É lua bonita.

GARRINXA: O melhor foi quando nóis flou da vida dura que leva, nossos sonhos e que queria mudar. Olha só eu aqui, trabalhando com a perna desse jeito. O médico no posto falou que eu precisava de repouso. Mas como repousa se não trabalho, não tem dinheiro pra botar comida em casa e ainda sou posto no olho da rua.

WASHINGTON: Sem contar desse material vagabundo que lês dão e falam que é pra nossa segurança.

EPAMINONDAS: Exatamente Rinxa, que nem a professora falou ontem, isso é abuso de poder, é exploração do trabalhador.

ALZIRO: Como é mesmo... Ah, a gente tem que descobrir a realidade por nós mesmos.

EPAMINONDAS: Dá nossa própria opinião.

GARRINXA: Deixa a supervisora chegar aqui que eu vou falar que quero os meus direitos.

WASHINGTON: gente, e a Rosa quando nos viu.

EPAMINONDAS: Ficou morrendo de vergonha, e se vermelhou toda, parecendo um pimentão.

GARRINXA: E ainda teve audácia de dizer que não namora analfabeto. Que ironia. (Todos riem, menos o espião).

BARTOLOMEU: Que é gente. Nós tamo trabalhando e ainda ficam aí resmungando. Pior seria se não tivessem nada.

EPMINONDAS: Se você gosta da vida que leva, é problema seu. Porque eu to cansado, não agüento mais ser tratado como bicho. Eu tenho nome e quero ser chamado por ele.

 

(Silêncio, todos trabalham quietos. Entra a supervisora).

 

SUPERVISORA: Que bom todos trabalhando. Ótimo, assim quem sabe esta obra sai.

EPAMINONDAS: Olha aqui dona, se a senhora parar com esta implicância quem sabe a gente termina. Porque não somos bichos pra ser vigiado e nem mandado não.

SUPERVISORA: Empregado abusado. Quem pensa que é?

EPAMINONDAS: Epaminondas da Silva. E é assim que quero ser chamado. Tanto eu como meus companheiros. (os outros concordam)

SUPERVISORA: Olha aqui, todos vocês terão o que merecem. Onde já se viu, empregado impor alguma coisa. Isto não fica assim. (Sai)

BARTOLOMEU: Eu avisei. Trabalhem, não quiseram me escutar.

WASHINGTON: Será que Paulo Freire também encontrou gente desse tipo? E voltando ao trabalho, a gente ta precisando de material.

ALZIRO: O que ta faltando?

WASHINGTON: Falta cimento, areia...

GARRINXA: Eu preciso de prego.

ALZIRO: Então bora pegar no depósito. (Saem e Garrinxa puxando da perna).

BARTOLOMEU (no telefone): Senhora precisamos conversar. Hoje à noite, às 9:00 h, no local de sempre. Ta ok!

 

(Os operários voltam quase no final do expediente, quando toca o sinal e todos vão embora).

 

 

CENA III

 

(Entram vilã, secretária e Bartolomeu).

 

VILÃ: O que foi que aconteceu dessa vez. Espero que vala a pena o que me dirá.

BARTOLOMEU: É que o pessoal ta ficando mais rebelde. Tão gora com uma conversa de que tem um nome e querem ser chamados por ele. Querem ser respeitados. Enfim, querem tudo menos trabalhar.

VILÃ: Está na hora de tomar algumas providências.

BARTOLOMEU: E o que a senhora vai fazer?

VILÃ: Além de fofoqueiro, é curioso. Respondendo a sua pergunta, isso é problema meu.

BARTOLOMEU: Ah! É um tal de Epaminondas é que é o mais revoltado, fica implicando com a supervisora, exigindo isso e aquilo.

VILÃ: Hum! Quer dizer que no serviço temos um líder. Pode deixar esse problema eu também resolvo. Está liberado, pode ir.

BARTOLOMEU: E o extra que a senhora me prometeu?

VILÃ: No momento exato você receberá a recompensa.

(Bartolomeu sai e a vilã fala para secretária).

VILÃ: Ponha na rua aquela incompetente da supervisora. Depois levante toda ficha desse Epaminondas e me dê o celular rápido. (A secretária entrega o celular. A vilã disca e espera). Alô! Jurandi? Preciso dos seus serviços. Quero uma equipe de seguranças na minha obra amanhã cedo. Pra que? Nada importante. Só para evitar que alguns engraçadinhos saiam do eixo. Então está tudo certo. (Desliga). Agora veremos quem manda aqui. (Sai)

 

CENA III

 

(Os operários chegam na construção e se assustam com a presença do segurança).

 

WASHINGTON: Será que a gente veio pra obra errada?

GARRINXA: Sei lá. É melhor perguntar.

(Encostam em um dos seguranças e Washington pergunta).

WASHINGTON: Vocês são pedreiro também?

(O segurança não responde).

ALZIRO: O gato comeu sua língua moço?

SEGURANÇA: Deixa de ser abusado e vai logo trabalhar.

(Pegam as ferramentas e comentam entre si).

GARRINXA: Eles vão ficar o dia todo parecendo estátua vigiando a gente?

ALZIRO: Pelo jeito, sim!

EPAMINONDAS: Eu não to gostando disso.

(Alziro e Washington enquanto trabalham, assobiam e um dos seguranças encosta e ordena que façam silêncio. Bartolomeu ri. Toca o sinal. É hora do lanche. Rosa chega com seus pastéis e fica se mostrando para os seguranças).

ROSA: Ajudante bonito esse que vocês arrumaram, hein? Mas é tudo frouxo, nem pro lado olha. E a aula ontem como é que foi? Eu não pude ir. Morreu a véia Antunizia e tive que ir pro enterro. Era muito querida por todos.

(Os operários se olham e não falam nada).

ROSA: Gente responde! Ninguém vai falar comigo não?

(O segurança pede para Rosa sair da obra e fala aos outros)

SEGURANÇA: Terminou o recreio. Peguem seus materiais e voltem ao trabalho.

(Rosa se assusta, mas sai sem falar nada).

BARTOLOMEU: Mas eu ainda nem terminei.

SEGURANÇA: A regra é pra todos. Volte logo ao trabalho. Anda.

(Todos retornam ao trabalho chateados com a situação. Alguns minutos depois toca o sinal, final do expediente e todos saem de cena).

 

 

 

CENA IV

 

(Entra a vilã, secretária e os seguranças).

 

VILÃ: A situação não está nada boa. E por causa disso, a partir de amanhã eu quero todas associações, escolas, entidades, tudo que não trabalha com as normas do governo fechadas. Os que resistirem, prenda. E se resistirem à prisão, mate-os. Alguma pergunta?

TODOS: Não senhora! (Saem)

SECRETÁRIA: Seu jornal senhora.

(Ela pega o jornal, abre e vê a foto de sua tia, que dá uma entrevista falando sobre Paulo Freire).

VILÃ: Droga! Até na família eu tenho opositores? (Fala pra secretária). Chame o chefe da segurança agora.

(A secretária sai e volta com o segurança).

SEGURANÇA: Mandou me chamar?

VILÃ: Está vendo essa mulher na foto? Eu quero que suma com ela sem deixar vestígios. Se estiver acompanhada, faça o mesmo com os que estiverem com ela.

(O segurança olha para a vilã que lhe diz).

VILÃ: O que está esperando? Vá logo! Não se esqueça de esconder bem os corpos.

(O segurança pede licença e sai).

(A secretária fica branca, azul, verde...)

VILÃ: Você está sentindo alguma coisa? Você está bem?

SECRETÀRIA: Hum! Hum! Claro.

VILÃ: Não precisa se preocupar, isso só acontece com quem se opõe a mim. Eu não sou tão má assim. (Saem).

 

CENA V

 

(Entram Washington, Garrinxa e Epaminondas).

 

WASHINGTON: Cadê os homen?

GARRINXA: Ué, será que foram dispensados?

(Alziro chega ofegante).

ALZIRO: Vocês souberam do que está acontecendo na cidade?

TODOS: Não. O quê?

ALZIRO: Fecharam todas as escolas que não eram do governo, associações, inclusive a do nosso bairro.

EPAMINONDAS: O quê?

GARRINXA (desanimado): E agora, como vou escrever as poesias da Rosa sem estudar?

ALZIRO: A professora também foi presa.

EPAMINONDAS: Vamos fazer alguma coisa. Isso não pode continuar. Lembram do que a professora falou, da nossa liberdade de expressão, de fazer nossa própria história?

WASHINGTON: Sim, mas fazê o quê?

EPAMINONDAS: Sei lá, qualquer coisa. Vamos pras ruas, chamar o povo. Só não podemos deixar isso assim.

(Bartolomeu entra no final da conversa. Todos se levantam para sair).

BARTOLOMEU: Pra onde vocês vão?

ALZIRO: Vamos lutar pelos nossos direitos. (Saem os quatro).

BARTOLOMEU: Ei, precisamos terminar o serviço. (Sai para avisar a vilã).

 

 

 

 

 

 

 

CENA VI

 

(Entram vilã, Bartolomeu e segurança).

 

BARTOLOMEU: Os trabalhadores já começaram a revolução. Todos estão na rua.

VILÃ: Malditos! O que esse povo quer? Dou pão para matar a fome. Arrumo emprego e ainda acham ruim. Tem escola que eu abri e procuram outras? Será que isso é pouco?

BARTOLOMEU: Eu não sei o que pensam. Mas senhora, e a recompensa que me prometera? O meu aluguel ta atrasado e um dos meus meninos ta doente.

VILÃ: Você me foi muito útil, e seu serviço esplêndido. Porém, pessoas que nem você não podem continuar... hum, soltas por aí. Então, esse é o seu pagamento. (O segurança aponta a arma para Bartolomeu, que leva um tiro e cai morto no chão).

VILÃ (para o segurança): Limpe a sujeira. (Saem)

 

 

 

 

REPENTE

 

Paulo Freire querido pelo povo

era pelo estado vigiado

sem mais esperar

pelo governo para longe foi mandado

 

Seu método foi implantado

e pela ditadura modificado

porém, todo o planeta viu

a pedagogia que surgiu

 

Foi na América, na Europa

na áfrica, na Ásia que se via

uma pedagogia nova

que a nóis libertaria.

 

Nem a política kenesiana

que o capitalismo criou

acabou com a miséria

e nem a sociedade transformou

 

Guerra, racismo, preconceito

fanatismo, fome, sofisticação

o estado ainda continua

sendo o comandante da nação

 

A educação é fundamento

pensamento pra libertação

ele envolve tanto afetividade

quanto busca da pacificação.ulo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ATO IV

 

CENA ÚNICA

 

(Os operários aparecem com as faixas na mão: ABAIXO A OPRESSÃO E VIVA A LIBERDADE! Entram em confronto com os seguranças. No meio da confusão ouve-se tiros, todos se assustam e alguns tentam fugir. Até que um dos tiras acerta Epaminondas, que cai morto no chão. Os outros são perseguidos pela polícia e saem. Retornam os três amigos de Epaminondas).

GARRINXA: Nonda morreu, Nonda morreu! (Chora junto do amigo com os outros. Fecham as cortinas).

 

REPENTE

 

A OPRESSÃO MILITARISTA

O EXÍLIO DA NAÇÃO

NÃO RETIROU AS IDÉIAS

DAQUELE BOM CIDADÃO

 

OS ANOS 90 CHEGA

E COM ELE A GLOBALIZAÇÃO

FAZ RESSURGIR A IDÉIA

DAQUELE QUE EDUCAVA PARA A LIBERTAÇÃO

 

MORREU EM ABRIL DE 97

UM LIBERTÁRIO BRASILEIRO

NÃO FEZ MORRER COM EL AS IDÉIAS

DE UM FUTURO VERDADEIRO.

 

(Abrem-se as cortinas novamente,com o fundo musical CIDADÃO. Está montada uma  sala de aula, com o professor ensinando os alunos a ler e escrever no método Paulo Freire. Abaixa-se o som e fecha-se as cortinas. Entra mulher).

 

Na busca de liberdade muitas lutas foram travadas; o descontentamento, com a falta de respeito, a desvalorização para com o ser humano; a liberdade de expressão, algumas vezes negadas. O sistema por muito repeliu, sufocou e calou as vozes daqueles que encontraram a consciência, e foram a luta levando a toda uma população, uma educação do despertar, do conhecer, do descobrir para libertar. A luta continua, o sistema impondo ainda suas regras, porém menos violento. E o povo com uma educação de libertação da mente na conquista de um dia após o outro.

 

 

JANA LEMOS