PAULO FREIRE: REFERENCIAL EDUCACIONAL E POLÍTICO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

 

Natalice Beltrão Bacelar

Quando se fala em Educação de Jovens e Adultos, logo nos reportamos a Paulo Freire que foi e ainda é referência, um dos maiores pedagogos e pode-se dizer o mais importantes do Brasil, é conhecido mundialmente e também um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT).  Paulo Freire representa simbolicamente uma nova perspectiva pedagógica. Que tem como ideal o homem como sujeito de sua própria história, ou seja, o homem oprimido que aceita tudo o que a sociedade lhe apresenta e absorve de maneira passiva, já não cabe em uma sociedade que necessita de mudanças que tem suas prioridades e necessidades mais urgentes e para que essa realidade mude é preciso conhecê-la primeiramente saber onde necessita de mudanças e tomar um posicionamento para que essa mudança ocorra daí Paulo Freire denomina que o homem deve ter ação política, deve ser crítico, pois é ele que tem o poder de mudar o que não lhe convém o que está lhe fazendo mal e mal para a sociedade. A ideia é de que o processo educativo interfira na estrutura social que é o responsável na produção do analfabetismo, através da educação de base, a partir de um exame crítico da realidade onde o educando está inserido. Na percepção de Paulo Freire, alfabetização e educação confundem-se, pois alfabetização é o domínio de técnicas para escrever e ler conscientemente onde vai resultar em uma postura atuante do homem sobre o contexto em que está inserido. Essa ideia de Paulo Freire foi expandida no país e assim ficou conhecido nacionalmente por seu trabalho com a educação popular, especificamente com a educação de jovens e adultos.  Quinze anos depois de voltar ao Brasil por conta do exílio que sofreu, encontrava-se em condições de oferecer uma alternativa política, daí esteve à frente da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo onde assumi o cargo em 1989 e o deixa em 1991, assume o cargo em parceria com outras pessoas e pela primeira vez teria acesso a experiência pública, pois, sempre esteve a frente de uma educação não vinculada ao governo o que Freire denominou de Educação Popular onde o mesmo diz que ela é melhor percebida do que educação de adultos, pois essa educação vai se modificando na medida  em que a realidade começa a fazer algumas exigências à sensibilidade e à competência científica dos educadores e educadoras. Uma dessas competências refere-se à criticídade dos educadores e educadoras no que diz respeito ao cotidiano da população o que nos aponta Freire (2003, p.15) “não é possível a educadoras e educadores pensar apenas os procedimentos didáticos e os conteúdos a serem ensinados aos grupos populares”. Em suma é preciso que os conteúdos e métodos estejam vinculados ao contexto cotidiano do educando.  Lembrando que em 1963, o governo encarregou Paulo Freire para organizar e desenvolver um Programa de Alfabetização de Adultos, mas com o golpe militar em 1964 deu-se uma ruptura nesse trabalho de alfabetização, pois a conscientização proposta passou a ser vista como uma ameaça a ordem instalada, devido aos questionamentos que surgiam e claro qual o governo que se habilita a querer que a massa populacional o questione ou conheça os seus verdadeiros direitos.  

         A Educação Popular legou a sociedade uma leitura positiva a respeito das experiências populares e de um relacionamento dialogado entre professor e aluno onde ambos devem estar em uma mesma linha horizontal, onde um aprende com o outro e não é a idade que faz com que o educando não seja transmissor de cultura sendo a sala de aula mais um instrumento que possibilita o jovem-adulto sistematizar seus conhecimentos partindo de sua vivencia.

                                         Partir dos saberes, conhecimentos, interrogações e significados que aprenderam em suas trajetórias de vida será um ponto de partida para uma pedagogia que se paute pelo diálogo entre os saberes escolares e os saberes sociais. Esse diálogo exigirá um trato sistemático desses saberes e significados, alargando-os e propiciando o acesso aos saberes, conhecimentos, significados e a cultura acumulados pela sociedade (ARROYO, 2005, p. 35 )

A Educação de Jovens e Adultos sempre induziu a política. Nos níveis educacionais foi o campo mais politizado. Na história da EJA as vivencias dos jovens e adultos se dá na base da sociedade onde esses jovens e adultos começam os seus questionamento do porque da miséria, da fome, da dor, da morte, da luta pela terra, da identidade e pela sua cultura enfim pela dignidade onde as condições não proporcionam muitas alternativas para escolher o caminho mais digno a seguir, pois, não existem escolhas. O reflexo se dá na escola.

 Quando eles e elas chegam de volta à escola carregam essas radicais questões acumuladas e condensadas em suas trajetórias. A radicalidade política da EJA vem de dentro, carregada pelos próprios jovens e adultos populares. Não trajetórias lineares, fáceis, de superfície, sem significados políticos. Ao contrário, são trajetórias que, desde criança, os interrogam e interrogam a educação sobre os significados políticos da miséria, da fome, da dor, da morte, da luta pela terra, pela identidade e pela sua cultura, pela vida e dignidade. Trajetórias de idas e voltas, de caídas e recaídas. De escolhas sem horizontes e luminosidades para escolher. Sem alternativas de escolha. (ARROYO, 2005, p.41.)

            Segundo Paulo Freire a EJA está longe de se tornar despolitizada, pois às interrogações dos jovens e adultos ainda encontra-se com seus questionamentos não respondidos politicamente. Manter essas interrogações na EJA pode ser uma proposta de reconfiguração enfatiza Arroyo (2005, p.42)

Uma proposta em uma reconfiguração de um campo educativo que tem uma história tão tensa quanto densa, mas que exige ser reconhecido como um campo específico de responsabilidades públicas.

Na segunda metade dos anos 90, foram elaborados vários programas em diferentes níveis de governo sendo que a preocupação era com o grande índice de desemprego e violência entre os jovens.  Uma cultura que se propaga no campo das políticas públicas é que os jovens são convidados a participarem de programas ocupacionais como fórmula de prevenir a ociosidade, sendo esses programas oferecidos de maneira precária em termos de recursos humanos, materiais e estruturais As políticas públicas não se integração nem articula com outras áreas responsáveis pelo setor educacional como o ministério da educação, secretarias estaduais e municipais, escolas entre outras. Dessa forma o acesso e permanência na escola é mais difícil.

                                         Além disso, como as políticas públicas seguem uma tradição de não integração entre si, geralmente não há uma devida articulação com outras instâncias responsáveis pelo setor educacional- Ministério da Educação, secretarias estaduais e municipais, escolas, etc. Dessa forma, o alcance das ações é restrito por não investir na criação de condições adequadas de acesso e permanência na dos jovens nas escolas e nos cursos de EJA, o que exige repensar as formas de gestão das políticas sociais no Brasil. (LEÃO, 2005, p. 82)

            Paulo Freire preocupava-se com que o educando conhecesse o meio que o rodeia instigando-os a tomar consciência crítica e tomar um posicionamento não aceitando um posicionamento de neutralidade por parte dos grupos de Educação Popular. Assim o homem deve ser consciente da sua realidade e como sujeito que produz cultura pode ser o sujeito responsável pela mudança educacional, social, política e econômica de um Brasil que a desigualdade social é gritante e partindo de suas experiências pode-se começar uma ação política, pois só quem vive o problema sabe onde aperta o calo.

Assim compreendida e posta em prática, a Educação Popular pode ser socialmente percebida como facilitadora da compreensão científica que grupos e movimentos podem e devem ter acerca de suas experiências. Esta é uma das tarefas fundamentais da educação popular de corte progressista, a de inserir os grupos populares no movimento de superação do saber de senso comum pelo conhecimento mais crítico, mais além d “penso que é’, em torno do mundo e de si no mundo e com ele. (FREIRE, 2003, p.17).

            É crucial um maior investimento na educação e em outros setores da sociedade, pois são de direito da população que paga seus impostos e não tem a condições mínimas ao acesso a uma educação de qualidade, de ter segurança na sua casa no seu local de trabalho, enfim são direitos que não precisavam ser reivindicados deveriam ser garantidos. Porém, cabe ao cidadão reivindicar seus direitos a partir de sua realidade.

REFERÊNCIAS:

ARROYO, Miguel González. Educação de jovens e adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública. EM: LEÔNCIO, Soares; GIOVANETTE, Maria Amélia; GOME, Nilma Lino. Diálogo na educação de jovens e adultos. Belo Horizonte. Autêntica. 2005

FREIRE, Paulo. Educação de Adultos: algumas reflexões. EM: GADOTTI, Moacir. ROMÃO, José E. (orgs). Educação de jovens e adultos. Teoria, prática e proposta. 6º Ed. São Paulo. Cortez. 2003.

LEÃO. Geraldo Magela Pereira. Políticas de juventude e Educação de Jovens e Adultos: tecendo diálogos a partir dos sujeitos. EM: LEÔNCIO, Soares; GIOVANETTE, Maria Amélia; GOME, Nilma Lino. Diálogo na educação de jovens e adultos. Belo Horizonte. Autêntica. 2005.