Edson Silva

Eu amo minha pátria e não tenho nenhum receio em declarar este amor. Nos aproximamos da comemoração de mais um Dia da Independência, será o 188 desde 1.822, quando num dia Sete de Setembro, em São Paulo, às margens do riacho do Ipiranga (hoje rio que tem grande parte de seu leito castigada por toda sorte de poluição), o então príncipe regente Dom Pedro I teria decretado: "Independência ou Morte". Ao longo da história, tivemos ainda muitas mortes pela concretização da independência e tivemos aqueles que não hesitaram em sufocar na força das armas a independência da grande maioria do povo.

Com a maioria cega, surda e muda por conveniência ou obrigada, ao longo de décadas, o que se viu foi a banda passar, cantando música de dor, encobrindo gemidos dos calabouços cheios de quem ousava sonhar em "...deixar a pátria livre ou morrer pelo Brasil...", sendo que os donos do poder aplicavam quase sempre a segunda opção, com desaparecimentos, prisões, exílios.

Quem ficou, lutou, suportou certamente foi herói. Não um utópico Quixote do alto de seu cavalo a enfrentar os moinhos ou aquele de uniforme impecável a erguer simbolicamente uma espada para ter a imagem refletida em riacho ou quadro. Mas herói da liberdade na concepção da palavra. Isto muito nos orgulha e deveria orgulhar todos os brasileiros que agora experimentam as suaves brisas da democracia conquistada com lutas, suor, sangue e lágrimas e por isso mesmo de valor inestimável.

Se hoje somos povo na rua, seja para apreciar um Desfile Cívico de Sete de Setembro, para fazer uma festa, para comemorar a vitória de nosso time, para acompanhar comícios do candidato escolhido ou a escolher, devemos aos que nos antecederam e lutaram por isso e cabe a todos nós a responsabilidade de continuar lutando para que tais direitos sejam mantidos. Não é bom para ninguém entrar em "denuncismos" baratos, em papo de quem não se conforma com a estrita essência de nossa Constituição, em seu primeiro parágrafo:"Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente".

Pra não falar que não falei de poesia, como já cantou a Simone, encerro este texto com alguns trechos de Pátria Minha, de Vinicius de Moraes. Diplomata, boêmio, compositor e cantor, nosso querido "poetinha" foi vítima do exílio em tempos que nossa "pátria mãe gentil" era guiada pelo cabresto e seus filhos ou obedeciam ou eram tangidos pelas baionetas ou tratados a cassetetes e botinadas. E há hipócritas que dizem que foram tempos melhores...

"A minha pátria é como se não fosse, é íntima/ Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo/ É minha pátria. Por isso, no exílio/ Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria../ Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho/ Pátria, eu semente que nasci do vento/ Eu que não vou e não venho, eu que permaneço/ Em contato com a dor do tempo, eu elemento/ De ligação entre a ação o pensamento.. /.Não te direi o nome, pátria minha/ Teu nome é pátria amada, é patriazinha/ Não rima com mãe gentil/ Vives em mim como uma filha, que és/ Uma ilha de ternura: a Ilha/ Brasil, talvez. / Agora chamarei a amiga cotovia/ E pedirei que peça ao rouxinol do dia/ Que peça ao sabiá/ Para levar-te presto este avigrama:
Pátria minha, saudades de quem te ama...Vinicius de Moraes."

Edson Silva, 48 anos, jornalista, nasceu em Campinas e trabalha como assessor de imprensa em Sumaré.

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