Paradoxos existenciais

Fazemos parte de uma fagulha entre tantas galáxias, somos poeira cósmica, como dejetos de estrelas. Talvez estrelas perdidas. Olhando por nosso viés biológico parecemos complexos e vulneráveis, por nosso viés sócio-cultural parecemos gregários, subordinados, em nosso viés psicológico ou no antropológico então, somos incompletos, inacabados. "é Adão, Deus não te deu um sítio determinado" alguém já dizia. Sob o viés cósmico, aí sim, como somos pequenos. O ser humano parece ainda menor quando não tem dignidade. E quanta gente sem dignidade no planeta terra!
Para o ser humano não basta existir. Ele precisa se dignificar. Necessita mais do que a subsistência, se alimenta do símbolo, bebe da metáfora.
Temos o CPF, nosso código de barras. Pessoas precisam provar que existem, precisam brigar para existir, sendo que, independente de qualquer coisa, já existem. Infernal paradoxo. É irônico o paradoxo do mundo globalizado, onde, o que vigora é o higienismo. No noticiário viu-se certa vez a prefeitura de São Paulo preocupada com moradores de viaduto, a solução encontrada não foi dar uma moradia para eles, mas construir paredes em baixo das pontes que impedem a instalação dessas pessoas. Solução higienista para aqueles que não deveriam existir, mas eles existem. Eles incomodam por habitarem os viadutos? O problema maior não seria o deles? Ora, eles existem! Precisam estar em algum lugar, têm massa e, portanto, ocupam lugar no espaço. Parece obvio.
Mas o ser humano é, essencialmente, paradoxal. Está entre o existir cósmico onde nos percebemos como pequenos diante de algo tão absurdamente gigantesco. E deveríamos nos sentir dignificados por integrar algo desta proporção. Mas como dito anteriormente, não nos basta existir. É preciso também conquistar o direito de existir, de ser no mundo. Essa é a outra ponta do paradoxo humano: sua essência.
Uma essência que não nasceu com Adão. Que precisa ser inventada para fazer existir. Diferente de simplesmente existir, é existir em essência.
Os humanos devoram humanos, como se tivessem esse direito. Proclamam o que é certo ou errado, julgam. Procuram pela moral como se esta não fosse um mero joguete da cultura. Procuram por aquilo que já existe, almejando algo pré-estabelecido, acreditam num sítio para Adão. Sítio do qual nem todos cabem.
Mas todos nós cabemos no cosmos. A verdade é que existimos e, por algum motivo temos o direito de ser. Só precisamos inventar nossa essência... A essência de existir e de deixar existir.