Paradoxo de uma educação ideólica e política: “Educacão inclusiva: avaliação exclusiva.” 1

Resumo

O presente artigo tem a pretensão de discutir o paradoxo idológico da “educação inclusiva”. Porém alguns processos adotados para essa inserção do aluno acabam sendo contraditoriamente exclusiva, como o caso dos procedimentos avaliativos. A escola usa estratégias de caráter manipulador, opressivo e domesticador. Com a falsa ideia de inclusão, quando na verdade exclui o aluno que “não é bom”, ao invés de melhor prepará-lo ajudando-o a superar a partir de suas dificuldades e assim construir novos agentes de transformação da sociedade e com consciência profunda de sua tarefa social e nacional. Com embasamento nos autores LIMA (1994), CURY (1988) e DEMO (1987).

Palavras chaves: Escola inclusiva, avaliação, educação ideológica, exclusão.

Introdução

A escola nos últimos tempos, após a reforma educacional, tem se distanciado bastante do seu objetivo/função primordial que é o de educar, formar e instruir as capacidades humanas para tornarem se aptas a intervirem na formação da suas próprias subjetividades e transformar as condições ideológicas de dominação em práticas que promovam o poder social e a democracia.

Sob essa perspectiva as escolas passaram a ser vistas apenas como provedoras do conhecimento e das habilidades ocupacionais necessárias à expansão da produção interna e do investimento externo. Com o objetivo de produzir e legitimar os interesses econômicos e políticos das elites empresariais e do sistema capitalista, baseado numa formação tecnicista, instrumental e por sua vez, menos ideológica. O que constitui exatamente uma estratégia político-ideológica de fundo conservador. Construindo marionetes para manter o poder ainda mais forte e dominante do sistema. É onde a Educação mostra-se “uma instituição social que deve se enquadrar no sistema geral” defendendo e engrandecendo o poder e os interesses das classes dominantes.

Nesse sentido a educação é tão imprescindível que do seu sucesso ou do seu fracasso depende o crescimento ou o perecimento da civilização.  O que faz perceber que a escola necessita tomar consciência profunda de sua tarefa social e nacional.

Uma dessas ideológicas para manter esse poder do sistema, são as formas estratégicas de avaliar o conhecimento. A tão temida avaliação. Esta que teria sua função de analisar os resultados produzidos no processo de aprendizagem com intuito de uma tomada de consciência por parte do professor daquilo que foi aprendido e daquilo que deve ainda ser ensinado.

Mas, no entanto, esse conceito de avaliação já não segue mais esse critério e lentamente acabou se transformando em uma arma lenta e poderosa de poder sobre os educandos.

O objetivo da escola e do sistema ideológico vigente são as provas, testes, para medir e não para avaliar o conhecimento, e assim tento perdido seu sentido educativo. A escola perde o controle da disciplina e passa a utilizar-se das provas e testes como instrumento de controle e poder disciplinar. O medo causado nas crianças é a arma estratégica que os professores utilizam para mascarar seu próprio medo, sua incompetência. É exatamente sob essas condições precárias que se promove e resulta um ensino de péssima e vergonhosa qualidade.

Refletindo a relevância dessa questão, estudos foram realizados na tentativa de apontar a causa do fracasso de alunos provenientes das camadas populares menos desfavorecido, entre esses destacam-se: a desnutrição quanto a questão da fome, fator relevante no subdesenvolvimento da criança e  a linguagem, que refere-se a inadequação da escola  à criança, entre a vida do aluno e a proposta veiculada pela escola. Esses fatores infelizmente deixam de ser levados em consideração o que estimula o crescimento da evasão, da repetência e da subordinação desses jovens ao sistema político dominador.

            Nessa perspectiva, vemos construir-se ainda mais o fortalecimento da dominação do poder que a Escola Política e Ideológica exerce sobre a sociedade. Que adota um estilo Marxista na formação da consciência social. Onde a partir desse método de medição do conhecimento excluindo e desclassificando o aluno, fortalecendo a distinção de desigualdade entre os grupos dominantes e subordinados, opressores e oprimidos. O que exatamente nos remete à essência da ideologia propriamente,

 com efeito para exercer o poder e justificar seu exercício os dominantes precisam agir de forma com que as manifestações de diferença e da contradição permaneçam escondidas graças a um discurso e práticas que levem a pensar que todos fazem parte dela da mesma forma e que a contradição não existe. Contradição esta tratada no tema acima: “escola inclusiva, avaliação exclusiva”. A ideologia é a construção sistematizada que a falsa consciência elabora para justificar a sua alienação. (CURY, 1988, p.29)

            Com base nesse processo avaliativo de medir que segundo Lima pressupõe padrões, ou ponto de referência com os quais, mediante a comparação, o exame singular, em comparação a um grupo, passa a ter valor diagnóstico, isto é, passa a permitir critério de diferenciação, classificação ou hierarquização. A avaliação teria uma função desclassificação de exclusão do aluno e não de qualificação inclusão do educando.

Muitas vezes esse fracasso do aluno diz mais sobre os professores, conteúdos e métodos empregados do que uma real avaliação da criança. Uma avaliação que fica implícito quem realmente o culpado. Já parte do pressuposto da perda pela escola da função de responsabilidade sobre a aprendizagem, que banalizou o sentido do “educar e avaliar” priorizando elitização do seu poder com base apenas em quantidade e não da qualidade.

Com isso indagam-se algumas questões que devem ser pensadas e discutidas: que homem é construído nesta sociedade e que tipo de homem desejamos construir? Que escola possuímos e que escola queremos? É fundamental tomar consciência sobre essa realidade para que sejamos capazes de fazer projeções, tendo claros os nossos fins.  

A conclusão é que houve transformação da escola numa função de caráter meramente informativo. “A escola tem sido um instrumento de informação e não de aprendizagem. Sua qualidade é definida mais pelo aluno que a freqüenta que por qualquer mérito da instituição” (LIMA, 1994, p.34)

Visto isso tomemos como referência uma frase de M. MacLuhan “Haverá um dia em que as crianças aprenderam muito mais e muito mais rapidamente em contato com o mundo exterior do que no recinto da escola.”

O que torna-se ainda mais necessário voltar-se para essas questões do papel e processos educativos da escola. Onde só utiliza métodos expositivos, de transmissão oral, um instrumento informativo. Papel paralelo a televisão, rádio, e outros meios de comunicação, coisas que eles já tem acesso em casa. Já para que possa haver a aprendizagem é necessário que haja um equilíbrio entre aprendizagem- construtivismo. Diferentemente do que acontece hoje. Construindo apenas uma educação de analfabetos funcionais, marionetes do seu próprio sistema. Entendido como processo informativo e não formativo, incentivando à participação na realização da democracia.

Sucumbindo e mascarando toda essa falta e decadência da educação o sistema ainda cria um aliado para sua manutenção de poder ideológico: o intelectual, que é o seu escudo. Onde cria-se uma falsa consciência política e de responsabilidade a questionar e participar de processos sociais na conquista por seus direitos. Construída por uma pedagogia arcaica e pobre politicamente e ideologicamente de que a consciência crítica pode mudar a realidade. O que não passa de um enorme engano. Participação sem sustentação é farsa, afirma Demo (1987, p. 153). Por fim, colhe-se, ironicamente, resultados opostos, porque, não havendo auto-sustentação dessa postura os processos tornam-se desinteressantes, cansativos repetitivos, levando a sensação de que democracia é coisa difícil, demorada  e chata. Portanto para eficácia e resultados de movimentos sociais de cunho crítico é necessário que haja sustentação dessa postura. Manter propósito firme e não se deixar influenciar pelo poder autocrático do sistema.

Em termos ideológicos a categoria dos intelectuais, por possuir o domínio das habilidades técnicas e o saber, dentre poucos, eles utilisam-se de uma farça bastante visível que é de transformar, de progressista. Nesta visão, numa estratégia política, é relativamente fácil unir-se ao intelectual. O estado imobiliza-os com bons salários poder e prestígio, pois é sabido por parte do sistema que a crítica sem prática lhe serve muito, não tem eficácia. Pois incute a ideia de democracia, com isso o sistema pode apregoar que não reprime quem tem ideias oposta e que tudo é justo perfeito e claro.

Assim como afirma Demo (1987, p.45), a crítica quando não é acompanhada com a prática, só não muda nada, como acaba de transformando em troféu para o sistema.

Nesse sentido, conclui-se que a situação dos processos educacionais vigente hoje nas escolas tem se distanciado bastante de sua função primordial, construtora de conhecimento como formadora de cidadãos. E passou a ser apenas uma instituição que se enquadrar no sistema geral defendendo e engrandecendo o poder e os interesses das classes dominantes. Adotando um processo educativo de estilo Marxista na formação da consciência social. Com uma ideologia de caráter manipulador, opressivo e domesticador. Com a falsa idéia de inclusão, quando na verdade exclui o aluno que “não é bom”, ao invés de melhor prepará-lo ajudando-o a superar a partir de suas dificuldades e assim construir novos agentes de transformação da sociedade e com consciência profunda de sua tarefa social e nacional.

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¹ Artigo produzido na disciplina Gestão dos processos e modalidades educacionais   pelo professor Fabrício Sampaio para fins avaliativos.

²Acadêmica do Curso de Letras com habilitação em Língua portuguesa, 7º período pela Universidade Estadual vale do Acaraú-UVA.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LIMA, Adriana de Oliveira. A avaliação escola: julgamento ou construção? - Petrópolis, RJ Vozes, 1994.

CURY, Carlos Roberto Jamil, 1945- Ideologia e educação brasileira. 4ª Ed.- São Paulo: Cortez – Autores associados, 1988.

DEMO, Pedro. 1941. Avaliação qualitativa. São Paulo: Cortez: Autores associados, 1987.