Para (re)construir uma Vida de Relação baseada na Ética da Compaixão
Publicado em 01 de abril de 2008 por Marco Rezende
Para (re) construir umaVida de Relação baseada na Ética da Compaixão
Marco Aurélio Faria Rezende
Ao começar a releitura de um livro extraordinário de Sua Santidade , o Dalai Lama intitulado "Uma Ética para o Novo Milênio", pude observar as inúmeras possibilidades que temos em nós depensarmos na (re) construção das nossas relações em valores baseados essencialmente no cultivo do amor e da compaixão.Entretanto , ao primeiro olhar , podemos imaginar que nos dias atuais , é quase impraticável considerar a possibilidade departicipar e compartilhar as nossas questões até com os nossos mais íntimos amigos. Há por toda a parte um total clima de desconfiança entre as pessoas ,o que acaba por gerar suspeita em todas asnossas relações mais básicas.Mas, se nos esforçamos e passamos a acreditar na possibilidade da melhora e da transformação , podemos investiraos poucos no enriquecimento da qualidade da nossa vida e , devagar , seremos capazes de (re) começar o nosso caminho de relação.Aos poucos , experimentaremos , a possibilidade real de compartilhar e dividir alegria e felicidade ,dor e sofrimento. Em princípio, pode não parecer muito fácil – e não é mesmo , porque teremos que resgatar em nós alguns valores e sentimentos que fazemos absoluta questão de esconder.Normalmente , a nossa convivência é pautada pelas relações que estabelecemos ao longo das nossas vidas . Em cada uma dessas situações podemos constituir vínculos que nos ligam a outras pessoas para o resto das nossas vidas . Aí é que se firmam alguns graus de amizade ou até de uma relação mais íntima que pode caminhar para um convívio mais estreito , diário e doméstico. É muito comum dedicarmos aos nossos amigos o que temos de melhor.E sendo assim , compartilhamos todo tipode sentimentocom esses escolhidos – às vezes ,até com certa dificuldade , mas tentamos repartir todas as nossas emoções com um grau até muitas vezes elevado demais de confiança.
Como conseqüência, ganhamos a certeza da amizade e reforçamos cada vez mais os laços que nos ligam a esses amigos de forma incondicional e indiscriminada.Mas aí é que começo a levantar algumas questões. A primeira delas diz respeito à natureza dessa relação e os seus naturais desdobramentos . Será que não é muito fácil lidar apenas com quem confiamos e convivemos? Será que pode ser diferente?Será que só temos que demonstrar afeto , carinho ou amizade exclusivamente aos nossos melhores amigos? Se somos criaturasem constante processo de melhora e transformação e precisamos buscar um caminho de mudança , porque não nos abrimos para novas situações de convivência? Será quesó é importante o cultivo do amor e da compaixão entre os que convivem conosco , familiares e amigos mais íntimos? Penso que assim é muito fácil.Acredito que a nossa grande meta deve ser à busca do cultivo do amor e da compaixão incondicionale universal . A nossa meta permanente deve ser à busca da afirmação de uma cultura de fraternidade entre todos nós – desde os nossos amigosaté aos que chamamos de inimigos.É claro que essa idéia – que pode se transformar em ação , depende fundamentalmente de nós e esta diretamente relacionada com a nossa possibilidade de(re) estabelecerum caminho crescente de conquista interna para ser compartilhado com todos que nos cercam . Entretanto , é ai é que está a nossa grande tarefa . Essa experiência seráinicialmente vivida por nós de maneira distinta.A minha idéia é a de fortalecer os vínculos mais íntimos de amizade e relaçãojá existentes e , aos poucos, provar novas situações de relação e convívio com os nossos desafetos aonde poderemos demonstrar mais empatia , mais paciência e mais tolerância na (re) condução das nossas amizades e criar permanentemente em nós um sentimento de familiaridade para ser repartido com todos que se aproximarem do nosso convívio.
Assim , aos poucos poderemos estabelecer uma nova possibilidade de convivência entre todos que nos cercam e nos buscam , baseada na compaixão, na empatia , na igualdade e no respeito fundamental a diferença.Contudo , tenho claro que esse não é um programa de vida muito fácil. Pelo contrário , acredito que é um projeto pra ser construído durante toda(s) a(s) nossa(s) vida(s).São os estágios que estamos experimentando para o nosso desenvolvimento espiritual.E, nessa condição de aprendizes , estamos (re)vivendo todos os dias as nossas oportunidades de melhora e transformação.E, só depende de nós , cultivarmos nas nossas relações, os nossos melhores sentimentos – com todos os seres que nos cercam , inclusive com os que podem nos ferir .
A nossa (re) tomada de consciênciadeve priorizar o aperfeiçoamento das nossas mais íntimas emoções.Acredito firmemente que o caminho para a nossa transformação está fundamentado na nossa conduta diária e cotidiana.Se estivermos desenvolvendo o nosso potencial de maneira estável e continua, poderemos nos transformar em sujeitos mais compassivos e mais generosos , não só com os mais próximos e amigos , mas também com os mais afastados , os mais necessitadose os mais desprovidos . Assim , estaremos experimentando a nossa possibilidade de superação da parcialidadeepoderemos (re) conhecer em nós a capacidade de resgatar a afeição, o perdão, a bondade , a compaixão e o amor nas nossas relações , e entender que nenhum desses sentimentos são artigos de luxo , sendo responsáveis por nos levar naturalmente a uma conduta mais respeitosa e ética na(s) nossa(s) vida(s).
Mafr.