Estava grávida. O médico recomendou que quando estivesse perto de tê-lo em seus braços, tomasse mais cuidados do que como antes tomara. Ela sorriu, saiu do consultório. No entanto, não contou ao médico o que havia feito durante esses meses...

            Ela havia bebido, fumado, não cuidava direito daquele ser que nasceria. À noite deitava-se e pensava: “Até quando puder mantê-lo aqui dentro, o manterei. Caso o contrário, não poderei beber, não poderei fumar, não poderei fazer nada... Que vida triste essa... Antes, que ele morra!

            O bebê ouvia lá dentro o que sua mãe dizia, ouvia lá dentro mesmo, lá dentro do coração... “Infelizmente, dizia ele, terei de nascer... Não poderei mais realizar o desejo de minha mãe, pois fiquei aqui por muito tempo, inerte, sem incomodar... Lamento mamãe, mas a senhora me entristeceu tanto que agora nascer pra mim é uma obrigação... Prepare-se, nascerei amanhã...”.

            A mãe entrou em desespero ao ouvir aquilo! Como seria sua vida caso isso acontecesse? Não poderia fazer mais nada que quisesse, pois seu filho a condenaria...  Não, ele não poderia nascer...

            O amanhã de que o bebê falara, finalmente chegou. A mãe já estava sentindo as dores do parto. Seria um parto doloroso...

            A mãe iniciou uma luta com o filho. Ela gritava, mandava-o não nascer, mas quem disse que ele não nasceria? E mesmo que dissesse, adiantaria? Mesmo que fizessem de tudo, o bebê nasceria, porque sua mãe não aguentaria sua força, sua luta, seu esforço para ganhar vida... Ele não queria ficar mais preso naquelas entranhas... Tudo de que ele precisava, a mãe lhe dava, mas ele queria mais, sonhava mais, queria conhecer o mundo sob sua ótica...

            A mãe lhe implorava, pedia para que não nascesse, pois no seu egoísmo, defendia apenas seus interesses. Mas o bebê conseguira ultrapassar várias barreiras e já estava conseguindo... “Não, não, não” a mãe gritava, mas já era tarde, bem tarde...

            No mundo inteiro um choro foi ouvido. Nascera naquele instante a criança símbolo da luta contra a repressão de sua própria mãe...  Ele conseguiu! Viveria a partir dali e até o final de sua vida se lembraria do esforço que fez para poder ganhar direitos...

            A mãe morreu. Não aguentou ver aquela consequência indesejada...  Morreu. Não fumou, nem bebeu.

            Este choro escutado nos quatro cantos do mundo representado por essa criança é o choro de cada brasileiro, que conseguiu realmente nascer...

            Essa criança é o Brasil!