PARA QUE SERVE PESQUISA EM EDUCAÇÃO? 

[1]Nely Alves Silva  Guariz.

[2]Prof. Dr. Edson Caetano 

RESUMO

O presente artigo  apresenta uma reflexão sobre conceitos e finalidades  supostamente básicas sobre pesquisa em educação e  essencialmente, do papel do acadêmico pesquisador no seu processo de construção do conhecimento e aprendizagem na área de educação. Portanto o objetivo maior deste estudo é de  uma investigação sobre  o caráter qualitativo  de uma pesquisa social e o papel do pesquisador dentro de novas abordagens, colocando em foco  o trabalho científico como uma necessidade  de imprimir modificações na realidade e de avançar o próprio conhecimento científico  por meio da pesquisa em educação.

Palavras-chave: Pesquisa em Educação. Finalidade. Papel do Pesquisador

ABSTRACT

This article focuses on basic concepts and purposes supposedly about education research and essentially, the role of the academic researcher in the process of knowledge building and learning in education. Therefore the main objective of this study is an investigation of the qualitative character of social research and the researcher's role in new approaches, putting focus on the scientific work as a need to print changes in reality and to advance scientific knowledge itself through of educational research.

Keywords: Research in Education.  Purpose. Role of the Researcher,

Mediante sucessivas leituras e reflexões é possível compreender que a pesquisa em educação é uma atividade humana como as outras, pois tanto  a universidade como outros  centros de pesquisa estão inseridos dentro da sociedade. Desse modo entende-se que a pesquisa em Educação, torna-se imprescindível, tendo em vista a necessidade de responder às angústias e indagações que a sociedade a todo o momento conclama frente aos novos desafios desse novo tempo.

Sabe-se que no âmbito educacional faz-se necessário uma atuação  mais dinâmica e dialógica no que se refere aos processos de ensino-aprendizagem, pois  o tradicional, o  instituído  o hegemônico já não dão conta dos desafios postos  na sociedade desse novo tempo. Questões mais amplas sobre valores, ética, projetos alternativos de nação, que afetam profundamente a educação, dependem de processos sociais muito mais complexos, que se inserem no bojo da história, com todos os seus conflitos e as suas contradições.

A educação hoje está inserida na cultura e uma vez vinculada às ciências, são  tomadas na modernidade como uma das fontes válidas de formação de sujeitos e  organizada em torno de processos de construção e utilização de significados em termos gerais, locais e particulares,  cujo sentido  é criado a partir  das relações que permeiam o  modo de estar dos sujeitos nos ambientes e com as pessoas com as quais interagem,  só assim são  capazes de oferecer tecnologias de ensino eficientes.

Refletindo  sobre   pesquisa em educação pode-se compreender que as teorias são parte da realidade social, as quais retratam a realidade do mundo e ocorrem dentro de uma dinâmica  histórica, cujo conhecimento compreende as ciências humanas. Nessa perspectiva Frigotto (2004) evidencia que:

O materialismo histórico por ser uma concepção ontológica, histórica e científica, consegue ir à raiz da condição humana, no interior das relações sociais capitalistas, de forma abrangente e radical em relação às demais concepções e teorias vigentes. Também e por consequência, esse instrumental crítico permite revelar a natureza anti-social e anti-humana das relações capitalistas (FRIGOTTO, 2004, P. 3).

Nessa percepção  o autor permite compreender que o conhecimento é historicamente construído e com base em sua concepção de homem/mundo é que faz a escolha de um determinado referencial teórico para fundamentar o seu trabalho de pesquisa. Nessa configuração pressupõe-se que a pesquisa em educação deve ser vista como uma  relação entre sujeitos, de forma dialógica, em que o pesquisador e pesquisado constituem-se elementos  essenciais do processo de investigação.  

Nesse aspecto a pesquisa em educação vem ao longo do tempo ganhando novas perspectivas quanto à iniciação científica, bem como ao processo de investigação inerente ao campo educacional no sentido de oportunizar o acadêmico de vivenciar enquanto sujeito pesquisador tanto do planejamento  quanto da realização das discussões dentro da pesquisa. O processo de pesquisa vem surgindo como novas abordagens que contemplam de  a pesquisa qualitativa e não meramente seu  caráter bibliográfico, em que o pesquisador não tem nenhuma participação sobre o objeto pesquisado, o que prefigura-se uma falsa neutralidade social do pesquisador.

Nesse novo tempo, a pesquisa em educação precisa segundo Lucke & André (1986) suscitar discussões pautadas numa das cinco características da pesquisa qualitativa, cujo ambiente natural constitui-se sua principal fonte de  dados e o pesquisador seu principal instrumento. Uma vez coletados os dados   atribuir a estes o caráter descritivo, os quais devem considerar o processo mais relevante que o produto. Daí, o significado que as pessoas atribuem as coisas e a sua vida tomados como elementos essenciais pelo pesquisador, bem como a análise dos dados  com fortes tendências ao emprego do método indutivo em seu campo de aplicação da pesquisa.

Nesse contexto, a pesquisa em educação não pode fornecer respostas prontas aos sistemas de ensino. Seus resultados constituem elementos importantes  nas tomadas de decisões, mas não são os únicos e nem podem ser incorporados sem mediações. O que torna a pesquisa  mais interessante é a possibilidade de estabelecer um diálogo aberto, que nem sempre vai produzir consensos, mas que teria o potencial de contribuir para avanços, tanto na prática pedagógica como na própria pesquisa. A pesquisa quando qualitativa  pode e deve assumir formas variadas no seu campo de estudo, em especial, na educação, que nos dias atuais sofre grandes e profundas transformações.

 Segundo Freitas (2002) dentre as formas de pesquisa na educação torna-se relevante o profissional da educação conhecer os referenciais  metodológicos para as questões postas hoje em educação:

a) o referencial positivista (próprio das ciências naturais e exatas), cuja finalidade  de investigação é dar explicação, manter o controle, formular leis gerais dentro de uma realidade objetiva e apreensível. Nesse referencial o pesquisador apresenta uma relação neutra com o seu objeto de pesquisa, suas explicações são meramente causais, com a realização de análises dedutivas e quantitativas, sem levar em conta os valores sociais;

 b) no referencial interpretativista o pesquisador torna-se construtor da realidade a ser pesquisada por meio de sua interpretação subjetiva dos sujeitos envolvidos no campo da sua pesquisa. Suas análises são de caráter indutivo, qualitativo, centrados na diferença. Os valores do pesquisador influenciam na seleção do problema, na teoria a ser escolhida e nos métodos de suas análises, mas já concebe a realidade construída pelos sujeitos q\com que ela se relaciona o que evidencia  uma contraposição, uma mudança em relação ao referencial positivista;

 c) o referencial crítico tem como finalidade da investigação, a compreensão (que identifica o potencial de mudança por meio  de atitudes de intervenção)  e a  transformação. Suas análises são contextualizadas, indutivas, qualitativas, centradas na diferença. Apresenta certa semelhança com o referencial interpretativo, mas valoriza a importância dos processos sociais coletivos, mantendo presente o materialismo histórico.

Para escrever sobre o método em pesquisa Vygotsky (1991) sugere que:

Estudar alguma coisa historicamente significa  estudá-la no processo de mudança; esse é o requisito básico do método dialético. Numa pesquisa, abranger o processo de desenvolvimento de uma determinada coisa, em todas as suas fases e mudanças – do nascimento à morte – significa, fundamentalmente, descobrir sua natureza, sua essência, uma vez que  é somente em movimento que um corpo mostra o que é (Vygotsky, 1991, p. 74).

Para Vygotsky uma das metas da pesquisa é a conservação da concretude do fenômeno a ser estudado e não limitar-se na mera descrição, ou seja, não perder de vista a  riqueza da descrição e avançar para a  explicação, levando em consideração que  o importante da atividade é a sua significação histórico-social.

               No dizer de Ghedin  (2006) pesquisar é refletir sobre a realidade.

Refletir e investigar as formas diferenciadas de conhecimento e seus modos de produção e construção por meio de alternativas de pesquisa em Educação é de fundamental importância no momento em que  a liberdade perde seu espaço para o desconhecimento, a  ignorância, o fundamentalismo e a corrupção. Predominantemente, a pesquisa há de se propor como instrumento fomentador de consciência e ações críticas, que  não só compreendam a existência  e o mundo de modo diferente, mas que  procurem produzir uma existência e um mundo qualitativamente melhor (GHEDIN e FRANCO, 2006, p. 19).

Nesse sentido percebe-se que  a pesquisa em educação não é uma tarefa fácil, considerando  que a realidade educacional é complexa e nem sempre o conhecimento já disponível  da conta de acompanhar sua complexidade. Para esses autores pesquisar e estudar constituem-se num compromisso político a partir do momento que os sujeitos da pesquisa assumem de forma ética a explicação e a compreensão de uma dada realidade.

Segundo Freitas (2002) nas ciências humanas, o pesquisador não pode limitar-se única e exclusivamente ao ato contemplativo em sua pesquisa, uma vez que diante de si, há um ser que tem voz e precisa falar com ele, estabelecer uma interlocução.

Inverte-se, dessa maneira, toda a situação que passa de uma interação sujeito-objeto para uma relação entre sujeitos, de uma orientação monológica passa-se a uma perspectiva dialógica. Isso muda tudo em relação à pesquisa, uma vez que  investigador e investigado são dois sujeitos em interação. O homem não pode ser apenas objeto de uma explicação, produto de uma só consciência, de um só sujeito, mas deve ser também compreendido, processo esse que supõe duas consciências, dois sujeitos, portanto dialógico (FREITAS, 2002, p.24-25).

Assim posto, o homem precisa ser compreendido dentro do diálogo que é marcado pela perspectiva da alteridade e do reconhecimento  no processo de construção de significados, numa participação ativa dos interlocutores. O papel do pesquisador consiste, portanto em descrever, compreender a realidade e também em construir um conhecimento capaz  mostrar  a realidade  a partir da construção de textos que emergem do encontro dos sujeitos da pesquisa no plano individual, social que seja resultante  do encontro  de culturas, situações  e de contexto diversos.

Segundo Gonçalves (2001):

As categorias metodológicas da dialética, numa perspectiva materialista permite o movimento da aparência para a essência; do empírico e abstrato para o concreto; do singular para o universal a fim de alcançar o particular; permitem tomar as totalidades como contraditórias. Aliadas à noção de que o sujeito ativo, em relação com o objeto, é histórico, tais categorias respondem a necessidade de conhecimento do diverso, das particularidades, do movimento, sem criar no relativismo e sem  perder o sujeito, que assim entendido, é necessariamente integral, pleno. Permitem, ao mesmo tempo, explicar e compreender (GONÇALVES, 2001, p. 124).

Dito dessa forma pressupõe-se que  método dialético apresenta certa proximidade  com a  pesquisa  de abordagem sócio-histórico-cultural com o referencial crítico, um materialismo histórico dialético que vai além  da descrição e compreensão,  que tem em sua essência a transformação da sociedade que se concretiza no encontro  entre sujeitos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

FREITAS, M. T. A. A abordagem sócio-histórico como orientadora da pesquisa qualitativa. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, N.116, p.20-39, jul. 2002.

FRIGOTTO, G. Os desafios da teoria e da investigação educativa no contexto da crise societal. In: ENCONTRO REGIONAL (SUDESTE) DE PESQUISA EDUCACIONAL, 2004, Rio de Janeiro.

GHEDIN, E.; FRANCO, M. A. S. Introdução. IN: PIMENTA, S. G.; GHEDIN, E FRANCO, M. A. S. (org.). Pesquisa em educação: alternativas investigativas com objetos  complexos. São Paulo: Loyola,  2006.

GONÇALVES, M. G. M. Fundamentos metodológicos da psicologia sócio-histórico. IN:  BOCK, A. M. B. et al. (Org.). Psicologia sócio-histórico. São Paulo: Cortez, 2001.

LUDKE, Menga & ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo, Editora Pedagógica e Universitária, 1986.

VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.





[1] Acadêmica mestranda do  Curso de Mestrado em Educação Holística. Disciplina: Pesquisa em Educação. Faculdade de  Teologia e Filosofia  FIDES REFORMATA.

[2] Prof.   Curso de Mestrado em Educação Holística. Disciplina: Pesquisa em Educação. Faculdade de  Teologia e Filosofia  FIDES REFORMATA.