PARA QUE SERVE O MUDA BRASIL – Em primeiro lugar, para mostrar aos nossos representantes que não estamos representados, serve para pressiona-los a fazer o que já deveriam ter feito. O MUDA BRASIL serve também para gerar abaixo assinados e conseguir novas leis importantes, como foi o caso da FICHA LIMPA. Mais que isso, o MUDA BRASIL despertou muita gente que estava desiludida ou silenciosa, que pôde reunir algum poder e até almejar uma participação no espaço político. Agora, o brasileiro sabe que pode ir às ruas a qualquer momento e conseguir algumas vitórias. A voz do povo tem valor, inclusive na internet.

Mas achar que vamos mudar o Brasil pelo voto em 2014 e 2016 é um sonho à beira do irrealizável. Antigamente eram os senhores do engenho que dominavam as eleições com seus cabrestos. Alguns ainda existem. Mas, hoje em dia, 84% da população brasileira vivem em áreas urbanas. Basta acompanhar uma campanha eleitoral na Baixada Fluminense, nas periferias do Rio e de São Paulo para ver como é. A primeira figura é do cabo eleitoral. Geralmente é um sujeito pobre que tem algum conhecimento da comunidade onde vive e ganha dinheiro para colar cartazes, pendurar faixas, distribuir santinhos e conceder algumas benesses a quem é carente. Recebe e hipoteca promessas de votos, nem sempre fiéis. Às vezes, é a militância dos partidos que faz isso. A segunda figura é a do vereador. É a eleição mais difícil que existe, em função do número de candidatos versus número de vagas. Todos têm alguma influência em alguma área, mas não são necessariamente exclusivos. Eles chegam prometendo saneamento básico, hospital, escola, moradia, bolsa família – cabe tudo no discurso e os eleitores acreditam, porque precisam acreditar em alguma coisa, eleição após eleição. Os prefeitos contam com aquelas influências. E são pródigos em remunerar, prestar favores e distribuir cargos aos que compõem sua base de apoio. Vez por outra, fazem uma obrazinha nos locais que representam mais votos.

Além dos vereadores, temos os sindicatos com suas demandas,  e os radialistas e outros jornalistas facilmente influenciáveis pelo dinheiro da propaganda oficial. Não são todos, é verdade, mas são muitos.

E por estarem assim tão perto dos eleitores, além do orçamento que carregam, é compreensível que os prefeitos sejam sempre chamados quando o bicho pega para governadores e até para o governo federal.  Os prefeitos são os primeiros mandatários do voto popular, numa democrisia em que, para se implantar o voto distrital, querem fazer um plebiscito, é obrigatório votar, analfabeto vota e os eleitores não têm o direito de opinar decisivamente sobre o investimento nem sobre o gasto público.

Claro está que os prefeitos podem perder força, mas são substituídos por outros e o Sistema permanece o mesmo. O vil metal comanda a propaganda boca a boca, que é a forma de comunicação mais efetiva que existe, e a mídia da situação reforça a opinião. As promessas vis comandam as eleições nas pequenas comunidades. Quantos votos elas vão representar nas próximas eleições, agora que a chamada classe C ultrapassou 50% da população brasileira? Não sei dizer. Mas vejo que boa parte da classe C mora nos mesmos locais de influência dos vereadores que eu citei. E sei que o Brizolla já derrotou O Globo e a Rede Globo, o PT ganhou em São Paulo no último pleito, o Maluf foi eleito com uma votação espetacular e Garotinho aparece com expressiva intenção de votos para governador do Rio, justamente agora que a internet ganhou força e o povo foi às ruas dizendo que não quer partidos nem políticos. Será?

Então um desconhecido aparece e diz que vai ganhar a eleição sem dinheiro, via internet. Até hoje, essa façanha não aconteceu no Brasil. Aliás, o grande exemplo que é citado refere-se à eleição do Obama em 2008. Ele usou a internet para mobilizar eleitores e formar pequenos comitês que organizavam minicomícios, pediam votos e doações.  E fez muito mais que isso (Vide “A internet e as redes sociais”, de Antono Graeff). Mas sabe quanto ele gastou apenas em publicidade online? 16 milhões de dólares. Não consegui dados confiáveis sobre o custo da ativação na internet, mas, com certeza, foi bem superior a essa quantia.

De qualquer ângulo que se analise, é cara uma eleição. Não há como fugir do poder econômico com a legislação atual. E quem investe quer retorno. No mínimo, quer manter os negócios como estão.

Para o MUDA BRASIL, não há milagres à vista, até porque os candidatos são políticos conhecidos e o que mais se vê no Brasil não é oposição, são acordos. Tem político que faz acordos até com o crime, de um lado, e com as igrejas, de outro.

Então, vamos ter um novo fenômeno como Collor de Melo, que saiu de um partido nanico e de um estado nanico para ganhar uma eleição para presidente, apoiado pela mídia de massa? Se fosse a antítese dele, até que seria uma boa.