Fenômeno do Crescimento Infantil de 01 a 06 anos.

A divisão da vida humana é incontestavelmente, uma exigência do espírito que procura descrever, compreender e explicar. A duas tendências naturais de nosso espírito.

1º O contraste, cujo extremo consiste em se opor, são realidades heterogêneas, de um lado a mentalidade da criança do outro a mentalidade do adulto.

2º Consiste no contrário, se preocupa em descrever a infância como uma evolução gradual, onde o acrescentamento é puramente quantitativo. Simples sucessão de idade. Nesta última, as técnicas atuais de quantificação dão-lhe abusivamente meios de sobrevivência e aparência de justificação.

Se considerarmos, isoladamente, cada uma das características do crescimento, como a estrutura, o peso ou, o plano mental, a riqueza do vocabulário, a soma de conhecimento e o número de problemas práticos que uma criança pode resolver, é provável que descubramos quase sempre o mesmo tipo de curva regular sem ruptura, sem crise.

A transformação qualitativa pode operar-se gradualmente, ou de maneira mais ou menos súbita. Essa dupla descrição, quantitativa e qualificativa, já se impõe quando se considera isoladamente certos setores do desenvolvimento.

Um Exemplo bem simples:

A saída dos dentes traduz evolução bioquímica gradual e sem crise, mas o aparecimento da segunda dentição é uma transformação morfológica com vários estágios.

A ausência de sincronismo no desenvolvimento desses diferentes setores não significa certamente, ausência de relação. Há, com efeito, estágios na evolução biológica ou psíquica da criança e são caracterizados, em grande parte, por essas diferenças de ritmo intra-individuais e por aquilo que o fisiologista chama de “ alometria. “É, pois todo um conjunto, toda uma estrutura, todo um equilíbrio mais ou menos instável que cumpre definir em cada idade da criança e redefinir de uma idade para outra”.

Estágios etários

O adolescente, ama, age, sente, e apreende o mundo exterior diferentemente do pequeno, do bebê e do adulto. Se uma das grandes diferenças entre a criança e o adulto é imputável à falta de experiência do primeiro, importa, entretanto, compreender que essa aquisição de experiência, implica na realidade, da transformação e tem antes de tudo o caráter de reorganizar o que acumulou.

Mas para quem vive com a criança, esse desenvolvimento, não se apresenta, absolutamente, contínuo e regular. Muito pelo contrario, há como que um período de estagnação, no qual se indaga: será que esta criança virá um dia a crescer? Por vezes da noite para o dia, são modificações súbitas, discretas ou espetaculares. Além disso, segundo o ponto de vista em que nos colocamos a cadência do desenvolvimento não é a mesma. Fases de estabilidade ou de transformação nem sempre coincidem. Pode-se dizer que de modo algum é regular. Nessa organização do conjunto psíquico, foi possível descrever separadamente o desenvolvimento de cada setor e deter-se no estudo da evolução sensorial motora, psicossexual e afetiva intelectual.

ESTÁGIOS que geram alguns problemas infantis

Em vista de que as partes de uma pessoa não podem ser separadas fisicamente umas das outras, já que funciona juntas, o ideal é que sejam consideradas simultaneamente. Conhece-se muito bem a marcha do desenvolvimento quanto a certos aspectos do psiquismo, porém até agora não temos nos preocupado com as interações necessariamente existentes no desenvolvimento dos diversos setores artificialmente isolados, os quais, na realidade, não podem ser independentes.

Se por observação e experimentação metódicas, é relativamente fácil dividir em estágios ou em períodos de equilíbrio, a evolução de aspectos parciais do psiquismo ou de certos tipos bem circunscritos de comportamentos, é em compensação, muito mais difícil e sem dúvida fazer outro tanto, no tocante ao conjunto da personalidade.

Nem sempre puderam considerar devidamente a unidade do organismo psíquico em cada momento de seu desenvolvimento, nem o intricado das variáveis desse psiquismo em suas relações recíprocas. Alguns, até, reduzem tudo à evolução de um aspecto único e, sem dúvida, importante da organização psíquica; e deixam, assim, na sombra, outros aspectos não menos essenciais.

É certo que uma apresentação do desenvolvimento por setor, por aspecto, por função é mais rigorosa e mais científica.

DA FASE DA NOSTALGIA PARA A FASE REAL

A vida não principia no nascimento, mas uns duzentos e setenta a duzentos e oitenta e quatro dias antes. O desenvolvimento verdadeiramente prodigioso ocorre durante esse período pré-natal.

O coração do embrião começa a bater pela quarta semana após a concepção e que, pelas vinte semanas, o cérebro está constituído.

Para que se compreenda como o nascimento, constitui necessariamente um choque para a criança, ainda quando ela não tenha consciência alguma do que lhe acontece.

Trata-se, com efeito, de uma reviravolta completa de seu equilíbrio, com modificações tão profundas que se pode falar de verdadeira metamorfose.

O recém-nascido se encontra violentamente exposto a estímulos exteriores que não pode afrontar de maneira adequada. Não pode utilizar mecanismo algum de defesa para proteger-se e esta excitação o submerge.

Na perspectiva psicanalítica, esse estado é considerado como o protótipo de toda angústia ulterior. A idéia que podemos fazer da situação angustiante por excelência é de estar completamente entregue, sem consciência alguma do que se passa, nem meio algum de reagir.

E se sua defesa consiste, talvez, em adormecer e em reencontrar, no sono, um estado quase fetal e geralmente plácido, nem por isso cabe perder de vista que a criança mudou completamente de condição: eis agora mergulhada em meio do choro pelas exigências das necessidades vitais.

A partir do terceiro mês, o feto responde por movimentos globais aos estímulos internos ligados ao seu desenvolvimento e à sua organização. No sexto mês registram-se movimentos de respostas a estímulos externos e pode-se até já nessa idade, obter reflexos condicionados ao barulho.

Aos sete meses, assinala-se a diferenciação entre a claridade e a obscuridade. Os sentidos cutâneos de pressão, de dor, de temperatura, estão prontos para funcionar bem antes do momento normal do nascimento.

É, pois incontestável que certa forma de sensibilidade e de atividade existe antes do nascimento; a criança vive antes do nascer, faz certo número de experiências, sente “alguma coisa”.

Pode-se, pois, falar de um psiquismo pré-natal.

Ora, a maneira pela qual a mãe vive a gravidez não deixa de influenciar a atitude para com o bebê, nem de determinar os sentimentos com os quais o acolherá. Seu comportamento a respeito da criança, refletirá infalivelmente. A criança penetra num quadro pré-fabricado ao qual vai se adaptar segundo o qual aprende a reagir na linha das potencialidades inerentes a seu organismo.

Os recém nascidos não são idênticos. Não só diferem em particularidades hereditárias, como, ainda, não têm a mesma idade no nascimento. Sua história pré-natal pode apresentar notáveis divergências. Essa diferença se verifica em que um recém-nascido fixa a luz, reage diferentemente às diversas cores, como aos gostos.

Ouve, reage a certos odores. O calor parece agradar-lhe, ao passo que o frio produz choro.

A estimulação da palma das mãos determina reflexo de agarramento, que anuncia e prefigura a ordem de marcha. Para sobreviver é totalmente dependente da boa vontade de sua roda humana.

Pode-se tentar, com alguma imaginação, fazer imagem, inteiramente teórica, daquilo que pode ser a “vida psíquica” de um recém-nascido.

Essa vida psíquica indubitavelmente feita de sensações e impressões diversas. Os próprios movimentos que observamos descoordenados e espasmódicos, não são nem dirigidos nem desejados, mas sentidos e sofridos como impressões.

Não há objetos, nem pessoas, mas “quadros” visuais, auditivos, tácteis, sem relação entre si e provavelmente muito imprecisa e difusa. A criança seguramente vê, sem perceber, porém, não sabe o que vê e ignora que haja coisas para ver, porém faz registros psíquicos que responderão na idade consciente. Os medos são formados desde a idade intra-uterina.

O bebê dorme, e suas impressões são ainda mais vagas e mais difusas; não há, contudo, razão de cuidar que haja, para o recém-nascido, qualquer diferença entre vigília e sono.

As sensações internas ligadas à fome, evidentemente não identificadas e não situadas como tais pelo bebê. São regularmente ligadas à mamada e acompanhadas da sensação de conforto das primeiras carícias. Esse conjunto plurissensorial, com o repetir-se sempre igual a si mesmo, por ocasião dos cinco ou seis aleitamentos diários, vai, necessariamente, emergir do fluxo contínuo das impressões múltiplas e mutáveis, sempre diferentes e adquirir certa consistência.

Logo, pode-se dizer que reconhece a situação de nutrição e se acalma desde que a mãe o toma para alimentá-lo.

Essa primeira forma de experiência e de “reconhecimento” de uma situação se organiza na base do incontestável avanço de desenvolvimento do aparelho bucal em relação ao resto do organismo.

O desenvolvimento regular da seqüência da qual acabamos de falar, comporta inumeráveis impressões que se desdobrarão ao longo do crescimento em uma larga escala de conforto, segurança ou de medo e rejeição. Essas impressões são sentidas de maneira global e não discriminada e poderão refletir na natureza adulta em forma de segurança ou de lixo abissal.