Para as próximas gerações

Puseram-nos a andar
sobre finas cascas de frágeis ovos
com expectativa de vida no seu interior.
Caso não tivéssemos cuidado e destreza
seríamos acusados de genocídio,
jogados contra nossa descendência
aniquilando nossa chance de mudança

Pusemo-nos a desviar
e tão suavemente a dançar,
que o calor abundante de nossos pés fez quebrar
as cascas de tão esperados ovos
Não foram mortos, mas sim chocados.
As crias que esperávamos já nasceram com fome.

Em pouco tempo elas cresceram
Já tão espertas e sagazes.
Aprendem rápido a se esgueirar, fugir e mentir,
já que esta é a melhor tática

Crescemos juntos aprendendo a enxergar no escuro,
a se articular nas crises e nas derrotas.
Essa biologia mimética e adaptativa
Força na desintegração, regeneração na mutilação.

Tão logo se multiplicaram saíram pelo mundo afora e adentro
E já estamos perto do futuro.
Pusemo-nos a andar para não criar ferrugem
Sempre sendo tocados pela brutal inspiração de momentos obscuros,
quando pulamos nos abismos e nos colocam pára-quedas sem que saibamos.

Vamos descendo abismos para descobrir outras faces
descobrir outras crias, que dispensam pára-quedas
Pois já estão levitando e correndo em direção ao futuro
Que está tão perto.

(As disputas tem sido terríveis,
ondas que se enfrentam no mar interminável e neutro,
que sempre afoga a todos
seja qual for o lado)

Ivan Henrique Roberto
2 de abril de 1987