Papel do Professor no Processo Ensino-Aprendizagem em Áreas Violentas

Atualmente, podemos verificar o quanto à população mundial está voltada para a expressão dos sentimentos de forma violenta. A sociedade não mais auxilia na educação das crianças, como nas gerações anteriores. Hoje verificando o quanto a educação das crianças foi repassada à escola, deixando o papel da família de orientar seus filhos quanto aos valores de vida, quanto as formas de respeito aos mais velhos, bem como as “palavras mágicas”, como por favor, obrigado, com licença, desculpe. Estas palavras, a escola está como responsável pela transmissão. Entretanto, se as crianças não veem seus pais as utilizarem, será que aprenderão? Mas estas crianças, além da falta destes valores, são respeitadas em seu ambiente familiar? Reflexo disso são as atitudes deles nos espaços escolares, utilizando uma linguagem completamente inadequada para uma pessoa educada, se expressam através da violência moral, psicológica e, muitas vezes, física.
As crianças, constantemente, não sabem brincar, não conhecem músicas infantis e, inclusive, não conseguem aguardar a sua vez nos jogos e brincadeiras. As músicas que estas sabem cantar e dançar são as que ouvem em seus espaços familiares que utilizam a sexualidade de forma promiscua e extremamente precoce.
As famílias destas crianças em que descrevo são constituídas de pais diferentes de cada irmão, muitas vezes sem a figura paterna, ou até sem a figura materna, podendo também ser criadas por ambos, mas num convívio nada saudável.
Até os primeiros anos do século XX, o educador era valorizado, respeitado e bem remunerado. O professor era o mestre detentor de conhecimentos, e a atividade conferia status e condições de vida adequadas. Buscamos estudar este período de mercantilização da educação, pois compreendendo a história podemos apreender a atualidade e projetar as transformações que entendemos como viáveis e necessárias para o futuro da prática educacional no Brasil.
O educador que está em sala de aula envolvido física, mental e emocionalmente com seus educandos, encontra-se exposto. O educador tem sido cobrado por todos os lados, e a crise no processo educacional não resolve facilmente. A família tem função extremamente importante nesse processo e a maioria tem se mantido omissa. A crise do sistema educacional pode ser facilmente comparada a uma panela de pressão, aonde há muitas pressões e muitas limitações.
O empregador (privado ou estatal) não dá a devida importância e assegura as condições necessárias a um bom desempenho dos profissionais, oprimidos e desgastados emocionalmente (não valorizando o ser humano) e não reconhece o volume de trabalho. Está cada vez mais comum vermos educadores procurando outras atividades para complementação de renda.
O educando não respeita os educadores (tanto pais, quanto profissionais da área da educação) e, não se interessa pelo conhecimento, não quer ser exigido e cobrado. Os mais interessados buscam apenas uma nota (aprovação).
A família exige que a escola e professores deem conta da transmissão de conhecimentos e da educação básica das crianças e adolescentes. Problemas como violência intrafamiliar e falta de afeto, despontam dentro de salas de aula com imensa importância, e os pais insistem em delegar a educação emocional à escola.
O educador cobra de si mesmo o fato de ter uma profissão com formação acadêmica, que não lhe permite tranquilidade financeira, emocional, moral. Em parte, suas (in)satisfações dependerão da significação e importância que ele mesmo dá ao seu trabalho, se foi escolhido por vocação ou por falta de oportunidades, se gosta ou não do que faz.
Todos esses motivos (formas de cobrança), aliados à falta de material, espaço físico e a necessidade de outras atividades para complementar a renda mensal levam o educador, pouco a pouco ao que o professor Lüdke (1999) chama de stress laboral, que em seu ápice é caracterizado como ‘Bournout’. O stress é caracterizado por ser um estágio entre a saúde e a doença, não sendo exatamente uma patologia.

BOURNOUT (...) é a definição de um stress crônico. Significa o desgaste emocional, a despersonalização e a incompetência para a reação dos profissionais da área da educação em relação aos estímulos internos negativos, à sobrecarga de trabalho diário e à interação negativa com o ambiente de trabalho, colegas de trabalho e com os “clientes”, neste caso, alunos. (LÜDKE, 1999, p. 05).

No clima da sala de aula, a técnica, a sensibilidade, o conhecimento, a disponibilidade, a insegurança, as certezas, as ambivalências e todos os tipos de afetos, formam e compõem um caldo cultural. O educador se abre para duas dimensões: ele é instituição e também é pessoa. Como instituição, tem funções códigos, legitimações delimitadas pela sociedade, que de alguma forma regulam o modo do professor ser e se relacionar em sala de aula. O educador também é pessoa e, nessa dimensão, ele é sua história pessoal, traz suas marcas, vive seus limites de dificuldade nas fronteiras das relações com os outros. Caso seja apenas pessoa, corre o risco de se perder enquanto proposta de ser educador, não colaborando no processo da educação dos educandos. Caso seja só instituição pode se enrijecer e perder a sensibilidade, tão fundamental na relação com crianças e adolescentes no processo ensino-aprendizagem.
Essa dicotomia acaba fazendo parte do dia a dia dos profissionais que ali estão e, sendo assim, os educadores que realizam seus trabalhos em áreas violentas têm um papel primordial na promoção da qualidade de vida destes nos meios educacionais e sociais, numa vez que estão em contato sistemático, continuado e atingem um número grande desta população.

REFERÊNCIAS
CODO, Wanderley (Coord.) Educação: carinho e trabalho. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 4. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
LüDKE, Hugo Edgar. Bournout: o stress laboral dos professores. Tese de Doutorado. Faculdade de Psicologia, Salamanca, 1999. Universidad Pontificia Salamanca, Faculdade de Psicologia.