RESUMO

O presente trabalho objetiva apresentar o modo como os papéis sociais são atribuídos no modelo de sociedade patriarcal, do qual é marcado pelas desigualdades entre homens e mulheres, bem como as transformações vivenciadas pelas mulheres vêm se destacando no gênero musical do rock, caracterizado por suas letras contendo manifestações, críticas e rebeldias e que ao se referir as relações de gênero busca dar visibilidade ao modo como essas relações se estabeleceram em nossa sociedade.

Vivemos numa sociedade marcada por desigualdades entre homens e mulheres, as quais, entre outros fatores, são marcadas pelos papéis sociais atribuídos socialmente. Estas desigualdades são oriundas de um modelo de sociedade patriarcal em que o homem exercia autoridade sobre a propriedade e sobre o núcleo familiar, em especial sobre a mulher, da qual devia obediência ao marido e dedicação ao cuidado com a família e ao trabalho interno do lar. Portanto, o papel da mulher tem sido marcado por submissão na vida social e sendo a ela atribuído o papel somente dos cuidados da casa e dos filhos. A partir das transformações principalmente no mundo do trabalho a mulher passa a assumir outros papéis sociais, inserindo-se no mercado de trabalho. Porém, esta inserção no espaço “externo”, na atividade laboral, em muitos casos, não a exime das responsabilidades originárias. Também se verifica profundas desigualdades, por exemplo, nos salários diferenciados e nas condições impostas ao trabalho das mulheres, nos diferentes espaços sócio ocupacionais. Conforme o IBGE, em 2002 as mulheres inseridas no mercado de trabalho recebiam, em média, 70% dos rendimentos dos homens, mesmo tendo em média um ano a mais de estudo. Ou seja: em comparação a um homem que recebesse R$800,00, a mulher ocupada, nesse caso, receberia R$560,00. Conforme Azeredo (2011), mesmo a mulher conseguindo seu espaço, ainda é de sua inteira responsabilidade o trabalho doméstico, assumindo então uma dupla jornada de trabalho. Tais desigualdades são pautas dos movimentos feministas a partir da década de 1960, no Brasil. Estes movimentos se caracterizam por suas expressões políticas, das quais empreendem lutas de enfrentamento ao sistema patriarcal-capitalista, bem como lutas contra todas as formas de opressão, discriminação e subalternidade sobre as mulheres. Assim, a questão de gênero se caracteriza pela sua construção histórico-social baseada nas relações sociais onde os papéis atribuídos aos homens (poder) e mulheres (submissão) são produtos de uma construção social em que se permeiam as desigualdades entre os sexos. É também neste período que ocorre a efervescência do rock onde gênero musical, expressa a realidade das transformações ocorridas na sociedade em diferentes períodos históricos, se caracterizando pela manifestação, rebeldia, e questionamentos. Em relação à questão de gênero, o rock proporciona visibilidade para as construções culturais dos papéis atribuídos na sociedade ao homem e a mulher. As transformações vivenciadas pelas mulheres são verificadas, por exemplo, no rock, que tem como papel transformador de estar sempre contribuindo seja com composições reflexivas ou críticas ao modo como as relações de gênero se estabelecem. Analisamos o rock nacional Desconstruindo Amélia, composta por Pitty e Martin em 2009, o seguinte trecho da música enfatiza a transformação vivenciada pela mulher: “[...] O ensejo a fez tão prendada. Ela foi educada pra cuidar e servir. De costume esquecia-se dela. Sempre a última a sair. Disfarça e segue em frente. Todo dia, até cansar. E eis que de repente ela resolve então mudar [...] Vira a mesa. Assume o jogo. Faz questão de se cuidar. Nem serva, nem objeto já não quer ser o outro hoje ela é um também [...] A despeito de tanto mestrado. Ganha menos que o namorado. E não entende o porquê . Tem talento de equilibrista ela é muitas, se você quer saber [...] Depois do lar, do trabalho e dos filhos. Ainda vai pra night ferver [...]”.

A reflexão da música apresenta o reconhecimento dos avanços da mulher, deixando da submissão até alcançar sua independência, mas também nos trás a reflexão de que há muito a construir para que as desigualdades de gênero se desfaçam.  Portanto a importância do rock é fundamental nesse processo, pois ele leva até o ouvinte as críticas de modo fácil ao acesso e assim contribuindo para uma sociedade mais crítica e reflexiva sobre como as relações de gênero se expressam.

REFERÊNCIAS

AZEREDO, S. Preconceito contra a mulher: diferença, poemas e corpos. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Desigualdade entre sexos. Disponível em: http://teen.ibge.gov.br/pt/biblioteca/274-teen/mao-na-roda/1723-desigualdade-entre-sexos. Acesso em 29 de maio de 2015.