Foi o que meu pai disse um dia de uns muitos dezembros passados.

Senti o impacto daquela frase. E agora? quem vai ajudar o "papai Noel"? Será que ele vai sair dessa?

Então eu fiquei imaginando uma loja sem movimento, com as prateleiras vazias, só com um brinquedinho aqui, outro alí, e um velhinho parado atrás de um balcão, vendo o tempo passar, monótono.

Era a minha visão de Noel pobre. Não via um velho no Pólo Norte morrendo de frio em um iglu. Fui acostumado a ver as lojas da Zona Franca cheias de eletrônicos importados, brinquedos, com um monte de turistas entrando e saindo. No Natal, então, as luzes e as musiquinhas revitalizavam tudo.

Agora, Noel estava pobre, atrás de um balcão, sem mercadorias e sem musiquinha.

Não sei se foi no mesmo ano, mas em uma véspera de Natal vi minhas duas irmãs mais novas ganhando, cada uma, um joguinho barato de xícaras de plástico. Nós costumávamos ganhar bons presentes. Naquele ano nem houve ceia. Todo ano havia uma, e também visitas às avós.

Meus pais entraram em casa com as duas pequenas. Lembro do modo frustrado como eles deram os presentinhos para elas. Disseram alguma coisa meio sem jeito. Para mim e para a mais velha, nada.

Nós dois ficamos no pátio, olhando não sei o quê, sem dizer nada, com as caras de tacho.

Começou a chover, ficamos ali um tempinho sentindo os respingos, depois entramos e fomos dormir.

A partir daquela noite, percebi que esse negócio de Natal e "noite feliz" estava mal contado. Não por não ter ganhado presente, mas por ter visto o semblante triste dos meus pais.

Então comecei a ficar atento a coisas sobre o Natal que a igreja não comenta, e me convenci mesmo que estava tudo mal contado, desde a data do nascimento de Jesus até os enfeites. Até que resolvi que dia 24 de dezembro é pra mim uma boa data de confraternização, só isso, sem ficar com peso na consciência de estar esnobando o aniversário de Jesus, pois, afinal, não é.

Felizmente hoje a verdade sobre presentes é outra. Todo ano o pé da árvore na casa da minha mãe fica cheio, abarrotado de presentes, mas confesso: continuo não acreditando no Natal. Nem no Noel, ele mente muito.