Panorama nacional do cultivo de goiaba no Brasil e produção integrada de frutas ( Julio C. Galli e Ricardo A. Calore)

             Dados do AGRIANUAL (2010) indicam que, no Brasil, 14.998 hectares eram cultivados com goiabeiras que produziram 316.301 toneladas de frutos. No Estado de São Paulo, maior produtor nacional, foram cultivados 4.236 hectares, responsáveis pela produção de 102.965 toneladas de frutos, valores que representam 28,24 % da área total de cultivo e 32,55% da produção nacional. Naquele estado a produção de goiabas para mesa é concentrada nas regiões próximas à capital (Valinhos, Vinhedo, Campinas, Atibaia e Mogi das Cruzes) e nas regiões Mirandópolis, Pacaembu e Monte Alto. Goiabas para a indústria e/ou mesa são cultivadas principalmente nas regiões de Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e São Carlos, com destaque para os municípios de Monte Alto, Taquaritinga, Itápolis, Urupês, Vista Alegre do Alto e São Carlos.

              A cadeia produtiva de frutas no Brasil abrange 2,2 milhões de hectares, gerando 4 milhões de empregos diretos com a demanda de mão de obra de duas a cinco pessoas por hectare, fixando o trabalhador no campo e relacionando-se com um PIB agrícola de 11 bilhões. As transações externas brasileiras de frutas frescas caracterizam-se pela exportação de frutas tropicais e pela importação de frutas de clima temperado que apresentam pequena produção no país, com exceção da maçã. Embora seja o terceiro maior produtor do mundo, o Brasil é ainda um país marginal no comércio mundial de frutas frescas, sendo que do total produzido, apenas 1% destina-se à exportação (Europa 63% e Mercosul 18%), 46% para a indústria e 53% para o mercado interno (ALMEIDA 2002).

               A goiaba sempre foi uma fruta bastante apreciada e consumida pelos paulistas, mas a sua exportação comercial estava limitada às lavouras, cujas produções dstinavam-se ao processamento industrial. Foram os agricultores de origem japonesa, fruticultores em Mogi das Cruzes, que deram início à produção comercial de goiaba para o consumo in natura. Isso só foi possível graças ao desenvolvimento, por esses produtores, de uma refinada tecnologia de produção que envolveu a criação de variedades mais adaptadas às exigências do consumidor brasileiro (PIZA, 1994).

             O aumento do consumo de frutas de mesa e de sucos naturais é uma tendência mundial que pode ser aproveitada como um incentivo para uma produção de qualidade (ZAMBÃO et al., 1998).

             Dentre os fatores que contribuem para a reduzida inserção dos produtos tropicais no mercado de frutas fresca, destacam-se o baixo padrão de qualidade das frutas sob o enfoque de exigências internacionais de um mercado importador concentrado e exigente protegido por barreiras fitossanitárias, o pouco conhecimento sobre frutas de clima tropical, o uso inadequado de agrotóxicos e tecnologia de pós-colheita deficiente (ALMEIDA, 2002).

              Devido à grande exigência dos países importadores com relação a ausência de pragas e resíduos químicos, junto à conscientização ambiental de consumidores e produtores brasileiros, o manejo das pragas da goiaba tem se aperfeiçoado. Partindo-se do monitoramento da flutuação populacional, utilizando-se armadilhas, outras alternativas de controle das pragas estão sendo empregadas, destacando-se o ensacamento dos frutos, a liberação dos machos estéreis e a utilização de parasitoides (UCHOA-FERNANDES & ZUCCHI, 1999; GARCIA et al., 2003; MALAVASI & NASCIMENTO, 2003).

              O aumento da competitividade da goiaba e seus produtos se faz necessário no Brasil, pela possibilidade de se alavancar um grande volume de exportação, proporcionando divisas importantes para o país, além de proporcionar a geração de milhares de emprego em toda a cadeia produtiva.

IMPORTÂNCIA ALIMENTAR, ECONÔMICA E  SOCIAL

 

              A cultura da goiabeira apresenta importância econômica real e potencial no Brasil, em virtude das múltiplas formas de aproveitamento de seus frutos. O consumo da fruta in natura é pequeno, sendo estimado em 300 gramas per capita por ano, embora a goiabada seja um dos doces mais apreciados pelos brasileiros. Na medicina popular é recomendada no combate ao escorbuto e diarréia. O comércio mundial da goiaba e de seus derivados tem pouca expressão, quando comparado ao de outras frutas tropicais, como a banana, a manga e o melão. A preferência do mercado externo está sintonizada para a fruta de polpa branca, em contraposição ao mercado interno onde a opção é pela fruta de polpa vermelha. A “maçã dos trópicos” tem a maior parte da produção consumida como fruta fresca, e o restante processado sob as formas de goiabada, geleia, bala, suco, polpa, vinho, fruta seca e conservas (SALUNKHE et al., 1995).

               A excelente qualidade da goiaba é atribuída ao elevado teor nutritivo, excelentes propriedades organolépticas, alto rendimento por hectare e polpa de elevada qualidade industrial. Rica em vitamina C, com valores seis a sete vezes superiores aos dos frutos cítricos (fonte tradicional desta vitamina), não supera apenas as quantidades presentes na acerola, camu-camu e caju. Em variedades silvestres, pode-se encontrar 600 a 700 miligramas e nas melhores cultivares de 240 a 300 miligramas de ácido ascórbico por cem gramas de fruta. Destaca-se ainda pelo elevado conteúdo de açúcares, vitamina A e vitaminas do gupo B (tiamina e niacina) e teores significativos de fósforo, ferro e cálcio. Com aroma e sabor característicos, possui alto teor de fibras que confere a capacidade de alta digestibilidade. O aproveitamento da polpa apresenta-se sob forma de goiaba em caldas ou fatias, doces em massas (goiabadas), geleias, geleiados, sucos, néctar, sorvete e base para xarope e bebidas (CAVALHO, 1994).

                No Brasil, cultivos comerciais desta fruta ocorrem do Maranhão ao Rio Grande do Sul onde, em muitas localidades, a cultura da goiaba tem importância social por empregar principalmente mão de obra familiar, o que ajuda a fixar o homem no campo.

PRODUÇÃO  INTEGRADA  DE  FRUTAS  (PIF)

 

 

                 A qualidade certificada de frutas passou a ser uma exigência dos mercados importadores que através de programas e legislações específicas realizam o controle e a fiscalização permanente de toda a cadeia produtiva no país exportador (NAKA, 2001), visando a segurança alimentar e proteção ambiental, pela extinção e/ou substituição do uso de produtos químicos (agrotóxicos) por produtos biológicos e fitorreguladores.

                  A Produção Integrada de Frutas (PIF) caracteriza-se como um sistema de produção que gera alimentos e demais produtos de alta qualidade, mediante o uso de recursos naturais e regulação de mecanismos para a substituição de insumos poluentes (BOLETIM IOBC/WPRS, 1999). Isso vem se tornando possível graças ao aperfeiçoamento do manejo das pragas, partindo-se do monitoramento da flutuação populacional utilizando-se armadilhas, além de outras alternativas de controle, destacando-se o ensacamento dos frutos, a liberação de machos estéreis e a utilização de inimigos naturais com mais ênfase para os parasitóides (UCHOA-FERNANDES & ZUCCHI, 1999; GARCIA et al., 2003; MALAVASI & NASCIMENTO, 2003).

                    No contexto mundial, o selo de qualidade para produtos agropecuários torna-se imprescindível para transações comerciais, dando credibilidade para produtores e confiança para consumidores (HATSCHBACH, 2000). A produção integrada de frutas é uma exigência dos mercados importadores, principalmente da Comunidade Européia, rigorosa em requisitos de qualidade e sustentabilidade, enfatizando a proteção do meio ambiente, segurança alimentar, condições de trabalho, saúde humana e viabilidade econômica. O sistema é parte do conteúdo do “Programa de Desenvolvimento da Fruticultura “ (Profruta), integrante do Plano Plurianual 2000/2003 como uma das prioridades estratégicas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) (PRATINI DE MORAES, 2002).

                    O levantamento populacional é o primeiro passo para se chegar ao manejo integrado de pragas, observando-se os picos populacionais e as relações com fatores bioecológicos (BARBOSA et al., 2001; MENEZES JR. & PASINI, 2001).

 

REFERÊNCIAS  BIBLIOGRÁFICAS

 

AGRIANUAL 2010: Anuário da Agricultura Brasileira. São Paulo: FNP Consultoria & Agroinformativo, p. 344,2010

ALMEIDA,J.G.F. Barreiras às exportações de frutas. Fitopatologia Brasileira,v.27 p. S7-S10, 2002.

BARBOSA, F.R.; SANTOS,A.P.; MOREIRA,W.A.;LIMA,J.A.S.; ALENCAR,J.A.; HAJI,F.N.P. Eficiência e seletividade de inseticidas no controle do psilídeo (Triozoida spp.) em goiabeira. Ecotoxicologia e Meio Ambiente. V.11, p. 45-52, 2001.

Boletim IOBC/WPRS, 1999. In: Marco legal da produção integrada de frutas do Brasil. Organizado por José Rosalvo Andrigueto e Sdilson Reinaldo Kososki. Brasília-DF: MAPA/SARC, p3, 2003.

CARVALHO, V.D. de. Qualidade e conservação pós-colheita de goiabas. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.17, n. 179, p. 48-54, 1994.

GARCIA, F.R.M.; CAMPOS,J.V.; CORSEUIL,E. Flutuação populacional de Anastrepha fraterculus (Wiedemann, 1830) (Diptera, Tephritidae) na  Região Oeste de Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de Entomologia, v.47, n.3, 2003.

HATSCHBACH, L.C. Selo de Qualidade. Revista CREA-PR, n.9, 2000.

MALAVASI, A.; NASCIMENTO, A.S. Programa Biofábrica Moscamed Brasil. São Pedro-SP. SICONBIOL, 5, p. 52. 2003.

MENEZES JR., PASINI, A. Parasitóides (Hymenoptera: Chalcidóidea) associados à Triozoida limbata L. (Myrtaceae) na região Norte do Paraná. In: SIMPÓSIO DE CONTROLE BIOLÓGICO, 7, 2001, Poços de Caldas. SINCOBIOL, p. 344, 2001.

NAKA,J. Produção integrada da fruticultura. In: Agroverde Informe – CLAES. Disponível em : http://www.ambiental.net/agroverde/Produc%.          Acesso em 20/06/2008.

PIZA JR, C.T.  A cultura da goiaba de mesa. Campinas Boletim Técnico – CATI, v. 219, 28 p., 1994.

PRATINI DE MORAES, M.V. Apresentação. In: ANDRIGUETO, J.R. Marco legal da produção integrada de frutas no Brasil. Organizado por José Rozalvo Andrigueto e Adilson Reinaldo Kososk. Brasília: MAPA/SARC. V. 3, 60 p., 2002.

SALUNKHE, D.K. and KADAM, S.S. Handbook of Fruit Science and Technology: Production, Composition, Storage and Processing. Marcel Dekker, In., New York. 611p., 1995.

UCHOA-FERNANDES, M.A.; ZUCCHI,R.A. Metodologia de coleta de tephritidae y lonchaeidae frugívoros (Díptera: Tephritidae) y SUS parasitoides (Hymenoptera). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v. 28, p. 601-610, 1999.

ZAMBÃO, L.C., NETO, A.M.B. Cultura da Goiaba. Boletim Técnico – CATI 236, Cap. 1, p. 01-03, 1998.