PALLOTTINI, Renata. O que é dramaturgia. São Paulo: Brasiliense, 2005
Publicado em 18 de janeiro de 2011 por Camila da Fonsêca Aranha
PALLOTTINI, Renata. O que é dramaturgia. São Paulo: Brasiliense, 2005.
Camila da Fonsêca Aranha
Renata Pallottini nasceu em São Paulo, capital, em 20 de janeiro de 1931, cidade na qual realizou seus primeiros estudos. Cursou e formou-se em direito pela Universidade de São Paulo ? USP ? e em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC). Posteriormente, iniciou seus estudos de teatro nos cursos livres da Sorbonne Nouvelle, em Paris, em 1959, sendo que, ao retornar para o Brasil, ingressa na Escola da Arte Dramática de São Paulo (EAD) em 1961. Atualmente, é professora aposentada da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, onde ministra aulas nos cursos de pós-graduação. Além disso, doutorou-se pela ECA em 1982. Dentre sua produção, Pallottini escreveu diversos trabalhos para o teatro e a televisão ? Vila Sésamo, Malu Mulher e Joana ? e publicou vários livros de poesia e prosa ? dentre estes, inclusive peças de teatro e ensaios. Dentre os livros publicados, destacam-se A Lâmpada (1960); O Exercício da Justiça (1962); O Crime da Cabra (1965); Pedro Pedreiro; O Escorpião de Numância (1967); A História do Juiz (1957); Serenata Cantada aos Companheiros (1976); Colônia Cecília (1984); Enquanto Se Vai Morrer (1972); Coração Americano (1976); Chão de Palvras (1977); Noite afora (1978); e Obra Poética (1995). Ademais, Pallottini também tem significativa atuação na área da tradução, já tendo traduzido as obras Hair, de James Rado e Gerome Ragni, Godspell, de John Mitchell Tebelak, A Vida é um Sonho, de Calderón de La Barca, Divinas Palavras, de Ramón del Valle-Inclán, Cidade Invisíveis, de Ítalo Calvino, e textos de Frederico García Lorca.
A obra O que é dramaturgia, da dramaturga paulista Renata Pallottini, foi publicada em 2005 e é dividida em 7 capítulos (Prefácio ? A dramaturgia como teoria; Afinal, o que é dramaturgia; Ação dramática e conflito; Teatro épico e dramática rigorosa; Análise de um texto do teatro épico; Conclusões; Indicações para leitura). Na verdade, esse texto consiste em uma retomada e em uma espécie de reconfiguração de trabalho anterior da autora, publicado pela mesma editora (Brasiliense), intitulado Introdução à Dramaturgia, que é a própria tese de doutorado de Pallottini.
Dessa forma, Pallottini apresenta em O que é dramaturgia o cenário histórico-teórico da dramaturgia, perpassando por teorias que buscaram estudar, conceituar e explicar o drama e seus elementos, possibilitando, assim, conceituá-lo enquanto um ato de criação, um poder criativo que essencialmente não é regido por códigos ou padrões estabelecidos, mas sim por meio de uma relação dialética entre a imaginação e o mundo real. Entretanto, apesar de não ser possível estabelecer um rígido código de normas cênico-literárias, elas ainda assim existem, posto que diversos teóricos ? a exemplo de Aristóteles, em sua Arte Poética, Hegel e Boal ? buscaram postular leis do drama, as quais possuem papel fundamental a uma compreensão mais ampla e completa do que seja o fenômeno dramático.
A esse respeito, Fernando Peixoto (apud Pallottini, 2005, p. 10) afirma que:
A trajetória da dramaturgia universal atesta de forma incontestável que os verdadeiros artistas sempre recusam tradições já gastas e buscam novas maneiras de expressão, num permanente ato de questionamento, sensíveis às necessidades de seu tempo e também às raízes culturais de seu povo. Não para passivamente cultivá-las ou sacralizá-las, mas justamente transformá-las e desenvolvê-las.
Assim sendo, a autora apresenta que a dramaturgia, etimologicamente oriunda do grego e com o sentido de "compor um drama", seria a arte de compor dramas. A respeito do drama, Pallottini ressalta que não se deve apressadamente concebê-lo enquanto uma "peça de teatro com final infeliz, de tom sério, ou que leve a um desfecho pessimista" (PALLOTTINI, 2005, p. 13), mas que simplesmente se deve compreender o drama enquanto uma peça de teatro, um texto que foi produzido para ser encenado ? um gênero literário específico. Em suma, dramaturgia seria a "técnica da arte dramática que busca estabelecer os princípios de construção de uma obra do gênero mencionado" (PALLOTTINI, 2005, p. 13). Princípios e não regras, pois, em virtude da palavra "regra" carregar consigo uma forte denotação de orientação obrigatoriamente a ser seguida quando, na realidade, não é isso que acontece na produção de peças teatrais. Para uma peça teatral ser boa, não necessita seguir rigorosamente regras dramáticas, mas sim, conforme já explicitado, do poder criativo do dramaturgo e de sua relação dialética com o mundo.
Há, ainda, conforme relata a pesquisadora, outra acepção de dramaturgia, oriunda da própria concepção brechtiana, que compreende não apenas a estrutura interna da obra dramática, mas também o resultado final do texto encenado ? posto em cena ?, proporcionando uma interação com o público que o assiste. Nasce assim, a figura do dramaturgista, isto é, pessoa responsável pela seleção e adaptação do texto dramático à encenação juntamente com o diretor.
Posto isto, é condição necessária à produção de um bom texto dramático a existência de um conteúdo a ser expressado, veiculado ? conteúdo este que deve ser buscado dentro de cada pessoa, por meio de ideias, sensações, emoções, observações e lembranças, possibilitando que o espectador se identifique com aquilo que é mostrado, prendendo, assim, sua atenção ao espetáculo. Ademais, esse conteúdo que o dramaturgo deseja transmitir pode sê-lo através de palavras ou gestos, o mais importante é que ele seja transmitido, expressado na encenação pelos atores/personagens e que contenha uma ideia central (ou seja, a motivação que levou o dramaturgo a escrever a peça). Dessa maneira, o texto dramático, por meio de seu conteúdo, converge para o ser caráter de uno, para a sua unicidade, chamada de Unidade de Ação, que todo drama deve possuir e que tem estreita relação com a ação dramática, outro elemento fundamental ao gênero dramático.
A ação dramática, por sua vez, é o caminho dinâmico percorrido pelo protagonista da peça para alcançar aquilo que deseja obter (seu objetivo), superando obstáculos, passando por cima de conflitos ? internos e externos ? e esforçando-se ao máximo para encontrar o que deseja. A ação dramática também necessita de unidade ? e, nesse ponto, atualmente já se entende que a famosa Lei das Três Unidades de Aristóteles (quanto ao tempo, ao lugar e a ação) pode ser "atualizada" de modo a contemplar apenas a ação. Assim sendo, a unidade da ação se encontra na realização de um fim determinado mediante a ocorrência de um conjunto de conflitos, que cessará apenas ao final do drama.
Acerca da ação dramática e do conflito, a dramaturga desenvolve um capítulo inteiro para tratar sobre esses dois elementos da dramaturgia, dissecando-os em seus principais pontos, conceituações e teorias.
Pallottini discorre acerca do conceito de ação dramática tecido por Aristóteles em sua Poética, afirmando que ela é o resultado da imitação das ações humanas ? e não dos seres humanos em si, mas de suas ações ? e deve ser completa, ou seja, possuir começo, meio e fim e certa grandeza ideal.
Hegel, por sua vez, aponta que a poesia dramática nasce da necessidade humana de ver a ação representada por meio de um conflito de circunstâncias, quaisquer que sejam elas, que caminha até o final do drama. Logo, é a partir do entendimento de Hegel que se coloca a questão do conflito como elemento essencial à caminhada da ação dramática. Ademais, ainda segundo Hegel, o drama apresenta uma ação que tem como base uma pessoa moral, isto é, "os acontecimentos parecem nascer da vontade interior e do caráter das personagens" (PALLOTTINI, 2005, p. 27). Além disso, a ação é a vontade humana que persegue seus objetivos consciente do resultado final ? é a ação de quem quer e faz.
Nas próprias palavras de Hegel (apud PALLOTTINI, 2005, p. 29):
Só deste modo a ação aparece como ação, isto é, como realização efetiva de intenções e de fins; intenções e fins com os quais o indivíduo se confunde como parte integrante de si mesmo e que, por conseguinte, também devem aderir antecipadamente a todas as conseqüências exteriores da sua realização. O indivíduo dramática recolhe os frutos dos próprios atos.
Hegel também comenta a respeito da relação existente entre o drama, o épico e o lírico, destacando que a compreensão do drama comporta a união mediata do princípio épico e do princípio lírico. Complementando, segundo Anatol Rosenfeld, o gênero dramático estaria entre o épico e o lírico, uma vez que reúne a objetividade (da externalização da ação) da epopéia com o subjetivismo (de exposição de sentimentos e razões morais) da lírica. Entretanto, para Hegel, a Dramática é superior à Lírica e à Épica.
Hegel afirma que a finalidade da ação só é dramática se produzir outros interesses e paixões opostas: encontra-se aí, de modo expresso, o princípio do conflito, que é conceituado por Pallottini (2005, p. 31) como "uma ação, desencadeada por uma vontade, que tem em mira um determinado objetivo que colide com interesses e paixões" ? logo, vontades contrapostas. O conflito é, pois, um elemento essencial à ação dramática.
Por fim, a autora apresenta o pensamento hegeliano da progressão e do interesse dramáticos. A progressão dramática consiste no próprio curso da peça até o seu momento final, que é alcançado após toda a caminhada da ação dramática e do(s) conflito(s) correspondente(s) (dinâmica do conflito). O interesse dramático, por sua vez, só nasce a partir do conflito entre os objetivos/intenções das personagens. É a partir do conflito dramático que poderá ser observado o que se chama de interesse dramático: diferentes interesses colidindo em virtude da existência de vontades contrapostas.
Após dissertar exaustivamente acerca da ação dramática, Pallottini comenta a respeito dos métodos de análise dramatúrgica do texto cênico, quais sejam: o método indutivo e o método dedutivo. O primeiro refere-se àquele que parte da indução, do particular ao geral ? a partir da observação de diversos fatos, se extrai uma regra baseada no empirismo da pesquisa ?, diretamente relacionado aos sentidos. É desse método de análise de que se vale a Poética de Aristóteles. O segundo método, a se turno, concerne justamente ao oposto do primeiro, isto é, parte da dedução, do geral ao particular ? a conclusão deriva de premissas (maior e menor) e baseia-se no silogismo . Bertold Brecht se utiliza desse método de análise dramática.
Basicamente, Renata Pallottini preocupou-se em apresentar em sua obra O que é dramaturgia um percurso histórico das teorias do drama, bem como os seus elementos mais essenciais, os quais podem ser resumidos na própria ação dramática e no conflito englobado por ela ? conforme devidamente dissertado na presente resenha.
Camila da Fonsêca Aranha
Renata Pallottini nasceu em São Paulo, capital, em 20 de janeiro de 1931, cidade na qual realizou seus primeiros estudos. Cursou e formou-se em direito pela Universidade de São Paulo ? USP ? e em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC). Posteriormente, iniciou seus estudos de teatro nos cursos livres da Sorbonne Nouvelle, em Paris, em 1959, sendo que, ao retornar para o Brasil, ingressa na Escola da Arte Dramática de São Paulo (EAD) em 1961. Atualmente, é professora aposentada da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, onde ministra aulas nos cursos de pós-graduação. Além disso, doutorou-se pela ECA em 1982. Dentre sua produção, Pallottini escreveu diversos trabalhos para o teatro e a televisão ? Vila Sésamo, Malu Mulher e Joana ? e publicou vários livros de poesia e prosa ? dentre estes, inclusive peças de teatro e ensaios. Dentre os livros publicados, destacam-se A Lâmpada (1960); O Exercício da Justiça (1962); O Crime da Cabra (1965); Pedro Pedreiro; O Escorpião de Numância (1967); A História do Juiz (1957); Serenata Cantada aos Companheiros (1976); Colônia Cecília (1984); Enquanto Se Vai Morrer (1972); Coração Americano (1976); Chão de Palvras (1977); Noite afora (1978); e Obra Poética (1995). Ademais, Pallottini também tem significativa atuação na área da tradução, já tendo traduzido as obras Hair, de James Rado e Gerome Ragni, Godspell, de John Mitchell Tebelak, A Vida é um Sonho, de Calderón de La Barca, Divinas Palavras, de Ramón del Valle-Inclán, Cidade Invisíveis, de Ítalo Calvino, e textos de Frederico García Lorca.
A obra O que é dramaturgia, da dramaturga paulista Renata Pallottini, foi publicada em 2005 e é dividida em 7 capítulos (Prefácio ? A dramaturgia como teoria; Afinal, o que é dramaturgia; Ação dramática e conflito; Teatro épico e dramática rigorosa; Análise de um texto do teatro épico; Conclusões; Indicações para leitura). Na verdade, esse texto consiste em uma retomada e em uma espécie de reconfiguração de trabalho anterior da autora, publicado pela mesma editora (Brasiliense), intitulado Introdução à Dramaturgia, que é a própria tese de doutorado de Pallottini.
Dessa forma, Pallottini apresenta em O que é dramaturgia o cenário histórico-teórico da dramaturgia, perpassando por teorias que buscaram estudar, conceituar e explicar o drama e seus elementos, possibilitando, assim, conceituá-lo enquanto um ato de criação, um poder criativo que essencialmente não é regido por códigos ou padrões estabelecidos, mas sim por meio de uma relação dialética entre a imaginação e o mundo real. Entretanto, apesar de não ser possível estabelecer um rígido código de normas cênico-literárias, elas ainda assim existem, posto que diversos teóricos ? a exemplo de Aristóteles, em sua Arte Poética, Hegel e Boal ? buscaram postular leis do drama, as quais possuem papel fundamental a uma compreensão mais ampla e completa do que seja o fenômeno dramático.
A esse respeito, Fernando Peixoto (apud Pallottini, 2005, p. 10) afirma que:
A trajetória da dramaturgia universal atesta de forma incontestável que os verdadeiros artistas sempre recusam tradições já gastas e buscam novas maneiras de expressão, num permanente ato de questionamento, sensíveis às necessidades de seu tempo e também às raízes culturais de seu povo. Não para passivamente cultivá-las ou sacralizá-las, mas justamente transformá-las e desenvolvê-las.
Assim sendo, a autora apresenta que a dramaturgia, etimologicamente oriunda do grego e com o sentido de "compor um drama", seria a arte de compor dramas. A respeito do drama, Pallottini ressalta que não se deve apressadamente concebê-lo enquanto uma "peça de teatro com final infeliz, de tom sério, ou que leve a um desfecho pessimista" (PALLOTTINI, 2005, p. 13), mas que simplesmente se deve compreender o drama enquanto uma peça de teatro, um texto que foi produzido para ser encenado ? um gênero literário específico. Em suma, dramaturgia seria a "técnica da arte dramática que busca estabelecer os princípios de construção de uma obra do gênero mencionado" (PALLOTTINI, 2005, p. 13). Princípios e não regras, pois, em virtude da palavra "regra" carregar consigo uma forte denotação de orientação obrigatoriamente a ser seguida quando, na realidade, não é isso que acontece na produção de peças teatrais. Para uma peça teatral ser boa, não necessita seguir rigorosamente regras dramáticas, mas sim, conforme já explicitado, do poder criativo do dramaturgo e de sua relação dialética com o mundo.
Há, ainda, conforme relata a pesquisadora, outra acepção de dramaturgia, oriunda da própria concepção brechtiana, que compreende não apenas a estrutura interna da obra dramática, mas também o resultado final do texto encenado ? posto em cena ?, proporcionando uma interação com o público que o assiste. Nasce assim, a figura do dramaturgista, isto é, pessoa responsável pela seleção e adaptação do texto dramático à encenação juntamente com o diretor.
Posto isto, é condição necessária à produção de um bom texto dramático a existência de um conteúdo a ser expressado, veiculado ? conteúdo este que deve ser buscado dentro de cada pessoa, por meio de ideias, sensações, emoções, observações e lembranças, possibilitando que o espectador se identifique com aquilo que é mostrado, prendendo, assim, sua atenção ao espetáculo. Ademais, esse conteúdo que o dramaturgo deseja transmitir pode sê-lo através de palavras ou gestos, o mais importante é que ele seja transmitido, expressado na encenação pelos atores/personagens e que contenha uma ideia central (ou seja, a motivação que levou o dramaturgo a escrever a peça). Dessa maneira, o texto dramático, por meio de seu conteúdo, converge para o ser caráter de uno, para a sua unicidade, chamada de Unidade de Ação, que todo drama deve possuir e que tem estreita relação com a ação dramática, outro elemento fundamental ao gênero dramático.
A ação dramática, por sua vez, é o caminho dinâmico percorrido pelo protagonista da peça para alcançar aquilo que deseja obter (seu objetivo), superando obstáculos, passando por cima de conflitos ? internos e externos ? e esforçando-se ao máximo para encontrar o que deseja. A ação dramática também necessita de unidade ? e, nesse ponto, atualmente já se entende que a famosa Lei das Três Unidades de Aristóteles (quanto ao tempo, ao lugar e a ação) pode ser "atualizada" de modo a contemplar apenas a ação. Assim sendo, a unidade da ação se encontra na realização de um fim determinado mediante a ocorrência de um conjunto de conflitos, que cessará apenas ao final do drama.
Acerca da ação dramática e do conflito, a dramaturga desenvolve um capítulo inteiro para tratar sobre esses dois elementos da dramaturgia, dissecando-os em seus principais pontos, conceituações e teorias.
Pallottini discorre acerca do conceito de ação dramática tecido por Aristóteles em sua Poética, afirmando que ela é o resultado da imitação das ações humanas ? e não dos seres humanos em si, mas de suas ações ? e deve ser completa, ou seja, possuir começo, meio e fim e certa grandeza ideal.
Hegel, por sua vez, aponta que a poesia dramática nasce da necessidade humana de ver a ação representada por meio de um conflito de circunstâncias, quaisquer que sejam elas, que caminha até o final do drama. Logo, é a partir do entendimento de Hegel que se coloca a questão do conflito como elemento essencial à caminhada da ação dramática. Ademais, ainda segundo Hegel, o drama apresenta uma ação que tem como base uma pessoa moral, isto é, "os acontecimentos parecem nascer da vontade interior e do caráter das personagens" (PALLOTTINI, 2005, p. 27). Além disso, a ação é a vontade humana que persegue seus objetivos consciente do resultado final ? é a ação de quem quer e faz.
Nas próprias palavras de Hegel (apud PALLOTTINI, 2005, p. 29):
Só deste modo a ação aparece como ação, isto é, como realização efetiva de intenções e de fins; intenções e fins com os quais o indivíduo se confunde como parte integrante de si mesmo e que, por conseguinte, também devem aderir antecipadamente a todas as conseqüências exteriores da sua realização. O indivíduo dramática recolhe os frutos dos próprios atos.
Hegel também comenta a respeito da relação existente entre o drama, o épico e o lírico, destacando que a compreensão do drama comporta a união mediata do princípio épico e do princípio lírico. Complementando, segundo Anatol Rosenfeld, o gênero dramático estaria entre o épico e o lírico, uma vez que reúne a objetividade (da externalização da ação) da epopéia com o subjetivismo (de exposição de sentimentos e razões morais) da lírica. Entretanto, para Hegel, a Dramática é superior à Lírica e à Épica.
Hegel afirma que a finalidade da ação só é dramática se produzir outros interesses e paixões opostas: encontra-se aí, de modo expresso, o princípio do conflito, que é conceituado por Pallottini (2005, p. 31) como "uma ação, desencadeada por uma vontade, que tem em mira um determinado objetivo que colide com interesses e paixões" ? logo, vontades contrapostas. O conflito é, pois, um elemento essencial à ação dramática.
Por fim, a autora apresenta o pensamento hegeliano da progressão e do interesse dramáticos. A progressão dramática consiste no próprio curso da peça até o seu momento final, que é alcançado após toda a caminhada da ação dramática e do(s) conflito(s) correspondente(s) (dinâmica do conflito). O interesse dramático, por sua vez, só nasce a partir do conflito entre os objetivos/intenções das personagens. É a partir do conflito dramático que poderá ser observado o que se chama de interesse dramático: diferentes interesses colidindo em virtude da existência de vontades contrapostas.
Após dissertar exaustivamente acerca da ação dramática, Pallottini comenta a respeito dos métodos de análise dramatúrgica do texto cênico, quais sejam: o método indutivo e o método dedutivo. O primeiro refere-se àquele que parte da indução, do particular ao geral ? a partir da observação de diversos fatos, se extrai uma regra baseada no empirismo da pesquisa ?, diretamente relacionado aos sentidos. É desse método de análise de que se vale a Poética de Aristóteles. O segundo método, a se turno, concerne justamente ao oposto do primeiro, isto é, parte da dedução, do geral ao particular ? a conclusão deriva de premissas (maior e menor) e baseia-se no silogismo . Bertold Brecht se utiliza desse método de análise dramática.
Basicamente, Renata Pallottini preocupou-se em apresentar em sua obra O que é dramaturgia um percurso histórico das teorias do drama, bem como os seus elementos mais essenciais, os quais podem ser resumidos na própria ação dramática e no conflito englobado por ela ? conforme devidamente dissertado na presente resenha.