Esvoaça a imagem da noite
enquanto marulha o açoite do vento
ao bater as asas no arvoredo.
Verdes ramos passeiam beleza e graça
na paisagem dourada
e tutelar de cada instante.
Ora as estrelas que doiram,
modificam
e simplificam
o negrume  esvoaçante.
Ora as borboletas na noite,
azuis, destilando luz,
salpicando de céu
o campo, onde tudo é paz.
Ora vagalumes que passam,
um após outro
- em fileira soldadesca,
saudando
respeitosamente a noite,
a lhe beijarem os pés!
A noite sombreando a mente.
O desamor abrindo caminho,
deixando atrás um deserto.
- Deserto de dor e paixão...
Não tem estrelas no Céu.
Cobre o mundo negro véu
por toda a vasta amplidão.
A noite sombreando a mente.
A mente, desesperada,
pedindo asas ao tempo.
O tempo que já passou,
irreversível,
e, nessa marcha,
suas marcas negras deixou!

 

NOTA DO AUTOR: poema publicado na Antologia "A NOVA POESIA BRASILEIRA", em 1983, volume III, página 17, da "CHOGUN ARTE".