OUTRA VISÃO SOBRE A UMBANDA
Roniere dos Santos Lima¹
RESUMO
A Umbanda é uma religião que surgiu com base nos cultos afro-brasileiros, com o sincretismo dos Santos Católicos, com os Orixás africanos, com o Ameríndismo, com o Kardecismo e com o Orientalismo. Onde tem suas primeiras atuações com a Quimbanda e as Macumbas. O povo se dedicava ao culto, mas não tinha cultura, conhecimento e espaços propícios. Então os espíritos vinham e guiavam esses médiuns. Como o Brasil era uma colônia que predominava o catolicismo, os cultos afro-brasileiros praticados por escravos foram vistos como arte demoníaca, gerando um grande preconceito pela sociedade elitista católica da época. Mas ao longo do tempo, a Umbanda ganha espaço no Brasil, sendo fundada como religião em 1908. Este artigo analisa a Umbanda como religião e seu sincretismo com outras religiões.

Palavras-chave: Umbanda. Sincretismo. Preconceito

1 INTRODUÇÃO

A Umbanda tem como característica fundante o aspecto sincrético, por ter se adaptado ao longo de sua história às mais diversificadas influências religiosas: das diferentes tradições africanas (os deuses ? orixás, ligação com a natureza), do Catolicismo (os nomes dos santos e certos rituais), do Espiritismo Kardecista (múltiplas vidas e a credibilidade de uma tradição européia) e das tradições indígenas (espiritualidade ligada à natureza, mitos). Estes elementos se manifestaram de acordo com o desenvolvimento da religião nascente.
Segundo Birman (1985, p. 25-6), a Umbanda é considerada um

"agregado de pequenas unidades que não formam um conjunto unitário. Não há, como na Igreja Católica, um centro bem estabelecido que hierarquize e vincule todos os agentes religiosos. Aqui, ao contrário, o que domina é a dispersão".

Essa dispersão pode ser interpretada como diversidade, se considerar as influências de sua formação e o processo, em pequenas comunidades, do desenvolvimento de seus rituais próprios. Para tal, cada "terreiro" ou "centro" resgatou de forma mais marcante a tradição do espiritismo Kardecista para uns, ou a tradição do Candomblé para outros, ou, ainda, a tradição da Igreja Católica.

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¹ Especialista em História da Cultura Afro-brasileira, Graduado em História pela Universidade Estadual do Maranhão ? UEMA, e-mail: [email protected]

Importante salientar que as manifestações religiosas brasileiras com ascendência africana foram, desde o início, uma tentativa de adaptação dos negros escravizados que vinham de tribos e tradições religiosas diferentes, para manter uma identidade cultural que os caracterizassem.
Como disse Berkenbrock (1998, p. 143)

exatamente por causa da complexidade, não se pode dizer que existem regras que possam explicar o desenvolvimento desse processo. O desenvolvimento desse processo é, porém, melhor entendido quando interpretamos o sincretismo dentro da dinâmica do desenvolvimento da sociedade como um todo e do crescer junto de diversas religiões.

A Umbanda é uma religião sincrética por formação, seja por suas raízes afro (representadas pelo Candomblé), seja por suas raízes européias (Igreja Católica e espiritismo kardecista), seja por suas raízes indígenas (a figura do pajé, representada pelo ?Caboclo?, utilização de plantas específicas, entre outros), em diferentes ocasiões e dependendo da região com maior ou menor grau de influência desta ou daquela parte. Por isso, podemos observar sua diversidade e capacidade de adaptação e sobrevivência.
Segundo Birman (1985, p. 90) dessas influências

encontramos, pois, Umbandas misturadas com o Candomblé, o Catolicismo, o Judaísmo, com cultos orientais, Espiritismo, com a maçonaria, o Esoterismo[...]. É claro, no entanto, que algumas influências estão mais presentes do que outras, como é o caso do Candomblé, do Espiritismo e do Catolicismo.

Nessa perspectiva este artigo vem mostrar a verdadeira função que a Umbanda realiza para os brasileiros nos seus trabalhos ritualísticos, de caridade e de fé, que sempre buscam a salvação.
Partindo-se de uma pesquisa de campo, verificou-se a grande influência da Umbanda como Religião, onde os adeptos são de várias classes sociais. Buscou-se também a pesquisa bibliográfica para dar maior sustentação a esse trabalho.

2 SINCRETISMO RELIGIOSO

Durante o tráfico de escravos para o Brasil, negros de quatro principais grupos foram trazidos: os sudaneses os islâmicos, os bantos de Angola e Congo e, finalmente os bantos de Moçambique. Cada um com sua própria expressão religiosa (Berkenbrock, 1998, p. 144).
Apesar dos negros trazidos serem de regiões diferentes da África, com suas diferentes manifestações religiosas, e apesar de serem proibidos de realizar seus próprios cultos, entre eles sobreviveu à prática de certos rituais. Por exemplo, sobre a subsistência do culto aos antepassados no Brasil, Batiste (1985, p. 185) cita

a importância do enterro, dos rituais de separação entre os vivos e os mortos, a idéia
de que as almas dos falecidos reuniam-se à grande família espiritual dos ancestrais no outro lado do oceano. Esse cuidado de render aos mortos o culto que se lhes devia, a fim de que não se vingassem, para que não viessem perturbar seus filhos com doenças ou pesadelos, explica a importância que o cerimonial de enterramento
conservou entre todos os afro-ameríndios.

Esse é o quadro que o sociólogo brasileiro Prandi (1999, p.64) considera a primeira fase das religiões afro-brasileiras, como sendo a do sincretismo com o catolicismo e, em grau menor, com as tradições indígenas.
Os negros faziam associações entre os santos da Igreja Católica e os seus orixás para camuflar seus costumes religiosos. No ritual dissimulado, os escravos adoravam os santos católicos quando, na verdade, estavam venerando suas próprias entidades, mantendo acesas suas crenças e rituais.
A partir do fim da escravidão, a liberdade religiosa é legalmente permitida, mas limitada. A religião oficial era a Católica. Então os negros

começaram a organizar-se em grupos, formaram-se, principalmente em torno do Rio
de Janeiro sobretudo grupos ? do ponto de vista religioso ? marcados pela cultura banto. Eram africanos e seus descendentes advindos, sobretudo de Angola, Moçambique e Congo. As formas de expressão religiosa destes grupos eram no início, uma continuidade simplificada das expressões religiosas dos bantos africanos (Berkenbrock, 1998, p. 148).

Assim os negros começaram a incorporar espíritos ditos Pretos-Velhos (ancestrais africanos) e Caboclos (índios brasileiros como Pajés e Caciques) que iniciaram a ajuda espiritual e aliviá-los do sofrimento material.
Encontram-se atualmente várias ramificações da Umbanda que guardam raízes muito fortes das bases iniciais, e outras, que se absorveram características de outras religiões, mas que mantém a mesma essência:

a) Umbanda tradicional ? Oriunda de Zélio Fernandino de Moraes;
b) Umbanda Branca ou de Mesa ? De cunho espírita Kardecista.
c) "Umbanda Traçada ou Umbandomblé" ? Umbanda e Candomblé;
d) Umbanda Astral ? Umbanda que envolve os astros;
e) Umbanda de Caboclo ? Seu foco principal nos "Caboclos";
f) Umbanda de pretos-velhos ? influência da cultura Africana no comando dos pretos-velhos.

3 OS ORIXÁS

Os Orixás são espíritos que progrediram muito espiritualmente, não necessitando mais do processo reencarnatório, e que para darem continuidade no seu progresso espiritual possuem como missão organizar e orientar uma rede de espíritos com menos progresso espiritual do que eles, ajudando-os a progredirem espiritualmente.
Que segundo Berkenbrock (1998, p. 150)

Cada pessoa está ligada a um desses orixás e suas características são encontradas em seus filhos, seja na forma física ou, mais evidente, nas características psicológicas e comportamentais a qual a pessoa está relacionada.

Sendo assim, a tradição que predominou nas primeiras organizações após a escravatura foi a de origem banto, que conhecia uma série de divindades ou espíritos, bons e maus. Nela se confirmou a influência Católica e a identificação entre Orixás e santos católicos foi também assumida. Segundo Berkenbrock (1998, p. 150)
a esta base religiosa banto, sobre a qual já se encontravam influência de elementos
do Candomblé e elementos católicos, juntou-se outra influência: a teoria espírita. A
doutrina de Allan Kardec não veio apenas confirmar a fé na existência dos espíritos,
como contribuiu para que houvesse uma organização no mundo dos espíritos. (...) As idéias espíritas também contribuíram para se configurar o papel do intermediador
(médium) entre espíritos e pessoas.


Assim, a diferença entre Orixás (espíritos da natureza) e as entidades banto (espíritos de antepassados) recebeu, pelo espiritismo, uma explicação lógica com a idéia dos diferentes estágios de desenvolvimento dos espíritos e das almas.
Na Umbanda existem sete Orixás básicos que são energias, forças da natureza e, que estão presentes em todos os lugares, influenciando pessoas com suas energias para manter o equilíbrio. Eles agem em todo o planeta de forma cósmica e universal, atuando por muitos meios diferentes. Vejamos seus sincretismos e alguns elementos que os representam:
Oxalá ? é sincretizado com Jesus Cristo, sua cor é o branco, seu símbolo é o opachorô, sua pedra é o cristal branco, sua essência é de alfazema e mirra, seu metal é o ouro amarelo e branco e o estanho, seu número é 16 e 10, sua bebida é vinho, seu dia é sexta-feira.
Ogum ? é sincretizado com São Jorge, sua cor é vermelho e branco, predominando o vermelho, seu símbolo é a espada, sua pedra é a ágata de fogo, rubi, sárdio e garnet, seu metal é o ferro, seu número é o 3, sua bebida é vinho tinto e cerveja branda, seu dia é terça-feira.
Oxossi ? é sincretizado com São Sebastião, sua cor é verde, vermelha e branca predominando o verde, seu símbolo é o arco e a flecha, sua pedra é jasper verde, quartzo verde, esmeralda, seu metal é o latão branco, seu número é o cinco, sua bebida é vinho rosado ou tinto, seu dia é quinta-feira.
Xangô ? é sincretizado com são Jerônimo e são João Batista, sua cor é o marrom, seu símbolo é a machada e o raio que ele divide com iansã, sua pedra é topázio e citrino, seu metal é o bronze e o cobre, seu número é o seis, sua bebida é cerveja preta, seu dia é quarta-feira
Oxúm ? é sincretizado com Nossa Senhora da Conceição, sua cor é o azul e branco, seu símbolo é o espelho e o coração, sua pedra é a sodalita e a pirita, seu metal é o ouro amarelo, seu número é o 6 e o 8, sua bebida é o aluá de oxum, seu dia é sábado.
Iansã - é sincretizada com Santa Bárbara, sua cor é o amarelo ou coral, seu símbolo é o raio, sua pedra é o quartzo rosa, seu metal é o bronze e o cobre, seu número é o 7 e o 9, sua bebida é o aluá de iansã, seu dia é quarta-feira.
Yemanjá - é sincretizada com Nossa Senhora da Glória, sua cor é o branco cristal, seu símbolo é o peixe e a estrela de cinco pontas, sua pedra é a pérola e a turquesa, seu metal é a prata e o ouro branco, seu número é o 10, o 7 e o 12, sua bebida é o aluá de yemanjá, seu dia é sábado.

4 POSSESSÃO: culto e prática

Sem dúvida alguma o aspecto que mais caracteriza o ritual da Umbanda é o estado de possessão ou fenômeno de transe ou incorporação, em que alguns de seus membros atuam. Confirmando isso Ortiz (1999, p. 69) afirma

a religião umbandista fundamenta-se no culto dos espíritos e é pela manifestação destes, no corpo do adepto, que ela funciona e faz viver suas divindades; através do
transe, realiza-se assim a passagem entre o mundo sagrado dos deuses e o mundo profano dos homens. A possessão é portanto o elemento central do culto, permitindo
a descida dos espíritos do reino da luz, da corte de Aruanda, que cavalgam a montaria da qual eles são os senhores.

A caracterização dessa ?descida? diz respeito, segundo Birman (1985, p. 7-8)

à mudança radical que se processa nas pessoas por intermédio do transe. Somos levados a observar um profundo mistério ? a pessoa possuída se torna irreconhecível, muda de uma forma tal que nem seus amigos mais íntimos são capazes de dizer que ali está aquela mesma pessoa que eles conhecem.

Esse é um fenômeno tão antigo quanto a própria história da humanidade. Na Grécia antiga, os oráculos faziam a comunicação entre os deuses e os mortais. Culturas africanas também registram similar comunicação, com seus respectivos rituais. É desta última fonte a herança da Umbanda, para interligar os antepassados com roupagem dos Orixás, dos Caboclos, dos pretos velhos, dos exus, do povo do Oriente, das crianças, das pombas-gira. ?Cavalo?, ?burro?, ?médium? são os nomes mais comuns para designar as pessoas que ?cedem? seu corpo para as entidades e pode fazê-lo para um, dois ou mais espíritos, naturalmente que em momentos diferentes. Pode acontecer de um mesmo médium ?receber? espíritos diferentes, ou seja, de classificação distinta: um pode ser Caboclo, o outro preto-velho e o terceiro exu, por exemplo, cada um em seu respectivo dia, hora e ritual.
Ao longo dos séculos a Igreja Católica promoveu ataques às religiões de obssessão, que incluíam desde acusações formais de ?pagãos?, ?hereges?, ?primitivos?, até perseguições políticas e agressões físicas, por parte de adeptos.
Para os princípios teológicos católicos, historicamente, a possessão ainda é demoníaca e deve ser combatida via exorcismo. Esta ação pode ser vista como "uma dramatização da moral cristã, ordenada rigidamente em torno da dicotomia Bem/Mal" (Birman, 1985, p. 12-4).
Em contrapartida, para a Umbanda, a possessão é algo benéfico e necessário: "ao invés de expulsar as entidades sobrenaturais, consideradas necessariamente maléficas pelos cristãos, adota um outro lema: conviver com eles" (Birman, 1985, p. 15). E essa convivência inclui qualificar a entidade que ?desce?: Ogum, Oxossi, Caboclo das matas, Exu, dentre outros. O leque é grande e não pode ser restringido à dicotomia católica bem/mal.
Na concepção teológica umbandista não é preciso ter santidade ou moral elevada para ter contato com o transcendente (como no catolicismo). Moral e poder funcionam separadamente; basta, para tanto, segundo Birman (1985), reconhecer em si próprio a presença destes espíritos que querem ?trabalhar? na Terra e permitir a incorporação.
Os aspectos da incorporação foram moldados através da influência dos dois troncos de formação da Umbanda, que lidam com este fenômeno: o espiritismo kardecista e o Candomblé. Negrão (1996, p. 290) considera que

no caso da Umbanda, homens e deuses se vêem, conversam e se tocam, mesmo que através do corpo do médium, que o abandona para cedê-lo à divindade. Se no Kardecismo o transe de possessão mais valorizado é aquele em que o médium permanece consciente no próprio momento do ato mediúnico, com o controle da situação e sobre o espírito recebido, na Umbanda é o contrário. Valoriza-se a mediunidade inconsciente em que o médium cede não só seu corpo, mas também sua mente para o guia, desaparecendo a sua própria personalidade, a ponto de não se recordar do que ocorreu quando esteve incorporado, uma vez cessado o transe.

5 CULTOS E ENTIDADES

De acordo com Berkenbrock (1998, p. 158)

o culto faz parte da estrutura da fé. Apesar das muitas variações existentes na forma
de organizar o culto na Umbanda, há uma estrutura básica de culto, da qual fazem
parte os seguintes pontos: 1. Preparação ou introdução; 2. Invocação das entidades e
incorporação; 3. Consulta dos espíritos incorporados; 4. Despedida dos espíritos e
encerramento.

O autor continua explicando que na preparação podem ser feitas orações, saudação do altar ou o cantar de músicas. A invocação das entidades acontece por meio de cantos, danças e sinais. Logo depois do transe os médiuns incorporados iniciam as consultas, que abrangem desde um conselho, uma benção, ou até "receitas para superar algum problema ou doença. Depois das consultas, os espíritos são despedidos, encerrando-se, assim, também, a situação de transe. O culto é então encerrado" (Berkenbrock, 1998, p. 158).
A respeito das entidades ou espíritos que dão estas consultas é importante se fazer o detalhamento da caracterização de cada tipo. Sendo assim, Ortiz (1999, 72) mostra que na concepção da Umbanda os Caboclos/índios possuem qualidades que se vinculam ao estado selvagem: altivez, força, orgulho, indocilidade, quando incorporados batem com as mãos no peito, podem soltar gritos e andam com porte ereto. Seus nomes mostram sua ligação com a natureza, indicam como são e a que lugar eles pertencem: Pena Branca, Arranca-Toco, Rompe-Mato.
Em alguns terreiros é possível encontrar determinados Caboclos de origem Tupi e a comunicação com os consultantes necessita de um assistente para a tradução. Essa assistência também é necessária quando ?descem? Pretos-velhos de origem ?moçambiquenha?, que falariam um dialeto próprio.
Com relação aos Pretos-velhos, eles "são os espíritos dos antigos escravos negros" (Ortiz, 1999, p. 73) e se manifestam encurvados pela idade, falando errado, às vezes bebendo vinho numa cuia, pitando cachimbo, numa rememoração do ex-escravo africano das nossas senzalas. As características deles são a amabilidade, a paciência para ouvir, a bondade, a humildade, a generosidade e o paternalismo. Essa última inclusive é visível no tratamento dele para com todos ao chamá-los de ?filhos? e destes para com ele ao chamá-lo de ?pai?.
Quanto aos Exus, eles representam, segundo Birman (1985), o outro lado da civilização, o lado inverso do privado e familiar. Nesta classificação estão incluídas as pombas-gira, versão feminina dos Exus, ligadas à sensualidade, sexualidade e até prostituição. O domínio de atuação do Exu é a rua, justificando a denominação de ?povo da rua?, pela qual também são conhecidos. Por isso, quando "se quer fazer uma obrigação ritual para eles, os locais escolhidos são marcados por certa condição marginal, como os cemitérios e as encruzilhadas" (Birman, 1985, p. 41-2).
É bem conhecida a ambiguidade moral dos Exus, por um lado, pela associação à imagem do diabo e, por outro, pela figura de mediadores que podem ?quebrar galho? e abrir caminhos. Exemplo disso está nos próprios nomes: Tranca-Rua, Caveira e Sete Encruzilhadas. Sua ?descida? é acompanhada de um ambiente com bebida alcoólica, perfume e enfeites para as pombas-gira e charutos, cigarros para as figuras masculinas. A linguagem usada também é condizente com palavras rudes, às vezes frases de provocação para quem os olha com certo receio ou desdém. Em geral, porém, a receptividade deles é de acordo com o tratamento que recebem. Esta é a ala que faz e desfaz os conhecidos ?trabalhos? mais ligados ao cotidiano profano, material, tais como: ?amarrar? o(a) namorado(a) ou marido(esposa), pagar dívidas, proteção contra inveja, entre outros. É feita uma diferenciação dos Exus em
Ortiz (1999, 73), que, baseado na dicotomia entre bem/mal, com seus respectivos missionários, considera que a Umbanda é a prática do bem e a Quimbanda é a prática do mal e os Exus pertenceriam a esta última prática religiosa.

6 FORMAÇÃO DO TERREIRO EM CHAPADINHA

A fundação de uma nova casa, de acordo com Birman (1985, p. 74), geralmente se dá pela dissidência em uma casa já consagrada. Os dissidentes fundam uma nova casa e começam a atender. Às vezes, ainda "é um médium que se considera ?preparado?, que tem cabeça feita, e mais, alguma clientela estabelecida" (Birman, 1985, p. 74). O líder deste movimento será o pai ou mãe-de-santo e seus guias são as entidades mais importantes e, portanto, os responsáveis pelas obrigações maiores ou trabalhos mais difíceis, começando aí o processo de hierarquia e de consolidação da casa. A organização hierárquica da casa de Umbanda segue o padrão de hierarquia ?espiritual?. Há pelo menos três graus de hierarquia. O primeiro é o líder, já citado. Berkenbrock (1998, p. 159) cita que

no segundo grau está o pai-pequeno ou mãe-pequena, que é ajudante da liderança e
assume as funções dela na sua ausência. Depois vem o corpo dos médiuns, isto é, as pessoas que incorporam durante o culto. No último grau estão os ajudantes. Estes são especializados em diversos serviços, como ajudar os médiuns durante as consultas, escrever e interpretar as receitas ou responsabilizar-se pela apresentação do espaço do culto ou pela música.

Na mesma página, o autor complementa afirmando que "para se chegar a algum grau da hierarquia faz-se necessária uma iniciação", através da qual se aprende desde o desenvolvimento da mediunidade (capacidade de incorporar uma entidade e a interpretar de forma correta), até a ordem do culto, a teologia, termos religiosos e as obrigações. Tanto a iniciação, quanto a hierarquia, porém, podem sofrer alterações de casa para casa.
Em chapadinha a Tenda Espírita Rei Dom Sebastião, situada à Rua Genésio Lopes Moreira, nº 618 ? Campo Velho, no comando do Babalorixá Antonio José, Presidente da mesma e da Federação Umbandista do Baixo Parnaíba que desde sua fundação em 1984 vem desenvolvendo um bom trabalho espiritual para as pessoas que procuram a casa.
O Terreiro iniciou-se como Fundação Assistencial Religiosa, hoje funciona como Associação Assistencial Religiosa, onde o mesmo tem como guia-chefe da casa, o Rei Dom Sebastião e os guias de direita os caboclos da mata: Ponta de Guia, Rompe Mato e Pena Branca; João Soeira. Os guias de esquerda, Tranca-ruas e Rainha das Sete Encruzulhadas (Pomba-Gira).
Das diversas ramificações e tipos de Umbanda a casa trabalha com dois, a Umbanda de Caboclos e a Umbanda Astral. Desenvolvendo diversas atividades como, sessões públicas, com curas, passes, banhos e outras espécies de limpezas das segundas às sextas-feiras e de desenvolvimento de médiuns às terças-feiras, sendo que os desenvolvimentos são feitos com banho de croa (lavagem), batismo, encruzo e assentamento.
Os Orixás que a casa aceita são: Oxalá, Yemanjá, Ogum, Xangô, Oxossi, Ibeji, Omolu, Oxum, Nanã Boroquê, dentre outros.
O Babalorixá Antonio José sendo Sacerdote Umbandista da Região do Baixo Paranaíba, afirma que a Umbanda é a prática do bem, da caridade, da fé e amor das divindades que são que são os espíritos de luz. Ela serve para ajudar o necessitado, e os menos esclarecidos. E quando as pessoas em profundo sofrimento chegam ao terreiro, é chamando o guia chefe para consultá-las.
O Babalorixá explica que "uma entidade é um espírito que se incorpora a um médium através de seus fluidos, dos seus eflúvios. Não significa que o espírito entra na pessoa, mas que seus raios de luz a dominam. Existem entidades boas e más, os espíritos vêm conforme a matéria. Se a matéria (médium) é desenvolvida receberá boas entidades.

7 ? CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas pesquisas bibliográficas e de campo constatou-se que a Umbanda foi originada através dos cultos afro-brasileiros com a vinda dos escravos para o Brasil. Dentre as diversas linhas da Umbanda, foi observado que todas matem pontos em comuns, no que diz respeito aos rituais praticados por cada linha.
A Umbanda como religião apresenta em suas práticas um conjunto de rituais com base nos fundamentos da doutrina espiritual, africana, ameríndia, católica, Kardecista e o orientalismo.
A Umbanda apresenta diversos fatores que atraem diversas camadas sociais, principalmente as mais marginalizadas. Mas ainda enfrenta um grande preconceito pela sociedade brasileira, pois é combatida por religiosos de entidades milenares coma os da Igreja Católica entre outras, que atacam os umbandistas freqüentemente, deixando uma grande interrogação que a "Umbanda é coisa do Diabo".
Mas atualmente a Umbanda ganha mais espaço entre os brasileiros, pois a cada dia pessoas famosas como artistas e políticos fazem declarações na imprensa agradecendo as melhorias alcançadas em suas vidas devido ao Espiritismo, a Umbanda, ao Candomblé e a outros cultos afro-brasileiros.
Portando, a Umbanda já oferece estudos mais profundos para o desenvolvimento do mediúnico, com uma educação superior. Uma das maiores referências é a Faculdade de Teologia Umbandista ? FTU, no Rio de Janeiro.


ANOTHER VIEW ON UMBANDA

ABSTRACT

Umbanda is a religion that arose on the basis of african-Brazilian cults and syncretism of Catholic saints, with the African Orishas, the Amerindian, with the spiritualism and orientalism. Where is his first performances with the Quimbanda and Macumba. The people devoted to worship, but had no culture, knowledge and favorable spaces. Then the spirits came and drove these mediums. Since Brazil was a colony that was prevalent Catholicism, cults african-charged by Brazilian slaves were viewed as demonic art, creating a large bias by Catholic elitist society of the time. But over time, Umbanda gains space in Brazil, a religion founded in 1908. This article examines how the Umbanda religion and its syncretism with other religions.

Key-words: Umbanda. Syncretism. Prejudice

REFERÊNCIAS

ANTONIO JOSÉ. Entrevista concedida pelo Babalorixá da Associação Rei Dom Sebastião. Chapadinha, 02/10/2009.

BATISTE, Roger. As religiões africanas no Brasil ? contribuição a uma sociologia das interpretações de civilizações. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1971.

BERKENBROCK, Volney. A Experiência dos Orixás: um estudo sobre a experiência religiosa no Candomblé. Petrópolis: Vozes, 1998.

BIRMAN, Patrícia. O que é Umbanda? São Paulo: Brasiliense, 1985.

NEGRÃO, Lísias Nogueira. Entre a cruz e a encruzilhada: formação do campo umbandista em São Paulo. São Paulo: EDUSP, 1996.

ORTIZ, Renato. A morte branca do feiticeiro negro: Umbanda e sociedade brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1999.

PRANDI, Reginaldo. Referências sociais das religiões afro-brasileiras. In.: CAROSO, Bacelar e BACELAR, Jéferson (org.). Faces da tradição afro-brasileira: religiosidade, sincretismo, anti-sincretismo, reafricanização, práticas terapêuticas, etnobotânica e comida. Rio de Janeiro/Salvador: Pallas/CEAO, 1999.