OS SINDICATOS “PELEGOS”

            No cenário sindical brasileiro era muito comum a existência dos sindicatos pelegos[1], estes  tinham por função de amenizar  divergências entre capital e trabalho, não se comprometendo com a classe trabalhadora. O pelego deu origem ao termo peleguismo, que segundo o Dicionário de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas, designa: 

Ação conciliatória de líderes trabalhistas no âmbito da estrutura sindical vigente no Brasil desde a década dos anos 30. Pelego é, assim, o líder que faria o papel de amortecer o peso do patronato ‘montado’ sobre os trabalhadores (...) considera-se que tal líder está comprometido demais com a política oficial de harmonização entre capital e trabalho defendida pelos funcionários do Ministério do Trabalho, que tem o poder de intervir na vida sindical (numa escala que vai desde a advertência aos líderes até a própria dissolução dos sindicatos) (1986, p.879).                     

O Sindicato pelego torna-se alvo de críticas no âmbito da estratégia política do Novo Sindicalismo. Tirar ou afastar os pelegos das direções do sindicato é uma das missões do novo ciclo sindical brasileiro. Lula exemplifica, as atitudes pelegas: 

O dirigente sindical  não pode em nenhum momento ver o sindicato como órgão que lhe dê um status e não deixa de denunciar as arbitrariedades existentes dentro da sua categoria. O pelego é a omissão do movimento sindical brasileiro, servindo mais ao patrão do que ao operário, são verdadeiros entraves ao desenvolvimento da classe trabalhadora. É de muita recepção, mas de pouca participação. Um dirigente sindical  não deve sujeitar a ser um vogal, um juiz classista, apenas para ganhar dinheiro. (...) Cerca de 80% dos sindicatos brasileiros são pelegos (1981, p.28).

            Os operários paulistas, denunciando e enfrentando os sindicatos pelegos, desencadearam ações que repercutiram na luta sindical brasileira. A base sindical insatisfeita com a atuação dos pelegos da cúpula dos sindicatos, não comprometidos com os interesses dos operários, em protesto contra este comodismo, desencadeiam ações estratégicas tais como: Operação Tartaruga – desaceleração da produção –  Comissões   de Fábricas[2].   Estas   estratégias   produziram   efeitos   positivos    e    eficientes,    pois,   os metalúrgicos paulistas com os movimentos de mobilização derrubaram os sindicatos pelegos e passaram a lutar contra o sustentáculo da ditadura militar brasileira – o arrocho salarial. Os operários ignoraram a legislação sindical repressiva vigente, rompendo, na prática, com a lei antigreve iniciando uma atuação que desatrelava a estrutura sindical da estrutura do Estado. Desse modo, preparam o  terreno para futuras paralisações,  saindo  da fase de resistência para um amplo movimento de massas, seguidos por outras categorias, tais como: médicos, bancários, funcionários públicos, entre outros, segmentos médios da sociedade que passaram, com o fim do milagre econômico, a sofrer o ônus da exploração, proletarizando-se rapidamente.



[1] Pele do carneiro com a lã usada nos arreios sobre a qual se põe a sela para amaciar o assento - palavra de cunho depreciativo, no movimento sindical (HOUAISS, 2001, p.2172). 

[2] As Comissões de Fábricas buscavam aproximar o trabalhador no seu local de trabalho, bem como incentivar a luta para conquista seus direitos. Estas Comissões tinham por objetivo representar os interesses específicos dos operários de cada fábrica e tornam-se a grande estratégia do novo sindicalismo. A  primeira Comissão de Fábrica, oficialmente reconhecida foi da Ford do Brasil,em São Bernardo do Campo, na greve de 1981 (BRITO, 1983, p.21).