INTRODUÇÃO
A pesquisa que deu origem a este relatório teve como objetivo traçar o perfil socioeconômico de estudantes atendidos pelo Programa Minas Olímpica Nova Geração e conhecer os sentidos atribuídos pelos professores de escolas públicas, estagiários, coordenadores e supervisores ao Programa e à participação dos estudantes.
O Programa Minas Olímpica Nova Geração é desenvolvido pela Secretaria de Estado de Esporte e de Juventude. Trata-se de um Programa, citado pela própria secretaria como:
[...] de inserção social de crianças e adolescentes através do esporte, visando torná-los socialmente menos vulneráveis, ampliando sua formação integral e garantindo seu acesso à práticas esportivas, pedagógicas, lúdicas, de promoção à saúde e complementação nutricional.
Meu interesse por este estudo surgiu em decorrência de minha entrada neste Programa, o qual tem como objetivo a inserção social de crianças e adolescentes através do esporte, atendendo, prioritariamente, estudantes com idade entre 10 e 15 anos e baixa renda e/ou vulnerabilidade social.
A partir desta inserção observei que as atividades propostas no âmbito do Programa eram executadas sem que houvesse um conhecimento aprofundado do perfil socioeconômico dos estudantes e sobre o que pensavam os professores das turmas regulares das escolas onde funciona o Programa sobre os alunos envolvidos e sobre o próprio programa.
Alguns procedimentos e linguagens de pessoa da escola indiciavam que, nas escolas regulares, os estudantes vivenciavam processos de estigmatização e, por isso, participavam do Programa, ao mesmo tempo em que, por participarem do Programa estes alunos eram estigmatizados. Além disso, parece que há uma expectativa latente de que o Programa resolva os problemas de disciplina daqueles que eram indicados para participar do Programa.
Esta pesquisa teve como lócus uma escola no município de Teixeiras/MG, na qual se desenvolve o Programa, denominada Escola Estadual Antônio Moreira de Queiroz. Esta escola se localiza no centro da cidade de Teixeiras e oferece o ensino do 1º ao 6º ano de escolaridade.
A geração de dados se deu da seguinte forma. Inicialmente foram aplicados questionários, com o objetivo de conhecer o perfil dos estudantes que participam do Programa Minas Olímpica Nova Geração no ano de 2009. O número de respondentes ao questionário foi 92 estudantes, cujas idades variavam dentre seis e dezessete anos .
Em seguida foram aplicados questionários, com oito questões abertas que buscavam evidenciar quais eram as impressões dos envolvidos direta ou indiretamente com o Programa a um grupo de 18 pessoas , com a seguinte composição: uma coordenadora do Programa, um estagiário envolvido diretamente com a execução do Programa, uma supervisora, onze professores do 1º ao 6º ano do ensino fundamental que ministram aulas aos estudantes matriculados no programa e quatro professores que participam diretamente das atividades do Programa Minas Olímpica, todos vinculados a rede pública de ensino do Estado de Minas Gerais.
Estes sujeitos da pesquisa foram selecionados porque estavam envolvidos diretamente com a execução do Programa e professores das turmas da educação regular nas quais os estudantes estão matriculados, coordenadores e supervisores da Escola Estadual Antônio Moreira de Queiroz, base física do Programa.
Este trabalho se organiza da seguinte forma. Primeiramente é apresentado o Programa Minas Olímpica Nova Geração na cidade de Teixeiras/MG. Nesta seção do relatório além da descrição dos objetivos do Programa em nível estadual é apresentada também a história de sua implantação na cidade de Teixeiras e feita uma descrição parcial do perfil dos estudantes atendidos pelo Programa nos anos de 2006, 2007 e 2008. A seguir, na seção 2 do relatório é apresentado o perfil dos estudantes atendidos pelo Programa no ano de 2009, cujos dados foram obtidos a partir da aplicação de questionários a 92 estudantes. Na seção 3, são descritos os sentidos atribuídos por um grupo constituído de professores, coordenadores e supervisores da rede pública estadual de ensino e de profissionais diretamente envolvidos na execução do Programa. Estes dados foram obtidos por meio de questionários. Ao final são apresentadas as considerações finais e as referências bibliográficas utilizadas para a produção deste relatório de pesquisa.




1 ? O PROGRAMA MINAS OLÍMPICA NOVA GERAÇÃO EM TEIXEIRAS/MG

O Programa Minas Olímpica Nova Geração integra o Projeto Minas Esporte da Secretaria de Esporte e da Juventude (SEEJ). Os estudantes atendidos têm idade entre 10 e 15 anos e são oriundos prioritariamente de famílias com baixa renda e/ou em situação de vulnerabilidade social.
Esse programa tem suas raízes no Programa Toriba , o qual foi implantado em dezembro de 1996. Para a execução do Programa Minas Olímpica Nova Geração, a Secretaria de Estado de Esportes viabilizou recursos através do Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto - INDESP e do Fundo de Amparo ao trabalhador - FAT.
De acordo com os idealizadores deste Programa, o mesmo se fundamenta no Artigo 227 da Constituição Federal:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Constituição Federal, 1988)


E no artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, que estabelece:

Artigo 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990).

O embasamento teórico desse programa é o Relatório da UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, Educação um tesouro a descobrir (1996) coordenado por Jacques Delors que vê a educação surgindo com um trunfo indispensável à humanidade na sua contribuição dos ideais da paz, da liberdade e justiça social. Assim, de acordo com esta Comissão, a educação tem um papel essencial no desenvolvimento contínuo, tanto das pessoas, quanto da sociedade e se sustenta nos seguintes pilares: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos e aprender a ser.
O Programa Minas Olímpica Nova Geração está em vigor no estado de Minas Gerais desde janeiro de 1999 e vem aos poucos aumentando as parecerias com as prefeituras municipais interessadas e criando vários núcleos no estado. No ano de início do Programa eram 86 núcleos, atualmente são mais de 250. Nestes núcleos são atendidos aproximadamente 30.000 educandos.
Dentre os municípios conveniados com o Governo do Estado de Minas Gerais para desenvolvimento do Programa, encontra-se Teixeiras, cidade localizada na zona da mata mineira, com uma população de aproximadamente 11.000 habitantes. Este Programa está em vigor nesta cidade, desde o ano de 2006.
Teixeiras é uma cidade que possui poucos equipamentos culturais e espaços para a prática de esportes. Assim, o Programa se apresenta, em nível municipal, como uma alternativa para o oferecimento a estudantes de atividades esportivas e de lazer que podem colaborar com o desenvolvimento dos mesmos.
O Programa em Teixeiras/MG tem sua base física em uma escola pública estadual, a qual funciona em tempo integral, mas é coordenado pela Secretaria Municipal de Assistência Social.
Os dados sobre o primeiro ano de implementação do Programa Minas Olímpica Nova Geração na cidade de Teixeiras/MG, isto é, o ano de 2006, indicam que se inscreveram para participar deste Programa 140 estudantes, dos quais 57% (n=81) eram do sexo masculino e 43% (n=59), do sexo feminino.
As idades desses estudantes variaram entre oito e dezesseis anos de idade. Os dados sobre a renda familiar destes estudantes também variaram bastante, pois algumas famílias sobreviviam com o auxilio financeiro do Programa Bolsa Família do Governo Federal e outras tinham uma renda mensal de aproximadamente R$ 2.000,00.
Quanto ao número de irmãos dos estudantes também se observa certa variação, pois enquanto alguns tinham apenas um irmão, outros tinham seis. Cabe destacar, no entanto, que predominava famílias constituídas de dois irmãos, o que expressa uma tendência observada no Brasil, pois segundo Berquó (1998) o número de filhos por família em 1991 é em média de 2,5.
Variou significativamente também, entre os educandos, o número de pessoas que moravam com eles na mesma residência, pois, em alguns casos, o núcleo familiar era constituído de três, em outros de dez pessoas.
Quanto às escolas das quais se originavam os estudantes participantes do Programa Minas Olímpica Nova Geração no ano de 2006 observa-se que predominava estudantes de escolas públicas estaduais e municipais urbanas. Mas, também participavam: um estudante que freqüentava uma escola rural, dois estudantes de uma escola particular e um que freqüentava o ensino fundamental na modalidade supletiva. Cabe destacar ainda que 24% das escolas freqüentadas se localizavam na periferia da cidade de Teixeira, as demais no centro da cidade.
Neste primeiro ano de atividades do Programa no núcleo de Teixeiras, todos os profissionais envolvidos tinham formação em Educação Física ou se encontravam em processo de formação nesta área.
No ano de 2007, poucos estudantes se apresentaram para inscrição no Programa Minas Olímpica Nova Geração, isto é, apenas 23 se matricularam, ainda que o número mínimo de estudantes exigido pelo Convênio firmado entre a Prefeitura Municipal de Teixeiras e a Secretaria de Estado de Esporte e Juventude fosse 105.
Neste ano, dentre os estudantes inscritos (n=23), 73% (n=17) eram do sexo masculino e 27% (n=6) do sexo feminino. As idades dos estudantes envolvidos variaram entre nove e quatorze anos de idade, sendo que predominava estudantes com a idade de 14 anos. A maioria dos estudantes, neste ano, tinha até três irmãos.
A renda das famílias dos estudantes inscritos no ano de 2007 variou menos se comparada à renda dos estudantes que se inscreveram no ano de 2006, pois oscilava entre R$ 200,00 e R$ 800,00. Mas, cabe destacar que a renda familiar mais comum entre os estudantes era de um salário mínimo.
Neste ano todos os estudantes participantes do Programa estudavam em escolas públicas urbanas da cidade de Teixeiras/MG.
No ano de 2007, mudou o perfil dos profissionais envolvidos na execução do Programa, pois foram incluídos profissionais em formação de outras áreas de conhecimento. Assim, o coordenador era graduado em Educação Física, os estagiários eram graduandos em Educação Física, Pedagogia, Economia Doméstica e Serviço Social.
No ano de 2008, nova alteração foi introduzida na implementação das ações do Programa Minas Olímpica Nova Geração na cidade de Teixeiras/MG, ou seja, foi firmado um convênio entre a Prefeitura Municipal de Teixeiras e a Escola Estadual Antônio Moreira de Queiroz para execução deste Programa. Portanto, os estudantes que participariam do Programa passaram a ser indicados pela diretora e pela supervisora desta escola.
Neste ano se inscreveram para participar do Programa, 78 estudantes, todos matriculados na Escola Estadual Antônio Moreira de Queiroz. Dentre estes estudantes, alguns se inscreveram por iniciativa própria.
O sexo dos estudantes inscritos no Programa no ano de 2008 era: 65% (n=51) do sexo masculino e 35% (n=27) do sexo feminino. As idades dos estudantes inscritos neste ano variaram entre 7 a 14 anos de idade.
A partir deste ano, quando as atividades do Programa passaram a ser desenvolvidas na Escola Estadual Antônio Moreira de Queiroz, ocorreu o envolvimento de um número maior de profissionais, mas especificamente de duas professoras vinculadas à Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais.
Os dados sobre os estudantes que participaram do Programa Minas Olímpica Nova Geração nos anos de 2006, 2007 e 2008 são parciais e incompletos. Essa situação parece estar relacionada ao fato de que não havia uma preocupação com o preenchimento das fichas cadastrais dos estudantes no Programa, ou seja, não se considerava que os dados de perfil eram necessários para implementação das atividades previstas e/ou para desenvolvimento de novas práticas que atendessem especificamente os estudantes do Núcleo de Teixeiras/MG.
Mas, ainda que incompletos estes dados permitiram a constituição do esboço da história do Programa nesta cidade ao mesmo tempo em que indicam a necessidade de um maior aprofundamento em relação ao conhecimento dos estudantes inscritos no Programa.
A seguir serão apresentados os dados dos estudantes inscritos no Programa no ano de 2009, os quais foram obtidos através de questionários composto de 15 itens de resposta para conhecer qual o perfil desses alunos, sexo, sua auto atribuição racial, como é formada a sua família, renda familiar, entre outras.


2 - PERFIL DOS ESTUDANTES ATENDIDOS PELO PROGRAMA MINAS OLÍMPICA NOVA GERAÇÃO NO ANO DE 2009

Em 2009, diferentemente do que ocorreu nos anos de 2006, 2007 e 2008, quando a maioria dos estudantes que participavam do Programa era do sexo masculino, de um total de 92 estudantes que responderam ao questionário, 50 são do sexo feminino e 42 são do sexo masculino, portanto uma distribuição relativamente equitativa entre os estudantes inscritos quanto ao sexo, conforme pode ser observado no gráfico 1, apresentado a seguir.
GRÁFICO 1
Sexo dos estudantes participantes do
Programa Minas Olímpica Nova Geração
Ano de 2009

Fonte: Pesquisa Direta - 2009.

Quanto à auto-atribuição racial, se agregarmos os percentuais daqueles que se classificaram como pardos e negros, observa-se que a maioria, isto é, 58,7% dos estudantes que responderam ao questionário são afrodescendentes. O percentual daqueles que se consideram brancos é de 41,3%.
Assim, como afirma Carvalho (2005, p.78):
(...) a classificação racial apóia-se tanto na aparência (características fenotípicas, como cor da pele ou o tipo de cabelo) e na ascendência, quanto no status socioeconômico da pessoa.








GRÁFICO 2
Auto-atribuição racial dos estudantes participantes
do Programa Minas Olímpica Nova Geração
Ano de 2009

Fonte: Pesquisa Direta - 2009.

Quanto às faixas etárias dos estudantes que participam do Programa Minas Olímpica Nova Geração, apresentadas na tabela 1, observa-se que 26% do total daqueles que responderam ao questionário têm idade entre 6 e 8 anos, portanto, abaixo da idade mínima para participação no Programa que é de 10 anos. A maior freqüência encontrada é de 42 estudantes, cuja faixa etária é de 9 a 11 anos. O restante está distribuído entre as faixas etárias de 12 a 14 anos, 25 estudantes e acima de 15 anos, um estudante.

TABELA 1
Faixa etária dos estudantes que participam do
Programa Minas Olímpica Nova Geração
Ano de 2009

Faixa Etária Número de Estudantes
6 a 8 anos 24
9 a 11 anos 42
12 a 14 anos 25
Acima de 15 anos 01
TOTAL 92
Fonte: Pesquisa Direta - 2009.

Analisando os dados sobre as faixas etárias dos estudantes em relação às séries nas quais eles se encontram matriculados, apresentadas no gráfico 3 a seguir, observa-se uma distorção idade-série. Vários fatores podem ser discutidos sobre esse insucesso na escolarização dos educandos atendidos, porém prestemos maior atenção ao fator das famílias, assim como cita RIBEIRO (2007) serem provenientes de classes menos favorecidas, terem baixo grau de escolaridade e uma desestrutura familiar.

GRÁFICO 3
Anos do ensino regular nos quais os estudantes participantes
do Programa Minas Olímpica Nova Geração estão matriculados
Ano de 2009


Fonte: Pesquisa Direta - 2009.

Os dados sobre o número de reprovações dos estudantes que participam do Programa Minas Olímpica Nova Geração indicam que 56 estudantes nunca foram reprovados,
É preciso levar em conta, na análise dos dados sobre reprovações que a escola pública estadual na qual os estudantes pesquisados estão regularmente matriculados adora o sistema de ciclos. Este sistema busca, conforme Barreto & Souza (2004, p. 1):

(...) alternativas de organização do ensino básico, que ultrapassem a duração das séries anuais como referência temporal para o ensino e aprendizagem, e estão associados à intenção de assegurar à totalidade dos alunos a permanência na escola e um ensino de qualidade.

O restante está distribuído da seguinte forma: 23 estudantes foram reprovados uma vez e 13 estudantes duas ou três vezes, conforme pode ser observado no gráfico 4, apresentado a seguir.

GRÁFICO 4
Número de reprovações no ensino regular dos estudantes participantes
do Programa Minas Olímpica Nova Geração
Ano de 2009


Fonte: Pesquisa Direta ? 2009.

Em relação a quantas pessoas morarem na mesma casa, a maioria, 47%, apresentou morar com quatro ou cinco pessoas, a considerada família ampliada ou estendida, como citada por Berquó (1998), aquela com que habitam parentes e agregados.
GRÁFICO 5
Quantidade de pessoas que moram junto com os estudantes
participantes do Programa Minas Olímpica Nova Geração
Ano de 2009



Fonte: Pesquisa Direta ? 2009.

A maioria dos educandos que responderam o questionário, 93% responderam morar com sua mãe, três educandos não moram com ela e 4% moram com outra mulher responsável por eles, como a avó ou alguma responsável pela tutela deles.

GRÁFICO 6
Moradia com a mãe entre os estudantes
participantes do Programa Minas Olímpica Nova Geração
Ano de 2009

Fonte: Pesquisa Direta ? 2009.
Em relação à moradia com os pais, 43 educandos moram com eles, 45 não moram com o progenitor e 04 moram com outro homem responsável da custódia deles, evidenciando assim um novo arranjo familiar, a considerada família monoparental chefiada por mulher, que tem como principais determinantes para tal situação, assim como afirma Berquó (1998), devido a um aumento dos divórcios e separações, sobremortalidade masculina e os emergentes tipos de estilos de vida, como novas formas de união ou filhos sem casamento, por exemplo.










GRÁFICO 7
Moradia com o pai entre os estudantes
participantes do Programa Minas Olímpica Nova Geração
Ano de 2009

Fonte: Pesquisa Direta ? 2009.

O grau de escolaridade desses pais ou responsáveis é baixo. Dos educandos que souberam responder, a maioria relatou que os pais estudaram até a quarta série, mas não completaram a oitava série, hoje quinto e nono ano respectivamente. Apenas um educando apresentou ter pais que completaram o curso superior.

TABELA 2
Nível de escolaridade dos pais (em %)

Nível de Escolaridade Porcentagem
Pai Mãe
Nunca estudou ou não completou a 4ª série 8,69 6,52
Completou a 4ª série, mas não concluiu a 8ª série 18,48 32,60
Completou a 8ª série, mas não completou o Ensino Médio. 1,1 6,52
Completou o Ensino Médio, mas não ingressou na educação superior. 3,26 7,60
Concluiu a Educação Superior 1,1 1,1
Não sabe responder 67,39 45,65
TOTAL 100 100
Fonte: Pesquisa Direta - 2009

A renda dessas famílias é majoritariamente de até um salário mínimo. Apenas 10% recebem de dois a três salários.

GRÁFICO 8
Renda familiar dos estudantes dos participantes
do Programa Minas Olímpica Nova Geração
Ano de 2009


Fonte: Pesquisa Direta ? 2009.

O perfil dos estudantes matriculados no Programa Minas Olímpica Nova Geração é em sua maioria menina, de descendência negra. Tem idade em torno de 10 anos e está estudando no 6º ano. A maioria nunca foi reprovada durante sua trajetória escolar. Moram na zona urbana, na periferia da cidade. Moram com quatro ou cinco pessoas na mesma casa, com a mãe e padrasto. O grau de escolaridade desses é até a quarta série. A renda salarial da família é de até um salário mínimo.












3 - OS SENTIDOS ATRIBUÍDOS AO PROGRAMA MINAS OLÍMPICA NOVA GERAÇÃO E À PARTICIPAÇÃO DOS ESTUDANTES NESTE PROGRAMA

Os dados obtidos por meio de entrevistas com professores das escolas públicas, cujos alunos participam do Programa Minas Olímpica Nova Geração indicam que impera entre eles o desconhecimento da finalidade deste Programa e das atividades desenvolvidas. Tal desconhecimento produz, ao mesmo tempo em que decorre de uma não interação entre a escola pública, base física do Programa, e este último.
Porém, apesar desta falta de interação, os professores que responderam ao questionário manifestaram uma impressão positiva do Programa. Percebiam-no como uma ajuda à escola para concretizar uma formação integral dos alunos envolvidos.
Assim, paradoxalmente, devido ao fato de que o Programa Minas Olímpica Nova Geração é desenvolvido numa escola pública estadual de tempo integral, alguns professores destacaram que a parceria entre a escola e o Programa é fundamental para o atendimento integral às crianças.
O esporte como eixo norteador do Programa foi destacado por alguns professores. Eles consideram que a prática esportiva é fundamental para os estudantes, inclusive porque proporciona possibilidades de lazer em uma cidade desprovida de espaços recreativos e esportivos. Os professores também destacaram as atividades artesanais realizadas no âmbito do Programa e o interesse dos estudantes por tais atividades.
A integração das atividades do Projeto Escola de Tempo Integral com aquelas do Programa Mina Olímpica Nova Geração é de tal forma estreita que os critérios para seleção dos estudantes a serem atendidos pelo Programa são também utilizados para matrícula na escola. Assim, tanto no Programa Minas Olímpica, quanto no Projeto Escola de Tempo Integral são atendidas crianças de baixa-renda, com baixo desempenho na escola e cujos pais, em função do trabalho que desenvolvem não podem ficar com os filhos.
A maioria dos sujeitos informou que não conhecia os critérios utilizados pela escola para selecionar os alunos do Programa. Mas, disseram que, provavelmente, na inscrição no Programa, era dada preferência aos alunos regularmente matriculados e freqüentes na escola, de baixa renda, em situação de vulnerabilidade social, cujos pais ou responsáveis trabalhavam durante todo o dia e, por isso, não podiam cuidar das crianças durante o turno em que elas não permaneciam na escola.

Questionados sobre o perfil desses estudantes, os docentes acreditavam que alunos atendidos pelo Programa Minas Olímpica Nova Geração eram em majoritariamente de baixa renda, considerado como aquele inscrito na Lei nº 8.742/93, que considera "famílias de baixa renda aquelas que auferem rendimento per capita de até ¼ do salário mínimo." (ANFIP, 1995, p. 75-76). E em vulnerabilidade social, entendido aqui como uma "escassa disponibilidade de recursos materiais ou simbólicos a indivíduos ou grupos excluídos da sociedade" (ABRAMOVAY, 2002, p. 33), carentes afetivamente, com baixa auto-estima e com pais que trabalham o dia todo.
Os docentes acreditam que o Programa causa impactos positivos na escolarização dos educandos envolvidos, uma vez que através de atividades variadas e criativas desenvolve uma melhor disciplina, convivência e aprendizado por parte dos alunos. Porém, "(...) é necessário uma continuidade das ações para não perder o trabalho ou acontecer interrupções." (Relato de uma professora que trabalha diretamente com os educandos do Programa)
Alguns pontos foram citados como positivos nos questionários respondidos pelos docentes, entre eles:
Contribuição dos estagiários do Programa Minas Olímpica Nova Geração, pois são diferentes possibilidades de atividades a serem desenvolvidas nas oficinas que são ministradas; Disponibilidade de material didático; Lanche como reforço alimentar todos os dias em que o Programa faz suas atividades; Transporte em ônibus escolar em dois dias da semana para o local onde são realizadas as atividades; Socialização dos educandos; Incentivo, a prática esportiva; Auxílio no ensino, de forma lúdica e prazerosa, que traz retornos a escolarização regular; Oportunidades culturais e de lazer; Formação de hábitos de higiene; Formação de responsabilidade nos alunos, assim como de regras de boa conduta.
Percebe-se assim que os docentes acreditam que a parceria entre o Programa Minas Olímpica Nova Geração e a Escola Estadual Antônio Moreira de Queiroz traz muitos benefícios, pois apenas com um corpo docente maior e mais oportunidades propostas aos educandos que se pode atingir com menos dificuldade as metas propostas, como a formação integral destes por exemplo.
Mesmo sabendo que os questionários eram sigilosos, os docentes tiveram algum receio de citar os pontos negativos acreditando poder sofrer alguma punição na escola. Mas alguns mencionaram pontos, como:
Precariedade de espaço físico para as atividades pedagógicas; Falta de um núcleo fixo, como exigência da SEEJ, que ofereça boas condições de uso, pois os locais onde hoje acontecem as atividades precisam de manutenção; Falta de correção ou punição, uma vez que os alunos não apresentam limites e regras; Cansaço dos alunos no ensino regular após as atividades do Programa.
Espaço físico para uma prática esportiva é de extrema importância, pois quando são propostas as atividades dentro da escola, acaba por perturbar todo o resto do cotidiano escolar. Também há uma necessidade de se planejar atividades conjuntas com a escola, para que assim possa haver maiores progressos na escolarização dos estudantes envolvidos com o Programa Minas Olímpica Nova Geração.
Quando perguntados sobre os impactos do Programa nos percursos escolares dos estudantes matriculados na Escola Estadual Antônio Moreira de Queiroz, a maioria dos professores entrevistados enxergava de forma positiva a intervenção do Programa, como forma de acentuar as potencialidades de cada estudante. Também responderam que esses educandos são mais receptivos e acaba assim por facilitar a aprendizagem em sala de aula. Em um dos questionários uma professora disse que não conseguia perceber nenhuma influência das atividades do Programa no percurso escolar desses educandos.
Algumas sugestões forma dadas, explicitando a falta de conhecimento sobre o Programa e a necessidade de sanar essa falta. Dentre as sugestões:
Capacitação para os professores; Reuniões para avaliação; Continuidade dos estagiários para dar seqüência ao trabalho, evitando uma rotatividade destes; Haver um trabalho em conjunto com a escola; Divulgação do Programa. Maior participação dos estudantes e familiares; Realização de reuniões entre o Programa e a escola.









CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados apontam que os envolvidos com o Programa Minas Olímpica Nova Geração pouco sabem do que acontece, não sabem quais são as ações desenvolvidas com os educandos, não preocupam em avaliar essas ações, tão pouco percebem a importância desse trabalho.
Evidenciou-se uma falta de entrosamento entre as ações do Programa e as atividades desenvolvidas na escola na qual os alunos atendidos estão no ensino regular. Apesar dos profissionais acreditarem que a parceria é válida, pois sendo oferecidas maiores oportunidades aos estudantes, que se pode atingir com menos dificuldade as metas propostas, não há uma inter-relação entre as partes interessadas. Por isso, assim como nas sugestões dadas pelos docentes, é necessário uma maior divulgação do Programa Minas Olímpica Nova Geração e maior conciliação nas atividades tanto da escola pública estadual, quanto a do programa.
O perfil dos estudantes também se mostrou distorcido em relação ao definido pelo programa, pois os alunos não passam por um critério certo de seleção, apenas são avaliados se merecem ou não estar no programa para serem matriculados.
Os estudantes, segundo o questionário, são majoritariamente meninas, que se auto-atribuem afrodescendentes e que se enquadram em um nível socioeconômico menos favorecido. Por esse motivo, as atividades do Programa Minas Olímpica Nova Geração são de extrema importância para oferecer maiores oportunidades de entretenimento, como atividades culturais e esportivas, assim como um acompanhamento nas atividades escolares do seu turno regular.
Com o findar da pesquisa, algumas questões ficam em aberto para serem estudadas em pesquisas futuras, como os benefícios, a longo prazo, tanto no desenvolvimento pessoal quanto acadêmico desses estudantes, por exemplo.








REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVAY, Miriam e CASTRO, Mary Garcia. Por um novo paradigma do fazer políticas de/para/com juventudes. Brasília. UNESCO. 2002.

ANFIP ? Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social. Um fórum para a Seguridade Social: saúde, assistência e previdência social. Brasília: Anfip, 1995. 143 p.

BARRETO, Elba S. de Sá; SOUZA, Sandra Z. Ciclos: Estudos sobre as políticas implementadas no Brasil. Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação. N.27. Caxambu, MG, 2004a.

BERQUÓ, Elza Salvatori et al.Uma visão demográfica dos arranjos familiares no Brasil. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.) História da vida privada no Brasil: Contrastes da intimidade contemporânea. Coordenador geral da coleção: Fernando Novaes. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. P. 411-438.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF.

BRASIL. Estatuto da Criança e do adolescente. Lei n° 8.069, 13 de julho de 1990.

CARVALHO, Marília. Quem é negro, quem é branco: desempenho escolar e classificação racial dos alunos. Revista Brasileira de Educação. nº 28. Jan/Fev/Mar/Abr. 2005.

DELORS. Jacques (org.). Educação Um Tesouro a Descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. UNESCO. 1996.


Secretaria de Estado de Esporte e Juventude ? Disponível em <http://www.esportes.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=30&Itemid=43> Acesso em 7 nov. 2009.

RIBEIRO, Daniela de Figueiredo. Assimetria na relação família e escola pública. Paidéia, 2006, 16(35), p. 385-394.